As Damas Perrault escrita por Florrie


Capítulo 1
Prólogo




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— Prólogo –



Houve um dia um Rei, mas ninguém realmente se lembra.

            O esquecimento é uma sombra que paira na cabeça de cada mortal, mas um Rei brilha tão intensamente que mesmo após sua morte, seu nome se tornará eterno em livros e histórias. Contudo, com esse Rei foi diferente. Algo aconteceu...

            ... Ou melhor, alguém aconteceu.

            O Rei tinha uma Rainha, conhecida pela a astúcia e pela sua beleza. A Rainha lhe deu filhos e amou seu Rei de todo o coração. Vivendo em seu castelo magnífico no meio da floresta junto com todos os membros da corte, o Rei e a Rainha eram muito felizes. Um dia, no entanto, o Rei viajou. Sua Rainha o esperou e esperou até que ele regressasse, mas quando isso aconteceu, o Rei não estava sozinho.

            Ele trazia consigo uma moça, muito mais bonita do que a Rainha jamais foi e com uma barriga inchada que denunciava a gravidez.

            A jovem tornou-se a amante oficial do Rei. Ganhou os maiores aposentos do castelo, tinha as melhores roupas e as mais valiosas jóias. Quando seu bebê nasceu, foi dada uma festa que durou seis dias e seis noites.

            Isso fez crescer a ira da Rainha, que apesar de ter sido posta de lado pelo Rei, ainda tinha a preferência dos cortesãos e dos súditos. Sua raiva aumentou quando a jovem amante ficou grávida novamente, em um rompante de fúria, a Rainha saiu do castelo em uma noite escura e foi para a parte mais densa e perigosa da floresta. Lá ela encontrou uma velha bruxa que vivia sozinha em sua cabana.

            – Ela irá embora? O Rei será meu de novo? – perguntou a rainha.

            Ao invés de boas noticias a bruxa lhe deu uma profecia. O Rei não seria mais seu e seu filho, seu lindo filhinho, morreria pelas mãos de um bastardo que nascesse do ventre daquela mulher.

            – Mas eu posso lhe ajudar. – prometeu a bruxa.

            Ela poderia lhe dar a vingança que queria e proteger seu filho... A amante escolheria ir embora por si só, levaria sua cria com ela. Como poderia fazer isso? Ela perguntou... Uma maldição foi sua resposta, mas toda magia tinha um preço e estaria ela disposta a pagar? A Rainha estava e pagou o preço do sangue, espetou seu dedo em uma agulha enferrujada que coletou um pedacinho de sua energia vital. A bruxa prometeu que essa maldição seria carregada para sempre pela criança e que a mãe não seria, nunca mais, capaz de ter outro filho.

            – A maldição irá muito além. – disse a bruxa. – Seu conto de fadas se tornará um pesadelo, ela vai ir embora, mas a sombra da maldição a seguirá para sempre. Na hora do parto a maldição se impregnará nela como uma doença, caso ela não vá embora tão cedo quanto você deseja, ela vai acabar morrendo de qualquer maneira. – ela riu. – E então você pode dar um jeito nas crianças.

            A bruxa pegou um colar, rústico, e colocou na sua mão.

            – É muito poderoso Majestade, dê ao seu filho e isso vai protegê-lo até que tudo esteja finalizado. – e então ela completou. – Vida longa ao futuro Rei.

            Apesar de sentir-se fraca, a Rainha sorriu e então voltou para o castelo sem ser vista.

            Ou assim ela pensou.

            O bebê nasceu na primavera, mais uma menina. Diferente do que aconteceu com a primeira bastarda, a segunda não teve festas e nem foi apresentada a corte até meses depois do seu nascimento. O bebezinho parecia normal visto todo enrolado em mantas coloridas, por isso, quando a noite caiu, ela foi até o berçário e entrou no quarto do bebê. Estava dormindo tranquilamente e por um instante achou que a bruxa a havia enganado e não tinha nada de errado com a garota... Mas então ela notou uma mancha cinza iniciando no canto da barriga e cobrindo parte das costas. Ela tocou e parecia áspera, como se fosse a pele de outra coisa e não de um ser humano.

            – Foi você que fez isso. – aquilo não tinha sido uma pergunta. – Eu a vi naquela noite.

