Moon Lovers: The Second Chance escrita por Van Vet, Andye


Capítulo 69
Não Existem Vilões


Notas iniciais do capítulo

Olá queridos!

Como vão todos? Muito revoltados com o rumo do namoro entre Shin e Ha Jin? Ainda vomitando arco-íris pela fofura da relação entre Jung e Mi Ok? Ansiosos para ver Sun conseguir seu perdão? Ou torcendo para que Gun caia nas graças da “broderagem” Wang?

No capítulo de hoje: um momento que vocês estão cobrando faz tempo, mais bromance e Mi Ok retornando ao apartamento de uma amiga que anda curtindo fossa…

Ainda aqui, nosso agradecimento dos comentários passados com destaque para a grande conquista de mil comentários alcançados na fanfic!!! Nenhum deles estaria aqui sem o apoio, dedicação e carinho de vocês. Emendando nesses agradecimentos, um muito obrigada para Jeane Souza, que recomendou a fanfic há alguns dias, e um obrigada geral para todo mundo que continua nos ajudando a ter inspiração para escrever essa história imensa.

Agora, sem mais falatório, ao capítulo!
Beijos! o/



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/715437/chapter/69

Mi Ok acordou naquela manhã de sábado com a sensação de que deveria visitar a amiga. Fazia um bom tempo que as conversas das duas se resumiam a ligações rápidas ou explanações sobre as novidades em suas vidas por meio de aplicativos de conversação. Tudo parecia corrido demais naqueles últimos tempos e elas também se desencontravam em suas prioridades.

Sabia, através do namorado, o quanto os herdeiros estavam empenhados no projeto que seria lançado em breve. Mesmo Jung muitas vezes ficava enfurnado naquela empresa independentemente de ter tino para negócios ou não. Era a presença de todos o que realmente significava naquele momento. Os herdeiros estavam juntos, não importava se não houvesse muito com o quê ajudar.

E aquele sábado era mais um daqueles dias. No dia anterior ela fora avisada que todos os irmãos, mesmo o insuportável Gun que, segundo o namorado, estava bem mais acessível a todos, se reuniriam para continuarem a produção do motor que, finalmente, parecia ter deslanchado.

Dessa forma, munida de lanches variados, saiu de casa e enfrentou alguns muitos minutos a pé até a rua movimentada que daria para aquela mais tranquila e estreita que a levaria até casa de sua amiga.

Subiu as escadas do local com cansaço, o sol estava a pino e o tempo quente demais para movimentos tão intensos, mas animada de passar aquele dia com ela, venceu todos os obstáculos que lhe foram impostos.

— Unnie — bateu com força contra a porta quando não encontrou a chave reserva — Unnie, abre. Está quente aqui fora!!

Ela praticamente esmurrou a porta. Será que ela não está? Se direcionou até a janela lateral e tentou ver dentro da casa. Com algum esforço viu entre as cortinas um amontoado de edredons sobre o chão. Ainda está dormindo? A essa hora? Essa Ha Jin... Voltou para a porta.

— Abre, unnie. Não adianta me ignorar. Eu já te vi pela janela. Sei que está em casa.

— Como você é insistente… — a mais velha falou pouco depois, abrindo a porta para a outra e voltando em sua rabugice para seus lençóis.

— O que está acontecendo aqui? — Mi Ok perguntou alarmada. A casa escura, fedia a locais abafados a muito tempo. Deixou os lanches sobre a bancada da cozinha, seguiu para as duas janelas frontais e as abriu, necessitando que o local fosse arejado — Quer morrer asfixiada? Que roupa é essa?

— Não comece com seus exageros — Ha Jin respondeu do chão sem muita animação.

— O que está acontecendo com você?

— Nada.

— Por que está assim? Nem mesmo quando ficou desempregada estava assim. O que houve?

— Já disse que não é nada! — respondeu com azedume e cobriu a cabeça com os lençóis.

— Não acredito que está tentando me ignorar… Khan Mi Ok, a melhor, e talvez única, amiga que você tem. Dá para me falar o que está acontecendo? — ralhou puxando as cobertas de cima da outra — Que droga é essa que está fazendo aqui?

— Aish… Não é nada! — Ha Jin se levantou irritada, rumou para o banheiro e trancou a porta.

— Não adianta. Eu não vou te deixar em paz enquanto você não me contar o que aconteceu.

