Moon Lovers: The Second Chance escrita por Van Vet, Andye


Capítulo 71
Renovação


Notas iniciais do capítulo

Oi queridos!

Aqui estamos nós nos encontrando em mais um feriadão (aliás, ótima Páscoa para todos) de muita emoção e cenas boas. Vocês vão notar um clima de fim de novela batendo forte neste capítulo, mas não se enganem, ainda há um último e incrível ato antes do fim. Neste, mais questões sendo respondidas, momentos de esperança e promessas de um futuro promissor.

Um agradecimento especial para todos os comentários e leitores fiéis desta história, e podem ficar tranquilas, ficaremos em dia com as devidas respostas em breve.

Super beijo e ótima leitura! o/



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Yun Mi experimentava uma alegria imensa em seu coração. Finalmente a herdeira Wang se sentia importante dentro dos negócios da família, se sentia parte da equipe.

O sucesso do veículo esportivo Impacta reverberara durante toda a semana seguinte nas emissoras de televisão da Coreia do Sul e, cada vez que a moça assistia a uma das dezenas de entrevistas que Taeyang dera naquela noite, contando sobre o trabalho coletivo e competente dos irmãos, mais orgulhosa ela ficava.

Na convivência com Jin In tudo estava sendo novo também… e muito bom. Ela gostava de parecer não se importar com o que o esposo vinha se tornando dentro dela, gostava de fazer pouco-caso dos olhares e das intenções dele, mesmo que, na verdade, estivesse ansiando por ser tocada, beijada e preenchida pelo toque quente, a boca macia e os músculos firmes daquele homem.

E Jin In não a rejeitava. Ele aparentemente apreciava o balé provocante que sua esposa vinha criando no dia-dia dos dois, quando em um minuto Yun Mi parecia a ponto de enxotá-lo do quarto para, no seguinte, estar nua e entregue dentro da banheira da suíte com ele.

Yun Mi, que passara o dia todo aninhada no sofá do apartamento, encarou a tela do seu celular e percebeu que ainda faltavam alguns minutos para seu companheiro retornar do trabalho. Ele estava querendo levá-la para comemorar, somente os dois, os louros do evento chinês. Ela aceitara do seu jeito desinteressado, embora já tivesse escolhido o vestido e aprontado o cabelo com antecedência.

Depositando o celular na mesinha ao lado do sofá novamente, a mulher pensou que havia alguma coisa que ainda não estava completa em sua vida, algo que vinha adiando propositalmente nos últimos meses: a carta do seu pai.

Assim que recebera aquela novidade das mãos de Yoseob pensou em rasgar o papel em mil pedaços e nunca colocar os olhos nas tais palavras especiais que o pai tinha para ela.

A raiva por Hansol ter omitido a doença e, por fim, terminar morrendo súbita e cruelmente rondou-a por muito tempo. Nunca conseguiria entender por que o patriarca escolheu por eles, escolheu deixá-los no escuro das informações, e sofreu sozinho.

Passado o luto inicial, Yun Mi pensou diferente. Guardaria aquela carta sim, mas somente por respeito ao que Hansol fora antes de se tornar o mesquinho e egoísta homem que ela conheceu. O plano original, de castigar a memória – quem sabe o espírito – do velho com a recusa em ler o conteúdo dentro do envelope se manteria para sempre.

Então sua escolha mudou outra vez. Taeyang havia dito que a carta de Hansol havia lhe ajudado, lhe dado a sabedoria final na conclusão do projeto. A partir daquela conversa, a moça pensou que poderia ter algo útil nas palavras finais de um moribundo milionário… Ela conferiria sua carta particular, mas somente após o lançamento do Impacta.

O dia chegou. Não existia mais nenhuma desculpa para se iludir, um porém para adiar o momento. Ou leria ou não.

Yun Mi viu seus pés calçando os chinelos e seu corpo caminhando teimosamente em direção à sua promessa, um esconderijo no quarto. Dentro do cômodo, olhou com apreensão para a penteadeira encostada na parede e fitou a gaveta que guardava, bem fundo, o envelope escondido.

A garganta estava ficando seca, as mãos tremiam um pouco, mas, mesmo assim, ela se forçou a cumprir as próprias promessas.

Estava ficando irritada por ver sua paz de minutos atrás de esvaírem devido às estratégias de um pai já morto. Aproximou-se do móvel e abriu a gaveta devagar, criando o máximo de tempo possível entre ela e as palavras finais dele.

O envelope continuava no mesmo local, entre um álbum com suas fotos da infância e embalagens de cosméticos. Precisou sentar para digerir seja lá o que viesse a seguir, porque suas pernas estavam perdendo a força.

Logo que retirou o papel do envelope reconheceu a caligrafia bonita e bem diagramada de Hansol se esparramar diante dela. As palavras que ele havia escrito especialmente para sua única filha.

Yun Mi, a minha princesinha…

Como vai, querida filha? Eu espero que bem. Espero também que você não tenha demorado muitos anos para resolver abrir esse envelope e ler as coisas importantes que seu pai deveria ter lhe dito pessoalmente, face a face.

Bem, eu sou assim, um infeliz covarde a vida toda.

Você não. Você, Yun Mi, é algo único e precioso nesta vida e nesta família. E não por ser a menina bonita e elegante de Wang Hansol. Não. Sua preciosidade reside em outras coisas. Reside na sua competência com todo o desafio que lhe é imposto. Reside na sua lealdade com todas as pessoas que considera e ama. Reside na sua resiliência em todas as provações impostas por seus pais desde os primeiros anos de sua existência.

Eu cometi erros com todos os meus filhos, fui brutal em diversas escolhas, mas sei, me dei conta agora, de que nada pode ser pior do que obrigar alguém a se casar sem amor. Entendo sua raiva quando agiu impulsivamente àquela vez… o quanto você estava precisando de amor e compreensão. Entendo agora. Na ocasião, novamente, como fiz em tantos momentos, tapei os olhos e os ouvidos para seu desespero e a castiguei.

