Alvo e Scorpius assistiam Rose chorar, escondidos atrás de uma pilastra. A melhor amiga dos dois estava chorando, sentada em um banco no jardim. Os dois garotos, na metade de seu quarto ano em Hogwarts, estavam com medo de ir até lá e serem afastados pela garota.

— Você vai - disse Alvo.

— O que? - Scorpius sussurrou. - Eu não vou até lá, ela pode gritar comigo e ficar pior

— Ela não vai, Scorp - disse o garoto, calmamente. - Ela explode menos com você do que comigo.

Era verdade.

Scorpius respirou fundo e, sussurrando um “deseje-me sorte” para o amigo, caminhou o mais silenciosamente o possível até ela e sentou ao seu lado. Rose pareceu não notar, ou somente preferiu continuar chorando. Ele deu um abraço hesitante na garota e se surpreendeu quando ela o abraçou o mais forte que conseguia e chorou em seus braços.

— Ele terminou comigo porque eu não quis fazer sexo com ele - disse ela, entre soluços.

— Eu sei... ele contou isso pra escola toda antes do James socar ele até o babaca desmaiar - Scorpius dizia enquanto acariciava o cabelo cacheado da garota. - Mas Rose... isso prova o quanto ele não é bom pra você

— E quem é, Scorpius? - a garota levantou o rosto e olhou para o amigo. - Quem? Porque parece que toda a pessoa com quem eu me envolvo só quer algo de mim. Quer a minha popularidade, quer alguém pra ajudá-lo a passar de ano, quer sexo! Eu nunca fui o bastante pra ninguém Scorp, eu nunca vou ser o bastante pra ninguém!

Scorpius segurou o rosto da amiga e a olhou nos olhos.

— Nunca. Mais. Diga isso. Tudo bem? nunca. Você é importante pra várias pessoas nessa escola. Você é importante pra sua família. Você É o bastante, sim. Me deixa muito mal te ver assim.

Rose encarou Scorpius antes de beijá-lo com urgência. O garoto ficou sem reação até segurar suas mãos gentilmente e afastá-la. 

— Rosie... eu fico lisonjeado, de verdade, mas...

— Por favor - o lábio de Rose tremia. - não me diz que eu não sou o bastante pra você também.

— Não é isso, é que...

— Eu não sou o bastante pra você! - a garota interrompeu o amigo novamente. - eu sou idiota, ridícula e eu achei que realmente você poderia sentir alguma coisa por mim mas ninguém pode sentir algo de bom por mim...

Scorpius fechou os olhos. Ele não queria admitir seu segredo guardado por longos três anos, mas ele não podia deixar que ela achasse que ele não correspondia seus sentimentos pelos motivos errados.

— ROSE! - Scorpius gritou. - Eu sou apaixonado pelo Alvo!

O garoto só se deu conta de que Alvo ainda estava atrás da pilastra quando o amigo gritou um “puta merda” e cambaleou para fora da pilastra. 

—

Scorpius deixou a sua última caixa na sala de seu novo apartamento. A vida adulta era tudo que lhe disseram. Cruel, cheia de contas para pagar e extremamente solitária. Ir para Boston depois da formatura pareceu uma boa ideia para ele durante os anos que ficou lá cursando a faculdade, pelo menos na maioria das vezes. Ele tinha conseguido tudo que ansiou durante os anos de sua infância e adolescência: a liberdade. Embora amasse os pais, Scorpius havia sido criado dentro de uma bolha em sua mansão luxuosa na parte rica de Londres. Não que ele estivesse reclamando de todos os privilégios que teve, muito pelo contrário, ele era extremamente grato. Mas todo aquele conforto e o fato de ser filho único o tornou passivo diante de todas as coisas ruins que aconteceram ao seu redor.

Foi por isso que ele decidiu largar tudo e se mudar para outro continente.

Começou com uma experiência positiva. Ele tinha resolvido sua entrada na faculdade, assim como a compra de seu apartamento há 10 quilômetros da faculdade por contra própria. Mesmo que tudo isso tivesse lhe gerado ansiedade no começo, ele estava orgulhoso de si por ter feito tudo sozinho e ter se mudado pareceu a melhor ideia que já tinha tido.

Até as coisas na Inglaterra ficarem piores do que já eram.

Rose sempre teve problemas pessoais. Seu irmão mais novo, Hugo, sempre foi um garoto problemático. Seus pais estavam tão ocupados com ele que nunca perceberam como ela também precisava de ajuda. Scorpius não os culpava, nem um pouco. Ele tentava ao máximo ter certeza de que sua melhor amiga estivesse o melhor que pudesse. Ele pensava que ela ia conseguir sozinha quando se mudasse. Se não fizesse isso, seu namorado Alvo cuidaria dela, já que ele tinha recusado ir e morar junto com ele.

Mas, santo merlim, como Scorpius estava errado.

Rose Weasley tinha tentado suicídio durante o tempo que Scorpius foi para os Estados Unidos. Ela teria conseguido por tão pouco que ele o fez pegar suas coisas e voltar assim que soube o que sua amiga tinha tentado fazer.

Era por isso que estava aqui. Ele não quis voltar para a casa dos pais e voltar a vida de superproteção que seus pais o proporcionavam. Ele vendeu seu apartamento de Boston e comprou um no centro de Londres, bem barato por sinal. Seu namorado ainda era relutante em morar com ele e tornar o relacionamento mais sério - Os Potter tem medo de compromisso, a namorada de James dizia. - mas ele tinha concordado em ajudá-lo a desencaixotar e colocar suas coisas no lugar.

O rapaz pensou que era ele quando ouviu a campainha tocar, então seguiu animado para a porta, já imaginando pular nos braços do namorado. No lugar do garoto magricela e moreno que namorava, ele encontrou um pacote com um bilhete grudado.