— Não tenho nada para contar — falou por trás da porta do banheiro.

— Não minta.

— Não estou.

— Está!

— Não seja petulante.

— Não seja mal agradecida.

— Sou mais velha que você. Estou bem, vá embora.

— Sou sua amiga. Não vou.

— Pare de me irritar.

— Vou preparar um chá e alguma coisa para você comer…

— Aish…

Instantes depois, Ha Jin estava sentada comendo lámen e tomando chá. Olhava para Mi Ok como se pudesse fuzilá-la com os olhos a qualquer instante. A outra, ao contrário, olhava para a amiga com ansiedade, esperando o momento em que ela começaria a relatar o motivo de toda moribundice e isolamento da outra.

— Agora que está devidamente alimentada, pode começar a contar o que houve — Mi Ok começou percebendo que a outra ainda tentava se manter em segredo.

— Não quero falar sobre nada…

— Acho que acabei te abandonando um pouco — o tom de Mi Ok assumiu um pouco de tristeza — Sinto muito por não estar com você como antes… Você sabe que o trabalho na ISOI está bem intenso e agora tem Jung… Ainda voltei para a academia… Sei que não são desculpas, mas não deveria ter te abandonado.

— E quem disse que você me abandonou, sua pirralha? — Ha Jin ralhou, um peteleco na cabeça da outra — Você sempre me enche pelo celular. Não está presente fisicamente, mas fica me azucrinando praticamente todos os dias. Acha pouco?

— Como você é mal agradecida… — fez uma careta para a mais velha — mas agora que estou te vendo de frente, percebo que não está bem.

— Eu estou, não se preocupe…

— Não minta para mim, Ha Jin. Posso ser jovem, mas não sou boba. Meus olhos não se enganam e eu te conheço. Está tudo bem no curso? No trabalho?

— Sim… Tive algumas provas essa última semana, mas me saí bem. Estou tentando conseguir uma bolsa para o próximo semestre.

— Uau… — a outra sorriu — Isso seria ótimo! Menos dinheiro para devolver depois que se formar.

— É o que pretendo… Estou confiante. Acho que dará certo, afinal. Minhas notas estão boas.

— Hmmm… Quer dizer que tenho uma amiga CDF e nem sabia? — a mais nova brincou mexendo no cabelo de Ha Jin.

— Você é bem insuportável quando quer… — a outra fez careta — E pare de falar assim comigo, sou mais velha que você.

— E o trabalho? — Mi Ok perguntou ignorando a amiga.

— Maravilhoso!!! — um brilho momentaneamente animado se formou nos olhos de Ha Jin — Desde quinta estamos trabalhando no desenvolvimento de um novo removedor de maquiagem que vai ter um alto poder de hidratação… Se prepare para novidades na empresa em breve!

— Legal! Você está bem feliz com isso, não é?

— Estou sim. É a realização de um sonho. Não poderia ser melhor… Existe a possibilidade de ele ser lançado no exterior e olha, eu estou trabalhando nele. Meu nome entrará na composição…

— Isso é realmente incrível… Minha melhor amiga vai ser famosa, agora? Devo pegar um autógrafo antes que fique rica e esqueça de mim?

— Como é exagerada… Não sou artista de TV.

— Mas vai cuidar da pele delas e eu vou vender… Estou orgulhosa… Muito mesmo. Imagino que Shin deve estar super animado com isso também.

— Shin?

— Sim. Não falou para ele…

— Não. Não tenho certeza… O que? — o tom irritadiço se fazendo presente. Mi Ok arqueou a sobrancelha e continuou encarando a outra em silêncio.

— Como estão?

— Bem…

— Bem…?

— Sim. Bem. Por que?

— Por que está na defensiva?

— Não estou.

— Claro que está.

— Está imaginando coisas onde não existem…

— Sabe… Eu pergunto porque mal tenho visto Jung — ela começou percebendo que a amiga não falaria por si sem ter um bom incentivo. Alfinetou onde achou que o problema se formava — Não vejo a hora desse novo carro ser lançado. Às vezes parece que nem tenho namorado.

— Jung está assim também? — Ha Jin perguntou surpresa — Ele não gosta dos assuntos da empresa.

— Sim… Eu sei que ele nem curte muito essa coisa de empresa, na verdade, ele nem sabe fazer muita coisa, mas está tão empenhado que até está estranho…

— Mas vocês têm se visto? — Ha Jin perguntou com aquele desejo profundo que a amiga dissesse não.