Estou muito envergonhado das minhas ações. Mesmo agora, escrevendo essa carta, a vergonha me consome sem fim.

Filha, eu lhe dou minha benção para suas decisões. Se divorcie imediatamente e refaça seu caminho ao seu modo. Eu disse ao seu irmão, disse a Taeyang, que quero que ele apoie você caso as coisas fiquem difíceis após esta sua decisão. Sei como certas escolhas podem ser muito mais destrutivas na vida de uma mulher, mas quero que saiba que ele, e certamente, como tenho fé, seus outros irmãos, apoiarão você.

Mude. Se refaça. Cresça.

E confie mais nas pessoas, permita que elas se aproximem de você e conheçam seus gostos, suas qualidades, seu sorriso verdadeiro e seu coração leal. Se permita simplesmente amar.

Torço para que não tenha ficado com muito ódio de mim e consiga em um futuro não tão distante, reviver as boas lembranças, somente as boas, deste seu patético pai.

Te amo, o papai.

Ela já não poderia enxergar mais nada que estava escrito no papel se houvesse mais palavras para ler. Yun Mi tinha os olhos tão marejados por lágrimas que era impossível evitar que havia chorado caso Jin In surgisse no quarto nos próximos minutos.

Deixando o choro sair de vez, ela nem percebeu que ele já estava ali, parado atrás dela, aguardando o momento certo para se introduzir na dor da companheira. Yun Mi agarrou a carta com as duas mãos e grudou-a ao peito, soluçando forte. Por dentro, desejava ter tido apenas mais uns minutos com o pai para poder dizer o quanto o amava, independente das mágoas passadas.

Foi quando sentiu um toque protetor deitar em seu ombro. Era a mão Jin In.

Yun Mi ergueu o rosto choroso e encarou o rosto dele tão compreensivo e belo como sempre. Não limpou suas lágrimas e nem ficou envergonhada por vê-lo ali, testemunhando sua fragilidade. Pelo contrário, em um impulso, levantou-se da poltrona e agarrou-o pelo pescoço, abraçando-o forte, pedindo o acolhimento de seus braços. Pedindo paz.

Jin In abraçou Yun Mi como carinho e ficou ao seu dispor, esperando que ela chorasse tudo que precisasse chorar, entendendo o que significava toda aquela intimidade.

Nos momentos bons e nos ruins. Um para o outro. Ele era dela. Ela era dele.

— Eu não quero… me… divorciar — ela confessou baixinho entre um soluço e outro, os braços envoltos em torno do pescoço dele.

Jin In a trouxe ainda mais para perto dele, o corpo esbelto dela colado ao grande dele, e respondeu:

— Eu também não quero. Não mesmo.

***

A alguns quilômetros de distância do apartamento de Yun Mi, o local em que Taeyang combinara de pegar a irmã de carro, ele resolveu comentar:

— Você está diferente.

— Eu? Diferente como? — ela perguntou o olhando de soslaio. Um sorriso queria se insinuar em seus lábios, mas preferiu manter uma aura misteriosa enquanto ele dirigia.

— Eu diria que você está feliz — disse com sinceridade.

— Talvez — deu de ombros, nem confirmando nem negando.

Se Taeyang pudesse ler a mente de sua irmã ficaria um tanto constrangido de descobrir as coisas que passavam ali dentro. A lembrança boa de Jin In chegando do trabalho e consolando-a com um abraço quente e palavras carinhosas. Sussurrando em seu ouvido que não queria o divórcio também. E, ainda naquela noite, consumando sua devoção por ela a levando numa nova onda de prazer nunca vivenciada por Yun Mi antes.

— Certo, nem vou tentar entender o que é… — Taeyang sorriu e balançou a cabeça — Aproveitando que estamos juntos e sozinhos, preciso te falar outra coisa.

— O que? — ela perguntou intrigada. Ele também andava escondendo algo. Mostrava os dentes como um palhaço sorridente para cada criatura viva que cruzava seus olhos diante do para-brisa.

— Eu não quis aborrecer você com esse assunto enquanto estávamos nos empenhando no projeto, mas agora que tudo entrou nos eixos, tenho que falar. Acho que você deveria se divorciar. Na verdade, dou todo o meu apoio para que você faça isso. Não consigo me sentir realizado e em paz sabendo que minha irmã é obrigada, todas as noites, a dormir debaixo do mesmo teto com alguém que não ama.

Para Taeyang chegar a essa conversa era imprescindível. Mesmo que seu pai não houvesse dado sua benção para tal atitude na carta dele, o rapaz ponderava sobre a decisão. Seus valores continuavam dizendo que forçar Yun Mi ao casamento era uma espécie de atrocidade contra a garota. Nunca se perdoaria sendo cúmplice daquilo.

— Meu irmão — ela enfim sorriu para ele, com leveza e serenidade. Apoiando a mão em sua coxa com carinho fraterno respondeu — Eu nunca vou esquecer que você tentou me salvar deste destino no dia do meu casamento. Também nunca esquecerei todas as vezes que lutou pelos meus direitos nessa família. Não vou me esquecer nunca do irmão amado que você sempre foi comigo. Então, obrigada por se importar.

“Esclarecido isso, gostaria de tranquilizá-lo quanto a esse assunto. É difícil compreender como certas coisas começam… Às vezes nós só nos permitimos olhar as possibilidades sobre outro prisma e elas se encaixam sozinhas”.

— Com isso você está dizendo…

— …que as coisas estão correndo bem e eu não pretendo mudá-las por enquanto.

— Você e Jin In…? — ele a olhou espantado. Então era esse o motivo dos olhos alegres de sua irmã.

— Não tenho o mínimo interesse de discutir esse assunto com você, Taeyang — ela rebateu enfática e definitiva.

