Moon Lovers: The Second Chance escrita por Van Vet, Andye


Capítulo 73
Nunca Parar


Notas iniciais do capítulo

Oláááá!

Como vão todos? Muita sofrência com toda a comoção do último capítulo? Esperamos que sim, afinal esta era intenção 3:)

Depois de quinze dias de espera, cá estamos com o início do último arco desta fanfic enooooooorme!!! Para compensar as duas semanas de espera, e também porque não era possível fazer um capítulo menor, se prepararem para ler muitas palavras neste domingo. Tudo foi feito com carinho e cuidado, então esperamos os comentários e suposições de vocês sobre os próximos acontecimentos ♥

Por hora, agradecemos a toda essa gente fofa que vive trazendo feedback no Nyah! e no Facebook. Agora bora ler!

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Um ano depois…

A vida passava tão rápido quanto uma ventania que anuncia a chegada de um temporal. O sol estava claro, forte e imperioso no céu azulado e sem nuvens da movimentada cidade de Busan.

As pessoas continuavam caminhando de um lado para o outro, agitadas, na cidade que não parecia parar um único segundo, seguindo para seus trabalhos, suas escolas, suas famílias… seguindo para as suas vidas.

Na Mansão Wang, as coisas ainda não pareciam ter chegado naquele passo agitado das ruas. Ao contrário do resto do mundo, os dias para àquela família pareciam não ter fim e se arrastavam minuto a minuto em uma desesperança infindável. Cada amanhecer era iniciado com a incerteza de que ele traria ao longo das vinte e quatro horas que o seguiam e isso era uma constante assustadora.

De toda forma, mesmo diante das incertezas, das dificuldades e das tristezas vivenciadas ao longo dos últimos dois anos, a família continuava seguindo, dia-a-dia, passo-a-passo, os dias morosos, aquela vida com um tom a menos. Mesmo entristecidos, os irmãos Wang continuavam vivenciando os seus destinos.

Como era de se esperar, a Wang S.A. tivera um crescimento imensurável no último ano, assim como fora dito por Sook na reunião onde se firmou investidor da mesma.

Desde o lançamento do Impacta, no ano anterior, a empresa alavancou e se estabeleceu, novamente, entre as melhores da Coreia num espaço de tempo curtíssimo.

Todo esse crescimento deixou alguns investidores revoltados por não terem atentado para o lucro que poderiam ter ganho caso investissem no momento certo, por não terem acreditado no jovem que tomara à frente daquela empresa, por não acreditarem que um bando de rapazes e moça inexperientes fossem capazes de tirar o nome daquela empresa da lama.

Os herdeiros, porém, sabiam que, aonde quer que estivesse, o velho Hansol estava satisfeito e guiando por eles. Não se importavam com o que passara, mas seguiam confiantes de suas escolhas e investimentos.

Taeyang seguia liderando tudo, como fora indicado pelos irmãos e acionistas que confiaram cem por cento em sua capacidade de reposicionar a empresa. Ele era um líder exemplar, generoso e com tino nato para os negócios. Tinha grande sensibilidade para fazer acordos, um poder de persuasão que deixava os outros encantados e sabedoria para firmar bons investimentos. Entre os funcionários, reinava os comentários de que a empresa e fábrica nunca passaram por dias tão bons. Era um novo tempo, um tempo de mudanças que seguiam atingindo a todos.

Yun Mi, outra apaixonada por tudo o que a Wang S.A. representava, aprendera muito recentemente valores que não fora ensinada durante toda a vida. Percebeu que o fato de não concordarem com suas atitudes mesquinhas não significava que seus irmãos não a respeitassem, que não se importassem, mas que desejavam seu melhor e que sabiam que seus passos dados não a fariam felizes.  

Agora,  consciente de que poderia continuar seu caminho ao lado dessas pessoas, que não havia problemas em confiar nelas, que teria em quem se apoiar nos dias mais difíceis, merecidamente ocupava o cargo de vice-presidente da Wang S.A.

Quando Yun Mi atravessou a porta principal do apartamento onde morava com o marido, estranhou que as luzes estivessem apagadas, que tudo estivesse em silêncio, que tudo estivesse em uma penumbra atípica, o que não era normal ao ambiente nem para a personalidade de Choi Jin In.

Deixou os saltos à porta e calçou as sandálias que ali a esperavam, sentindo um pouco de conforto nos pés cansados, seguindo em busca de desbravar o ambiente escurecido.

Atravessou a sala, olhos e ouvidos atentos a qualquer movimento, e acendeu as luzes do cômodo clareando o ambiente. Assim, ao dar mais alguns passos em direção aos outros espaços, sua visão fora atraída para a sala seguinte, a de jantar, onde encontrou Jin In a sua espera com um sorriso amplo e orgulhoso.

Ele lhe pareceu sensualmente misterioso e ela fraquejou por um instante ao contemplar aquele homem que mexia tão intensamente com seu corpo, mente e sentimentos.

Camisa leve de botões, uma calça reta e os pés descalços era tudo o que ele vestia. Em suas mãos, rosas, em seus olhos, um brilho intenso e conquistador. Perguntou-se o que ele planejara para os dois e anseou em descobrir o mais brevemente possível.

A mesa de jantar fora posta. Um vaso no centro da mesa, dois castiçais e velas acesas (ela conseguia sentir o aroma agradável ao se aproximar), dois pratos cuidadosamente dispostos sobre a mesa, um balde de gelo com uma garrafa de champagne dentro dele… e duas belas e finas taças de cristais.

Mas para Yun Mi, nada naquela produção impecável lhe chamava mais a atenção que o seu marido. O marido que lhe fora comprado — ou para quem ela fora vendida — pelos pais e que lhe quebrou as paredes rochosas do seu coração munido de carinho, paciência, companheirismo, paixão e bondade.

Ela nem mesmo sabia se merecia aquela felicidade; muitas vezes acreditava que não, mas desde o dia em que se dera conta de que não valia a pena perder tempo reprimindo o que sentia e resolveu, em definitivo, se deixar levar por seus sentimentos, e pelos sentimentos dele, descobriu que também poderia ser feliz, que também poderia receber amor. Aquela fora a sua melhor decisão em anos.

— Comprei essas rosas para você — ele falou gentil e incrivelmente galanteador ao se aproximar.

— E por que tudo isso? — ela perguntou se fazendo de desentendida.

— Acredita mesmo que não iria comemorar a promoção da minha querida esposa? — ele perguntou lhe roubando um beijo rápido dos lábios, oferecendo-lhe as rosas — Não conseguiria expressar com palavras a alegria que estou sentindo por você, Yun Mi. Sei o quanto é competente e comprometida, o quanto ama a empresa, então… nada do que eu diga será suficiente neste momento.

— Obrigada… — ela respondeu sob um sorriso discreto, mas envaidecido, aceitando as rosas, o abraço e beijo vindos em seguida.

— Preparei esse jantar… Na verdade, tive a ajuda da senhora Soo-jin, mas a maior parte das coisas eu fiz só…

— Imagino que tudo deve estar delicioso — ela comentou sendo guiada por ele até a sua cadeira, ele puxando o objeto logo após a mulher colocar as rosas no vaso sobre a mesa — Você tem uma ótima mão para refeições…

— Você só está sendo gentil — ele respondeu sentando-se à sua frente, destampando a louça e apresentando legumes assados, crepe suzette e rolê de vitela.

— O cheiro está ótimo — ela elogiou novamente e ambos serviram-se, Jin In abrindo o vinho para brindarem à conquista de Yun Mi.

— Sei que gosta da culinária francesa… Foi ótimo ter passado todo aquele tempo com sua mãe enquanto preparávamos o casamento… — ele sorriu nostálgico. Tudo já parecia ter acontecido há muito tempo — Quis fazer algo diferente para um dia tão especial.

— Ela fez um ótimo serviço em te dar a minha ficha, pelo que percebo — ela também comentou, o mesmo sentimento nostálgico, porém regado de um estranho agradecimento por aquela intervenção de seus pais — Está tudo muito bonito…

— Sim… ela fez. E o melhor deles foi te ter.

— Está tentando me conquistar? Quer mesmo que eu fique sem jantar? — ela brincou maliciosa.

— Sempre quero te conquistar… faz parte do meu ofício diário — Jin In brincou em resposta — Mas, neste momento, quero que se alimente bem. O dia foi longo, percebi na sua voz ao telefone…

— Sim…

— Vamos comer. Espero que esteja bom!

— Certamente estará… — ela o olhou com intensidade, experimentou a comida em seguida — Como foi hoje na empresa?

— Finalmente… — ele exultou — Finalmente consegui cobrir os buracos. Agora acredito que posso dizer que restabeleci a empresa. Vai dar certo.

— Claro que vai! Você se esforçou muito durante esse ano para reestruturar a empresa da sua família. O seu esforço não será em vão e tudo dará certo. Eu tinha certeza que conseguiria.

— Obrigado… Mas não mude o foco do nosso jantar — continuou — Me conte como foi tudo…

— Ah, Jin In… Não precisa. Apenas fui indicada e escolhida. Não havia muitas outras opções… — ela falou sem muita emoção. No fundo, estava explodindo de alegria e orgulho.

— Como assim não precisa? — ele perguntou animado — Quero saber de tudo, Yun Mi. Pode começar a me contar e não esconda nenhum detalhe.

— Tudo bem… — ela tomou um gole de seu vinho logo após um novo sorriso controlado. Parecia em ponto de explodir de contentamento — Você sabe que quando Taeyang assumiu a presidência eu pensei que Gun desistiria da filial nos EUA e ficaria com o cargo. Mesmo com todo o empenho, ainda não conseguia confiar totalmente nele como nos outros e imaginei que ele iria ficar na empresa para prejudicar meu irmão, mas… ele realmente foi para a filial e isso me deixou muito impressionada…

Ela parou um momento, deu mais um gole em seu vinho e comeu um pouco mais. O marido parecia em transe, anestesiado ao observar sua linda esposa. Não poderia negar: estava a cada dia mais envolvido e apaixonado.

— Então apostei minhas fichas em Shin — ela continuou — Ele se empenhou como um louco durante a fase de criação do Impacta, fez muito mais do que poderíamos esperar, mesmo depois do lançamento, mas ele abriu mão de tudo pela Go Ha Jin… depois aquilo tudo. Enfim… — um longo e entristecido suspiro — Você já conhece essa história…  

“Hoje Yoseob nos solicitou a reunião para a vice-presidência. Ele disse que a empresa não poderia continuar sem um vice e todas essas questões burocráticas foram colocadas. Ele me indicou e isso me deixou muito surpresa, mas não tanto quanto fiquei logo depois.

“Sook, Taeyang, Jung e Sun, que também estavam lá naquele momento, disseram que estavam de acordo quase que imediatamente. Mesmo Gun deu seu “ok” em videoconferência, assim como Eujin.

“Eu estou muito surpresa, Jin In, e… muito animada. Assustada também com tudo isso… Nunca imaginei que meus irmãos… que eles realmente confiassem em mim. Estou feliz… feliz de verdade. Muito orgulhosa de mim…”

— Isso é o resultado de seu esforço e amor pela empresa, querida. Eu tinha certeza que isso seria recompensado muito em breve. Você é uma mulher forte, cheia de fibra… Uma guerreira que nunca desistiu de seus objetivos, mesmo quando tudo pareceu ficar sem rumo.