— Sim… Nós nos vemos, não como antes, mas ele aparece na minha casa ou saímos no domingo a noite… Porém nossos passeios se tornaram mais escassos…

— Ao menos você ainda vê seu namorado… — o tom azedo novamente.

— Você e Shin estão com problemas? — Mi Ok perguntou com genuíno interesse e preocupação.

— Não… — Ha Jin deu um suspiro cansado e tomou um gole de chá antes de continuar — Acho que o problema está apenas na minha cabeça…

— Por que diz isso?

— Shin também está empenhado nesse projeto, empenhado demais… Às vezes sinto que ele nem lembra que tem uma namorada… Já passamos dezessete dias sem nos vermos e quando decidi ligar para ele para sugerir algum passeio, ele estava de saída para a fábrica…

“Sinto muita falta dele, eu… eu queria que ele estivesse aqui, agora. Sei que as coisas complicaram depois que saí da mansão e ficou ainda mais complicado de nos vermos, mas eu não poderia deixar essa oportunidade passar… E ele foi o primeiro a me incentivar.”

— Mas você não tem que desistir dos seus sonhos.. Provavelmente isso é só por essa fase…

— Nem mesmo sei como está o desenvolvimento do carro — aflição na voz — Sequer sabia que Jung também está trabalhando no carro… Ele não tem partilhado muitas coisas…

— Ele só está envolvido demais… Jung me falou que ele, Taeyang e Gun, e isso é realmente incrível, estão muito empenhados no desenvolvimento do motor. Parece que só faltam alguns detalhes, não sei muito bem… Sei que está muito perto do lançamento e eles não estão medindo esforços. Deve ser por isso.

— Eu sei que é… — ela suspirou — Mas me sinto escanteada, de certa forma, por seus objetivos… “Assim como fui há mil anos, quando ele assumiu o reinado”.

— Não acredito que seja assim… Ele certamente gosta muito de você…

— Não duvido — ela interrompeu a amiga — Mas tenho medo que todo esse empenho pela empresa possa afastar a gente “Como em Goryeo”. Sei que soa um pouco egoísta, mas se isso acontecer…

— Não vai acontecer…

— Saberei que realmente não deveríamos ficar juntos…

— Vocês vão continuar juntos…

“E que Ji Mong sempre teve razão quando disse que não estávamos destinados um para o outro.”

— Por que não marcam um passeio, desligam o celular e ficam um tempo só para vocês?

— Não sei se ele poderia…

— Hmm… Está sabendo do eclipse?

— Eclipse? — Ha Jin a olhou com interesse.

— Sabia que não estava sabendo… Você é tão desligada… — revirou os olhos antes de continuar — Vai ter outro eclipse, um igual ao que ocorreu há três anos, quando você… Bem, essas lembranças não vêm ao caso. O que quero dizer é que haverá esse eclipse e vocês poderiam combinar de verem juntos. É pouco tempo depois da apresentação dos carros. Ele, certamente, estará mais livre até lá. Por que não tenta? Farei o mesmo com Jung. Ele já está avisado.

— Hmm… Pode ser — Ha Jin respondeu mecanicamente. Em seus pensamentos, o desespero por um novo eclipse que se aproximava e o receio pelo que o evento poderia provocar.

Imaginou que poderia ser acometida novamente por aquele coma. Que poderia, talvez, voltar para Goryeo e encontrar-se com So, pedir-lhe perdão por tudo o que fez. Que poderia, talvez, reencontrar sua filha…

Mas não, aqueles pensamentos não eram saudáveis. Aquele tempo em Goryeo passou. Sua vida naquele lugar se acabou. Precisava continuar naquele mundo para o qual havia voltado. Não tinha como consertar os erros do passado, apenas tentar não cometê-los naquele presente.

A amiga continuava falando e ela não ouvia uma palavra sequer.

Mesmo que não desejasse, lembranças daquele passado voltaram como um estalo para sua mente. A lembrança de So comandando o reino, de quem ele se tornou após assumir o poder. O desespero por não poder estar ao seu lado. Seu medo em permanecer no palácio. As decisões que tomou por sua filha. O sofrimento que destinou para os dois.

Uma lágrima solitária deslizou pelo rosto de Ha Jin. Ela também temeu.