— E esse seu gênio não muda mesmo — o outro suspirou, conformado.

O carro com irmãos Wang dentro deixou a zona central de Busan e aproximou-se da outra região de bairros ricos e edifícios suntuosos, o destino deles. Dentro do veículo, a conversa continuava seguindo para o mesmo rumo especulativo.

— Você diz que eu estou diferente, mas desde que entrei nesse carro tento descobrir por que meu irmão parece prestes a sorrir a cada dois segundos atrás desse volante. Está tentando bater algum recorde ou clareou os dentes?

— Ah, quanto a isso… A senhora é boa em segredos, não é? — ele não a deixou ter tempo de responder e continuou — Eu também sou. Vou deixar você saber somente quando estivermos lá no apartamento da mamãe.

— O que?! Agora você está sendo muito injusto!

— Não fui eu que comecei — o homem respondeu dando de ombros para provocar a irmã que pareceu a ponto de se enfurecer, para depois abrir um sorriso conformado… e brincalhão.

...

Ah Ra não tinha vontade de ver ninguém naquela semana assim como não tinha vontade de ver ninguém naquele mês e, se possível fosse, naquele ano. Para satisfazer seu desejo de solidão, tratou de dispensar a empregada doméstica que dava um pouco de ordem ao seu lar e agora vivia em meio a bagunça e a sujeira sem nem se importar.

Metade do dia da ex-esposa do poderoso Wang Hansol era dedicado a dormir e a outra metade à bebedeira em frente a televisão. Isso ao menos estava sendo bom. Conseguiu colocar todas as novelas ridículas e clichês daquele país, em dia.

Passando pela programação inédita até as reprises mais famosas, Ah Ra conhecia o nome dos personagens principais das histórias em transmissão e quase chegava se importar com seus destinos trágicos ou afortunados.

Ficou particularmente emocionada quando, revendo a outrora estrondosa novela Baker King, Kim Tak Goo conseguir provar seu valor dentro da empresa do pai milionário. No minuto seguinte, porém, ela estava se horrorizando por descobrir o quanto toda aquele enredo era semelhante à história da governanta Nyeo e seu bastardo Shin… e o quanto havia derramado lágrimas pelo drama brega.

Quando a história focava em uma matrona arrogante e histérica, ela logo se lembrava da sua eterna inimiga, Yoon Min-joo e sorria se deleitando que aquela cretina fora proibida de estar na mansão para se despedir de Hansol pelo próprio filho.

Em outros momentos, era uma mocinha ingênua endurecida pelas humilhações, uma senhora escandalosa e vulgarmente sincera ou até uma protagonista passageira, apagada na história, que traziam verossimilhanças a ela. Cada uma dessas personagens se encaixavam perfeitamente nas mulheres da vida de Hansol: Chung Ru, Eun Tak, Nyeo Hin Hee…

No fim, a vida de Ah Ra fora uma novela mal roteirizada, descaradamente previsível e com um final amargo para os vilões. Amargo para ela, então.

Sim, Ah Ra tinha plena consciência da sua participação mesquinha naquele melodrama real. Ela não era muito melhor do que as outras ou não estaria com Hansol, aquele homem satélite para mulheres problemáticas. Como Min Joo, prestou pouca atenção em seus filhos e perdeu muitos anos numa disputa imbecil com a outra, para saber quem venceria.

Não havia vencedores na vida. Havia momentos bons que poderiam se tornar momentos extraordinários se cultivados ao longo dos anos para tal. Hoje Taeyang e Yun Mi comemoravam o sucesso do projeto da Wang S.A. entre eles, apenas. Não houve nenhum telefonema querendo incluir a mãe naquela conquista. Nada. Tudo mudo do lado de lá. Os filhos haviam esquecido dela de vez…

E quer saber, ela merecia.

O barulho da campainha sobressaltou Ah Ra, arrancando a mulher de sua novela e seus pensamentos amargos. Ela encarou a porta principal com desconfiança até escutar Yun Mi chamar do corredor:

— Mãe? Por que mudou a fechadura?

Ah Ra se levantou de má vontade, “pensando no diabo” e suspirou a caminho da porta. Abrindo o trinco com brusquidão, resmungou:

— Não me diga que veio encher meus ouvidos logo cedo… — parou no meio da frase. Esperando no corredor, além de sua caçula, seu filho, Taeyang, uma estrela empresarial nos últimos dias nas reportagens dos telejornais, a fitava — Ah, ótimo, os dois ingratos.

— Mamãe! — Taeyang não se importou com as reclamações dela e partiu para um abraço caloroso. Ah Ra ficou ligeiramente envergonhada por estar descabelada e cheirando a bebida àquela hora da tarde para recebê-los.

— Me solte, está bem — continuou com o mal humor disfarçado, se afastando dos dois e retornando para o sofá.

Na televisão, a insuportavelmente bela Lee Mi Sook dava um dos seus sorrisos sedutores numa reprise vespertina de seu mais novo drama pela MBC. Antigamente, Hansol costumava dizer que ela era tão bonita quanto aquela atriz, mas Ah Ra não acreditava mais nas besteiras aduladoras que saíram da boca de seu falecido ex.

— O que querem? Meu parabéns pela conquista nova da Wang S.A.? Acho que já tiveram suas cotas de elogios se bem me lembro como são os puxa-sacos daquela empresa — a mais velha provocou. No fundo de sua alma, contudo, se sentia emocionada pelas conquistas dos dois.

— Mãe, por que ser tão áspera? — Taeyang perguntou se sentando ao lado dela no sofá. O rosto dele estava mais leve apesar das olheiras.

Yun Mi demorou um pouco mais para se acomodar. Antes disso, inspecionou todo o cômodo com olhos de rapina, observando a sujeita e a bagunça, somente para ter um motivo para criticá-la, Ah Ra supôs.

