As Damas Perrault escrita por Florrie


Capítulo 5
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

O primeiro capítulo que se passa em um tempo diferente.
Espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/715772/chapter/5


— Capítulo 4 –


Passado

 


Aproximadamente 30 anos atrás



Há muito tempo havia um mercador.

            Ele nasceu em uma terra distante, para lá das montanhas vermelhas, na Cidade Dourada de Amesh. Fazia muito tempo desde que se pôs na estrada junto com seus irmãos. Eram vendedores hábeis, haviam conseguido construir uma loja em um dos muitos reinos das Terras Verdes e seu temível irmão mais velho, que tinha conspirado para matar ele e os outros irmãos envenenados em um banquete, não parecia ter ideia de onde estavam.

            A vida era boa nessa parte do continente. Realmente boa.

             Um dia, ele e o segundo irmão viajaram para um reino pequeno, mas muito bonito. O reino talvez fosse pequeno, mas o porto era de encher os olhos. Pretendiam expandir os negócios e vender os tecidos bordados a moda Amesh nessa parte das Terras Verdes. Na primeira noite conseguiram conversar com alguns mercadores e até convenceram o dono de uma loja de alta costura a indicar seu tecido para os vestidos das damas da alta sociedade.

            Foi dessa maneira que Madame Gaudet chegou até eles.

            Era noite e chovia bastante. Eles já estavam na cidade a mais de uma semana e discutiam a melhor maneira de expandir os negócios quando alguém bateu na porta. Era um homem, alto e esguio, que se identificou como o mordomo de uma grande casa. Ele tinha um recado.

            A excelentíssima Madame Gaudet os convidava a sua residência.

            – A carruagem os estará esperando amanhã de manhã.

            E então ele partiu sem nem ao menos esperar a resposta deles, mas esse era o modo que os nobres faziam por aqui, não muito diferente de Amesh.

            O mercador e seu irmão partiram na primeira hora da manhã, quando a madrugada ainda era escura e o cheiro de chuva impregnava as ruas. O cocheiro não falou nada, disse apenas que a residência ficava relativamente longe da cidade e que seria uma viagem de pelo menos um dia. Foram sacudidos pelos buracos na estrada e dormiram desconfortáveis no assento. Foi com grande alegria que os dois ouviram o cocheiro anunciar que chegaram ao seu destino.

            Os Gaudet viviam em um castelo baixo que mais lhe parecia uma grande casa senhorial da Cidade Dourada. O mesmo mordomo que entregara o recado os esperava do lado de fora. Ele os guiou até aposentos bonitos em uma das muitas alas da casa. Comeram com fatura e tiveram uma boa e longa noite de sono.

            No dia seguinte foram levados até a sala de visitas. Três mulheres os esperavam. Uma mais nova e as outras duas mais velhas. A que parecia ter um grau maior de importância sentava em uma cadeira dourada luxuosa entre as outras duas. Em Amesh as Donas de grandes casas distinguiam sua importância pelo número de jóias no corpo. Sua avó costumava andar com os braços cobertos por pulseiras de ouro e o cabelo cheio de pedras preciosas, as outras mulheres não podiam exibir mais jóias que sua avó. Aqui os costumes podiam ser diferentes e a mulher no meio podia não ter mais jóias que as outras, mas havia algo nela que o fez ter certeza que ela era a Dona daquela família.

            O mordomo tinha explicado que a senhora da casa era a Madame Marguerite, esposa do lorde Gaudet. A segunda mulher devia ser sua nora, Madame Anne e a mais nova era a sobrinha órfã da Madame Anne, Evalina Leblanc. O mercador e seu irmão esforçaram-se para não errar nenhum nome e pronunciá-los corretamente. Ele teve êxito, mas o irmão pesou no sotaque ao falar com a jovem Evalina.

            Ela riu encantada e os dois se olharam por mais tempo do que seria permitido.

            Claro que apenas o mercador notou essa indiscrição. As duas Madames os teriam expulsado em dois tempos. Tudo ficou ainda mais desconfortável – ao menos para ele – enquanto mostravam os tecidos. O irmão não conseguia disfarçar o encantamento que sentia pela jovem e o mercador temia que ele acabasse chicoteado em praça pública ou pior, morto em uma forca.