***

Shin havia se preparado para muita coisa, exceto para o novo comportamento de Gun. Os dias avançavam velozmente, caminhando com muita pressa de encontro à nova oportunidade da empresa em se provar. Do mesmo modo, Gun trabalhava concentrado, eficiente, engajado, na criação do motor.

Não importava de que horas Shin chegasse à fábrica, o irmão mais novo já estava lá, enfiado na oficina de criação, rabiscando moldes e testando peças. Sua claudicação transitória não o limitava mesmo quando ele colocava as mãos sobre as coxas, certamente, sentindo o corpo reclamar por descanso. O rapaz era o último a sair do expediente, nem que para isso precisasse ficar apenas sentado lendo algum documento importante.

Por outro lado, Shin e Taeyang, que sempre que conseguiam visitavam a fábrica em busca de novidades, temiam, em seus íntimos, nunca em voz alta, testemunharem mais uma das táticas que o outro utilizava para tomar vantagem sobre os demais.

Bastava então seus olhares se cruzarem para que o CEO interino e o herdeiro rebelde notassem a diferença no estado de espírito de Gun. Não havia mais o brilho invejoso. Nenhum resquício da paixão egoísta de outrora. O temor íntimo se dissipava e uma nova onda de esperança começava a brotar.

Da mesma forma, a maior parte das coisas que motivavam a disputa cruel entre os Wang se perdera nos dias que ficaram para trás. Os acionistas partiram em sua maioria, portanto nada de velhos gananciosos para ludibriarem nas reuniões. Hansol deixara este mundo nas brumas do ano novo, logo, a competição mesquinha não tinha mais razão. Yoon Min-joo já não robotizava os passos de seu primogênito, não mais. Agora, Gun pensava e decidia por si. Aqueles pensamentos antigos já não faziam sentido.

Naquela noite, Shin chegou silenciosamente na fábrica para não interromper o processo de criação do irmão. Gun estava tão submerso em seu mundo que não notaria sua presença mesmo que ele fizesse algum ruído. A mente flutuava calmamente por um oceano de bem-estar e satisfação, o lápis correndo livre pelo papel enquanto traçava o molde de uma peça do veículo.

Era estranho, praticamente anômalo, que, pela primeira vez, o filho de Min-joo estivesse se sentindo realizado no trabalho. Feliz, somente. A felicidade que não parecia ameaçada de ser roubada. Uma felicidade ampla e genuína.

Todos aqueles irmãos que ele desprezara durante toda a vida continuavam tratando-o como um igual, o incluindo no time. Ele não merecia o perdão pelas atrocidades causadas contra todos, ele bem sabia daquilo, mas eles fingiam ter memória curta e nunca traziam qualquer questão à tona. Nem mesmo Yun Mi. Tudo isso era novo e… muito bom.

Gun jamais confessaria para nenhum deles, nem mesmo para Jung, o orgulho fora muito bem plantado em seu peito ao longo dos anos sob a criação de Min-joo, contudo existiam vezes, principalmente quando todos se reuniam para debater o andamento do projeto, que Gun chegava a se sentir um deles. Mais um filho Wang… diferente do seu antigo pensamento, o único filho Wang. E aquilo lhe trazia um sentimento estranho, algo realmente bom de se sentir.

Com o molde finalizado sobre a bancada, o rapaz coxo pegou o estilete ao lado e começou a recortar as arestas de sua invencionice. Neste momento, Shin decidiu interrompê-lo e entrar na sala:

— Você ainda aqui essa hora? — resmungou para o mais velho vendo sua sombra esguia fechar a porta e contornar a bancada.

— Também tenho trabalho extra. Também estou me empenhando — Shin respondeu com a voz truculenta.

— Achei que você tinha uma namorada.

— Achei que você tinha vontade de cuidar somente da sua vida — este era o modo como os dois se comunicavam “normalmente” ao enveredar-se por assuntos triviais — As peças do centro chegam amanhã.

— Eu sei.

— Estamos adiantados, você pode ir para casa descansar um pouco para variar.

— Gosto daqui — Gun deu de ombros terminando de cortar o molde. Com um olhar analítico, estudou as dimensões do papel recortado — E não preciso de uma babá… que no caso é Taeyang enviando seu cão para me enxotar daqui. Diga ao CEO interino que eu não vou pedir indenização pelas horas extras não computadas.

Shin encostou as costas na parede de frente para a bancada e cruzou os braços.