“Não posso negar o quanto me orgulhei durante esses últimos meses, todo seu empenho com a empresa, o trabalho em conjunto com seus irmãos… Seria burrice da parte deles se não tivessem percebido todo seu comprometimento. Estou muito… muito feliz por suas conquistas… por quem você é.”

— Não sou tão boa assim, mas tenho total consciência de que já fui bem pior… inclusive com você.

— Não vamos lembrar disso… está no passado e deve ficar esquecido por lá.

— Você me ajudou a ser quem eu sou hoje e me mostrou que não é tão ruim ou uma fraqueza confiar nas pessoas… Continuo confiante de quem sou, das minhas escolhas, mas agora também confio nos meus… Obrigada por não desistir.

Jin In não soube o que responder àquela demonstração de gratidão, ainda tão estranha quando vinda de sua esposa que ele aprendera a amar com suas dificuldades, medos e inseguranças.

Yun Mi parecia diferente agora, tão diferente daquela mulher que lhe foi entregue por pais que não mais a suportavam. Olhando para ela, conseguia encontrar em sua essência aquele ar altivo e seguro de si que o instigou no primeiro momento que a conheceu, mas havia mais em seu olhar: havia segurança; havia confiança; havia crença e esperança. Ela crescera.

E ele crescera junto. Sabia do que ela precisava em cada determinado momento. Aprendera enquanto estavam casados a ler seus segredos e desvendar suas necessidades; a ser para ela aquilo que ela precisava. E se sentia bem por isso. Sentia-se bem em ser seu porto seguro, em saber que ela confiaria sua cabeça cansada ao seu ombro e que seria com ele que Yun Mi desabafaria suas angústias e compartilharia suas alegrias.

Ela, satisfeita com toda aquela intervenção, apenas se deixava levar. Aproveitava cada uma das faces que o marido dedicava para ela e aprendia ao seu lado, todos os dias, a ser uma pessoa melhor.

Yun Mi não saberia como recompensá-lo por tanta dedicação e paciência, mas ela acreditava em seu íntimo que amar e se deixar amar livremente era a melhor forma de mostrar o quanto estava feliz.

Jin In, então, levantou-se de onde estava e foi em direção à sua esposa, inclinando-se para ela, tocando-lhe os lábios com suavidade, a mão grande apoiando o pescoço da mulher, aproximando-a. Ela, voltada para ele, aceitou os lábios masculinos, intensificando o contato, os olhos focados enquanto se beijavam.

Em seguida, Yun Mi se viu carregada pelo homem até o quarto que dividiam. Estava satisfeita.

Jin In havia lhe chegado como um contrato, como um ato de compra e venda entre seus pais e que ela odiara no primeiro momento. Agora, para Yun Mi, Jin In era o que ela precisava, fosse enxugando suas lágrimas ou lhe ofertando seu peito para que ela descansasse. Fosse partilhando suas dificuldades ou satisfazendo seus mais profundos desejos.

E os dias seguiram para eles, como seguiam para os demais.

Logo após a reunião que anunciara Yun Mi como a nova vice-presidente da Wang S.A., o casamento entre Taeyang e Na Na fora realizado. Era o primeiro final de semana após o eclipse.

Nada de glamour, luxos, vários convidados e matérias de várias páginas em revistas de fofoca. Eles permaneciam seguindo a filosofia iniciada por Hansol de se manterem longe das lentes da imprensa.

O casamento, além de rápido devido ao estado da noiva, já com barriga aparente e levemente debilitada em consequência das náuseas constantes, tinha um agravante para que nenhum dos envolvidos desejassem o deslumbre: a família enfrentava mais uma dificuldade.

Mesmo a senhora Ah Ra perdera o foco nas suas contratações exageradas após o acidente do irmão mais velho. Ninguém jamais imaginou que algo daquele tipo aconteceria ao herdeiro. A situação fora tão complicada que Eujin havia voltado da Europa com Nahm Hye ao receber aquela notícia.

Dessa forma, o casamento que deveria ter sido um momento feliz e de comemoração, se tornou apenas um símbolo de união entre duas pessoas que, felizmente, se amavam.

Não que os noivos, familiares e amigos presentes não estivessem felizes, mas o momento que os envolvia não permitia que eles demonstrassem seus sentimentos com tanta espontaneidade. Faltava um deles.

Os meses seguintes, porém, seguiram mais tranquilos para Na Na e trouxeram um pouco mais de conformismo aos Wang. Depois do quarto mês de gestação e do fim dos incômodos que vieram com ela, a jovem passou ter novamente a autonomia de antes, a disposição, moderada, para a realização de seus ofícios.

Decidiu, depois de longas conversas com Taeyang e da insistência dos demais irmãos, permanecer na Mansão da Lua. Na Na tinha aquilo como um peso, mas aprendeu a lidar com ele, afinal ser a “senhora” daquele lugar depois de tantos momentos difíceis lhe parecia algo inatingível.

Com o casamento e a mudança para a mansão, vieram também momentos divertidos e de intenso carinho, não só com o marido, mas com os cunhados que ainda estavam na casa. Vieram também as visitas frequentes e, por vezes, incômodas das duas senhoras que seriam avós em pouco tempo.

A barriga exageradamente grande para seu tamanho pequeno chamava a atenção de todos por onde passava e Na Na tornou-se querida mesmo entre os funcionários da casa que a tratavam com carinho e respeito. Soube, assim, por Taeyang, que os funcionários comentaram que ela era a melhor senhora que a casa já havia tido depois da senhora Ji Eun Tak.

O parto foi antecipado, como a médica que a acompanhava alertou e as mães insistiam, apostando muitas vezes entre elas sobre a data em que os bebês resolveriam nascer. Para Na Na, aquele momento fora mais fácil do que ela poderia imaginar.

Em mente, levava o pensamento de que eram seus bebês com Taeyang, o homem que ela amaria para sempre, e que estava ao seu lado em todos os momentos, ali, na sala de parto, inclusive.

Por sorte, o primeiro bebê estava voltado para baixo e tudo caminhou para o parto normal, como ela desejara. Esperou que os filhos estivessem prontos para virem ao mundo quando bem quisessem e eles escolheram justamente aquela data, aquele período que, no ano passado, fora marcado por dores e angústias: o período do acidente de Gun e da morte do senhor Hansol.

Para Na Na, seus filhos haviam escolhido a melhor data. Uma data na qual sua família enfrentara tanta tristeza e agora tinha uma boa memória sobre ela. Como se eles soubessem que a família Wang, que continuava a sofrer como se fosse um carma a se cumprir, necessitava de um pouco de alegria para continuar.

Todavia, aquela mulher vivenciava uma crise naquele momento. Os bebês, dois meninos idênticos ao esposo, completando seu sexto mês de vida¹ carimbavam para ela o fim da sua estadia na presença deles. A mulher sofria em ter de “abandoná-los” para voltar a trabalhar.

Em seu coração, a disputa travada entre suas duas obrigações a deixavam nervosa e a mãe e a sogra, mesmo que tentassem ajudar em suas escolhas, acabavam optando por suas próprias satisfações em relação às escolhas dela.

Na Na estava sentada no grande sofá em L da sala de visitas da Mansão da Lua envolta em seus pensamentos observando seus bebês dormirem na passadeira estendida sobre o tapete da sala.

Finalmente sua mãe e a senhora Ah Ra haviam dado um pouco de sossego para os três ao decidirem, cada uma delas, naquele dia ficarem em suas casas a fim de descansarem e resolverem sobre suas próprias vidas, há muito dedicadas quase que vinte e quatro horas por dia aos netos.

Nunca imaginou que as duas senhoras poderiam partilhar momentos juntas, muito menos que se tornariam algo próximo de “amigas”. Estranhava que elas se dedicassem aos bebês, que estivessem sempre com ela, que tricotassem ideias para o futuro das crianças… Que tivessem tantos sentimentos comuns.

Agora ela esperava por Taeyang para almoçarem juntos. Ainda achava incrível que aquelas duas crianças tão lindas fossem suas. Era ainda mais incrível que fossem também de Taeyang. Há pouco mais de dois anos ela jamais imaginou que aquele fosse o futuro reservado pelo destino para ela. Não imaginou o giro que sua vida daria e não reclamava. Era feliz.

— Oi, meu amor… — ele chegou com seu sorriso amplo, seu espírito amável e sua tez cansada. O melhor marido e pai do mundo aos olhos de Na Na deixou a mala que carregava sobre uma das poltronas, afrouxou a gravata e sentou-se ao lado da mulher lhe reservando um selinho demorado sobre seus lábios — Como está?

— Estou bem… As coisas estão tranquilas hoje — ela sorriu brincalhona — As avós decidiram nos dar uma folga.

— Sério? — ele se surpreendera verdadeiramente — Qual foi o motivo?

— Não sei ao certo… Simplesmente não vieram… Quem sabe o motivo? — deu de ombros.

— É engraçado ver as nossas mães assim… Essa realidade é bem estranha.

— Parecem carne e unha — sorriram um para o outro, Na Na segredando em seguida — Mas é divertido quando estão aqui… Embora seja mais tranquilo quando não estão.

— Não deixe que elas escutem isso…

— Não vão. Não se preocupe — lhe piscou o olho e recebeu outro selinho do marido.

— Se soubesse que as coisas seriam assim tão fáceis, teria tomado algumas atitudes a mais tempo…

— Não pense nessas coisas — a mulher o interrompeu, o dedo indicador o silenciou, em seguida um selinho — As coisas são como têm de ser e tudo só acontece quando tem de acontecer.

— Você é mesmo prima da Ha Jin — ele sorriu e sua expressão ficou triste momentaneamente.

— Ela é muito sábia… E as coisas irão melhorar, acredite.

— Como eles estão? — perguntou depois de um longo suspiro resignado, olhando os dois meninos adormecidos em seguida — Não estranharam a falta das duas?

— Não… Eles estão bem. Passaram um bom tempo conversando entre si. Acho tão engraçado como eles se olham enquanto balbuciam. Não é possível que não se entendam…

— Essa é uma boa fase…

— Claro que é, papai… Hoje Dong-ho rolou na passadeira… ele também ficou sentadinho quando eu o ajudei. Foi lindo… te mostro quando ele acordar.

— Quero ver sim… — o rapaz sorriu.  

— E Song-ho? Lembra que ontem ele apertou o mordedor que você deu?

— Sim…

— Pois é! Hoje ele estava ensinando para o irmão a tirar o som…

— Hmmm… Será que herdou os genes musicais de Eujin? — Taeyang olhou para o filho adormecido ao lembrar do irmão.

— Seria ótimo, mas é muito cedo para dizer. Dong-ho estava mordendo os pés antes de dormir…

— Isso é bom, não é? A pediatra disse que é normal nesta fase. Faz parte do desenvolvimento deles…

— Eu sei… mas eles estão crescendo tão rápido…

— O que foi? — o tom entristecido dela alertando Taeyang — Ainda pensando sobre a licença?

— Eu… preciso voltar a trabalhar, sinto falta da empresa, mas não quero deixar os bebês…

— Podemos contratar uma babá, já falei com você sobre isso. Não deve deixar os seus sonhos e se tornar uma dona de casa se não quiser… Também irei te apoiar se for isso o que quer. Mas independentemente de sua escolha, podemos dar um jeito em ambas.

— Eu sei…

— Não precisa voltar a trabalhar agora se quiser ficar mais tempo com nossos filhos…

— Eu quero voltar… Eu realmente quero voltar a trabalhar, mas…

— Contratamos uma babá?