            Quando terminaram de apresentar suas mercadorias, Madame Marguerite pareceu bastante satisfeita e os convidou a passar alguns dias na propriedade. Ela gostava de ouvir histórias sobre lugares distantes, falou para eles, e ela adoraria que eles contassem sobre Amesh.

            Os dois o fizeram no jantar. Lorde Gaudet não estaria presente, nem seu filho e herdeiro. Só havia as mulheres da casa. Madame Anne explicou que os homens tinham partido dias antes para uma breve viagem, iriam visitar um grande amigo doente. Lorde Gaudet teria gostado dos dois irmãos, continuou ela, ele era um grande entusiasta de culturas estrangeiras.

            – Ele os teria enchido de perguntas.

            O mercador começou a contar o que podia e lembrava. Moravam no coração de Amesh, na capital onde residia a família imperial, em uma casa bonita, de tijolos amarelos e grandes tetos abobadados. Tinham um pai mercador – de onde herdaram o talento para os negócios – e uma mãe que foi dama de companhia de uma princesa imperial. Um dia o pai morreu; uma peste vinda das terras Além do Pôr do sol. Então ele e mais dois irmãos vieram para as Terras Verdes.

            O mercador ocultou muitos detalhes, como o fato do primeiro filho ter atentado contra a vida dos outros para que não houvesse disputas na herança. Em Amesh, o proprietário nomeava seu herdeiro no que chamava de Decreto Final, apesar de costumeiramente ser o mais velho, não era uma regra, qualquer filho poderia ser escolhido. Ocultou também como fugiram em uma caravana sem nada mais do que as roupas do corpo e o pouco ouro que conseguiram surrupiar; como usaram de meios questionáveis para fazer uma vida respeitável e esconder suas identidades.

            As mulheres pareceriam satisfeitas com a história. Madame Anne começou a fazer mais perguntas quando uma jovenzinha entrou na sala acompanhada de uma criada. Era uma menina de talvez onze ou doze anos, com bonitos cachinhos loiros e olhos azuis.

            – Está é Corinne, minha filha. – apresentou Madame Anne. – Ela estava em suas lições hoje e não pôde vê os tecidos, mas gostou muito, não é mesmo querida?

            – Sim, são muito bonitos. – a menina parecia uma princesinha e se fosse julgar por todas as jóias que usava, ele diria que ela era a Dona da casa.

            Quando o jantar acabou, ele e o irmão retiraram-se para os seus quartos. Antes de dormir, ficaram no quarto do mercador conversando. Discutiram os negócios até que o irmão finalmente disse:

            – Ela não é a mulher mais bonita que já viu?

            – E muito fora do seu alcance. Esqueça irmão, nós vamos embora muito em breve. – respondeu. – Pedirei que nosso irmão escolha uma moça para você se quer tanto assim casar.

            – Não há no mundo moça com tal beleza.

            – Beleza não é tudo. Ela pode ter olhos bonitos e um coração podre. – então o enxotou para fora. Estava farto de ouvir essas besteiras.

            Passaram-se dois dias. Madame Marguerite prometeu levá-los para encontrar outras mulheres da alta sociedade, pessoas que adorariam comprar seus tecidos. A contragosto o mercador separou-se do seu irmão; enquanto ele partia para a residência mais próxima, onde várias Madames se reuniriam para vê-lo, o irmão ficaria na casa dos Gaudet.

            Foram quatro dias intensos e sua preocupação se tornou um pequeno incomodo que mal foi notado. Havia muitas mulheres e todas estavam ávidas para negociar. Não tenho mercadoria para todas agora, falou, mas vocês podem encomendá-las. Então precisou anotar o pedido de cada uma e explicar que seriam todas bem vindas para visitá-los. No fim de cada dia ele pegava sua flauta e tocava para as Madames, ouvia os cumprimentos e subia para dormir.

            Então voltaram para a residência dos Gaudet, mas assim que avistou os portões, viu também uma haste fincada no chão. Uma bandeira tremulava, exibia dois leões rugindo. O que era aquilo? Perguntou e Madame Marguerite explicou; a casa real, os Artois.

            Seu irmão estava eufórico ao encontrá-lo. Contou que a Rainha tinha chegado no dia anterior e que havia adorado os tecidos.

            – Uma Rainha! Nosso irmão ficará com tanta inveja por não ter vindo para cá.