— O que foi, garoto? Vou receber uma espécie de bronca agora? Dos meus filhos? É isso?

— Não estamos aqui para isso, mamãe — Yun Mi falou, se sentando na mesinha de centro, de frente para ela, os dois filhos a cercando. A moça tinha uma aparência saudável e cordial, diferente do semblante revoltado de uns meses atrás — Eu e Taeyang estamos preocupados com a senhora.

— Não parece. Vocês dois sumiram.

— Eu sei — o rapaz anuiu envergonhado — Esse projeto sugou a todos nós, confesso. Mas mãe, tudo deu certo e agora nós viemos ajudá-la.

— Me ajudar? Como assim? Isso é… é uma intervenção? — ela perguntou ficando temerosa. Sabia de histórias (na verdade, viu em algumas das novelas que não parava de assistir) filhos internando pais que se tornavam um estorvo em asilos e casas de repouso. Mães impotentes berrando enquanto eram enfiadas dentro de ambulâncias e gritavam não estar esclerosadas. Era esse seu fim?

— Mais ou menos — ele sorriu de um modo conspiratório que somente a preocupou mais.

— O que estão armando? — quis saber.

— Taeyang tem algo para contar. Ele acha que vai encontrar a solução para esse modo errante que a senhora vem levando sua vida. Eu acho bem difícil se levarmos em conta o quanto Woo Ah Ra é teimosa…

— Eu não vou sair desta casa! — Ah Ra exclamou, protegendo sua dignidade a todo custo.

— Calma mãe, o que acha que é?

— Não sei! Não conheço vocês, não conheço ninguém com quem convivi todos esses anos. Se estão pensando em me internar em al…— ela gritava parecendo à beira de um colapso.

— Você vai ser vovó! — Taeyang disse de uma vez temendo que a matriarca tivesse um ataque. Ponderou sobre aquele anúncio dezenas de vezes na mente, imaginando a forma mais encantadora de contar sobre a notícia estupenda que recebera de Na Na logo que voltara da China. No fim, fora à moda de sua família, na truculência.

— Taeyang, como assim?! — quem se espantou foi Yun Mi. Ela olhou para o irmão, olhos arregalados, boca aberta, esperando qualquer novidade dele, menos aquilo.

— Eu vou ser… o que? — Ah Ra perguntou, lívida. A bebida a estava deixando surda, aparentemente.

— Disse que a senhora será avó… de gêmeos — ele continuou com toda a coragem reunida. O coração batia loucamente no peito — Minha namorada… Ela está grávida de seis semanas.

Um pequeno silêncio se alongou como resposta à revelação, mas ele perdurou pouco. Na contramão de todas as expectativas que Taeyang, e agora Yun Mi, tinham para a mãe perante àquela notícia, Ah Ra os surpreendeu. Com um sorriso débil e emocionado, a mulher mais velha perguntou:

— Eu vou ser… avó? Vou ser avó? Escutei direito?

— Sim — ele repetiu, cauteloso.

— São duas crianças? Dois netos?

— Sim — Taeyang riu… e percebeu que estava chorando. Enxugou os olhos esfregando a água salgada pelo rosto.

— E quem é a moça? Eu conheço?

Yun Mi e Taeyang se encararam brevemente e com preocupação. A mãe ainda estava absorvendo a primeira notícia e eles não tinham certeza se ela aguentaria a segunda. Por outro lado, Taeyang, fungando e brigando com a emoção, precisava terminar de atravessar aquela ponte já que se propôs a cruzá-la.

— Quanto a isso… Você a conhece, sim. É Kim Na Na.

Então ele esperou os xingamentos, os esbravejamentos, mais ondas de desgostos da mãe. Na Na era uma mulher tão incrível, mas costumava ser tantas coisas inverdadeiras na boca de sua família que ele apenas torceu para aguentar calado as ofensas e continuar em seu plano de resgatar a mãe do poço da tristeza com alguma trégua.

— Essa garota… Vocês dois… Vocês precisam assumir esse compromisso de uma vez. Precisam se casar!

— Por essa eu não esperava — Yun Mi riu aliviada. A cabeça continuava zonza por descobrir aquela verdade em dose dupla. De repente, caiu em si e pensou em como o irmão era jovem para ser chamado de pai.

— Não, é verdade — Ah Ra permaneceu firme na sua linha de pensamento. Não havia tristeza ou desapontamento no rosto dela, apenas determinação — Ela é uma garota de família pelo que me lembro, então vocês devem se casar logo, antes que a barriga apareça muito. E ela é tão bonita também, me dará netos lindos, mas tão magrinha… Preciso saber se está se alimentando direito, afinal são dois. E os pais dela também devem estar se sentindo injuriados por você não se casar logo com…

— Espere, mãe, uma coisa de cada vez — o filho pediu tempo — Ainda não falamos com os pais dela sobre isso.

— O QUE? Não pode! Isso dá má sorte, é errado. Eu não te criei para isso. Assim você me desonra Wang Taeyang! — Ah Ra se levantou do sofá e começou a rumar para o banheiro — Yun Mi, procure uma roupa adequada à ocasião, porque vou levar Taeyang agora à casa dos Kim. Nada disso está certo. Não podem continuar assim…

— Meu Deus, o que foi isso? — Yun Mi perguntou para o irmão, olhando a mãe entrar no banheiro — Ela nem… Você nem… O que são vocês dois? Como pôde me esconder essa história?

— Fiquei sabendo essa semana — Taeyang disse, um pouco letárgico. Eram muitas informações e, com certeza, muitas reações — Sabia que a mamãe sempre quis netos, mas não esperava essa atitude. Eu vou precisar contar para Na Na. Ela estava tão preocupada sobre isso. Tenho que tranquilizá-la.

— Ou alarmá-la de vez já que, assim que sair desse banheiro, mamãe vai te arrastar para a casa dos seus sogros.

