As férias de verão acabaram. Eu e os maluquinhos voltamos para Musical High.

  Desarrumei as minhas coisas. Agora o meu caderno de músicas antigo estava comigo. O reli várias e várias vezes. É meio engraçado rever pensamentos e idéias antigas. Fiquei animada e escrevi mais uma música: “Ageage Again”. Um som alegre e extrovertido faz muito bem para o humor de qualquer um!

     ***

  Mais um dia de aula. Eu estava na minha classe tentando pronunciar esse inglês horrível.

  - Hatsune Miku. – ouvi a sensei me chamar. Droga! Era a minha vez de ler!

  Levantei-me, ajeitei o meu óculos e comecei:

  - “I lo-looked at th-the window and there she was: wi-with her bas- bas-” – travei. Não saía o que eu tinha que dizer. (Socorro!)

  - É “basket” – cochichou Rin.

  Sorri e continuei:

  - “Basket of flowers in her hand ca-calling my name.” – suspirei ao terminar.

  Voltei a me sentar e escutei a sensei me advertir:

  - Mais atenção. Da próxima você lerá até acertar, está bem?

  - Si-sim... – respondi envergonhada. Maldita gagueja! Por culpa dela eu sou horrível oralmente em inglês!

    ***

  Na aula de dança foi complicado. Dessa vez aquela Meiko-sensei pirou! Ela trouxe salto alto pra a gente treinar! Se eu não consigo dançar nem de sapatilha imagina de salto?! Eu vou quebrar a perna!

  Era pra dar uns passos pra frente e um rodopio, só que bem na hora do giro eu escorreguei e caí com tudo em cima de alguém! (Eu disse que não daria certo! )

  - Saí de cima de mim quatro-olhos! Anda! – só pela voz já descobri quem era: Akita Neru! (Ferrou!)

  - D-desculpa... – murmurei – Foi sem querer.

  - Você não tem jeito mesmo! – a loira continuou me xingando enquanto eu tirava o calçado para conseguir ficar de pé. As outras garotas ajudaram a ignorante se levantar.

  As maluquinhas vieram até mim perguntando:

  - Miku-chan, você está bem? – perguntou Luka.

  Assenti sem jeito.

  Pô! Eu só pago mico! Espera... Mico... Miku... Tudo se fala igual! Tá explicado! Até no nome! Afff...

     ***

  Depois de treinarmos no clube (tocamos minha música nova! ), os maluquinhos foram jogar uns games no fliperama enquanto eu as meninas fomos para os nossos quartos.

  Estava saindo um dia bem normal para o meu gosto... (Até demais...)

  Eu e a Gumi estávamos conversando, quando escutamos o som do nosso banheiro.

  - Fofinha, - ela me disse – você deixou o chuveiro ligado?

  - Não...

  Nos levantamos e abrimos a porta com cuidado. Tinha uma silhueta estranha dentro do box.

  - Isso! Um fantasma! – a verdinha concluiu com um sorriso de satisfação.

  Tremi na hora! Que droga! De novo não... Por que tem tantos monstros na minha vida?! Onde estão o “Sam” e o “Dean” de “Supernatural” quando a gente precisa?!

  - Fique aqui! – Gumi exclamou – Eu vou chamar a Luka e Rin! – saiu correndo – Eu já volto!

  - Não! Gumiii! – Ela não me ouviu...

  Eu tomei coragem e falei:

  - Ô s-seu fanta-tasma... – ele desligou o chuveiro – Você-cê poderia tomar banho em outro lugar... Po-por favor...

  Ainda de costas pra mim, com sua baita cabeleira pingando água, ele virou o rosto. (Eu acho que é o rosto. Não dá pra enxergar direito...)

  Engoli seco e acrescentei:

  - Mas se vo-você quiser fi-ficar mais um pou-pouquinho... Tu-tudo bem... – (Ai não! Ele vai me matar!)

  - Miku-chan? É você? – Droga! Ele sabe o meu nome! Ferrou!

  Ele abriu o box e pôs o rosto pra fora. Era... A IA?!

  - I-I-IA... – falei sem reação.

  - Oi! – ela sorriu.

