A chegada do inferno escrita por Andrew Ferris


Capítulo 5
Despreparado




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Estou deitado no limite das minhas forças. Jade está sorridente. Parece que se diverte cada vez mais com cada tropeço ou derrota que sofro, e reparo em como seus sorrisos se tornam cada vez mais intensos e alegres, vivos, como se pegassem a luz para si. Depois de mais uma derrota, desta vez para Nathan, que ajeita seus cabelos castanho claro antes de se retirar da sala, nos deixando sozinhos, me aproximo de Jade, mas ela se afasta em direção à saída.
— Por hoje está bom. Amanhã continuamos.
— Certo - Declaro sem jeito vendo ela se afastando de mim devagar. Estou retornando ao meu quarto quando paro no meio de um corredor. Lembro da conversa que tive com Harry Dustin, da sala que estávamos e decido mudar de rumo. Há dias pensava naquela sala, no que poderia guardar, naquela quantidade absurda de documentos e, embora fosse fria, o lugar trazia uma ótima atmosfera. Dou uma olhada para ver se não tinha ninguém olhando e abro a porta. Começo a olhar os documentos quando alguém derruba uma pedra ao meu lado.
— Que merda, Nathan! Avisa da próxima vez!
— Que está fazendo aqui?
— Achei que todos os lugares fossem de livre acesso - Desafio abrindo um sorriso.
— Mas apenas para iniciados. Você não chega nem perto. Esta sala é para que os irmãos da Ordem tenham noção do que foi feito, do que foi pensado, de cada traço dos nossos ancestrais e de sua ideologia. Este lugar não foi feito pra você.
— Não se preocupe, não vou fotografar.
— Já ouviu alguma coisa sobre seus parentes?
— Conheci meu avô e meu pai. Meu avô era um bêbado e meu pai era um babaca.
— Vai continuar com isso? Mágoas do passado? Ou quer aprender?
— Tanto faz.
— Há mais de quatrocentos anos, um ancestral seu, Ebenezer Azhiph, foi sequestrado por um mestre de poções dos Templários, um homem desacreditado devido à época, mas ele estava tão determinado a provar seu valor que resolveu iniciar uma série de experimentos no Assassino com um único objetivo, reafirmar sua causa. Depois de sequestra-lo e realizar centenas de experimentos, a Irmandade finalmente conseguiu encontrar o esconderijo do Templário, resgatando Ebenezer. No entanto, depois de tudo o que passara, Ebenezer havia enlouquecido completamente.
— Você enrolou tudo isso para dizer que meu ancestral era um doido?
— Precisamente - Deixo a sala indignado e volto com pressa para meu quarto, e teria chegado lá depressa caso não tivesse escutado a voz de Jade vindo de uma sala ao lado.
— Ele não está evoluindo - Afirma Dustin convicto.
— Eu sei, mas ainda assim, tem alguns momentos que ele parece estar além de todo o treinamento, não em questão de técnica, mas de habilidade.
— Estou disposto a tentar, se você realmente acredita.
— Por que mais acha que ele seguiu o que eu disse? - Dustin pigarreia em tom de deboche, mas permanece quieto. Depois disso, me afasto daquela sala o mais rápido possível. Em meu quarto, perdido em devaneios, recordo das noitadas com meus antigos parceiros de trabalho, agora escravizados pelos Templários graças ao tal Olho de Hórus.
— Ei - Chama Jade apressada - Saia já daí - Me levanto devagar e mais lento ainda abro a porta, olhando para ela com indiferença.
— O treinamento acabou.
— Eu sei, mas não é hora de falarmos disso. Temos uma missão a cumprir, e acredito que seja do seu interesse - Estamos dentro de uma sala de paredes acinzentadas com colunas pintadas de azuis. Há mais seis Assassinos ao redor da mesa, todos observando o mapa enorme exposto ali.
— É um amigo do seu pai - Jade me mostra uma foto - Não tínhamos ideia de onde estava até ontem. Passamos anos procurando ele e aqui está o maldito.
— Como não sabiam onde ele estava? - Questiono incrédulo.
— Ele preferiu ficar recluso após a morte do seu pai, por medo, até trocou o nome. Se mudou para o Sul e é para lá que iremos.
— Onde mais especificamente?
— Sul da Europa.
— O que? Eu não vou para a Europa com meio mundo atrás de mim.
— Pode deixar que vamos dar um jeito nisso - Passamos pelo aeroporto sem dificuldades. Uma Companhia pequena, um aeroporto sem muita movimentação. Presumo que parte do pessoal ali devia ser Assassino, então seria algo a me preocupar, ou não? Estamos dentro do avião. Jade se senta ao meu lado, mas não diz nada durante todo o voo, e eu também não forço a barra. Depois do pouso, nos dirigimos à moradia de um velho chamado Otto Bridge, que morava num distrito pequeno. Com os últimos preparativos sendo feitos, naquela noite só não conseguiria dormir quem estivesse nervoso, nesse caso, eu. Duas batidas na porta, então Otto entra, sorrindo de maneira paternal que me fez sentir menos recluso de imediato.
— Tudo bem?
— Pode parecer estranho de se dizer, mas não consigo dormir.
— Eu o julgaria um idiota se estivesse dormindo. Afinal é sua primeira tarefa, não é? Na Irmandade?
— Não sou um Assassino.
— Sei... por que está aqui então?
— Por que quero me livrar desses Templários. Eles estão atrás de mim, mas você sabia disso, não é?
— Sabia - Ele coloca as mãos nos bolsos, sorrindo para mim.
— Você é um Assassino?
— Já fui, se é que esse termo ainda pode ser usado.
— Como assim? Vocês não matam mais pessoas?
— Você realmente não é um Assassino, está bem longe disso - Declara Otto se dirigindo à saída - Tomara que se saia bem amanhã. Creio que saiba que os Templários não brincam em serviço, principalmente seus soldados infiltrados.
