As Damas Perrault escrita por Florrie


Capítulo 7
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo :D
Espero que gostem.



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— Capítulo 6 –



— Então, o que descobriu? – a garçonete estava de bom humor. Tinha arrumado-se um pouco melhor que o usual, com um vestido azul com uns laçinhos cor-de-rosa. Ainda assim, comparado com os vestidos finos das outras moças, não passava de farrapos. A garota não parecia se importar muito com isso, deslizando pela taberna quase como se estivesse dançando em um baile. Quando ela veio a sua mesa e perguntou aquilo, o aventureiro fechou o rosto. – Não muito.

            – Aquela maldita floresta; deviam fazer uma trilha decente.

            – Acha que ninguém tentou? – ela então se afastou aos risinhos, indo atender outra mesa.

            Pouco depois, um rapaz sentou na frente dele.

            – Meu tio estava se perguntando por onde você andava. – falou ele. – Claro que a taberna seria a opção mais lógica.

            – Boa noite para você também Alfonso.

            – Ora Dante, não me venha com essa cara. – Alfonso era alguns anos mais novo que o próprio Dante. Seu pai era padrinho dele e Dante já tinha tido sua cota de quantas vezes ouviu o pai dizer o quão bom seria se seu filho fosse um pouco mais como seu afilhado.

            Alfonso veio morar com o tio, um comerciante rico e muito divertido. Claro que o rapaz passava todas as horas do seu dia desejando voltar para casa em Alcantara. Nunca entendeu do que Alfonso tanto reclamava, afinal, seu tio era rico, não tinha filhos, provavelmente deixaria sua fortuna com o sobrinho e poderia viver a vida como bem quisesse.

            Dante não tinha um tio divertido e rico com quem morar, por isso se empenhava tanto na vida de aventureiro errante.

            – Não devia estar no comício? – perguntou.

            Aquele país não tinha Reis ou Rainhas, mas um Governador eleito a cada cinco anos. Três grandes partidos costumavam lançar seus candidatos. Os conservadores, os liberais e os moderados. O último Governador eleito foi um liberal e na casa de apostas, as pessoas acreditavam que seu sucessor conseguiria ganhar as eleições que aconteceria nos próximos meses.

            Os comícios enchiam as ruas da cidade, as pessoas vestiam roupas bonitas e iam ouvir seu candidato falar na Grande Praça. Mesmo os que só ficariam nos bares e tabernas se esforçavam para parecerem bonitos.

            – Meu tio está ajudando o candidato dele com o discurso e eu disse que viria procurá-lo.

            – Você me usou de desculpa para fugir.

            – Algo assim. – a garçonete voltou com uma caneca de cerveja para Alfonso. Ela piscou para Dante e saiu. Alfonso murmurou um: que garota estranha e voltou a falar: – O padrinho vai te matar se você aparecer com um bastardo.

            – Não estou planejando nenhum, mas estou considerando seriamente te dar um cascudo.

            Ele se inclinou e tentou bater em Alfonso que se esquivou agilmente.

            – Ei!

            – Eu sou mais velho, você me deve um mínimo de respeito.

            – Como se você algum dia tivesse ligado para isso. – Alfonso revirou os olhos. – Como foi sua aventura na floresta?

            Ele não lhe deu nenhuma resposta, o que aparentemente foi o suficiente para fazer o rapaz rir.

            – Eu lhe disse, ninguém anda na parte profunda da floresta.

            – Eu andei... Um pouco, mas antes. – retrucou irritado. – Eu até vi alguém. Quer dizer, eu acho que vi alguém. No lago, mas ela sumiu.

            – Uma garota? – Alfonso perguntou sarcasticamente. – Impossível. Nenhuma garota nadaria por aquele lugar.

            – Por que não?

            – Por que é perigoso, oras. Tem gente que diz que tem lobos por lá.

            Lobos, ninguém me avisou sobre lobos.

            – Tem lobos e você não disse nada? – esbravejou, apontando acusadoramente para o outro.

            – Eu disse que tem gente que diz, mas ninguém realmente pegou um lobo. É apenas boato.

            Como queria esganar Alfonso. Tio Pierre ficará de coração partido se o sobrinho morrer, pensou, e ele provavelmente me expulsaria da sua casa. Alfonso estava rindo; os olhos azuis brilhando de contentamento enquanto ria a suas custas.

            – Então, você desistiu de descobrir o tal castelo na floresta?

            – Eu não sou um homem de desistir. – respondeu, mas na verdade, estava perto disso. Era como se a floresta o tivesse repelindo, não tinha ficado muito entusiasmado em voltar. Talvez devesse ouvir o outro, a única coisa que tinha na floresta era uma excêntrica Madame reclusa e suas garotas.

            Não iria admitir isso a Alfonso, claro.