— Ahh, não acredito! — ele coçou a cabeça nervoso ao se dar conta deste fato — Você vai junto, vai ajudar pro caso das coisas saírem do controle.

— Eu? Eu não vou fazer nada. Jin In está em casa me esperando. Tenho um jantar em um restaurante cinco estrelas esta noite.

— Bela irmã você é.

— Você também não ajuda em nada me jogando nessa história de olhos fechados.

***

A sala de estar recebia a luz matutina de um sábado ensolarado e bondoso através de suas suntuosas janelas. Tão azul quanto o dia lá fora estava o peito de Eujin, o herdeiro Wang que encarava o cômodo com ar nostálgico. Azul que representava confiança e fé.

Há um ano ele jamais acreditaria que aquilo aconteceria. Eujin não teria como dar crédito para a verdade do seu presente. Mas estava acontecendo. Era real. O sexto filho de Wang Hansol tinha as malas prontas ao lado do corpo e uma passagem somente de ida para estudar em um famoso conservatório italiano que era objeto eterno de seus sonhos.

Alguns diriam de que ele estava velho demais para estudar música, que seu tempo passou. Contudo, para certas coisas não há idade. Para os sonhos, no geral. Ele entendeu que precisou viver todas aquelas dificuldades e alegrias com seus irmãos para então estar pronto para perseguir seus objetivos mais fervorosos.

Com o sentimento saudoso o invadindo, Eujin espiou a sala de estar da Mansão da Lua pela última vez, as brigas feias e as conversas felizes ainda ecoando por todo o recinto, e encaminhou-se para a entrada da residência arrastando a mala consigo. Do lado de fora, uma pequena trupe de pessoas que ele amava lhe esperavam. Estavam todas (quase todas) que importavam em sua vida aguardando para se despedirem.

A mãe, Eun Tak, com o braço apoiado no braço de Sun acenou carinhosa para ele. Ela estava mais do que preparada para a partida do filho, estava realizada por vê-lo realizado, mas não deixou de chorar por saber que se separariam por um tempo. Seu menino mais velho não apareceria tão cedo para tomar um chá da tarde com ela numa tarde tediosa.

Sun e Jung conservavam semblantes duvidosos. Eujin podia ver a expressão de seu irmão mais novo oscilando entre a impassividade e a tristeza. Jung era uma versão comedida de Sun.

— Já sabe. Me ligue. Assim que chegar — Eun Tak sentenciou alisando a camisa do rapaz e observando o quão bonito e perfumado ele estava apenas para tomar um voo — Vou sentir saudades, mas você vai me ligar todos os dias para que esse sentimento diminua, ouviu?

— Não. Eu vou ligar todas as horas. Enviarei relatórios completos semanalmente. Podemos fazer reuniões quinzenais também — Eujin brincou para a mãe e a abraçou forte.

— Pare de bobagens.

— É. Chega de falar de reuniões por um tempo — Sun resmungou, depois que o irmão soltou-se da mãe e virou-se para ele — Se dedique a ser um músico de verdade. Volte tocando algo mais, além daquela flauta barulhenta.

— Rá-rá! Vou deixar a brincadeirinha passar somente porque estou de bom humor.

Os irmãos legítimos riram. Em seguida, Eujin bagunçou os cabelos do mais novo de modo carinhoso e pediu:

— Cuide da mamãe. Cuide de você, também. Certo?

— Pode deixar — Sun anuiu exibindo um sorriso fraco.

— E quanto a você — Eujin continuou agora olhando para Jung — Me prometa que se dedicará a suas aulas de taekwondo outra vez. Quero ver medalhas de verdade quando voltar.

— Você verá que a minha chave de braço vai ser muito mais forte e não adiantará gritar por socorro. Não vou soltar — Jung explicou com propriedade.

— Oh… então vai, me mostra como é a velha chave de braço para eu não esquecer e fazer um comparativo depois — inclinou o corpo provocando o mais novo.

— Tá legal, você pediu! — Jung entrou no clima daquela despedida e deu uma “piedosa” chave de braço no irmão, tomando cuidado para não amarfanhá-lo. Sabia de sua intenção quando saísse da mansão e era imprescindível que ele não parecesse um lunático decomposto.

— Ai, tá bom! Tá bom! — Eujin se soltou ajeitando os cabelos, fingindo impaciência — Boa sorte no seu namoro com Khan Mi Ok. Ela é uma garota legal e combina com você.

— Eu sei.

Taeyang, Na Na e Yun Mi compunham o segundo trio que o aguarda nas despedidas. Eujin aproximou-se deles e observou como Na Na, de mãos dadas à Taeyang, estava corada e radiante, como se tivesse gestando uma estrela muito brilhante e não seus sobrinhos gêmeos.

Ele lamentava não poder estar na cerimônia de casamento do irmão, que ocorreria muito em breve, mas mandaria todas as boas vibrações possíveis para a nova família que se formava.

— Como disse sua mãe, nos avise assim que pousar na Europa — Taeyang pediu.

— Pode deixar. Está tudo bem mesmo com a minha saída mais cedo? — perguntou ao irmão, se referindo à reunião que definiria a nova hierarquia na empresa, ainda não marcada.

— Pare de falar da empresa. — Taeyang apoiou a mão no ombro de Eujin e sorriu emanando sua aura tranquilizadora — Eu prometi que você estaria fora disso. Apenas se preocupe com a sua nova carreira, tudo bem?!

— Tudo bem — Eujin agradeceu, acanhado, A seguir, se direcionando para Na Na, disse — E quanto à minha cunhada… boa sorte na gestação e felicidades no casamento. Vou mandar um presente inesquecível aos noivos. Melhor que o de qualquer outro irmão.

— Ah, me poupe… — Yun Mi revirou os olhos.

— Sua presença seria o melhor presente — Na Na respondeu com doçura — Mas vou guardar as fotos do casamento para relembrarmos juntos estes momentos. Faça uma ótima viagem, querido.