— Eu não sei…

— Por que contratar uma babá quando essas crianças têm a melhor avó que poderiam querer?

Ah Ra cruzou a porta principal da mansão e rumou para onde os netos estavam, sentando-se de frente para eles, ao lado de Na Na. O casal se olhou em segredo, nada surpresos com aquela aparição repentina.

— Mamãe… Que surpresa a senhora por aqui! — Taeyang comentou com um ar engraçado — Pensei que tivesse coisas a resolver hoje....

— Já resolvi tudo agora pela manhã. Vim almoçar com vocês e aproveitarei para ficar com meus netinhos lindos a tarde inteira — ela sorriu para um dos meninos que acabara de abrir seus pequenos olhos.

— Senhora Ah Ra, não é necessário que se incomode. Se quiser ir para casa, nós…

— Não é incômodo, menina — ela interrompeu Na Na antes que ela terminasse aquele discurso já tão conhecido — E não aceito que contratem uma babá para os meus netos. Eles têm uma avó jovem e saudável que pode cuidar deles muito bem enquanto seus pais trabalham e garantam seus futuros.

— Mamãe… a senhora realmente não precisa se incomodar. Na Na e eu daremos um jeito em tudo, não se preocupe.

— Que jeito, Taeyang? Contratar uma babá para meus meninos?

— Babá? Vocês vão contratar uma babá para meus netos?

Na Na fechou os olhos, cansada e conformada. A mão apoiou a testa e os olhos abertos em seguida encontraram os do marido. Intimamente eles conversavam: aquelas crianças não poderiam ter escolhido avós mais dedicadas que aquelas.

— Estão pensando em contratar uma babá para cuidar dos nossos netos, Jin-hi. Você pode acreditar nisso?

— Como assim? Isso é verdade, Na Na? — a mãe interrogou a filha.

— Preciso voltar a trabalhar, mamãe…

— E por isso colocará estranhos para cuidar dos nossos bebês?

— Apenas não queremos dar trabalho para vocês, senhora… são nossos filhos, afinal. A responsabilidade é nossa, não é verdade?

— Claro que é, Taeyang — Jin-hi respondeu ao genro — Mas eles têm uma avó saudável…  

— Duas avós saudáveis… — Ah Ra corrigiu a outra senhora.

— Duas avós saudáveis que podem cuidar deles enquanto seus pais estão no trabalho.  

— Mamãe…

— Não senhora — a mulher continuou — Não vão contratar babás para os meninos… Nós vamos cuidar deles e vocês trabalhem à vontade, o quanto quiserem…

As duas mais velhas, cada uma com um dos meninos nos braços, ambos acordados, sorriam e conversavam entre si ao brincarem com seus netos.

Na Na e Taeyang, a sensação de mais uma derrota para com aquelas duas. Sabiam que não havia muito o que fazer além de aceitar o que elas diziam e, sinceramente, eram felizes... estavam felizes pelos laços estreitados entre suas famílias.

Quem estava se dando muito bem em seu trabalho e tinha tomado muitas decisões positivas para o seu profissional era Mi Ok. Ao ganhar o título de funcionária do ano, conseguira um aumento e uma nova promoção na administração da ISOI. Em contrapartida, tinha que dividir o seu tempo entre o namorado e a melhor amiga, sempre cabisbaixos e abatidos pela tristeza na qual foram lançados sem nenhum aviso prévio.

O namoro seguia firme, Jung era o melhor namorado que ela poderia querer e agradecia aos céus, deuses ou quem quer que fosse, todos os dias por tê-lo conhecido, por ter sido sua amiga, por ele ter também a enxergado. Costumava pensar que era estranho imaginar a si mesma sem ele, estava feliz ao seu lado.

Jung, que concluíra bem seu curso de Administração, havia se afastado da empresa e se empenhava mais nas aulas de defesa pessoal. O rapaz seguia com a ideia de abrir sua própria academia de artes marciais e participar de pequenos torneios, ideia que Mi Ok achava maravilhosa, mas o projeto havia sido adiado por um tempo devido aos novos infortúnios que a família enfrentava.

Ele não se sentia concentrado o suficiente para continuar com seus planos. Em seu coração, aquela tristeza profunda, a mágoa com o destino por fazer sua família sofrer sem pausas.

Seu apoio constante era aquela moça. Fora ela que o apoiou durante o acidente de Gun, que o entendeu e o incentivou. Fora ela que esteve ao seu lado quando perdeu seu pai. Era ela novamente, ali, o apoiando todos os dias naquela nova dor. E ele acreditava que já a amava. Por ela ser quem ela era; por ela ser Khan Mi Ok.

E ele também era imensamente grato por ela o ter escolhido.

— Obrigado por estar comigo todo esse tempo, Mi Ok. Não sei o que faria sem você.

Ele não conseguia deixar de agradecer. Ela era sua amiga, sua namorada, seu apoio, sua conselheira. Era uma mulher completa, uma mulher cheia de qualidades que se voltava para ele. Ela era dele assim como ele era dela.

Sentia tudo aquilo de forma clara e objetiva, como se nenhuma outra mulher  fosse capaz de estar ao seu lado, de entender suas dificuldades, suas tristezas, como Mi Ok. Como se nenhuma outra fosse capaz de se alegrar como ela com suas conquistas.

Mi Ok era uma garota completa, tão simples em seus desejos, tão intensa em seus sentimentos, tão firme em suas decisões. Jung adorava conhecer seus segredos, crescer ao seu lado, vivenciar todos os momentos que pudessem juntos.

Era aquela garota viciada em dramas e em atores de TV, aquela garota cheia de seus altos e baixos, mas que se empenhava em suas tristezas para avançar e ser feliz novamente. Era ela.

Aquela garota que falava alto quando estava muito feliz ou nervosa e que tinha uma risada tão cativante que fazia todos ao seu redor rirem com ela, que exalava bons sentimentos, boas energias. Era ela, sim.

A garota capaz de fazê-lo esquecer seus problemas mais graves, suas agonias mais profundas com seu sorriso, que fazia seu coração bater mais apressado, que fazia seu estômago gelar, que o olhava tão intensamente que ele se sentia desnudo. Era ela, Mi Ok. A garota que tinha os olhos mais intensos, mais brilhantes e verdadeiros que ele já conheceu.

— Aish… Já te falei para não me agradecer. São meus sentimentos. Não sou obrigada a dá-los a você, então apenas os receba bem e com alegria, okay?

— Okay… Okay… — ele lhe deu um abraço apertado, beijando-lhe a bochecha com carinho — E como foi no trabalho hoje?

— Ótimo! Está tudo dando muito certo. Nem acredito que tive essa promoção.

— Não sei por que tanta descrença… você é ótima! Se ganhou uma promoção, é por que é competente o suficiente para isso.

— Hmm…

— O que? — ele a olhou divertido.

— Dei uma olhada em algumas universidades esses dias. Acho que vou conseguir pagar bem o curso. Já juntei um bom dinheiro também.

— Já escolheu qual vai tentar?

— Ainda estou em dúvida entre Secretariado Bilíngue e Administração… Preciso ficar fluente no Inglês. Ha Jin já está vários níveis na minha frente… Mas isso é tão complicado…

— Ao menos reduziu a lista para dois agora… — ele sorriu e ela lhe fez uma expressão ameaçadora. Ele revidou enumerando os cursos nos dedos — Que? Você já pensou em Contabilidade, Marketing, Gestão, Publicidade, Comércio Exterior… O que mais? Economia, Relações Públicas… Além de Inglês, Japonês, Português...  

— Tá… Tá… Tá… Já chega… Você consegue ser bem irritante quando quer — ela ralhou, o semblante fechado, e ele lhe deu um beijo na bochecha.

— Estou orgulhoso… Minha namorada é esperta, batalhadora e insistente em suas escolhas. Você merece cada uma das oportunidades que tem recebido. Afinal, você é Khan Mi Ok. Quem mais poderia se destacar assim além de você?

— Hmmm…

— O que? — ele a olhou brincalhão, falsamente receoso.

— Tão galanteador de repente… — ela semicerrou os olhos e arqueou a sobrancelha em seguida — O que está querendo de mim, senhor Wang Jung?

— O que está insinuando…? — ele entrou na brincadeira da namorada fazendo-se de ofendido.

— Todo gentil, cheio de palavras de incentivo… Esse olhar também parece um pouco suspeito… Diga o real motivo de ter me convidado para sair hoje.

— Nossa… assim você me ofende — fechou a cara em seu teatro — Não posso querer passar um tempo com a minha garota?

— Claro que pode… mas acho que esse convite está impregnado de segundas intenções…

— E não pode haver segundas intenções no meu convite? — ele arqueou a sobrancelha também.

— Claro que pode… adoro esse tipo de convite, você sabe…

— Contanto que seu pai não saiba…

— Está querendo me desviar? Sou uma moça de família, rapaz, não esqueça.

— A melhor moça do Universo, diga-se de passagem…

Ele o abraçou em seguida, lhe dando um beijo discreto nos lábios. Depois a trouxe mais para perto. Dividiam um milkshake na lanchonete da esquina da ISOI.

— E como estão as coisas na sua casa? — ela perguntou logo após mais um gole da bebida — Também estou preocupada com Ha Jin. Ela não me responde faz dois dias.

— Está tudo na mesma… Mas também não vi Ha Jin esses dias…

— Vou na casa dela depois… Ela não está bem. Acho que nunca vai estar.

— Me sinto tão impotente em relação a tudo isso.

— Por que você precisa sempre se sentir tão mal, Jung? Nada do que aconteceu é sua culpa… Nem de ninguém.

— Eu sei… Eu sei. Mas não consigo me conformar. As coisas estavam começando a melhorar, tudo estava dando certo e… de repente… por que isso aconteceu, Mi Ok? Eu sinto tanta falta do meu irmão…

— Eu não sei, Jung… Eu queria saber, queria poder te consolar e dizer que tudo irá melhorar em breve, mas eu não posso…

— Eu sei disso… Me desculpe.

— Não se desculpe. Eu sinto muito por tudo isso, por sua família, todo esse sofrimento… mas você precisa continuar. Eu tenho certeza que seu irmão não gostaria de te ver assim… Infelizmente não temos como controlar o destino. Aquilo que é traçado para nós não muda.

— Mas o destino foi muito injusto com meu irmão. Ele sofreu a vida inteira e quando tudo parecia estar tomando um rumo, esse acidente… aquele caminhão. Eu queria poder voltar no tempo, queria poder ter protegido meu hyung. Queria que ele voltasse…

“Às vezes, lá na mansão, eu passo pelo corredor e vejo a porta do quarto dele fechada… Vivemos momentos tão felizes ali desde que ele voltou. A tristeza é tão grande. É como se uma parte da minha felicidade tivesse se acabado desde aquele dia.”

— Não se sinta assim, meu amor — a mão carinhosa sobre a bochecha do rapaz — Eu entendo a sua dor. Não sinto com a mesma intensidade, mas sinto toda essa aflição e tristeza também…

— Eu sei que sim… Você é tão boa — a mão sobre a mão dela.

— Não, eu não sou, mas sei que não deve ser fácil — os dedos pequenos impediram uma lágrima de cair — Mesmo assim você não pode se abater. Seu hyung não ia te querer assim, entenda isso.