— Eu disse a ele que você pode fazer o que quiser, eu não me importo — rebateu para não ficar em desvantagem nas gentilezas.

Eu sei por que está aqui. Taeyang é somente uma desculpa — abaixou o papel e o fitou intensamente. Shin notou que, embora ele estivesse em ótima recuperação, o acidente havia feito o belo e saudável rosto do rapaz ganhar dois sulcos proeminentes nas bochechas. Até estar em plena forma física outra vez, Wang Gun teria mais um longo percurso a traçar — Será que não pode esperar até amanhã para saber os resultados preliminares do motor teste?

Eu estar aqui responde sua pergunta — o outro herdeiro foi honesto.

— Pois saiba que foi um sucesso. Suavidade na direção e estabilidade livres de trepidações, semelhante à Ferrari deste ano. Seis cilindros biturbo. Duzentos e noventa cavalos de potência — respondeu jubiloso. A vaidade fazia parte de sua personalidade e, de fato, ele pouco conseguia escondê-la.

— Meus parabéns — Shin o congratulou após um instante de sincera surpresa — Acho que nunca duvidei de você quanto a isso, ao menos não depois de escutar o que os outros falaram de seu talento na faculdade e na empresa. Nossos irmãos ficarão aliviados de escutar essa notícia.

Eu também fiquei.

— Obrigado…

— Então, eu já vou indo… — Shin encaminhou-se para a saída, sentindo o deslocamento que se instaurara entre o cumprimento e o obrigado do outro.

— Se eu posso te pedir uma coisa — Gun o abordou no último instante, quando Shin estava próximo de fechar a porta — Pode não contar para ninguém ainda? Quero ser o primeiro a anunciar.

— Essa tarefa é sua mesmo — Shin comentou — E, de qualquer forma, eu sempre fui bom em guardar segredos — emendou exibindo um breve sorrisinho sórdido.

— Eu sei — Gun anuiu com outro sorriso comedido.

Sem nenhuma conexão direta, durante aquele pequeno diálogo, a mente dos dois voou para um passado onde eram cúmpliceses e as maldades externas ainda não os tinham alcançado.

Shin e Gun recordaram, quase que telepaticamente, o dia em que derrubaram um vaso chinês da mansão e colaram os pedaços na surdina, jamais revelando o ocorrido, acobertados pela governanta Nyeo, e nunca sendo desmascarados.

Eles costumavam ser infalíveis quando agiam juntos.

***

Era quase madrugada. Yun Mi estava exausta. Costas, pernas e tornozelos doloridos por ter submetido seu corpo a muitas horas em cima de um salto alto. A mente não estava numa situação mais favorecida.

Trabalhar para reerguer a empresa, em meio a união empolgante entre os herdeiros Wang, lhe proporcionava prazer, entretanto, ainda assim, era trabalho. Além do mais, a sombra do novo projeto não trazer os resultados esperados deixava tudo, até a mais leve das reuniões, com uma suspensão inquietante de incertezas.

Com um suspiro cansado, a garota terminou de destrancar a porta principal e entrou no apartamento que dividia com Choi Jin In pensando em tomar um banho morno e dormir por algumas revigorantes horas.

Se perdendo em questões triviais, a dúvida se deveria ou não tomar uma taça de vinho antes de ir para a cama, nem percebeu que a sala de estar estava silenciosa e escura.

Jin In adorava ficar no cômodo. Toda vez que ela voltava do trabalho, no instante que abria a porta, sua primeira visão era aquele homem desnorteante debruçado sobre a mesinha de centro, à mesa de jantar ou sentado no sofá, devorando documentos relativos a sua própria empresa familiar. Em outras ocasiões, ele simplesmente se perdia nos seus livros escutando música clássica.

Yun Mi precisou de algum tempo no escuro, tateando o interruptor do corredor que levava aos quartos, para se dar conta da ausência do marido.

Olhando casualmente na direção da sala escura, tomada por sombras, encontrou, um leve sobressalto ao descobrir, Jin In sentado no sofá. Ele encarava a janela aberta e segurava uma taça na mão.

— Aconteceu alguma coisa…? — Yun Mi perguntou para Jin In se aproximando dele na penumbra.

Não era seu desejo saber o que acontecia, ou era?, mas ela preferia acreditar que suas pernas a forçaram a se aproximar dele.

Os olhos focaram magneticamente no corpo do homem. A iluminação noturna da cidade facilitava a visualização.