Os dois se abraçaram respeitosamente. Eujin acenou para a barriga da cunhada e disse que gostaria de saber qual o nome as crianças teriam quando fossem escolhidos, porque Taeyang, às vezes, tinha péssimos gostos para nomear as coisas. Yun Mi se intrometeu:

— Eu vou ajudar a escolher os nomes também, fique tranquilo — a irmã disse incisiva. Na Na escutou o júbilo da cunhada e apenas exibiu uma expressão divertida.

— Pobre, Na Na — Eujin zombou.

— Ei, garoto… Cuidado com essa língua e cuidado na viagem também — Yun Mi resmungou.

— Yun Mi…

— Que é?

— Brilhe naquela empresa também… e… e fique bem.

Com um semblante desconcertado, a irmã acenou com a cabeça e agradeceu. Eles apertaram as mãos, mas Eujin a puxou para um abraço no último instante. A garota ficou tensa por alguns segundos e então relaxou, abraçando o irmão mais novo com carinho e saudades… pela primeira vez.

Os próximos da fila de despedida eram Sook, Sun Hee e Ra Na. Sook contando para Ra Na que seu tio se tornaria o próximo Vivaldi do século XXI. Ra Na perguntando ao pai “Quem era esse tal Vivaldi?” e, em seguida, se pendurando no pescocinho do seu lindo titio, porque já estava com muitas saudades e achava que ele podia ser esse tal de Vivaldi na Coreia mesmo. Eujin terminou de abraçar a sobrinha imaginando o quanto ela espicharia até que eles se reencontrassem outra vez.

Gun aguardava à uma pequena distância dos demais, solitário e apoiado em sua bengala. Com a aproximação de Eujin, aprumou-se o melhor que pôde e disse:

— Faça uma boa viagem e faça o favor de dar o seu melhor nesse conservatório. É o nome da nossa família que está em jogo.

— Obrigado e felicidades para você também, Gun.

— Igualmente — Gun deixou um pequeno sorriso rodear seus lábios e estendeu a mão para o mais novo — Sem abraços, por favor. Yun Mi ainda está desnorteada por aquilo que você aprontou agora a pouco.

— Tá bem. Desta vez só, eu deixo passar.

Os últimos a se despedirem, mas nem por isso menos importantes, eram Shin e Ha Jin. Ha Jin, que vivia longe do anonimato agora, a companheira oficial do seu intrépido irmão rebelde, não teve nenhum acanhamento para abraçar o cunhado aspirante a músico pelo pescoço e tecer um longo comentário sobre saudades e desejos de felicidade plena.

Enquanto abraçava Ha Jin com o mesmo carinho, Eujin se pegou relembrando o início de sua amizade com a moça baixinha e enigmática, a nova governanta, e traçando uma linha do tempo que ligava a chegada de Go Ha Jin à Mansão da Lua com todos os principais acontecimentos recentes naquela família, ponderou que não fora a chegada de Shin que mudara tudo, fora a chegada dela que definira os novos rumos da família Wang. Seria aquilo tudo apenas coincidência?

— Ei, não vá se emocionar ou Shin ficará com ciúmes — Eujin brincou ao ver como os olhos de sua amiga estavam brilhantes ao fim do abraço.

— Eu estou bem, não seja convencido!

— Ah, essa é a minha maior qualidade, Go Ha Jin.

— Pois guarde ela para logo mais — ela rebateu. Em seguida continuou num tom de voz mais particular — Você vai precisar de toda a convicção possível para fazer o que fará.

— Obrigado por me deixar tranquilo — Eujin ironizou.

— Ah, não se faça de vítima… Você vai conseguir, eu já estou vendo tudo acontecendo. Siga a sua intuição, eu já disse. Certas escolhas e arrependimentos não voltam mais.

— Shin — Eujin virou-se para o irmão — Você tem que fazer essa sua namorada parar de falar como se tivesse vívido duzentos anos. Ela me assusta.

— Eu também não entendo — Shin respondeu com sinceridade e uma boa dose de descontração — só que ela está certa. E veja bem, não importa o que acontecer por lá, você deu o seu melhor. Nada de se lamentar depois.

— Sim, eu sei. Como diz o ditado “o não eu já tenho” — objetou mostrando um pouco de conformismo.

— Agora vem cá, me dá um abraço — Shin aplacou o irmão nos braços. Eujin aconchegou-se na proteção do mais velho.

— Obrigado por voltar para nós. Obrigado por estar aqui agora.

— Eu te amo — Shin apertou o abraço.

— Eu te amo, também — Eujin devolveu, os olhos marejados — Amo todos vocês.

Minutos depois, dentro do táxi, Eujin observou a mansão do pai, encarapitada no alto da montanha, e sentiu nova onda de saudade. Não era um adeus definitivo, mas agora ele conheceria o mundo além dela.

O menino que lamentava seu destino cinzento dentro de ternos austeros e reuniões vazias estava colorido pela expectativa do arco-íris de sons e conhecimentos que o esperavam em outro continente. Sua felicidade somente não era redonda, plena, porque faltava uma peça naquele enorme quebra-cabeça: sua vida se encaixar perfeitamente.

O não ele já tinha.

Sim, Eujin acabara de dizer isso ao irmão Shin, mas esta frase despretensiosa nada se assemelhava ao estado de espírito do garoto. Ele não sabia muito bem como viveria ao vê-la se casar, ao vê-la rejeitar seu amor. Tomaria o avião rumo à Itália, isto era certo, mas seria a viagem mais dolorosa de sua vida, porque quando olhasse para o lado veria a poltrona vazia…

Conforme o motorista se aproximava do destino solicitado, percebeu que as mãos estavam geladas e suadas. Toda sua confiança parecendo ansiosa para abandonar o barco e deixá-lo desamparado, o limitando a um rapazinho esquálido e balbuciante. Poderia desistir de toda aquela idiotice e mandar o táxi seguir direto para o aeroporto.