“Você tem que continuar seguindo, vivendo, conquistando seus sonhos e todos os objetivos. Ele lutou muito para que vocês fossem livres, para que realizassem seus sonhos, então faça isso, por ele, mas, acima de tudo, por você. Faça valer tudo o que ele fez por vocês…”

— Você tem razão…

— Tenho sim! — ela sorriu de leve — As coisas vão melhorar, acredite. Com o tempo, tudo vai se resolvendo e a tristeza vai abrindo espaço para novas alegrias.

— Quero que isso aconteça logo…

— Não deixe que a tristeza que está enfrentando te incapacite a vida.

— É… Acho que o hyung não ia querer me ver assim, deprimido.

— Não, ele não iria. Seja feliz por ele também e confie que as coisas irão melhorar. Sua família evoluiu tanto desde que os conheci… é uma dor grande, eu sei, mas ela os amadurecerá  e os deixará ainda mais unidos. Acredite.

— Não vejo a hora de ver minha família feliz de novo.

— Tudo vai melhorar… — ela o contemplou intensamente. Ele, aparentemente, leu seus pensamentos.

— Está pensando na minha mãe de novo, não é?

— Não… Claro que não… — ela pareceu nervosa com aquela menção.

— Você sabe que não me engana, não é?

— Jung…

— Ela me ligou novamente… — o interesse da jovem confirmou as suspeitas que ele tinha — Parecia debilitada…

— Jung, você precisa ir encontrar com sua mãe…

— Para quê? Para ouvir todas aquelas coisas que já sei de cor? Para ouvi-la me mandar te deixar e ficar com ela? Não posso fazer isso, Mi Ok. Me desculpe.

— Mas…

— Não…

— O que ela disse dessa vez?

— O de sempre… Que se sente sozinha, que queria me ver, saber de Gun…

— Ele continua sem atendê-la?

— Sim…

— Vocês precisam pensar bem sobre o que estão fazendo. Por mais difícil que seja, a sua mãe deu o primeiro passo. Ela está procurando vocês… Talvez ela esteja arrependida…

— Acho difícil…

— Mas não vai saber se não der a oportunidade dela se explicar…

— Você quer que eu vá falar com ela?

— O que você acha sobre isso? — ela perguntou de volta, um sorriso amarelo.

— Acho que são tantas coisas ruins acontecendo uma por cima da outra que às vezes acredito nas coisas que você me diz.

— O que? — ela o perguntou, a sobrancelha arqueada, o assunto mudando novamente.

— Essas suas loucuras…

— Está me chamando de louca, agora? — ela recomeçou suas brincadeiras. O modo mais rápido de tirar o namorado daquela tristeza.

— Ah, Mi Ok… Sejamos sinceros que suas teorias são bem loucas, às vezes…

— Ah, é? E por que escuta então? Poderia, simplesmente, me ignorar e não ouvir nada disso, não é?

— Não precisa exagerar… Acabei de dizer que “acredito nas coisas que você me diz”.

— E quais seriam essas coisas?

— Essas loucuras de carma, de passado… de reencarnação e vidas antigas que precisam pagar suas dívidas…

— Pois é… Eu acredito nisso. Acredito que todos nós temos uma chance a cada novo ciclo da nossa alma para compensar os erros do passado, das vidas anteriores…

— Hmm…

— Hmm…?

— Eu já sei tudo o que você pensa — ele sorriu — Mesmo que seja uma loucura, às vezes me parece a única explicação “lógica” para tudo o que minha família tem passado.

— Hmm…

— Talvez a gente tenha uma grande dívida com alguém. Talvez minha família tenha tido muitos problemas no passado e tudo isso é a nossa nova chance de melhorar tudo.

— Sim…

— Talvez o meu pai tenha sofrido, porque cometeu grandes erros no passado. Talvez o acidente de Gun tenha sido a vida cobrando dele suas faltas antigas…

— Talvez…

— Mas Shin… Não é possível que essa regra tenha sido colocada sobre ele também…

— Você não sabe…

— É. Eu não sei. Isso é muita loucura — ele a olhou brincalhão — Mas gosto de ouvir essas suas loucuras, tudo bem?

— Você é bem chato quando quer… Consegue me irritar bastante quando tem vontade.

— Mas continuo gostando de você, demais, mesmo quando começa com suas loucuras…

— Sei…

— Obrigado por estar comigo…

— Já disse para não agradecer pelos meus sentimentos — falou de cara fechada.

— Você é maravilhosa, Kahn Mi Ok…

— Hmmm

— Minha louquinha preferida…

— Sei…

— Que faz os meus dias ficarem mais alegres.

— O que você quer? — ela tinha aquele ar irritado, falsamente irritado. A sobrancelha novamente arqueada.

— Hmmm… Quero saber se posso falar sobre as segundas intenções do meu convite agora…

Jung lhe perguntou ao ouvido. A moça arregalou os olhos, ela não conseguiu conter o riso e os dois compactuaram aquele segredo.

Em seguida, saíram da lanchonete com o propósito de aproveitarem as poucas horas que ainda teriam juntos, antes da moça ter de ser entregue, sã e salva, em sua casa.

Ao contrário de Mi Ok, Nyeo Hin Hee enfrentava algumas dificuldades e não encontrava muitos motivos para continuar prosseguindo. A felicidade se esvaía dela como a água que escorre por entre os dedos das mãos.

Após o acidente do filho, a mulher havia conversado com Taeyang e se desligado por completo de seus afazeres para com a mansão. Ha Jin fora contra de início, acreditava que a mulher poderia enfrentar problemas de saúde mais sérios se sua mente não fosse preenchida com algo, mas como uma mãe que fora no passado, entendia a dor daquela mulher, entendia o sofrimento em permanecer naquela casa e, acima de tudo, entendia a tristeza que era não ter seu filho lhe sorrindo a cada nova manhã.

Em seu coração, a jovem senhora sentia como se a felicidade não fosse algo destinado para ela, para os dois, e que não poderiam vivenciá-la em paz. O destino sempre se propunha a tomá-lo de si e, desta vez, havia sido cruel e impiedoso ao arrancá-lo de seus braços de forma tão repentina e avassaladora.

Hin Hee lembrava-se, em todos os momentos, com grossas lágrimas escorrendo de seus olhos, de seu pequeno filho sofrendo cirurgias, correndo o risco de não acordar, de ter sequelas para sempre caso as intervenções que sofreu não tivessem resultado.

Lembrava das muitas vezes que tocara a cicatriz que ele levava como marca daquela época terrível que enfrentou, associando os breves meses que tiveram próximos um do outro ao pequeno período onde fora feliz com seu bebê, na casa da amiga Chang Ru.

A senhora Chang Ru estava, como no passado, presente na vida daquela mulher que tanto sofrera ao longo de sua existência. Agora também havia outros, irmãos, namorada… Todos partilhavam daquele sentimento, mas, egoisticamente, ela acreditava que ninguém mais entendia, que não havia uma única pessoa no mundo capaz de compreender a dor que ela sentia.

Por mais empáticas que fossem, por mais que também sofressem, a dor que Hin Hee levava não tinha explicação, não tinha tamanho. E ela ainda se sentia culpada por tudo.

Se não tivesse sido tão fraca no passado; se tivesse enfrentado o senhor Wang quando ele a obrigou a se afastar de seu filho; se tivesse ouvido seu coração e fugido com o menino quando teve oportunidade, nada daquelas coisas terríveis teriam acontecido e, agora, ela poderia estar feliz ao lado dele, ao lado de seu Shin.

Mas não. E ela seguia se culpando.

Havia alugado um pequeno quarto num bairro periférico de Busan e ia se mantendo com os rendimentos que as ações da empresa lhe rendiam. Taeyang, gentilmente, assumiu as responsabilidades para com ela em relação a sua parte na Wang S.A. desde o acidente, e ela era grata, mesmo que, na maioria das vezes, não conseguisse aparentar.

A verdade é que Hin Hee não queria voltar para casa. Não queria estar na mansão. Aqueles lugares a lembravam de seu passado, das escolhas erradas. Do futuro terrível que destinou ao seu filho. Decidiu que viver naquela angústia, se martirizando pelos erros que acreditava ter cometido, eram a sua punição. Colocou sobre suas costas todos os fardos possíveis e continuou.

Fazia quase oito horas que Nyeo Hin Hee permanecia sentada naquela cadeira. Não dormia, não comia, não descansava. Era como se sua felicidade tivesse se esvaído, como se houvesse perdido sua vida, pois os motivos para viver haviam desaparecido. Todos os dias ela se lamentava, e lastimava, a sorte que tiveram.

Estava na casa dos pais há alguns dias. Havia abandonado sua realidade frustrante para enfrentar uma tão triste quanto. O pai havia adoecido. Um problema grave o atingira nos pulmões. Alguns dias internado e, agora, recebera alta para continuar o tratamento em casa. Ela não conseguiu ignorar aquela situação.

Mesmo que o coração tivesse apertado, que sua vida tivesse mudado de rumo e que tudo estivesse de cabeça para baixo, não poderia deixar a doença do pai simplesmente passar por seus olhos, não poderia fechar os olhos a necessidade de sua mãe por ajuda e colocar sobre suas costas mais uma culpa, o abandono aos seus pais.

Dessa forma, viajou aquelas muitas horas de ônibus para se encontrar com sua família, para estar com eles durante aquele período de convalescença. Suas atividades eram automáticas, seu brilho estava apagado e ela estava a cada dia mais distante dali, a cada novo instante, mais deprimida.

— Hin Hee… — a mãe da mulher, igualmente abatida, se aproximou — Venha comer alguma coisa...

— Estou sem fome, mãe — Hin Hee respondeu encarando a senhora. Havia tristeza em seus olhares — Obrigada.

— Você acha mesmo que passar o resto da sua vida assim vai fazer o menino voltar? Acredita mesmo nisso, minha filha? Acha que Shin estaria feliz se te visse se matando como está agora? Qual a necessidade disso, Hin Hee? Por quanto tempo mais irá viver assim?

— Não se preocupe comigo, mamãe. Eu estou bem.

— E vai continuar tentando mentir e me enganar também? Hin Hee, você precisa seguir...

— É tudo minha culpa, mãe — ela falou abalada, os olhos voltados para o chão — Como eu vou seguir se é tudo minha culpa? Se meu filho…

— Sua culpa? — a senhora se aproximou, aquele assunto era constante durante aquele longo ano.

— Eu fui fraca a minha vida inteira… se tivesse trazido meu filho para cá quando vocês me chamaram… se não tivesse tido medo, Shin não teria passado por nada disso…

— E você realmente acredita que é a culpada? Acha mesmo que tudo seria um mar de rosas se ele estivesse aqui?

— O que está dizendo, mãe? — ela perguntou confusa para a senhora — Fui eu que dei esse destino terrível para ele.

— Minha filha, se esse era o destino do menino, ele seria enfrentado cedo ou tarde, independente das escolhas que você fez. Não pense que todos os problemas que ele viveu são culpa sua.

“Você fez o possível e o impossível para que ele vivesse bem enquanto esteve na mansão. Você abriu mão da sua vida para estar ao lado dele todos os dias… Você abriu mão de ser chamada de mãe para que seu filho pudesse ter uma chance… Não há culpados…”

— E do que adiantou, mamãe? Do que adiantou ter sofrido daquele jeito enquanto via meu menino crescer à mercê daquelas pessoas, sofrendo, sendo humilhado e menosprezado? Do que adiantou se meu filho sofreu comigo a vida inteira? Não acredito que minhas escolhas foram boas.