            A euforia do irmão deu lugar à tristeza quando, à noite, ele se deu conta de que essa seria a penúltima no castelo. O mercador julgou que quando voltasse para casa, o irmão retornaria ao seu estado normal e esqueceria aquela paixonite sem futuro. Ele nem mesmo a tinha citado nas suas conversas, o que era um bom sinal, certo?

            Talvez não.

            Naquela noite o mercador se levantou sentindo muita sede. O jarro no seu quarto estava vazio, então julgou que não faria mal nenhum ir até a cozinha enchê-lo. Do lado de fora, os corredores permaneciam escuros e vazios, quase sinistros. Fez o caminho que se lembrava, descendo as escadarias e atravessando o salão de entrada. Avistou uma portinha escondida que certamente levaria a ala dos empregados quando um objetivo estranho rolou das sombras até bater na ponta do seu chinelo. Ele se abaixou e pegou, era uma maçã.

            Era de um vermelho tão intenso... Não via maçãs tão vistosas quanto aquela.

            – Com licença, mas isso é meu.

            Sorte que segurou o grito se susto. Teria sido constrangedor ser assustado por ume menina de doze anos.

            – Minhas desculpas Madame Corinne.

            – Não sou uma madame, sou solteira, o termo certo é mademoiselle.

            — Certo, mademoiselle Corinne. – ele ainda segurava a maçã. – Então isso é seu?

            – Sim.

            – Deveria limpá-la para comer, estava rolando no chão.

            A garotinha empinou o queixo e o olhou como se ele tivesse dito algo realmente estúpido.

            — Eu não vou comer agora senhor. – ela pegou a maçã com cuidado e olhou-a com uma fascinação estranha. – Ela será guardada para um momento muito especial.

            Um vento forte bateu contra a janela causando um barulho assustador. Pela segunda vez ele se viu com medo. Que coisa mais estranha, pensou consigo mesmo. A mademoiselle Corinne continuava segundo a maçã como se fosse uma pedra preciosa. Que gente estranha.

           — Não sabia que guardavam maçãs por aqui.

            Novamente ela lhe deu um olhar superior.

            – Senhor, essa maçã é muito especial. Um dia eu vou dar uma mordida e eu cairei em um sono profundo, quase como se estivesse morta. Então, meu príncipe me encontrará e ele me dará um beijo de amor verdadeiro. Eu serei a futura Rainha.

            Aquela era a coisa mais bizarra que já tinha ouvido. Convencido que conversar com aquela jovenzinha, de madrugada, não era o mais inteligente a se fazer, o mercador disse que iria encher o seu jarro de água e voltar para o quarto.

            – Está todo mundo com sede. Minha prima, mademoiselle Evalina, também estava enchendo seu jarro. Viu... mademoiselle, porque ela não é casada.

            Com uma despedida desajeita, o mercador se afastou daquela garota e foi até a cozinha. Aquele sentimento de inquietação voltou ao seu peito. Não, era apenas coisa da sua cabeça. Seus irmãos diziam que ele imaginava demais, via coisa onde não tinha.

            Quando chegou a cozinha não encontrou nenhum lugar para encher o jarro. Olhou pela janela e viu que teria que ir até lá fora se quisesse água. Ótimo, contrariando, novamente, sua vontade, ele abriu a porta e saiu em direção da torneira. Ela tinha o formato de um golfinho e estava pregada em uma parede de pedra que constituía uma casa menor, com apenas duas janelas. Devia ser algum tipo de celeiro ou deposito.

            O mercador colocou o jarro na base e abaixou a alavanca varias vezes. Estava quase terminando quando ouviu vozes vindas de dentro da tal casa. Duas mulheres... Não era cortês ouvir duas damas conversando, nenhum pouco cortês. Como o homem educado que sua mãe o criou – e certamente ela o fez –, ele pegou seu jarro e foi se distanciando, mas estancou quando ouviu uma das mulheres dizer exasperada:

            – Isso certamente não está no nosso contrato. – novamente, ele não devia ouvir tais coisas. Um homem educado não espiava ou ouvia escondido, mas então a mulher continuou: – Rainha ela será, como você me prometeu!

            — Eu nunca disse que não seria. Rainha será por belos anos dourados.

            – Então que loucura a fez vir aqui e me dizer essas coisas? Bruxa.