  - Fofinha! Calma! Eu trouxe reforços! – a esverdeada apareceu com as outras duas maluquinhas, todas com aspiradores de pó e crucifixos.

  Elas pararam na frente do banheiro.

  - IA, você morreu?! – exclamou Rin.

  - Siga a luz, Aka Lia! Veja-a e siga-a! – Luka disse em voz alta (e põem alta nisso) apontando o crucifixo.

  - Hã...? – a pop star murmurou confusa.

  - Ah, não! – falou Gumi – Ela não sabe que morreu!

  Eu ainda estava ali: paralisada, só escutando aquelas bobagens.

  - Pessoal... – IA se manifestou – Eu ainda não morri.

  - O quê?! – as três doidas exclamaram.

  - Sério isso? – suspirei despontada.

     *** 

   Demorou um tempo para convencer aquelas três que IA ainda estava viva. (Já falei e repito: não é à toa que eu as chamo de “malucas”!)

  A minha ídola se vestiu e começou a se explicar:

  - Meiko-sensei me deixou vir aqui. Ela disse que não tinha problema eu usar o banheiro de vocês. Desculpem-me pela a confusão que causei.

  - Não, não. Nós que pedimos desculpas por dizer que estava morta. – disse Gumi.

  - Ah, isso não foi nada... – a moça sorriu.

  - Hum, – falei – Lia-san... O que você está fa-fazendo aqui, em Musical High?

  - O... O que estou fazendo? – ela perguntou nervosa. (Estava suando frio ou era só minha impressão?) Eu as louquinhas assentimos – B-bem... Eu meio que... Fuji.

  - Hã? – indagou Luka.

  - É-é... – IA continuou – Eu estou dando um gelo no Yuuma...

  - Por quê? – Rin perguntou – Vocês não iam se casar?

  - Íamos... Mas... A gente brigou. – ela murmurou a última palavra – E aqui é o único lugar que eu sei que ele não vai me encontrar.

  Ficamos surpresas com o que ela nos contou. Parece que os dois discutiram por ciúmes do rosado e ela se irritou e jogou um prêmio de primeiro lugar dele na cabeça do próprio (cruzes!) e quebrando o objeto. Daí ela fugiu para o nosso internato. Meiko e Haku-sensei a deixaramela ficar desde que se disfarçasse entre os estudantes.

  Por fim, Lia-san ficou no nosso quarto, comigo e Gumi. (Aiii! Eu não acredito!)

     ***

  No dia seguinte, eu acordei meio sonolenta. Eu tinha demorado pra dormir (muita ansiedade de estar no mesmo quarto que a minha diva), então ainda eu estava cansada. Me levantei. Dei apenas dois passos e já caí.

  “Estranho...”— pensei – “Está tão macio...”— fechei meus olhos.

  - Miku-chan... Você está em cima de mim...

  - O quê?! – exclamei assustada. Sim, eu tinha tropeçado no colchão da Lia-san e caído em cima dela. (Que vergonha!)

  Ela começou a rir enquanto eu levantava com o rosto vermelho e tentando falar “me desculpe”.

     ***

  Eu e as meninas nos arrumamos para mais um dia de aula. IA decidiu ficar no nosso quarto mas, para prevenir, ela se disfarçou: pôs sua peruca roxa e suas lentes de contato verdes além do uniforme do internato.

  Nós saímos do alojamento feminino e, no caminho para a sala de aula, encontramos Len e Kaito:

  - Meninos, vocês nem sabem! – exclamou Luka se aproximando dos dois.

  - Claro ninguém nos contou. – disse irônico o azulado. (Shion e seu sarcasmo... Aff!)

  Puxamos eles para um canto e contamos tudo. O Kagamine até se surpreendeu mas o outro nem ligou. (Sério, que chato! Uma pop star famosa está aqui e ele nem se importa?!)

  - Eu posso ver ela? – perguntou o loiro ansioso.

  - É claro que não, né? – disse Rin – Ela está no prédio das garotas! Vocês não podem ir lá!

  - Então por que ela não vem pra cá? – ele argumenta.

  Gumi suspira e responde:

  - Ela está dis-far-ça-da! Que parte disso Você não entendeu?!