— Você fez de Shin um homem de verdade. Você fez com que o nosso menino crescesse bem, que tivesse amor e carinho, mesmo sem saber o motivo. Você fez com que ele fosse honesto, respeitador, bom e gentil, a seu modo. Shin se tornou um homem maravilhoso, e foi graças a você. Pare de se sentir culpada, para de se matar assim… Ele não iria gostar de te encontrar dessa forma.

— Estou cansada, mamãe… Cansada de tudo isso, cansada de tanta tristeza, de tanta dor…

— Eu entendo o seu cansaço… Mas não se culpe. Não há culpados, nessa história, ou melhor, há sim, mas nenhum deles é você — a mulher foi firme em silenciá-la — Se tudo isso aconteceu, é porque tinha de ser assim. Apenas aceite e siga a sua vida. Seja forte, porque a sua luta ainda não terminou.

— Eu estou cansada. Não sei se quero mais…

— Sim, você quer. Não vou permitir que estrague sua vida por culpa das suas fraquezas. Você precisa continuar forte, precisa continuar lutando. Você não é a minha filha se esmorecer dessa forma, Hin Hee. Não foi assim que te criei. Te ensinei a ter fibra, a ser resiste e persistente, então o seja.

— Eu só estou esgotada...

— Pois então precisa descansar — a mulher falou estendendo a sua mão em direção à filha — Venha, vamos tomar um caldo.

— Mamãe…

— Faça isso por sua família, sim? — a senhora ofereceu um sorriso.

— Tudo bem…

— Assim que se fala, menina. Permaneça firme. Tudo vai melhorar.

Mas ela seguia se culpando. Em seus pensamentos, fora ela a causadora de todas as tristezas e problemas na vida de Shin. Colocava sobre si a pressão de não ter sido uma boa mãe, dedicada e zelosa. Se maldizia por ter deixado que seu filho sofresse nas mãos daquela mulher, por ter se deixado convencer por Hansol.

Ela se sentia tão arrependida e culpada quanto Sun, que continuava martelando ideias que lhe pareciam loucas, mas cheias de sentido. Estava mais do que certo de que deveria, e iria, tentar.

Voltar a ter contato com Doh Hea, mesmo que virtualmente, encheu seu coração de esperança, ao mesmo tempo lhe pontuava o quão idiota havia sido e o que isso acarretou em sua vida: tristeza.

Já fazia um ano desde que a jovem se mudara para os EUA e que ele não a via, que não ouvia sua voz ou vislumbrava seu sorriso. Porém, pouco depois do acidente de Shin, Hea entrou em contato com ele, através do computador, preocupada sobre como ele estaria naquela situação, tão pouco tempo após perder o pai.

Foi como receber um novo fôlego de vida quando não se tem mais esperanças.

Desde então, os dois conversavam quase todas as noites.

A sensação que Sun tinha era a de que eles estavam recomeçando, uma situação parecida com a anterior, mas, dessa vez, sem nicknames, sem mistérios, mentiras ou sentimentos escondidos. E ela aceitava que ele lhe falasse de seus sentimentos. Ela não mais o interrompia. Ela parecia acreditar que ele sentia sua falta, que ele queria melhorar.

— Por que está tão pensativo, cabeça de vento? — Jung perguntou ao irmão mais novo. Um dos sobrinho brincava em seus braços — Preste atenção no que está fazendo. Se deixar Song-ho cair eu te parto em mil pedacinhos…

— Aish… mas é mesmo um brutamontes — Sun respondeu irritado, arrumando o outro sobrinho nos braços — Como sabe que ele não é Dong-ho? Eles são idênticos… Não é possível que você consiga diferenciar.

— Claro que é possível — Jung falou aproximando dos dois — Veja, Song-ho tem os olhos mais abertos que o Dong-ho, como os de Taeyang, olhe… — Sun se esforçou, mas não conseguiu ver muita coisa — E veja… Dong-ho tem o rosto cheio, como o de Na Na… — novamente Sun fez um grande esforço para encontrar aquela diferença. Parecia impossível.

— Não… Não consigo ver…

— Claro que não, seu bobão. Eles são gêmeos idênticos. Não há diferença entre eles.

— E por que está nomeando os dois como se soubesse quem é quem?

— Por que eu sei. Dong-ho é mais cabeludo que Song-ho, idiota…

— Oh… É mesmo! Eu ainda não tinha reparado — Sun sorriu daquela descoberta incrível — Como sabia disso?

— A senhora Hyoon Jin-hi me mostrou há alguns dias…  Eu também não tinha reparado nada antes.

— Agora faz sentido… Mas eles parecem o Taeyang…

— É… — Jung fez uma careta engraçada — É como se fossem o nosso irmão em miniatura.

— É estranho, não é?

— Nem me fala — sorriram daquela constatação — Sinto que eles vão falar qualquer coisa como o Taeyang a qualquer momento…

— Aigo… Que idiota… Eles mal fizeram seis meses… Nem sequer ficam de pé ainda… Eles não vão sair por aí dando ordens ou fazendo negócios com os japoneses…

— Nunca se sabe… Vai que um deles te manda ir para a universidade…

— Que?

— Ninguém mais aguenta você nesse curso. Tenha vergonha na cara e termine de uma vez.

— Aish…

— Não estou mentindo.

— Vá se ferrar…

— Não fale assim na frente dos meninos, seu boca suja — Jung ralhou lhe dando um tapa na boca. Sun o olhou atravessado, massageando o local.

— Você vai ver só…  

— Para com essas ameaças idiotas e me diz por que essa cara de retardado. Não que ela não faça parte de você, mas parecia mais intensa minutos atrás. No que estava pensando? Em Doh Hea?

— Não começa…

— Fala logo. No que está pensando? Como estão as coisas entre vocês?

— Está tudo bem… Acho…

— Acho? Que resposta sem sentido é essa?

— Tem sido estranho não poder ver a Hea sempre que quero, mas eu estou conformado com o que ela tem me permitido ter…

— Você também… Fez tanta coisa errada que…

— A culpa também foi sua — acusou o mais velho com irritação — Foi você quem sugeriu que eu apostasse ela.

— Mas foi você quem aceitou.

— Por que você insistiu…

— Mas você poderia ter barganhado ou pensado em outra possibilidade, mas não… apenas aceitou.

— Aish…

— No fundo, no fundo, o que você queria era um pretexto para sair com ela… Eu sei, pode admitir.

— Não…

— Eu sei que é…

— Você é um imbecil…

— Já falei para lavar a boca aqui…

— Aish…

— E quando ela volta?

— Não sei. Acho que ela não pretende voltar tão cedo. Está se profissionalizando no ramo de jogos profissionais. Já está bem conhecida por lá…

— E você vai ficar só olhando? Não vai fazer nada?

— É sobre isso que tenho pensado — Sun falou e pareceu sair daquele local por um breve momento. Seus olhos viajaram antes dele falar novamente — Estou pensando em fazer uma loucura.

— Que tipo de loucura? — Jung o olhou profundamente. Parecia desconfiado.

— Não vai rir de mim?

— Por que eu riria, seu paspalho? Apenas fale o que tem pensado.

— Por que você pode falar assim, e eu não? Nossos sobrinhos…

— Sou mais velho que você.

— Só alguns dias…

— Não importa. Fala logo!

— Aish… Aishhhh…

— Fala de uma vez!

— Tá — respondeu com azedume — Faz um tempo que tenho pensado sobre algumas coisas…

— Fala logo… — o outro o olhou irritado.

— Você viu, deu certo com Eujin e Nahm Hye…

— Do que está falando? Doh  Hea vai se casar e você vai roubar a noiva também?

— Não, seu burro! Está louco? Ela não vai casar.

— Então o quê? Explica isso direito e deixa de falar em pedaços. Solta tudo de uma vez.

— Tenho pensando no quanto Eujin foi ousado e confiante ao invadir o casamento dela… Não é uma coisa que se vê todos os dias. E deu certo com eles…

— Juro que estou tentando entender o que está querendo me dizer…

— Aigoo… Como você é lento. Estou pensando em ir atrás dela nos EUA.

Jung abriu a boca. Os olhos assumiram uma expressão de espanto e ele não soube o que responder por um longo tempo, ao menos lhe pareceu vários minutos.

— Ir atrás de Doh Hea nos EUA? Está falando sério?

— Nunca falei tão sério em toda a minha vida — Sun disse colocando o sobrinho dentro do cercadinho — Vou me formar em dois meses… Não pretendo trabalhar na empresa e Taeyang é responsável por minhas ações.

“Nada mais me prende aqui e eu não quero continuar esperando que ela volte. Me sinto um fraco, entende? Como se estivesse perdendo a minha vida todos os dias.

“Vejo o que Eujin fez, suas escolhas, e que deram certo. Ele está feliz apesar de tudo. Aí penso em Shin, em como a vida foi injusta com ele. Penso como a vida tem sido injusta com cada um de nós e isso me deixa mal.

“Eu quero estar com ela. Quero poder abraçá-la, viver tudo o que não vivemos mesmo sabendo que posso não conseguir nada disso… Eu não quero mais perder tempo e estou consciente que ela pode simplesmente me ignorar… Eu quero me arriscar. Eu quero tentar, mesmo que não dê em nada. Mesmo que ela me mande embora. — ele parou de falar — O que?”

Jung olhava para o irmão com espanto. Sua expressão divagava entre o susto e o orgulho. Sua atitude foi apenas uma: deixou o outro sobrinho também no cercadinho, se aproximou do irmão e o abraçou.

— Estou do seu lado, Sun — Jung falou ao lhe dar tapinhas nas costas — Estarei com você mesmo que nada dê certo. Vou te apoiar em sua decisão e te ajudar como eu puder.

— O… Obrigado.

— Apenas tente… Não perca tempo nem permita que te digam como você deve agir. Tente novamente e mostre para Doh Hea os seus sentimentos, que eles são verdadeiros. Não importa se não der certo, afinal esse não você já tem… Vá em busca do seu sim, meu irmão. Mostre para ela que o seu sentimento é verdadeiro, que você foi um estúpido, mas que está arrependido. Lute por vocês!

— Obrigado, Jung… Obrigado.

— Mas não se iluda — ele continuou — Você sabe que Eujin e Hye enfrentaram muitos problemas por sua ousadia. Os pais dela foram contra e eles saíram daqui praticamente fugidos… As coisas podem não dar certo por lá.

— Estou consciente… Tenho me preparado psicologicamente para isso todos os dias, mas como você disse, o não eu já tenho. Não vou perder muito em tentar…

— Estou orgulhoso de você, Sun… Muito orgulhoso.

— Só queria que o hyung estivesse aqui para me apoiar também…

— Tenho certeza que ele te olharia profundamente, chegaria bem perto de você e falaria — continuou imitando o tom grave do irmão mais velho — “Finalmente resolveu tirar as fraldas, moleque. O que está esperando? Quer que eu compre a passagem de ida?”

— É… — Sun sorriu nostálgico, tensionando a voz também — “Por que demorou tanto tempo para se decidir, pirralho? Agindo dessa forma, agora sim parece meu irmão”.

— Sim… — Jung sorriu também.

— Sinto falta dele…

— Eu também… Mas devemos seguir. Tenho certeza que ele ficaria muito feliz por sua decisão.

— Sim… E vai ser assim.