— Obrigado - Falo intrigado. Na manhã seguinte, todos levantam cedo, separam seus equipamentos e tomam o café preparado por Otto como se fossem soldados. Nos aproximamos da casa, que não era nem um pouco chamativa. Pelo contrário, parecia se esforçar para não chamar a atenção.
— Esse realmente queria se esconder - Afirmo sentado no banco de trás.
— Está na hora - Alerta Jade abrindo a porta do motorista - Victor, vem comigo, o restante vai ficar nos carros. Hector e Mendez estão numa esquina há três quarteirões. Qualquer coisa vão até lá. Não entrem na casa independente do que acontecer - Jade e Victor saem do carro, se dirigindo à casa enquanto eu e um tal de Samuel Lawer aguardamos no banco de trás. Depois de meia hora, Lawer se muda para o banco da frente e liga o carro. Uma hora depois disso ele ajusta os espelhos pela quarta vez enquanto eu arrumo as mangas da minha blusa branca. Olho pela décima sei lá que vez para meus tênis esportivos e paraminha calça jeans preta, olho para a casa, onde percebo que há excesso de folhas nos telhados, ao passo que os pássaros diurnos se amontoavam nos galhos da árvore mais próxima, então chamo Samuel.
— O que exatamente nós viemls fazer aqui? - Samuel me encara indignado e pensa para falar.
— Esse amigo do seu pai tem informações preciosas que podem responder a troco de que ele e seu avô, assim como outras dezenas de Assassinos, foram mortos. Parece que é algo muito importante, mas eu não teria chamado alguém tão despreparado quanto você para uma missão desse nível - Nos entreolhamos em tom de desafio e voltamos a olhar para qualquer coisa na esperança de que o tempo passasse. Mais uma hora se passa e nada dos dois voltarem, até que vejo um caminhão escuro passar nos fundos da casa.
— Você viu aquilo? - Samuel olha para a casa indiferente.
— O que? - Ele volta a olhar para a frente, e é quando vejo alguém passando na frente de uma janela da casa e esticando a cortina de maneira que não conseguia ver mais nada do que havia no interior da casa. Depois de um forte estampido e alguns barulhos que claramente eram disparos, empurro o banco de Samuel.
— Vamos embora - Ele afirma ligando o carro.
— Mas e eles? Vamos deixa-los lá?
— Jade deixou bem claro que não devemos sair do carro por nada e que devemos partir caso ocorra algum imprevisto - Sorrio para ele assim que começa a sair da rua - Nem pense nisso - Berra ao me ver colocar a mão na porta, mas eu a abro e caio direto na rua, correndo depressa em direção à modesta casa do tal amigo do meu pai. Abro a porta devagar, fechando a mesma com calma antes de me esconder atrás de um sofá. Três sujeitos entram no cômodo. Eles estão armados e me lembram os homems de preto que tinham me atacado semanas atrás. Quando deduzo que estão revistando o lado da porta, corro para a escada, e de imediato viro alvo dos seus disparos. Subo até o último andar, onde havia um homem alto de terno com as mãos para trás olhando para o interior de um cômodo cheio de livros jogados por todos os cantos. Subitamente ouço a voz de Jade e decido pular no brutamontes, e é justamente quando começo a enxergar tudo mais devagar, passando a me mover mais depressa. Subo nos ombros do segurança e distribuo nele uma série de socos, mas ele consegue se proteger e me arremessar no chão. Minha visão volta ao normal e me arrasto pelo chão para fugir do segurança, mas ele andava devagar como se quisesse brincar comigo. À sua frente vinha um homem com trajes simples e nada chamativos que sorri vitorioso.
— Seu pai era tão espirituoso quanto você, meu jovem. Permita-me, mas ele também sabia quando tinha de ceder. Sabia que não era uma questão de vencer, e sim de garantir vantagem.
— Você não sabe nada sobre o meu pai. Se soubesse, diria que ele adorava vencer, e jogava isso na cara de todos com orgulho - Giro no chão para dentro de outro cômodo e me levanto depressa, embora as dores nas costelas atrapalhassem um pouco. Tranco a porta e pulo a janela, escorregando pelo telhado até um cano cheio de folhas, de onde tiro um dispositivo circular. Sem entender seu propósito, mas disposto a chegar no fundo dessa história, pulo o último andar e corro pela rua até uma avenida com pouco movimento. Um caminhão vermelho e preto se aproxima, mas sinto um par de mãos me agarrarem no exato momento que iria desistir de correr e me deixar levar. Dentro de uma van azul, Jade me encara em tom de censura enquanto tento recuperar o fôlego.
— Você deve estar muito puta - Afirmo envergonhado.
— Por que acha isso? - Grita revoltada - Eu mandei você ficar no carro.
— Eu não sou um Assassino. Não preciso seguir você - Retruco indignado - E a propósito, estava tentando te ajudar.
— Da próxima vez não precisa gastar seu tempo comigo - Chegamos no topo de uma passarela quando o mesmo caminhão nos empurra para fora da pista, sendo que não consegue só por que Victor desacelera e coloca a van atrás do caminhão. O motorista do caminhão solta o freio bruscamente, nos fazendo quase bater. Assim que Victor faz o desvio, porém, um carro preto bate em nosso veículo e Samuel escorrega, abrindo a porta sem querer. O outro carro se alinha ao nosso e, antes que eu perceba, sou puxado por uma mão e jogado para fora do carro, caindo plataforma abaixo enquanto a luz do sol batia fraca em meus olhos e o vento soprava com tudo, como se aquele fosse meu instante derradeiro...


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Notas finais do capítulo

Meu Deus!!! Ele caiu...



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