            Era a amante que veio ver a filha deformada. A Rainha virou-se para encará-la com um sorriso triunfante. Apesar da sua expressão, ela apenas negou qualquer acusação. Como ousava dizer que ela, uma Rainha, tinha se rebaixado a tanto? Pela filha de uma reles amante? Deixou-a sozinha com a filha, rindo por dentro. Dias e meses se passaram em perfeita harmonia, ao menos para ela. O Rei pareceu cansar de sua amante que passava mais tempo com as filhas, trancada no berçário, xingando-a em segredo; a jovem já não era mais tão divertida quanto antes. Seu marido voltou para a sua cama e apesar da Rainha não mais amá-lo, ela o aceitou; o faria despejar aquela mulher e suas filhas para longe e então ela seria Rainha, mas dessa vez sem o Rei. Não precisava dele por muito tempo, seu filho era muito novo para sentar no trono, mas ela podia ser sua regente até que ele tivesse idade.

            Não permitiria que o Rei colocasse em risco a vida e a herança do seu filho trazendo outra amante para dentro da sua casa.

            Sua felicidade chegou ao pico quando começaram a comentar sobre a bastarda amaldiçoada. As parteiras contavam que o bebê, assim que saiu de dentro da mãe, berrou, mas não como um bebê, como algo diferente, maligno. Nos primeiros minutos, ela tinha os olhos vermelhos e sacudia-se como um demônio diante de uma cruz, uma das parteiras lhe segredou. O Rei havia ameaçado todos para que mantivessem a boca fechada, mas no fim, todos ficaram sabendo. Estava certa que a aquela mulher decidiria por conta própria pegar as filhas e partir para o mais longe possível.

            A maldição funcionaria. A amante sumiria e então acabaria morrendo. E suas filhas... Ela podia dar um jeito nas duas ou então fazer uma nova visita a bruxa, ter certeza de que nenhum perigo cairia sob seu filho.

            Mas então ela ficou grávida, contrariando as palavras da velha bruxa. O Rei adiou seus planos de despachá-la da corte. Ela voltaria para a bruxa e exigiria saber o que tinha dado errado. Mas ela nunca o fez. Nunca teve a oportunidade. Antes mesmo de poder se preparar para sair à noite algo aconteceu. Algo grande que mudou a história daquele lugar para sempre.

            O que a Rainha nunca soube é que a jovem amante não era apenas uma moça qualquer. Havia poder no seu sangue, um poder mais antigo do que as paredes daquele castelo.

            Ela foi até a torre mais alta e a magia transbordou do seu corpo para todo o castelo. Todos foram engolidos pela terra; cada corpo virou uma rosa brilhante que formou um belo jardim. A magia ultrapassou os muros, fazendo espinhos, árvores e plantas brotarem em abundancia ao redor do castelo; uma densa névoa se concentrou nas imediações, ela confundia quem quer que passasse por perto. Ninguém mais seria capaz de achar o castelo e se por um acaso alguém fizesse tal feito, não poderia entrar, não com todos os feitiços que a jovem bruxa colocou naqueles muros.

            Sua magia ainda foi mais longe, chegando até a cidade; ela apagou qualquer rastro de memória que pudesse haver do Rei.

            Ele foi esquecido.

            A Rainha foi esquecida.

            Seu filho foi esquecido.

            Todos que moravam no castelo foram esquecidos.

            Por fim ela terminou de fazer sua justiça, aprisionando a velha bruxa em uma caverna para toda a eternidade.

            E então os anos se passaram e o castelo se tornou apenas uma lenda na cabeça das pessoas, mas todos sabiam de Madame Perrault, a mulher que vivia com suas filhas na floresta e acolhia moças desabrigadas em sua casa. Diziam que ela morava em um castelo na floresta, mas ninguém nunca o encontrou. Madame Perrault não recebia visitas e era raramente vista em eventos públicos; mas em algumas noites era possível vê sua carruagem preta passando pelas ruas do porto.

            Suas filhas e as outras garotas abrigadas, todas chamadas de as damas Perrault, não deixavam o castelo. Apesar de alguns rapazes jurarem terem visto moças de beleza sobrenatural brincando pelos campos, todos concordam que essas são histórias inventadas por garotos querendo se exibir.

            As histórias eram muitas sobre Madame Perrault e suas damas, mas ninguém realmente sabia a verdade. Alguns eram corajosos o suficiente para tentar descobrir, mas até agora, ninguém nunca conseguiu.


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Notas finais do capítulo

Espero que nenhum erro tenha fugido a minha revisão, caso tenha sido esse o caso, me desculpem.

Comentários são sempre bem vindos - e ajudam a motivar :)

Beijos ;*



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