— Boa sorte, irmão. Conte comigo.

— Obrigado pela ajuda, Jung… pelas palavras.

— Confio em você, Sun. Faça seu melhor.

— Sim… irei em busca do meu sim.

O sim era algo que Sun iria buscar em breve, como seu irmão mais velho fizera durante o casamento da mulher que amava. A seu favor havia o fato de Hea não estar noiva e a beira do casamento, mas a tensão por tomar aquela decisão também o afetava. Era complicado.

Assim como fora complicado também para Eujin que precisou enfrentar seus temores, toda uma família, pelo seu amor. A sorte é que ele encontrou em sua companheira uma desbravadora tal qual ele e tudo tornou-se mais simples depois.

Para Eujin, o mais complicado era aceitar a realidade que se abatera sobre a vida de seu irmão mais velho. Dias depois de ter chegado na Europa, fora avisado por Taeyang que Shin sofrera um acidente, que colidira contra um caminhão. Que estava internado em estado grave, correndo sério risco de vida.

Para Eujin, fora um corte mortal em seu coração. As lágrimas desceram como torrentes de seus olhos. As pernas fraquejaram e ele se viu amparado por sua namorada, ainda com o telefone em mãos.

Ela o tomou para si. Conversou com Taeyang e soube dos demais detalhes sobre tudo. Hye o apoiou, lhe ofereceu seu ombro amigo e seus ouvidos para as lágrimas e todas as lamúrias que se seguiram. Era doloroso para Eujin, e doloroso para ela vê-lo assim.

Tomaram o próximo voo de volta para a Coreia do Sul. Eujin sequer pode ver o irmão. Sook fora o primeiro a recebê-lo dizendo que não havia nada que pudessem fazer além de esperar o melhor… ou o pior.

Eujin permaneceu por mais alguns dias na Mansão da Lua. Presenciou o casamento de Taeyang e Na Na ao lado de Hye e após nenhuma melhora no quadro  do irmão, com o incentivo da namorada, resolveu voltar para a Itália e seguir com seus planos. Estava consciente que não poderia fazer nada por ele e sabia que ele não o perdoaria se soubesse que havia abandonado seus sonhos por ele.

Agora, depois de um ano como estudante de uma das maiores escolas de música do mundo, o jovem havia evoluído de forma impressionante as suas habilidades com o fagote.

Deixara, há muito, de ser um mero calouro e, a convite de seu mestre, passou a compor uma orquestra fazendo concertos pelas noites caras daquele país e continente.

Eujin e Hye haviam acabado de cruzar a porta do apartamento que dividiam na Itália. Não era um espaço gigantesco como as mansões onde eles habitaram toda a vida, mas era excelente para os dois.

Com a ajuda de Taeyang, Eujin fora capaz de encontrar aquele lugar, tão mais próximo da realidade a qual ele e a namorada pertenciam. Seguiam mantendo-se com os rendimentos de seus trabalhos e levavam uma vida simples, sem glamour e exagero. Para eles, tudo aquilo parecia bom.

O jovem, há alguns meses, seguia recebendo bem mais do que poderia imaginar desde que aceitara compor o quadro fixo da orquestra de seu mestre. Muitas vezes se achou incapaz, mas encontrava em seu trabalho o retorno de seus esforços e grande satisfação por ter feito aquela escolha.

Naquele fim de tarde, chegou em casa e encontrou a namorada sentada no sofá, diante do notebook, vendo algo que parecia-lhe ser a bolsa de valores. Ela estava livre e ele não mais sentia a sombra de segredos no relacionamento dos dois.

Fora complicado convencer o pai da jovem de seus sentimentos, de que não estavam brincando ou o humilhando. Também não era mentira que o fato de ter invadido o casamento da filha de Nahm Gong e acabado com aquele acordo familiar fora manchete de jornais e revistas por muito tempo. O homem o odiou por muitos meses, mas o amor à sua filha fora maior e o permitiu perdoá-los.

Agora, a jovem seguia comandando a empresa de onde estava, dividindo o trabalho com seu pai. Tinha consciência de que, em algum momento, precisaria voltar para a Coréia do Sul em definitivo e assumir seu controle total, mas enquanto pudesse adiar esse retorno, ela o faria.

— Ainda trabalhando? — ele perguntou depois de cumprimentá-la com um beijo — Já está tarde. Você não tinha estipulado parar todos os dias às 17h?

— Não estou trabalhando... — ela o olhou com carinho — Estava olhando a bolsa da empresa da família do Pyo.

— Por que? — Eujin estranhou aquele repentino interesse e sentou-se ao seu lado, olhando também — Aconteceu alguma coisa com a família dele?

— Sim... Aconteceu algo muito sério — ela fechou o notebook, colocou-o sobre a mesa de centro e aconchegou-se no namorado antes de continuar — Pyo me ligou mais cedo... ele saiu de casa.

— Saiu de casa? Hye, o que aconteceu?

— Os pais dele haviam lhe encontrado uma nova noiva, como te disse há um tempo.

— A filha do dono daquela emissora? Esqueci o nome...

— Sim. É essa. O nome não importa agora. O problema é que Pyo não quis aceitar em nenhum momento esse noivado...

— Nem tinha como ele aceitar...

— Sim... Nós sabemos. Mas seus pais não sabiam...

— Não sabiam...? Pyo...?

— Sim. Ele contou aos pais. Ele me ligou e disse que foi tudo muito complicado. O pai não aceitou, como sempre imaginamos que aconteceria, e o expulsou de casa. Disse que iria tirá-lo do testamento e que ele não era mais seu filho.

— Que exagero…

— Sim… concordo com você, mas a gente sabe que nossos pais teriam agido de forma parecida se fosse com eles, não é?

— Sim… Infelizmente é uma realidade que ainda enfrentamos… A Coréia ainda está muito presa ao passado…

— Sim, está. E isso dificulta tudo.

— Como Pyo está?

— Mal... Ele não me pareceu nada bem enquanto conversávamos, mesmo que tenha tentado disfarçar todos os seus sentimentos. Tenho certeza que agora ele está chorando muito...

— Onde ele está?

— Na casa de Yang Tao.

— Imagino como deve ter sido difícil...

— Sim. Eles estão pensando em vir para cá... Acreditam que aqui poderão viver suas vidas longe dos preconceitos que a Coréia os impôs.

— Ele falou para os pais do namorado?

— Sim... Ele já havia resolvido tudo com Yang Tao antes de contar aos pais… Ele já sabia que não seria fácil. Os dois resolveram enfrentar isso juntos.

— Finalmente tiveram coragem para se livrarem de tantas algemas…

— Vamos esperar que as coisas melhorem para os dois a partir de agora.

— Sim... Que seja assim.

— E como foi hoje?

— Foi tudo bem. Estamos ensaiando pesado para a turnê de Setembro.

— Já decidiram os países?

— Alguns daqui e alguns na América. Os nomes ainda não foram lançados.

— Avisou para seu irmão que estará lá em breve?

— Sim... Não sei se ele irá, mas avisei.

— E falou com sua família? Como vão as coisas por lá?

— Falei com Sun mais cedo... tudo continua do mesmo jeito. Cada um vai seguindo sua vida como pode, do jeito que a vida permite.

— Faz quase um ano...

— Sim…

— E Sun continua com a ideia de ir para os EUA?

— Sim — Eujin sorriu orgulhoso — Irá mês que vem. Estou feliz por ele. Finalmente meu irmão está crescendo… se tornando um homem.

— Será que a moça vai aceitá-lo? — Hye perguntou curiosa.

— Hea sempre foi apaixonada por Sun… eles cresceram assim, nesse vai e vem irritante. Tudo o que aconteceu é culpa do meu irmão, eu sei, ela sabe e, o melhor de tudo, ele sabe. Espero, do fundo do meu coração, que eles se acertem, que as coisas sejam resolvidas. Sun gosta muito dela e merece uma segunda chance.

— Por que não conversa com ela?

— Não quero me meter nisso…

— É… Faz sentido.

— Mas eu confio no meu irmão. Eu sei que ele vai aparecer com o coração aberto. Ele aprendeu bem com os erros que cometeu. Está confiante, e mesmo resignado caso não dê em nada.

— Vamos torcer… — ela lhe deu um beijo carinhoso.

— Torcer para que minha família possa ter momentos de paz… para que a vida pare de nos massacrar…

— As coisas tendem a melhorar agora…

— Espero que tenha razão…

—  O problema é que sua família chama muita atenção de todos… mesmo o destino foca demais em vocês. Vocês deviam ser mais discretos em suas escolhas, em suas vidas…

— Que? Do que está falando?

— Que vocês chamam muita atenção…

— Por que diz isso?

— Taeyang sendo ovacionado em vários continente. Yun Mi brilhando ao lado dele. Jung ganhando títulos, Sun a ponto de deslanchar para o mundo e você, famoso, quase um idol…

— O que? — ele a olhou divertido.

— Acha que não vejo o jeito que suas "coleguinhas" de curso olham para você?

— Não... — ele balançou-se sobre o sofá, desacreditado. A expressão de descrença — Nahn Hye está com ciúmes? Com ciúmes de mim?

— Não estou com ciúmes... Quero apenas que fique consciente que estou de olho...

— Ah... Que fofa... Que garota fofa com ciúmes de seu namorado lindo... — ele a abraçou, deitando-a sobre o sofá. Beijos estalados por todo o rosto da jovem, risadas de um casal que seguia sua vida feliz.

Nahm Hye permaneceria ao lado de Eujin em todos os momentos e estufava o peito do mais genuíno orgulho ao observá-lo envolvido pela música, cada nova melodia exalando dele como se fossem um só, mesmo que tivesse de aturar as muitas fãs que ele já conseguira por onde andava.

E ela não era a única orgulhosa de suas escolhas. Eujin dizia e demonstrava a cada novo dia o quão feliz estava por vivenciarem aquilo juntos. Estava ainda mais feliz por terem obtido o perdão do pai da jovem que, depois de alguns meses insistindo para que ela voltasse, preferiu abrir mão e deixar que a filha seguisse o seu destino conforme escolhera.

Ele a amava e ela permaneceria ao lado dele, como sempre fora, assim como a pequena Ra Na que, vendo em seu pai um grande exemplo a ser seguido, o admirava e seguia ao seu lado sempre que possível.

Naquele momento, Sook estava sentado na poltrona da biblioteca, em sua casa. A cabeça descansava recostada no encosto do objeto, seus olhos fechados, as mãos espalmadas sobre os braços do assento.

Pensava novamente em seu irmão, de como a vida havia sido injusta com ele e com sua mãe. Presenciou o sofrimento daquela jovem mãe ainda muito pequeno, mas entendia agora a proporção de sua dor. Agora, sentia-se impotente, assim como sentiu-se quando criança, em não poder fazer nada pelo bem daquele rapaz.

Enquanto pensava nas tristezas que submergiram sua família, esperava por Ra Na, que havia chegado da escola e correra para tomar banho. Estava com calor, reclamou o caminho inteiro de volta para casa, mas o havia intimado para montarem o novo quebra-cabeças que ganhara da avó materna. Queria completá-lo antes que a senhora chegasse para visitá-los logo mais no fim da tarde, afim de tomarem chá juntos.

— Voltei, papai — a menina o despertou de seus pensamentos assim que cruzou a porta da biblioteca.