Ele tinha a cabeça pendida para trás, apoiada contra o encosto do sofá, como se estivesse suplicando que ela fizesse algo com a pele exposta de seu pescoço. O peito amplo, respirando tranquilo e pausadamente debaixo da camisa social de botões, e as coxas firmes relaxadas sobre o estofado.

— Tudo bem com o seu dia? — ele perguntou sorrindo de leve para ela. A religiosa e enervante gentileza presente.

— Tudo ótimo — ela cruzou os braços, o corpo sinalizava seu clássico sinal de insegurança, e prosseguiu em tom incisivo — Por que está bebendo na escuridão?

— Nada demais… Só queria espairecer um pouco… — ficando mais ereto no sofá, apontou para a janela — Observar o céu. As estrelas.

— Não conseguimos observar as estrelas numa cidade tão iluminada como Busan, Jin In — Yun Mi opinou com propriedade, embora tenha dado uma olhadela para fora a fim de ter certeza da sua teoria.

— É verdade… Isso é um pouco triste se pensarmos bem — ele estava reflexivo. Definitivamente havia algo — Quer um pouco de vinho?

— Não…

— Tem certeza? Algo me diz que você também precisa beber.

No minuto seguinte, Yun Mi se viu sentada no sofá, na mesma penumbra envolvente que ele, os pés repousando prazerosamente no tapete felpudo e uma taça de vinho na mão. O rosto virado para a janela tentando vislumbrar estrelas impossíveis no céu escuro, emulando Jin In.

— Hoje ouvi no rádio do carro que um eclipse se aproxima da Coreia outra vez — ele puxou conversa — É curioso como a gente se lembra do que estava fazendo quando algo marcante acontece ao nosso redor. Eu me lembro de viajar com meus pais para Jeju quando as Torres Gêmeas foram atacadas. Da mesma forma, me lembro o que estava fazendo quando o país parou para admirar o eclipse solar de três anos atrás. Não é lá uma lembrança muito boa… — suspirou — Agora vem outro eclipse este ano e eu fico pensando o que estarei fazendo… Acho que trabalhando, para variar…

— Qual foi a lembrança? — Yun Mi o indagou após uma batalha silenciosa consigo para não alimentar o assunto.

— Ah… A do outro eclipse? — Jin In se surpreendeu que ela tivesse perguntado. Se importado. Refletiu brevemente, tomou um gole de sua taça e contou, mas sem pressa na voz — Bom… Eu ia me casar, estava muito apaixonado, mas os pais dela acharam que eu não era bom o suficiente e a mandaram para o exterior. Essa história foi há seis anos. No dia em que a lua ocultava o sol naquela tarde, eu estava vendo as fotos do casamento dela pela internet… Com outro.

— E como ela estava? — Yun Mi sentiu um aperto ansioso no peito ao querer a resposta.

Ciúmes por saber que ele amara outra. Surpresa por descobrir que alguém o rejeitara. Identificação, porque ela se lembrava também daquele dia e seus pensamentos estavam todos voltados para a expectativa do retorno do irmão ao fitar o fenômeno astronômico.

...

Pelas ruas era visível que as pessoas se preparavam para contemplar o céu. No semáforo, a caminho da empresa depois do almoço, uma Yun Mi de três anos atrás observava um pequeno grupo de adolescentes atravessando a via animadamente em direção ao parque falando sobre os pedidos que fariam ao assistirem o fenômeno se desenrolar. “Eu quero um oppa só pra mim”, uma delas disse com real engajamento.

A herdeira Wang, que tinha dinheiro e beleza de sobra, ficou o restante da tarde se questionando por que sua vida era tão solitária. Se ela era bonita e sua conta bancária invejável, qual era a explicação para não ter ninguém ao seu lado?

Um oppa só para ela…

Fora assim, curtindo essa dor de cotovelo, que Shin, a única pessoa além de Taeyang que não a fazia se sentir desamparada, povoou seu imaginário de modo proibitivo durante aquele eclipse…

...

De volta à sala, olhando Jin In de soslaio, a garota aguardava sua resposta.

— Ela estava feliz.

— Mas você não ficou ao vê-la bem, imagino.

— Não… Eu não queria que ela estivesse sorrindo tanto… Transbordando tanta felicidade… Queria encontrar algum vestígio no rosto dela, o mínimo que fosse, de infelicidade por se casar com outro homem. É um pensamento invejoso e egoísta, eu sei, mas eu não pude evitar e continuei sentindo aquilo por muito tempo.