  - Quem está “disfarçada”, Megpoid-san? – perguntou Miki-sensei. (Ferrou! Droga, se a sensei descobrir estamos fritos!)

  - Hã... – ficou sem reação a verdinha.

  - Anda, diga. – a mulher insistiu.

  - Be-bem... – improvisei – Eu! – os Vocaloids me olharam com uma expressão desesperada.

  - Como? – ela arqueou uma sobrancelha.

  - É por causa da apresentação do final de ano. – disse Kaito – Como a Miku é tímida, ela queria se disfarçar. Nós estamos tentando convencê-la que isso é ridículo. Né pessoal?

  - Sim, sim! – sorriu Luka – Essa fofa é muuuuito tímida! – se aproximou de mim e apertou uma de minhas bochechas.

  - Agora entendi! – falou a sensei – Bom, depois vocês conversem sobre isso. A aula já vai começar, então se apressem!

  Concordamos e entramos na sala.

  - Kaito-kun... – o chamei – Muito obrigada.

  - Alguém tem que usar o cérebro por aqui. – ele me respondeu. Eu revirei os olhos e sorri.

     ***

  As aulas passaram rápido, (ainda bem!) e já nos dirigimos ao clube. Tocamos algumas de nossas músicas, antigas e novas, e nos adaptamos à alguns novos acordes e ajustes. (Principalmente na minha voz...)

  - É, estamos melhorando! – Gumi exclamou sorridente.

  - Verdade! – falou Luka.

  - Isso aí pessoal! – Lia nos elogiou, entrando na sala.

  - L-Lia-san?! – perguntei preocupada – Po-por que está aqui?!

  - Ué, qual o problema? – ela questiona.

  - E se alguém te vê aqui? – cochichou Rin.

  - Lia-san! – diz Len – Então você está aqui mesmo?!

  - Calma, calma. Estou disfarçada. E sim garoto, em carne e osso! – ela olha para os nossos instrumentos com animação – Nossa, vocês têm uma banda?! Que incrível! Eu também tinha uma quando tinha essa idade!

  - Espera aí! – disse Kaito – Como você nos achou?

  - Umas três garotas me disseram que era aqui. Então vocês são os Vocaloids, né? Elas me contaram tudo sobre vocês com a maior empolgação! – IA respondeu.

  - Três garotas? – perguntou a verdinha que, pela a expressão, estava tentando se lembrar delas.

  - Provavelmente foi o nosso trio de fãs. Teto, Rana e SeeU. – sugeriu Luka.

  - Ah, é! – a diva concordou – Eram esses os nomes delas! Agora trocando de assunto: podem tocar algo pra mim? É que eu não ouvi direito da última vez.

  - Claro! – exclamou o Kagamine - Né? – perguntou pra nós.

  Eu e as meninas concordamos.

  - Tanto faz. – respondeu o Shion.

  Tocamos “Kocchi Muite Baby” e ela adorou! Disse que até nos ajudaria a gravar um disco se quiséssemos!

     ***

  Conversamos um pouco mais com ela e depois fomos ao karaokê. No caminho, encontramos Meiko-sensei.

  - Aonde os moleques vão? – ela perguntou.

  - Oi sensei! – sorriu IA – Estamos indo cantar um pouco. Quer vir conosco?

  - Não tenho nada melhor pra fazer mesmo... – a morena respondeu dando os ombros.

     ***

  Já fazia um tempo que estávamos ali. Todos cantamos um pouco. Foi até engraçado ver o Kaito tentando cantar. (O universo se vingou por mim pelos os constantes comentários sarcásticos dele! Muaháháhá!)

  Enquanto era a vez da Luka (essa eu sei que manda bem), aproveitei que a minha diva estava distraída, e perguntei à minha professora:

  - Meiko-sensei, como a Lia-san entrou aqui?

  - Ué, não é óbvio? – arqueei a sobrancelha – Pelo o portão! – caiu na risada. (Aff) – Tá, tá. Eu dei uma forcinha. Mas está tudo bem. Não esquenta, garota! – deu um tapa nas minhas costas - Aliás, não é a primeira vez que acontece.

  - Não?