Sook olhou a filha com carinho e admiração. Às vezes achava absurdo que tenha sido capaz de tê-la, tão perfeita e saudável. Ra Na crescia esperta, disposta e inteligente e ele orgulhava-se inteiramente por ter sido agraciado com ela. Sentia-se orgulhoso de ser seu pai, de estar ao seu lado, de tê-la consigo.

— Por que está olhando para mim assim, papai? Vai começar com aquela conversa de que estou crescendo muito rápido de novo?

— Não... — ele achou graça da esperteza da garota.

— Já te disse que não tenho intenção de namorar tão cedo, não se preocupe. Eu sei que já sou quase uma pré-adolescente agora que tenho quase dez anos, mas vou fazer o possível para que você e a mamãe não fiquem com cabelos brancos por minha causa.

— Ahh, Ra Na... pare com essa conversa adulta e venha montar este quebra-cabeça de uma vez — ele ralhou, mas ela sabia que havia muito carinho naquelas palavras — E pare de falar sobre namorados... Você não tem idade para isso.

— Eu sei... — a menina concordou sentando-se no chão, abrindo a caixa e espalhando as peças. O pai sentando-se ao seu lado — Mamãe já me disse que só vai me deixar namorar depois que eu tiver vinte anos...

— Ainda acho cedo — Sook disse desvirando algumas peças e ela o olhou alarmada.

— Ah, papai. Eu disse que não quero namorar cedo, mas não vou morrer solteira, não é?

— Quando tiver idade, conversamos sobre isso novamente.

— Tudo bem... — começaram a montar o quebra-cabeças. Ra Na concentrada em seu ofício, entre uma peça e outra trazia um novo assunto à tona — Papai, ficou sabendo que tio Sun vai para os EUA?

— Soube sim…

— Ele vai atrás daquela moça, a que ele gosta… Isso não é legal?

— Vamos mudar esse assunto de namoro, por favor?

— Ah, papai… — a menina sorriu — Você é tão engraçado assim, nervoso.

— Não estou nervoso.

— Ta bom… Se o senhor diz — ela sorriu ainda mais. O homem a olhou atravessado. Estava realmente esperta demais. O tempo voara — O senhor não acha que a mamãe está estranha?

— Estranha? — ele olhou para a menina com um ar de curiosidade — Por que acha que sua mãe está estranha?

— Sei lá... Ela tem feito umas coisas estranhas ultimamente...

— Como o que?

— Não sei bem... Mas ela faz umas caretas estranhas quando está comendo... Seria bom você ver se ela não está doente...

— Hmm... Obrigado pelo alerta, querida. Vou conversar com sua mãe mais tarde.

— Certo... — ela concentrou-se mais uma vez — Está lembrado que eu tenho um torneio de natação na semana que vem?

— Estou sim — ele sorriu. Era incrível como ela falava parecido com a avó — Estarei lá com sua mãe e seus avós...

— Acho bom, porque eu pretendo ganhar uma medalha... Nem que seja a de bronze. Meu professor disse que meu tempo está muito bom. Quero arrasar no torneio.

— Não terá problemas caso não ganhe medalhas, minha filha. O que importa, de verdade, é se esforçar ao máximo para conquistar o que deseja. Mesmo que não haja medalhas, você deve estar feliz por conseguir se superar sempre, tudo bem?

— Sim... Eu sei. Fazer o meu melhor sempre, não prejudicar ninguém e me orgulhar de tudo o que conquistar com meu esforço. Jamais vou esquecer dessas palavras, papai — o homem a olhou, novamente aquele sentimento de orgulho tomando conta de seu coração.

— Sook, Ra Na... — Park Sun Hee apareceu à porta e chamou os dois — Venham até a sala de visitas rapidinho, a senhora Chang Ru está aqui.

— Vovó? — a pequena começou animada — O que será que fiz de errado dessa vez? — ficou pensativa enquanto se levantava, vasculhando em sua memória o que poderia ter feito a mãe chamá-los naquele momento.

— Você lembra de ter feito algo que chateou a mamãe?

— Não... Foi o senhor que fez alguma coisa com ela? — ela o acusou. Ele negou veementemente.

— Até a vovó está aqui… Deve ser sério.

— Vamos logo. Depois voltamos para continuar com o quebra-cabeças.

— Vovó... — a menina correu em direção da senhora e a abraçou com carinho assim que a viu — Pensei que só viria mais tarde para lancharmos.

— Precisei vir mais cedo, minha querida — deu um beijo na cabeça da neta e recebeu um igual de seu filho.

— Está bem, mamãe? — ele perguntou ao observar a senhora sentar-se.

— Estou sim... Como sempre. Não há muitas novidades quando se é uma velha...

— A senhora não é velha, vovó — a menina lhe interrompeu e recebeu mais um beijo da senhora.

— Mas não vamos demorar muito… — a senhora continuou olhando para a nora — Vim aqui porque Sun Hee tem algo para anunciar…

Naquele momento, Sook juntou as informações dadas a poucos instantes por sua filha a respeito de Sun Hee com a frase dita por sua mãe. Letárgico, ele olhou da mãe para a esposa e a encontrou sorrindo. Ela sabia que ele sabia.

— Vamos, Sun Hee, fale de uma vez — Chang Ru incentivou animada. Ra Na olhava de um para o outro, confusa.

— O que está acontecendo aqui? — a pequena perguntou para ninguém em particular, esperando que um deles respondesse, mas fora a mãe que começara a falar em seguida, dirigindo-se ao marido.

— Querido… faz alguns dias que desconfio, depois comecei a não me sentir muito bem em alguns momentos da manhã… enquanto como… — Ra Na fez um movimento silencioso de “eu te falei” para o pai — Então fui com a senhora Chang Ru ao hospital ontem, depois que deixei Ra Na na escola…

— Está doente, mamãe? — a menina questionou preocupada.

— Você…? — ele começou, mas não conseguiu completar a frase. Estava emocionado demais. Chang Ru sorria e Ra Na não entendia nada do que estava acontecendo.

— Sim, Sook. Teremos outro bebê!

O homem levantou-se de seu lugar e, ajoelhando-se aos pés da mulher, a abraçou com carinho e admiração. Ra Na, finalmente entendendo, de boca aberta, olhou toda aquela situação, situando em seus pensamentos o que a nova informação significava.

— Então quer dizer que, depois de quase dez anos, finalmente você vão me dar um irmão?

— Sim, meu amor… É isso mesmo — Sun Hee respondeu radiante à pequena, lágrimas felizes escorrendo de seus olhos — Você terá um irmãozinho, ou irmãzinha…

— Ah… Agora as coisas estão ficando realmente boas — ela falou animada, levantou-se e fez sua dancinha da vitória, a mesma que aprendera com o tio Sun — Eu vou ter um irmão… Ahhh! Eu sabia que esse dia chegaria.

— Estou muito feliz, querida… — Sook falou olhando intensamente a esposa.

— Eu sou muito mais por ter você comigo.

“Eu vou ter um irmão… Ahahaha… Eu vou ter um irmão...”

— E está tudo bem com você?

— Sim… Estou entrando na oitava semana…

“Eu vou ter um irmão… Ahahahah… Eu vou ter um irmão...”

— Obrigado por isso, meu amor… obrigado!

— Mas, mãe… — Ra Na interrompeu sua dança e cantoria, virando-se para os pais, a expressão de quem tivera uma ideia genial — Você também pode ter dois bebês, como a tia Na Na!

— Não, meu amor…

— Por que não? Eu queria que fossem dois também — pareceu triste por um breve instante.

— Teremos um lindo bebê… e você será sua irmã mais velha. Você terá muitas responsabilidades quando o bebê chegar… Tem certeza que quer esse trabalho em dobro?

— Hmm… Parando para pensar melhor… Acho que um só já está bom.

Ela sorriu, abraçou a mãe, o pai e a avó, voltando a fazer sua dança da felicidade. Esquecera-se do quebra-cabeças, do torneio e de tudo o mais.

Naquele momento, Ra Na, juntamente com seus pais e avó, celebravam felizes aquela nova vida que chegaria em breve, o coração da menina cheio de alegria por realizar o desejo que tanto esperara. Uma fagulha de esperança e felicidade sendo regada naquela família.

Ra Na sabia como era complicado não conseguir realizar aquilo que se desejava. Sentiu aquilo quando não conseguiu continuar com as aulas de equitação. O sentimento de não ter o que se quer já presente, mesmo entre os pequenos.

Aquela sensação também rondava os maiores, e a esses principalmente, assim como estavam nos pensamentos de seu tio Taeyang. Tudo estava bem no âmbito profissional e com sua família em particular, mas com os Wang, de modo geral, as coisas não estavam bem por completo. Faltava uma parte deles.

Sentado na poltrona do escritório da Mansão da Lua, após dedicar quase quarenta minutos na árdua batalha de fazer seus filhos dormirem naquela noite de domingo, Taeyang recobrava todas as colocações médicas sobre a situação atual de seu irmão.

— Não conseguimos entender por que ele continua nesse estado depois de quase um ano. Seu cérebro está em atividade normal como os exames indicam. Todos os sinais vitais estão de acordo e ele não tem nada que o mantenha nessa situação. Realmente, senhor Wang, não sabemos mais o que fazer além de esperar…

— Mas esperar… qual a probabilidade do meu irmão acordar enquanto continuamos esperando?

— Não sabemos, senhor… Realmente, essa informação nós não podemos dar. O estado dele é anormal. Pelo tempo de internação, o quadro dele já deveria ter evoluído e sua consciência já deveria ter voltado. O bom disso tudo é que, assim como não progrediu, seu estado também não regrediu. É como se ele estivesse dormindo...

“Ele tem todos os sinais de consciência. A ressonância e o eletroencefalograma detectaram resposta do córtex parietal superior. Tudo em seu cérebro funciona perfeitamente”.

— Então… qual é a explicação?

— Não há. Mas descobri que há cerca de três anos o hospital residencial teve um caso parecido. Uma paciente deu entrada em estado de coma após um afogamento. Seus sinais estavam todos normais, mas a paciente não acordava nem reagia aos estímulos, assim como seu irmão.

— E o que aconteceu com essa paciente?

— Ela recobrou os sentidos cerca de um ano depois de dar entrada no hospital. Sem qualquer explicação… Apenas recobrou os sentidos…

— Então temos essa esperança.

— Vamos nos confiar nela. Já pedi os exames dessa paciente. Estou esperando que me enviem para relacionar os casos. Vamos ter esperança, senhor Wang. Vamos confiar.

Mas era difícil ter esperanças quando elas eram tão superficiais. Taeyang não sabia quem era esse outra paciente, como ela estava agora e se poderia ter esperanças que seu irmão voltaria. Um ano… Já fazia quase um ano daquele acidente.

Ele apoiou a cabeça nas mãos, cotovelos sobre as coxas. Sentia-se impotente, assim como todos os outros Wang em relação ao irmão. Não tinha o que fazer, não sabia o que poderia fazer…

A única coisa que queria era que Shin recobrasse a consciência. Sentia falta do irmão. E ele havia perdido tantas coisas… A reestruturação da empresa, seu casamento com Na Na, a formatura de Jung, o nascimento de seus filhos, o desenvolvimento profissional de Ha Jin, o sucesso de Eujin, as conquistas de Yun Mi, o amadurecimento de Sun… Temeu que o irmão também não visse o filho de Sook nascer.