Scorpius o pegou com curiosidade e o colocou sobre a mesa. A caligrafia no bilhete denunciava ser de Alvo, já que Scorpius reconheceria aquela letra de forma e desleixada em qualquer lugar.

Rose me pediu para te entregar antes de ir... para aquele lugar. Eu não toquei em nada, ela me deu ordens para que você assistisse tudo sozinho. Achei melhor só te entregar quando você estivesse instalado no apartamento.

Ainda vamos jantar essa noite? eu to morrendo de vontade de comida japonesa.

Amo você. Sinceramente seu, Alvo xx

Ele sorriu ao terminar de ler o bilhete e o guardou no bolso. Após abrir o pacote, Scorpius franziu o cenho ao encontrar treze fitas e uma carta. Ele a pegou e sentou no sofá, já prevendo que ia ficar emocionado ao ler. Fazia tanto tempo que não falava com Rose que só ver a carta escrita com a caneta rosa que ela adorava usar, seu coração já se enchia de saudades. 

Caro Scorpius Malfoy,

Antes de ir, gravei essas fitas pra você. Te escolhi pra contar o que me levou a fazer o que fiz porque durante o tempo que você ficou fora sinto que não fui sincera nem comigo mesma. Mas sei que você vai me entender, você sempre me entendeu. Por favor, não assista com o Alvo. Ele é muito sensível, você sabe.

Rose Weasley.

O garoto pulou da cadeira. Nem a tv ou o vídeo cassete haviam sidos instalados ainda. Rose e a sua resistência a tecnologia, ele pensou. Scorpius tirou a televisão e o vídeo cassete das caixas e ligou tudo correndo, com as mãos tremendo de ansiedade. 

Ele pegou a fita que dizia “Fita um” e colocou no aparelho.

Em alguns instantes o rosto de Rose apareceu na tela. O rapaz olhou hipnotizado para a tela, como se aquela gravação fosse uma projeção da sua mente para deixar tudo mais fácil.

Até ouvir a voz dela parecia bom demais para ser verdade.

— Hey - a Rose do vídeo sorriu um pouco. - Quanto tempo né? antes que você queira me matar ou algo do tipo: eu odeio aquele notebook que você me deu. Eu não sou orgulhosa o bastante pra não admitir que ele me ajudou muito, mas sério que as pessoas estão trocando a boa e velha filmadora por essas coisas que só sabem travar e encher de vídeos e os smartphones?

“Eu estou perdendo o foco, foi mal - a garota respirou fundo. - Nessas fitas eu vou te contar porque eu não conseguir cometer o que por muitos anos eu quis tanto fazer. Mas antes, eu quero te pedir perdão por ter cortado o contato entre nós. Eu sei que nada é desculpa pra eu sempre ter tentado te afastar, mas eu sou grata por você nunca ter ido realmente embora - ela olhou diretamente para a câmera. - Eu quero que saiba que você nunca deixou de ser meu melhor amigo e eu espero não ter deixado de ser a sua.

Pra te colocar a par de tudo, eu vou te contar as treze razões que eu encontrei pra não me suicidar. A treze coisas que eu achei pra parar e pedir ajuda. Você sempre me falou pra fazer isso, lembra? Agora você vai saber de tudo.”

A Rose da fita pareceu indecisa com o que contaria primeiro. Levou um tempo até que ela abrisse a boca e falasse de novo.

— Eu... achei alguém. - a garota sorriu - Depois de tantos relacionamentos fracassados, depois de tantas desilusões, eu achei alguém que me ama tanto quanto eu quero amar a mim mesma. O nome dela é Cassie. - Rose deu uma risadinha - está surpreso? bom, minha família ficou. Obvio que eles não se opuseram, pelo contrário, eles me apoiaram desde o primeiro dia. O Alvo pulou de alegria quando descobriu que na verdade eu não sou hétero. Eu queria tanto ter te contado isso pessoalmente... mas, sabe, eu to colocando a minha saúde em primeiro lugar como deveria ter sido desde o começo.

“Conheci a Cassie numa festa da faculdade. Eu estava arduamente tentando me manter sóbria e ela era a única pessoa além de mim que não estava bêbada ou chapada. Nós conversamos a noite toda e ai quando eu fui embora... ela me beijou. - Rose olhou para baixo, corada - Aconteceram várias coisas novas naquela madrugada... se é que me entende. O importante é que desde aquele dia a Cassie nunca mais saiu da minha vida. O que é um recorde, considerando o histórico que eu tenho de afastar as pessoas. Ela... - a garota falou enquanto girava na cadeira - parece que me completa, você sente isso com o Alvo? Talvez você sinta ciúmes disso e eu já peço perdão, mas ela é a pessoa que mais me entende no mundo. Ela nem uma vez deixou de dirigir até a minha casa se eu tivesse uma crise no meio da noite. Ela escuta todos os meus problemas e o mais importante: namoramos há 6 meses e ela ainda me dá borboletas.”

A melhor amiga de Scorpius levantou feliz e pegou uma das polaroids que estavam em um varal na parede. Ele sorria tanto quanto ela, satisfeito que a amiga tenha encontrado uma pessoa tão saudável para ela.

O que fazia ficar triste também, porque o lembrava que mesmo assim isso não a impediu de ter tentado acabar com tudo.

— Essa aqui é a Cassie. - Rose mostrou a foto para a câmera e depois a guardou - Os pais dela são egípcios e ela veio morar na Inglaterra pra fazer faculdade. Ela já é praticamente uma Weasley adotada, se quer saber. Acho que eu posso colocá-la como a razão um de não ter cometido suicídio.