Eujin respirou fundo e trouxe a confiança para dentro novamente. Ela não lhe escaparia. Ele iria até o fim, com dignidade, mesmo ouvindo o pior. Ele não viveria com a culpa por não ter tentando. Era muito melhor viver somente com a tristeza por não ter conseguido.

Para se motivar, relembrou o final promissor da última conversa que tiveram juntos…

— Então desista do casamento… Se negue… Negue se casar com outro homem que não seja eu e…

Desista…

O que?

Diga ao seu pai que não vai continuar na empresa, que vai seguir seus sonhos…

Hye… minha família não está bem… estamos com problemas…Meu pai, meu irmão… não posso…

Se liberte de tudo isso e eu me libertarei também. Vivemos a mesma situação, Eujin. Estamos presos no que nossos pais nos acorrentaram.

Mas… eu…

Vamos seguir juntos, Eujin… Livres.

Hye…

O casamento é em quatro meses… E eu vou esperar por você até lá.

Além daquele último jogo de palavras entre eles, havia outra coisa que estava ali, decorada na mente de Eujin, para motivá-lo: a carta que o pai lhe escrevera e que ele lera incessantes vezes antes de decidir deixá-la na mansão, muito bem guardada entre seus pertences, para quando retornasse à Coreia. Não precisava do papel, cada frase já estava gravada nele.

Eujin, meu doce e rebelde filho...

É verdade. Embora todos achem que Shin é meu filho mais rebelde, eu não posso ser injusto quanto a essa classificação. Meu filho mais bravio é você, Eujin.

Sempre achei encantador como uma pessoa meiga, que distribui o amor de modo tão fácil, pode ter esse lado tão assombroso. Assombro aqui é dito no melhor sentido da palavra.

Há alguns anos, quando você moveu mundos e fundos para tentar seguir seus sonhos, fiquei genuinamente espantado em descobrir que você não estava sendo tão dócil às minhas escolhas como seus outros irmãos. Acho que é essa sua paixão, essa sua alma transparente, que não conseguia entender por que deveria ser infeliz somente por ordens do seu pai.

Eu lamento muito ter lhe atrasado nos seus desejos, Eujin. Você é muito jovem e recuperará rapidamente esses anos, mas, de todo modo, perdão. Hoje, escrevendo esta carta, lamento não poder viver mais para vê-lo tocar em um grande concerto. Como te disse antes, gostaria de estar ao seu lado, mas não tenho mais esse tempo.

Meu filho, músico!

É isso mesmo… Estou te libertando, embora você não precise disso, de todo o fardo daquela empresa. Quero um menino exultante, não um homem de negócios eficiente. Quero poder, de onde estiver, ver suas notas musicais ganharem os ouvidos de desconhecidos e, através dessa inspiração, mudar vidas.

Também peço que seja realizado em qualquer outro projeto… e também no amor. Perdoe-me de novo por acabar terrivelmente com o sentimento bom que existia entre você e aquela pobre moça, a antiga empregada. Agarre seu próximo amor com unhas e dentes, mesmo que tudo pareça inadequado e impróprio aos olhos da sociedade.

Seja esforçado. Seja belicoso. Continue sendo rebelde.

Seja meu Eujin,

Com muito amor, seu pai.

Era isso. Ele seria rebelde novamente e ela ia esperá-lo… e ele estava chegando!

...

Hye crescera para ser uma mulher prática e realista. Mulheres práticas não têm tempo para ficarem tristes com casamentos arranjados. No fim, por amor ou não, aqueles contratos matrimoniais eram negócios. As relações humanas eram negócios desde que o mundo era mundo, e quanto às mulheres realistas, elas não sonhavam com o amor da vida delas as livrando de obrigações cultivadas por décadas e convidando-as para um mundo novo.

Hye, na maioria das vezes, conseguira ser as duas coisas… Neste dia, entretanto, o dia do seu casamento, ela queria apenas se comportar como uma moça romântica, uma princesa mítica aguardando a chegada do príncipe vindo de outro reino, o reino inimigo, a livrando para sempre do seu destino.

Aproximou-se do espelho instalado na sala da noiva e conferiu seu corpo esguio no longo vestido branco. A peça era linda, ela nem tanto… Havia emagrecido nas últimas semanas, estava mais pálida do que nunca… As pessoas ao seu redor diziam que era ansiedade pelo tão sonhado casamento, mas elas não conheciam o que se passava dentro da alma daquela noiva.

Hye sentia medo e uma terrível antecipação de arrependimento. Eujin esqueceria dela num segundo enquanto ela se tornaria aquelas criaturas amargas, lamentando todos os anos de sua existência com uma garrafa de vinho bordô ao lado, o quanto fora prepotente em impor regras e diretrizes ao amor.

Agora não havia mais nada que se pudesse fazer. Ela teria que casar. Todos os convidados aguardavam no salão. Seus pais, pressurosos, também. Muitas expectativas para serem quebradas…

…e este tempo já passou.

Kim Pyo, seu suposto noivo, parou diante da porta principal e disse com um pesar compartilhado para Hye:

— Eles estão nos esperando…

Hye suspirou fundo evitando olhá-lo nos olhos. Não era justo o que estava sentindo, ela sabia disso conscientemente e mesmo assim não conseguia observar o amigo noivo sem uma boa dose de revolta. No fim, quando já era evidente que Eujin não viria, esperou que fosse Pyo quem tivesse uma mínima dose de coragem e acabasse com o casamento.

Mas não. Ele era tão covarde quanto ela e estava aceitando seu destino passiva e pateticamente semelhantemente a uma ovelha que aceita cruzar o corredor de encontro ao abatedouro. Talvez ele estivesse tendo o mesmo sentimento por Hye e o melhor seria que eles dois não trocassem muitas palavras (ou consolos) no presente momento.