            Bruxa. Ele tinha conhecimento suficiente nas várias línguas das Terras Verdes para saber o que bruxa significava. Em Amesh, as shiras como eram chamadas, eram mulheres que sabiam a arte das ervas, faziam poções que podiam curar ou então matar alguém. Às vezes, uma shira era capaz de vê coisas que ninguém poderia vê, ler a sorte na palma da mão de alguém, abençoar objetos para dar sorte. Em últimos casos, havia shiras poderosas, como a luminosa Lalaya, que mudou a direção dos ventos, formando um remoinho que destruiu a frota de um imperador inimigo. Quando veio para as Terras Verdes, descobriu que ninguém chamava alguém de bruxa levianamente.

            — Rainha será, mas eu pressenti uma grande escuridão cobrindo seus dias dourados. – a mulher, que talvez fosse bruxa, talvez não, deu uma risada sinistra. – Tem vigiado bem sua casa Madame? Pois devia, a vergonha pode se abater sobre ela muito em breve.

            Ele tentou forçar as pernas a andar, mas isso não aconteceu.

            – Devia mandá-la prender por sua insolência.

           — Ora Marguerite, como eu faria da sua amada netinha Rainha se eu estivesse presa? – e então ela disse, – Diga-me, ainda pretende casar aquela mocinha bonita que abriga aqui com aquele velho glutão?

            – Do que isso lhe interessa?

            — Oh... Nada minha querida, mas talvez seus planos não sejam como esperado, devia se preparar para isso. – a bruxa respondeu. – Mas você descobrirá amanhã de manhã, quanto à garotinha, eu tomarei as precauções certas para que a sombra que eu vi não passe apenas disso, uma sombra passageira, nada que possa ofuscar a luz da jovenzinha.

            – Eu lhe paguei bastante para isso.

           — Ele a amará. – disse como se não tivesse ouvido as palavras da outra. – Amará como nunca vai amar ninguém na vida. O beijo de amor vai cuidar disso... Não há nada mais poderoso, uma boa historia encenada que acaba com um beijo. – ela riu. – Nos veremos de novo Madame, até lá, cuide de sua saúde, uma mulher de sua idade deve ter cuidado com isso.

            E então o mercador ouviu passos. Cambaleou desesperado até a porta, tentando abri-la sem sucesso. Não estava trancada. Tentou mais algumas vezes quando ouviu uma voz atrás de si.

           — Diga-me rapaz, o quanto ama sua vida?

         O mercador deu um pulo e virou-se. Conhecia a voz, era a tal bruxa. Era uma senhora estranha, com cabelos brancos presos em um coque e um vestido sem graça coberto por um xale igualmente sem graça.

            — O que?

            – Devia pegar suas coisas o mais rápido possível e ir embora. Não espere o sol raiar ou as donas da casa acordar; muito menos espere os homens voltarem. Vá embora rapazinho. O que está feito não pode ser desfeito, não vai conseguir nada além de pagar pelo ato do seu irmão. – ela riu a mesma risada medonha de antes. – Agora entre e siga meu conselho, ou não, sempre achei o livre arbítrio e suas conseqüências extremamente fascinantes. A Madame está vindo, não vai querer que ela o veja aqui.

Ele rapidamente correu para dentro da casa. Na manhã seguinte, disposto a esquecer tudo o que ouviu, o jovem homem levantou cedo, quando os galos começaram a cantar lá longe. Ninguém estava acordado, apenas os empregados, que passaram nervosos por ele, sem notá-lo. O mercador desceu e encontrou o mordomo, o homem lhe lançou um olhar fulminante antes de sair da sala. Mas que estranho, será que a Madame teria descoberto que ele ouviu sua conversa? Ou então que conversou com a tal bruxa?

            Ele saiu pela porta da frente, o céu dava os indícios de começar a clarear, a brisa fria era como um tecido suave batendo contra seu rosto. Dois homens empunhando suas armas passaram por ele, o mordomo abriu a porta os olhando.

            – Encontraram?

            – Não senhor.

            – Pois procurem mais, gostaria de encontrar aqueles dois antes de ter que acordar as Madames. – disse. – Que escândalo, que escândalo.

            Mais o que estava acontecendo? Ele então, nervoso, parou um dos homens e perguntou. Eles responderam que uma moça da casa não foi encontrada em sua cama hoje de madrugada quando uma criada foi trocar o carvão da sua lareira, assim como um dos hospedes. Acham que fugiram, provavelmente para as florestas, mas não precisava se preocupar, eles iriam achá-lo. Vão pegar os cachorros e vão farejar os dois rapidinho.