  Ela negou com a cabeça e continuou:

  - Esses dois são complicados. – dá outra risada – Brigam toda hora e depois se acertam! Ele com seus pits de ciúmes e ela sempre jogando as coisas nos outros! Ai, ai! Foi hilária aquela vez que a Lia-chan quebrou uma guitarra na cabeça dele! – novamente ela ri.

  - Não acredito... – foi só o que eu pude dizer. Eu estava surpresa. Não é todo dia que você descobre que sua ídola é uma doida que joga objetos no seu próprio namorado. (Por que sempre estou rodeada de doidos?)

     ***

  Já estava de noite quando saímos do karaokê. Estávamos no lado de fora do prédio escolar, quando vimos uma multidão de alunos na frente do alojamento feminino.

  - O que está acontecendo ali? – perguntou Len, apontando para o lugar.

  - Pior... Era para estarem nos quartos...   – comentou Meiko-sensei.

  Nos aproximamos e... Era o Yuuma! Ele estava rodeado de seguranças (que estavam segurando a multidão) enquanto ficava gritando nas janelas do prédio.

  - Lia! Onde você está! Liaaaa! – o rosado exclamava.

  - Xiiiii... – falou Gumi.

  IA passou a mão no rosto, suspirou e disse:

  - Ele me encontrou... – ela tirou a peruca e as lentes de contato, entregou para mim e foi pisando forte em direção do cantor. Os alunos, à medida que a viam, abriam caminho para ela e calavam-se, provavelmente ansiosos para saber o que iria acontecer assim como nós. (Eita povinho xereta, hein...) – Yuuma! – ela gritou – O que faz aqui?!

  Ele se virou (caraca, deu pra ver o baita curativo na testa do cara!) e a encarou:

  - Finalmente te achei! E sou eu que pergunto: o que faz aqui?! Quando eu acordei você tinha sumido! Aliás, você sabe como foi difícil conseguir aquele troféu?! Por que não jogou um abajur, como da última vez?! Iria me dar menos prejuízo pelo menos! – (Vixi!)

  - Iiiii! A coisa tá ficando boa! – falou Luka com um saco de pipoca no braço. (Da onde saiu esse troço?!)

  - Está melhor que aqueles realitys shows de tretas da TV. – disse a sensei pegando um pouco da pipoca da Megurine.

  - Inacreditável... – comentei indignada.

  - Hunf! A culpa foi sua! – a pop star se defendeu – Se não fosse seus dramas nada teria acontecido!

  - “Dramas”?! E por acaso tacar coisas no namorado é normal! – Yuuma criticou.

  - Quando irritam é! – a diva cruza os braços e faz bico.

  - Como?! Era só um ciúme saudável! Nada de mais!

  - Ah, claro! Como se mandar duas espiãs para me cuidar fosse normal!

  Eles ficaram batendo boca por muuuito tempo. Teve até celulares que gravavam a cena ficando sem bateria. Mas então, para a tristeza de fãs de barraco, a diretora chegou e separou o casal:

  - Já chega! Lia! Yuuma! Quero que os dois se abracem e parem de confusão no meu internato!

  - Mas... – os dois reclamaram ao mesmo tempo.

  - Nada de “mas”! Andem logo!

  - Não vou encostar nesse ciumento nojento!

  - E eu não vou chegar nem perto dessa loira violenta!

  Yowane-sensei os encarou como se fosse uma ursa enfurecida e ameaçou:

  - Como-é-que-é?!

  Até eu que não tinha nada a ver com a história estremeci com aquele olhar!

  Os dois se entre olharam e se renderam.

  - E vocês?! – a diretora se referiu aos alunos que observavam tudo – Eu quero todos os celulares na minha frente agora e todos vocês nos seus quartos! Andem! – ela gritou e todos obedeceram.

     ***

  Por fim tudo se resolveu. Lia e Yuuma se acertaram, mas adiaram a idéia de casamento. Meiko-sensei e Luka ficaram meio deprê pelo o “show” ter acabado. Nenhum dos alunos falou uma palavra tanto pelo o internato quanto nas redes sociais, obviamente por medo da diretora. Já ela, bem... Descobrimos um lado dela que nem sabíamos que existia. Provavelmente ela deve ter lidado várias vezes com pitis desses dois.

  Bom, é por cada loucura que eu passo com essa turma!