— Vamos acabar logo com isso — ela pegou seu buquê de flores e o acompanhou em direção à saída onde seu pai aguardava para conduzi-la pela passarela.

Todo o teatro aconteceu com Hye concordando mecanicamente. Ela era uma casca vazia num sorriso exuberante ao ser “entregue” ao noivo no altar. O cerimonialista iniciou o discurso que seguiria moldes religiosos, mas ela não escutou praticamente nada do que o homem dizia. Sua tarefa era repetir algumas palavras feito um papagaio amestrado, e ela era muito competente nisso.

Em dado momento, se pegou imaginando como eles lidariam com a tarefa de ter filhos, afinal, a união das duas poderosas família pediria herdeiros. A mente de Hye então galopou por um terreno distante lembrando da história da czarina russa Catarina, a Grande, que, através de relacionamentos extraconjugais conseguia herdeiros ao trono, já que entre ela e o esposo nada era possível…

Era capaz que com o passar dos anos, dividindo o mesmo teto com aquele outro covarde, a amizade entre ela e Pyo virasse ressentimento. Eles passariam os anos acusando um ao outro de não conseguirem serem felizes. Seria terrível, mas seus pais continuariam felizes.

E se não…

— HYE!

… se não estivessem feli…

— HYE!

Quem estava gritando seu nome? Quem ousava arrancá-la de sua autopiedade contemplativa?

Hye se desligou dos pensamentos e retornou ao salão de casamento encontrando-o no mais completo espanto. Os convidados, seus pais, o cerimonialista e Pyo olhavam dela para uma pessoa parada, em pé, no meio do passarela e a poucos metros de onde estavam. Hye teve que apertar os olhos algumas vezes para ter certeza de que não era uma miragem.

Eujin, tremendo da cabeça aos pés, o coração batendo como nunca, venceu mais passos que o separavam de Hye e, vendo que ela finalmente o avistara, disse:

— Hye… eu vim… — tentou sorrir.

O salão permanecia mudo e chocado. Já a mente de Hye gritava ensurdecedoramente diante daquela surpresa: Eujin, lindo e suado, em total pânico, dava para notar isso em seus olhos, havia interrompido seu casamento para… cumprir a promessa que eles fizeram?!

— Por que…?

— Porque sim. Porque eu deixei a empresa. Porque eu estou indo estudar música. Porque eu estou livre. E porque eu te amo! Eu te amo, Nahm Hye! EU TE AMO! — confessou a plenos pulmões, debaixo de uma chuva de murmurinhos espantados.

Hye viu Eujin estender-lhe a mão.

Seu príncipe.

Vindo salvá-la.

Em seguida a moça observou ao seu redor. O queixo de Pyo estava no chão, porém nada se assemelhava à falta de cor no rosto de seus pais. Eles sofreriam. Eles não entenderiam. Ela, sua única filhinha, os decepcionaria.

Novamente entreviu Eujin, esperançoso, pálido e muito temeroso, mas tão corajoso, erguendo a mão. Esperando sua resposta.

Seus pais. Eujin. Seus pais… e a decisão da sua vida. Qual escolha era a certa?

— E-eu… sinto… muito… — Hye disse olhando para seus pais com compaixão e tomando sua decisão.

A noiva desceu os degraus que a separavam do cavalheiro misterioso parado diante dela e agarrou sua mão. Eujin envolveu os dedos, respirando quase aliviado se não fossem tantos olhares hostis ao redor da mão enluvada da garota e pensou que seu coração nunca mais voltaria ao ritmo normal.

— Acho que acabou — Hye voltou-se para Pyo, um sorriso discreto e descrente desenhado em seu rosto — Não adie mais a sua felicidade também.

— Não vou — Pyo respondeu se recuperando da surpresa e deixando um sorriso aliviado insinuar-se em seus lábios — Vá!

— Vamos! — Eujin incentivou Hye e ela aceitou prontamente.

Um passo atrás do outro, dois amantes apressados e então já estavam correndo rumo a saída do prédio.

— Para onde vamos? — ela perguntou sem fôlego, trêmula, os dois chegando na calçada. A cabeça zonza, processando o fato de que havia fugido correndo de seu casamento, com vestido e tudo, e com um homem que não era o noivo.

— Para a Itália, meu amor! — ele exclamou, tomou-a nos braços, deu-lhe um beijo ofegante no meio da rua e os acomodou no táxi que os aguardava, rumo ao destino deles… um destino livre.

Um príncipe inconsequente de um reino inimigo tomando uma princesa para longe. Para um lugar sem títulos ou coroas, Wang ou Nahm. Um lugar somente deles.

 ***


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Notas finais do capítulo

Glossário:

Concubina Oh - Nyeo Hin Hee
Hae Soo - Go Ha Jin
Hwangbo Yeon-hwa - Wang Yun Mi
Imperatriz Hwangbo - Woo Ah Ra
Ji Eun Tak (OC) - 4ª esposa de Wang Hansol
Khan Mi-Ok (OC)- amiga de Ha Jin
Lady Hae - Kim Na Na
Li Chang Ru (OC) - 1ª esposa de Wang Hansol
Park Soon-duk - Doh Hea
Park Soo-kyung - Doh Yoseob
Park Sun Hee (OC) - Esposa de Sook
Sung Ryung (OC) - empregada/amiga de Ha Jin
Taejo - Wang Hansol
Wang Baek Ah - Wang Eujin
Wang Eun - Wang Sun
Wang Yo - Wang Gun
Wang Ha Na - filha de Wang Sook
Wang Jung - Wang Jung
Wang Mu - Wang Sook
Wang So - Wang Shin
Wang Wook - Wang Taeyang
Yoon Min-joo - Imperatriz Yoo
Nahm Hye - Woo Hee



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