            – Rapazes? – a garçonete voltou. Dante sorriu para ela, a moça também tinha ajeitado o cabelo, ou pelo menos foi uma tentativa. Os fios dourados continuavam desiguais, mas estava penteado e ela tinha prendido um bonito diadema neles. – Todas as mesas estão cheias, tem problemas esses dois ficarem com vocês?

            Ele respondeu sim antes que Alfonso pudesse negar.

            Os dois homens então sentaram com eles. Um do lado de Dante e o outro de Alfonso. O homem ao seu lado ele já tinha visto na taberna, às vezes com sua arma presa as costas, pronto para caçar. O cabelo era castanho arruivado e os olhos azuis claros, havia algo nele que o fazia sentir como uma raposa fugindo de um predador. O outro era loiro e alto, tinha um porte impressionante e uma elegância que não combinava com suas roupas simples. Um nobre? Poderia ser.

            Foi ele quem se apresentou primeiro.

            – Sou Adrien. – disse. – Desculpe se incomodamos.

            – Nenhum pouco. – Alfonso respondeu o surpreendendo. – Estávamos apenas falando sobre como o meu amigo é idiota o bastante para se aventurar na floresta atrás de um castelo mágico.

            Esse moleque.

            – Castelo mágico? – perguntou Adrien parecendo genuinamente interessado.

            – Não é nenhum castelo mágico. – respondeu lançando um olhar mortal para Alfonso. – Só uma história que me contaram aqui, sobre um castelo que ninguém nunca chegou a ver. Eu sou um adepto de aventuras, essa me pareceu interessante.

            – A floresta é perigosa. – disse o homem ao seu lado.

            – E você conseguiu? – perguntou Adrien.

            – Digamos que a floresta não ajudou muito. É muito densa e a vegetação cobre todas as trilhas.

            A garçonete voltou à mesa deles, trazendo mais uma rodada de canecas cheias de cerveja.

            – A última caçada foi boa Lucian? – ela perguntou enquanto pegava seu caneco vazio. – Sabe, – disse falando para Dante, – você devia levá-lo para a floresta, ninguém conhece aquele lugar melhor do que o nosso Lucian.

            – Ainda incitando as pessoas a procurar o castelo? – perguntou o tal Lucian com uma expressão neutra.

            – Algum dia alguém vai ter que achar. – respondeu sorrindo e então se retirou.

            Dante o olhou.

            – Você conhece mesmo?

            – É onde eu caço. – ele apontou o nariz na direção de Adrien. – Ele também está interessado em entrar lá e procurar pelo castelo.

            E então Dante olhou o outro que agora apertava o pingente do colar que carregava no pescoço.

            – Nós poderíamos usar um terceiro homem. – disse Adrien. – Eu estou procurando por alguém que costumava morar por lá. Quem sabe não achamos seu castelo no caminho?

            Não é uma má ideia. Alfonso parecia confuso com a reviravolta na conversa, o que só fez Dante ficar ainda mais animado.

            – Eu nunca digo não a uma aventura.

            Os dois apertaram a mão por cima da mesa. Atrás de Adrien, a garçonete passou e lhe deu uma piscadela. De nada, ele conseguiu ler dos seus lábios.

            Pela primeira vez em muito tempo foi obrigado a concordar com Alfonso em alto. Que garota mais estranha.







Noelle acordou subitamente. Havia tido um sonho muito estranho, nele tinha um belo par de sapatinhos de cristal, um príncipe cheio de fúria e uma tempestade torrencial. Quando olhou pela janela, percebeu que o dia amanheceu tomado pela a fúria dos céus. Estava todo escuro e a chuva caia impiedosamente. Quando tocou no vidro da janela sentiu o frio contra sua pele. Ela evitou pensar que tudo aquilo era um sinal ou mau agouro.

            Um criado bateu na porta do seu quarto com um recado de que deveria descer. Ela se trocou e saiu do quarto, desceu as escadas e andou até o hall. Foi a primeira a chegar e encontrou sua mãe de pé na porta da frente. Seus dois baús eram carregados para fora por mais dois criados, eles não se importavam com a chuva.

            – Eu pensei que a senhora fosse apenas visitar a cidade.

            – Eu tive um sonho curioso Noelle, por isso terei que me ausentar por alguns dias. – sua mãe andou até ela e lhe deu um longo beijo na bochecha. – Talvez tenhamos mais uma companhia quando eu voltar.

            – Uma menina nova?

            – Sim, mas não conte as outras agora. – sua mãe sorriu. – Aproveitarei para comprar algumas coisas. Todas vocês poderiam usar tecidos novos para vestidos, quem sabe também sapatos e chapéus. Eu também preciso abastecer meu estoque de ingredientes.

            – Para onde a senhora vai?

            – Não muito longe.

            Celia anunciou sua presença com uma risadinha, logo atrás dela estavam às outras. Sua irmãzinha correu até a mãe e a abraçou. Ela é tão doce, nunca tinha estado para fora dos muros do castelo, a mãe delas sempre foi especialmente protetora com Celia.