            E então os homens partiram e ele cambaleou para trás subitamente tonto.

            Não deixe o sol raiar. Tinha dito a bruxa.

            Correu para dentro, subiu as escadas e foi até o quarto do seu irmão. Sua mala modesta com roupas e pertences havia sumido. Não pensou duas vezes, pegou tudo o que tinha, todo o dinheiro que conseguiram com suas vendas, pegou o que sobrou no quarto do irmão, e foi embora o mais depressa possível. Quando o sol ganhou o céu, ele já estava na estrada e tinha conseguido transporte com uma família de agricultores até a cidade por algumas poucas moedas.

            Uma semana depois estava de volta a sua casa. Ele e o irmão mais velho souberam depois da história inteira, ou pelo menos do que foi contado. A mademoiselle Evalina desapareceu semanas antes de ser realizado seu casamento com um respeitadíssimo senhor viúvo e muito rico. Contava-se a fofoca que ela fugiu com um homem de nascimento incerto, um escândalo realmente, pois quem conhecesse a mademoiselle não suspeitaria de falha tão grande de caráter.

Os Gaudet não os procuraram, ou pelo menos, não os acharam. O que foi um grande alívio.

            Nem o mercador, nem o irmão mais velho voltaram a pisar naquele lugar. Sua aversão pelo pequeno país apenas diminuiu quando, um dia, depois de alguns bons anos, aquele lugar ficou nublado em sua cabeça. Rainha? Eles já tiveram uma antes? Não fora sempre o Governador quem detinha o poder?

            De onde tiraram essa história de Rainha, Rei e Príncipes? Não... Nunca tinham ouvido falar disso, apesar do mercador, às vezes jurar que tinha sim conhecido uma Rainha e uma menininha que queria muito ser Rainha.

            Um pouco depois receberam uma carta do irmão desaparecido. Ele contava que estava muito feliz e que gostaria de visitá-los. Pedia desculpas pela demora em mandar noticias, mas sabem como é, a vida podia ser tão tumultuada. Mas é claro, responderam os irmãos, nós sabemos bem disso.

            Os irmãos se reencontraram e foi uma grande festa. Por que mesmo passaram tanto tempo sem se falar? O mercador e o mais velho tinham certeza que sentiram raiva por algum motivo, mas que motivo era esse? Se não lembravam não devia ser tão importante assim. Ele apresentou a esposa, Evalina... Com quem ele fugiu... Todos riram, mas que história engraçada e romântica, que bom que nunca foram achados pela a família da moça...

            Inclusive, quem eram eles mesmos? Estavam todos com dificuldade de lembrar.

            O irmão e a esposa tinham vários filhos, deixamos os mais novos em casa com a Sra. Fox, mas trouxeram os mais velhos. Um rapazinho quatorze anos, uma garota de doze, e um menino de nove ou dez. Os dois primeiros se pareciam com seu irmão, os cabelos escuros e os olhos amendoados, mas o terceiro tinha, evidentemente, puxado a mãe, com os cabelos dourados e os olhos azuis. O terceiro é adotado, confidenciou o irmão aos outros dois enquanto estavam na cozinha, o pobrezinho estava perdido nas ruas, todo machucado, nós o levamos para casa; por causa de Evalina, não tem ninguém que não diga que não é nosso.

            Quando estavam para ir embora, o mercador se abaixou na altura do terceiro sobrinho. Que engraçado, ele parecia tanto com alguém que conhecia... Evalina, ele se parece muito ela, mesmo não sendo seu filho de sangue... Não, uma parte da sua mente insistiu, parece com outra pessoa. Ele não largava o colar preso em seu pescoço, explicou que foi um presente especial.

            – Adeus tio. – despediu-se e saiu segurando a mão de Evalina.

            O irmão os convidou para uma visita, conhecer as outras crianças.

            Sim, será um prazer, responderam.

            Então foram dormir. Naquela noite o mercador sonhou com algo estranho, tinha uma bruxa, uma garotinha e uma maçã mágica.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

No próximo capítulo voltamos com o tempo atual. Esses capítulos no passado não serão muito numerosos - segundo meu planejamento aqui.
O que acharam? :D

Beijos ;*



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "As Damas Perrault" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.