Distraiu-se de seus pensamentos quando seu celular tocou. Assustou-se inicialmente, absorto nas agruras do irmão, em suas tristezas, e seguiu até o aparelho o atendendo ao terceiro toque.

— Alô…

— Taeyang?

— Gun?

— Sim. Acordei você?

— Não… Está tudo bem.

— Como está?

— Estou bem. E você?

— Tudo bem… — Gun respondeu ao irmão e sentiu aquela estranheza dentro de si. Sentia-se envergonhado por tudo o que fizera, mesmo que jamais revelasse sobre a ninguém, todavia, sentia-se bem por aquela aproximação. Por ter irmãos.

— Algum problema com a empresa? Está precisando de algo?

— Não… tudo está muito bem por aqui. Não preciso de nada, obrigado.

— Tudo bem.

— Vou te mandar algumas planilhas e relatórios mais tarde por e-mail, quando chegar no escritório.

— Sim… ótimo.

— Por favor, não espere até a meia noite para lê-los. Vá dormir. O e-mail ainda estará lá quando você acordar amanhã.

— Sim… pode ficar tranquilo — Taeyang se permitiu rir daquele comentário. Sempre esperava os relatórios do irmão para lê-los, independente do horário, mesmo que estivessem a treze horas de diferença.

— Espero que seja sua palavra final — Gun continuou. O tom ainda era polido, mas o sentimento era real, a cada dia mais real.

— É a minha palavra. Só verei os relatórios amanhã de manhã, no escritório. Não se preocupe.

— Ótimo — um breve silêncio instaurado entre os dois — Como estão todos?

— Posso dizer que seguindo… não há muitas alterações por aqui.

— Seus filhos estão bem?

— Sim. Estão bem, sim. E como você está?

— Estou bem. Me livrei da bengala definitivamente há alguns dias. Estou voltando a correr aos poucos… Acho que… realmente estou bem, agora.

— Essa é uma ótima notícia. Cuidarei que nossos irmãos saibam sobre ela.

— Tudo bem… Taeyang…

— Sim?

— E Shin?

— Ainda na mesma… infelizmente.

— Nenhuma novidade dos médicos?

— Falei com um deles ontem de manhã… parece que descobriram um caso similar ao do nosso irmão. O paciente ficou em coma por cerca de um ano, mas não tinha absolutamente nada…

— Isso é tão estranho… E já está fazendo um ano do acidente.

— Sim… Hoje. Faz exatamente um ano que nosso irmão está nessa situação.

— Se houver alguma mudança no quadro, por favor, me avise, não importa o horário.

— Sim… Eu farei isso.

— Obrigado.

— Ah… Gun…

— Sim…

— Não sei se está sabendo, mas nosso irmão Sook terá outro bebê…

— Ah, sim. Já estou sabendo. Ele me ligou, mas agradeço por avisar. Também soube que o concerto de Eujin irá se apresentar aqui perto… Farei o possível para ir assistí-lo.

— Sim.. Faça isso.

— Então… vou desligar.

— Ok.

— Boa noite, Taeyang.

— Bom dia… hyung.

Aquela noite estava carregada de uma tristeza profunda na ala onde Shin permanecia internado. Hin Hee, que voltara para o hospital depois da melhora de seu pai, aproveitara que Ha Jin havia chegado e saíra da cabeceira do seu filho para se alimentar e descansar um pouco.

O jovem, em seu estado de sono permanente, estava sob os cuidados da namorada, sempre atenta a qualquer sinal de movimento, movimento este que nunca chegava a ser feito.

Fizera um ano que ele se acidentara naquele dia e fora exatamente um ano após seu afogamento que ela recobrara os sentidos. Parecia loucura, mas ela havia se apegado à ideia de Mi Ok como um bote salva-vidas. Esperava que ele acordasse, mas Shin não se movia. Ele não esboçava um sinal sequer de que recobraria os sentidos, e já era noite. As esperanças da jovem começavam a definhar.

Solitária e triste, Ha Jin saiu do quarto por um momento, sentando-se sobre um dos bancos de espera posicionado diante de uma janela. A vista da noite de Busan estava linda. Mesmo com dificuldade, conseguia ver algumas poucas estrelas no céu e devaneou, com saudade, momentos felizes ao lado do namorado, antes de daquela desgraça.

— Estou te dizendo… Eu já vi um céu muito mais estrelado que esse.

Ha Jin continuava falando de suas lembranças vividas no passado de Goryeo. A noite em que observara o céu ao lado de Wang So e vira mais estrelas do que jamais imaginou ver em sua vida.

— Não é possível… Não acredito — ele rebateu mais uma vez. Estavam em um bosque, depois de rodarem alguns muitos minutos de moto. Deitados sobre o gramado macio, observavam o céu e suas estrelas.

— Então não acredite, se quiser, mas eu sei sobre o que estou falando — ela continuou com o ar superior.

— E posso saber quando viu esse céu tão estrelado?

— Há algum tempo… Nunca havia observado como o céu é imenso, como as estrelas são lindas, até àquele dia.

— Quanto mistério… Só falta dizer que estava com um namorado… — uma nota de ciúme sentida por ela. Ha Jin o encarou. Ele evitou olhá-la, focando o céu.

— Talvez…

— Você vai falar de seus ex agora?

— Não pluralize… Não foram tantos. Já me apaixonei por alguns garotos na adolescência, mas nada foi tão intenso como o que sinto por você…

— E esse seu amor das estrelas não era intenso? Você parece guardar essa memória com bastante empenho. Por acaso é aquele cara que sua mãe falou outro dia?

— Não… Claro que não.

— Do jeito que está falando… parece que esse cara foi bem marcante para você — ele continuou carrancudo. Os braços cruzados sobre o peito. Os olhos focados no céu.

— Ele foi bastante especial em minha vida, não minto… Mas aquele não era o momento de estarmos juntos. Havia muita coisa que impedia nossos sentimentos e eu resolvi me afastar. Aquele relacionamento estava destinado a não dar certo…

— E você parece estar bem triste por isso…

— Está com ciúmes?

— Eu? Claro que não. Por que teria ciúmes de seus romances passados?

— Shin… isso foi há muito tempo, em uma época bem diferente dessa…

— Do jeito que fala parece que esse relacionamento aconteceu há mil anos…

— Talvez seja realmente isso… Não se preocupe. Não há outro em meu coração a não ser você mesmo.

— Estou falando sério...

— Você… Pare de falar essas coisas…

— E você pare de ter ciúmes de quem não precisa. Só tenho olhos para você, senhor Wang, portanto, não se preocupe: Meu coração está todo preenchido por este carrancudo rebelde — lhe deu um beijo na bochecha e ele a olhou indignado, não resistindo ao olhar da jovem e lhe retribuindo com um beijo intenso nos lábios.

— Duvido que esse tal tenha beijado você como eu beijo…

— Não acredito que está com ciúmes… — ela sorriu daquela loucura. Wang Shin com ciúmes de Wang So. Era realmente muita loucura.

— Não estou — ele voltou a olhar o céu.

— Não tenha ciúmes, senhor Shin… Essa pobre garota está perdidamente apaixonada pelo senhor… Não há outro, acredite — ela brincou colocando-se sobre ele. Beijos animados espalhados pelo rosto do rapaz. Ele, impossibilitado de ser indiferente aos toques dela, a beijou também.

— Sinto sua falta, Shin… — falou para o céu ao recobrar-se daquele momento — Me desculpe por ter sido a causadora desse acidente… Se eu não tivesse ido embora, se eu tivesse esperado um pouco mais… São tantos se’s. Por favor, volta pra mim… — virando-se em direção do quarto, caminhou para ele mais uma vez.

Mas Ha Jin parou seus passos por breves instantes. Um homem, de terno claro e pasta de couro na mão, parado diante da porta do quarto de Shin, olhava para dentro através da janela de vidro. Ela estranhou. Aquele homem parecia familiar.

Se aproximou devagar. Não havia outras pessoas no corredor naquele momento e, por alguma razão, ela sentiu-se incomodada com aquela presença.

— Senhor… Está procurando alguém?

— Ah… Boa noite, jovem…

Ha Jin sentiu que o coração parou naquele mesmo instante e a respiração tornou-se difícil. Dando dois ou três passos para trás, tentou se afastar daquele homem.

Era ele. Ela tinha certeza que era ele.

Sentiu as pernas fraquejarem e ele lhe sorria. Recostou-se no banco atrás de si e seu corpo começou a desfalecer sobre ele. A respiração mais agitada, o sangue gelado, todo o corpo em choque.

Lembrou-se repentinamente da vez, muito tempo atrás, quando estava com Shin no parque… Aquele homem que desapareceu na névoa gelada de Busan também era ele. Sabia que o conhecia e estranhamente teve certeza daquela constatação. Só podia ser ele.

— O que…? Por que…?

— Não se preocupe… Já estou indo embora.

Ha Jin não conseguia controlar a respiração descompassada, os pulmões doendo do esforço por respirar. Todos os seus músculos tremendo irrefreadamente.

Sentiu as lágrimas rolarem por seu rosto, não conseguia parar. Nada no seu corpo parecia lhe obedecer. Todas as memórias de mil anos atrás voltando para ela como se ela as vivenciasse naquele exato momento. Sua cabeça começou a doer. A sensação de que iria morrer.

Lembrou-se da dor que sentiu ao partir do palácio. Ao deixar sua filha. Toda dor que sofreu por abandonar o seu grande amor. Sentiu as dores das perdas, os sofrimentos, as acusações.

Aquele homem estava parado diante do elevador e a olhava novamente. Ele a olhava da mesma forma que a olhou dois anos atrás, quando ela o encontrou no evento da ISOI. Ela sabia. Ele sabia que ela o reconhecia.

— Ji…

— Eu precisava estar aqui… No fim das contas acabei me apegando à vocês e prometi a ele…

— … Mong. Por que?

— Tenha uma longa vida, senhorita Go Ha Jin.

— Por que?

A porta do elevador se fechou lentamente. Os olhos de Choi Ji Mong vidrados nos de Go Ha Jin. Seu peito parecia em ponto de explodir no mesmo instante que pensou ter enlouquecido por completo ao ouvir Shin falar algo de seu quarto.

O que ele está falando? Eu preciso me levantar! Preciso ajudá-lo. Shin… eu já vou… Shin…

— Soo… Soo… Hae Soo… Soo-Soo-ya…


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Notas finais do capítulo

Glossário:

Concubina Oh - Nyeo Hin Hee
Hae Soo - Go Ha Jin
Hwangbo Yeon-hwa - Wang Yun Mi
Imperatriz Hwangbo - Woo Ah Ra
Ji Eun Tak (OC) - 4ª esposa de Wang Hansol
Khan Mi-Ok (OC)- amiga de Ha Jin
Lady Hae - Kim Na Na
Li Chang Ru (OC) - 1ª esposa de Wang Hansol
Park Soon-duk - Doh Hea
Park Soo-kyung - Doh Yoseob
Park Sun Hee (OC) - Esposa de Sook
Sung Ryung (OC) - empregada/amiga de Ha Jin
Taejo - Wang Hansol
Wang Baek Ah - Wang Eujin
Wang Eun - Wang Sun
Wang Yo - Wang Gun
Wang Ha Na - filha de Wang Sook
Wang Jung - Wang Jung
Wang Mu - Wang Sook
Wang So - Wang Shin
Wang Wook - Wang Taeyang
Yoon Min-joo - Imperatriz Yoo
Nahm Hye - Woo Hee



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