            – Meu amorzinho, mamãe sentirá muito a sua falta.

            – Eu também.

            Ainda abraçando Celia, sua mãe olhou as outras e anunciou:

            – Precisarei fazer uma breve viagem, mas pretendo voltar o mais rápido possível. – sorriu. – Sentirei falta de todas vocês.

            Pauline abraçou a mãe e logo depois foi a vez das meninas. Todas desejaram uma boa viagem e observaram da janela a carruagem escura de afastar em meio à chuva. É um péssimo clima para viajar, mas sua mãe não seria amedrontada por uma chuva, não importando o quão forte fosse.

            Um toque do sino anunciou que o desjejum estava na mesa. Todas foram para a sala de refeição, menos Noelle, que ficou sentada no parapeito observando os portões dourados se fecharem. Logo depois percebeu que não tinha ficado sozinha.

            – Você é sempre tão preocupada Noelle.

            Odette vestia apenas uma túnica cor-de-rosa e um casaco de peles para protegê-la do frio. Ela pretende sair nessa chuva? A garota sentou-se no sofá, levantando as pernas e as apoiando no braço do móvel. Em qualquer outro lugar, esse movimento seria, no mínimo, indiscreto. O tecido escorregou pelas pernas dela, deixando bastante pele exposta. Às vezes Noelle desconfiava que Odette gostava de desafiar as outras a se sentirem tímidas.

            – Você é sempre tão tranqüila.

            – Eu tive um sonho agradável. – contou. – Quer ouvir sobre? Foi com um homem...

            – Não preciso ouvir os seus sonhos.

            – Vamos até a cidade Noelle. – pediu Odette. – Eu, você e Alayna somos as mais velhas afinal, já temos vinte e um anos, é preciso alguma experiência com o sexo oposto e não vamos tê-las por aqui.

            Prevendo sua resposta, a outra se adiantou:

            – Homens são perigosos, sim, eu sei; mas existem coisas divertidas que você pode fazer com eles. – ela se levantou graciosamente, seu sorriso ficou mais largo. – Além do mais, considerando que nós somos e o que podemos fazer, eu diria que são eles que têm que tomar cuidado para não se machucar.

            – Odette, a cidade é perigosa.

            – Apenas se você tem medo. – a garota botou o cabelo atrás da orelha. – Você não é tão diferente de nós, não se esforce tanto para fingir que é.

            E então ela simplesmente se virou e saiu deixando Noelle para trás.







A chuva torrencial impediu qualquer plano de irem para a floresta. Dante então foi encontrar Lucian e Adrien no pequeno barzinho na grande praça, mas apenas para confirmar o que já sabia. Com aquele tempo, ficava impossível ir naquele dia. Eles então beberam e conversaram. O caçador era um homem de poucas palavras, apenas um ano mais velho que ele – ficou surpreso ao descobrir –, e deixou que o outro falasse mais. Por Adrien descobriu que os dois se conheceram no dia anterior, ele estava atrás de um guia e Lucian conhecia bem a floresta.

            – Meu pai é comerciante e minha mãe o ajuda na loja.

            – O que ele vende?

            – A loja é de tecidos e chapéus, mas ele vende todo o tipo de coisa. – contou. – Eu tenho cinco irmãos, então a casa sempre foi cheia e barulhenta. Não estou reclamando, tem seus momentos, mas sempre foi difícil ter um pouco de privacidade.

            – Eu sou filho único. – disse Dante. – Mas todo mundo comentava que eu tinha a energia de umas três crianças.

            – Eu mal me lembro de quando era filho único. – comentou Adrien.

            – Então você é o irmão mais velho. Bastante responsabilidade.

            – Bem, de certa maneira eu sou.

            Dante não perguntou o que ele quis dizer com aquilo, pois Lucian apontou discretamente para a rua e falou:

            – Olhe a dona do castelo que você quer espiar.

            Lá na rua ele viu uma carruagem preta contornar a praça. As pessoas paravam e olhavam para o veículo com a mesma curiosidade que a dele. A carruagem parecia um abobora e era toda preta, na verdade, até os cavalos eram pretos. Havia uma pequena janelinha, onde uma cortina de veludo – também escura – impedia de ver o que estava dentro. Para a surpresa deles, da janelinha surgiu uma mão, estava coberta por uma luva verde musgo e cheia de anéis de ouro.

            – Aquela é a famosa Madame Perrault?

            – Sim. – respondeu Lucian.

            Do seu outro lado, Adrien permaneceu calado. Ele tinha seguido a carruagem com o olhar, carregava a mesma fascinação que ele.

            – Uma mulher estranha. – ele comentou por fim e então olhou para Dante. – Ainda quer se aventurar no castelo dela?

            – Meu caro, agora eu estou ainda mais curioso.



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Notas finais do capítulo

O que acharam? Comentários são sempre bem vindos. Não precisa ser tímido não ;)
Beijos para todos
E bom Carnaval.



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