— Eu te entendo — ela anuiu soturna — Está relembrando isso hoje? Essa escuridão, esse vinho, a notícia de um novo eclipse… É a sua forma de curtir a melancolia de uma recordação incômoda?

— Não é isso, Yun Mi… — Jin In balançou a cabeça cansado — Estamos com problemas na empresa. Um desfalque devido um investimento equivocado no ano passado. É trabalho, só trabalho… Esqueça.

— Você pode me contar sobre o que te incomoda… se quiser… — a Wang se viu dizendo impulsivamente. O homem a olhou com muita intensidade, a claridade da janela fazendo seus olhos brilharem audaciosamente a tal ponto que ela teve de desviar o rosto primeiro — Melhor não dizer nada. É sua vida, não quero saber — bebeu seu vinho e balançou o ombro querendo transmitir desdém.

Um minuto inteiro de silêncio transcorreu até que ele tomasse a fala novamente. A noite estava dada à quebra de tabus e, deste modo, Jin In foi eficiente em tocar em temas delicados ao passo que a garota ia sentindo seu corpo ficar mais relaxado com o álcool.

— Como você tem passado os dias no trabalho? Está muito difícil sem seu pai? Muito pesado?

Que tipo de pergunta era aquela? Ela se questionou confusa. Em outro assomo de espontaneidade, revelou:

— Está pesado desde que descobri que ele tinha uma doença terminal e resolveu não nos contar.

— Você ficou magoada?

— Ele só não tinha esse direito… — admitiu — Nós éramos os filhos dele.

— Cada um tem seus motivos, não acha? Era uma doença terrível.

— Não. Ele não. Ele fez errado no início. Fez errado sempre e isso era um padrão na vida do meu pai, uma mania mesquinha e irritante — sentenciou se expressando com desembaraço — Passou anos nos deixando omissos de tudo e quando poderia ter sido franco, no seu último momento, escondeu o câncer até onde pôde. Não posso perdoá-lo.

Para além do apartamento silencioso, nas ruas circundantes ao edifício, carros buzinavam impacientes quando o semáforo abriu e um motorista desligado permaneceu parado diante da faixa de pedestre muitos segundos acima do permitido pelo mundo apressado.

Metros acima da pequena rusga de trânsito no bairro, o coração de Yun Mi batia rápido porque ela se dera conta do quão à vontade ficava perto do marido para dizer aquilo. Parecia que as ejeções frenéticas de seu coração sobrepujariam o barulho vindo da rua.

— Você já pensou por outro lado? — Jin In perguntou — Uma pessoa com uma doença sem cura e sem esperança não quer olhar nos olhos de seus filhos e ver a morte refletida neles ao anunciar que tem pouco tempo agora… Qual dos seus rostos você usaria para alguém que ama ao escutar dessa pessoa uma notícia tão mórbida? Otimismo ou choque? Confiança ou desesperança? Enquanto ninguém soubesse, na cabeça dele, ainda deveria haver uma chance… Só é real quando se torna real.

Um nó subiu em sua garganta ao escutar os argumentos dele. Fez um floreio patético, deslocado, cruzando e descruzando as pernas, ajeitando a barra do vestido e preenchendo sua taça novamente. Qualquer coisa valia para não deixar a emoção contagiá-la e fazê-la chorar diante do “inimigo”.

— Esse assunto não é seu, não se envolva — resmungou por fim.

— Yun Mi, você sabe por que nos casamos, não é? — ele murmurou com uma destoante parcimônia na locução.

— Eu sei — confirmou irritadiça — Porque meus pais não aguentavam mais olhar para minha cara e acharam melhor me vender para o filho de um milionário.

— Do lado de cá foi parecido. A empresa da minha família não anda muito bem financeiramente e eles acreditam que unir nossos nomes trará algum prestígio para os negócios — confessou.

Atônita pela revelação, a herdeira o encarou. Então, dando uma gargalhada fria e alta, ela rebateu:

— Os Choi tiveram um grande tombo! Minha família foi para o buraco, passou vergonha nacional depois que nós noivamos. Hoje a Wang S.A. caminha a passos cautelosos para voltar a se restabelecer e, ainda assim, seus pais tiveram que honrar a palavra deles e colocarem você para casar comigo. É isso? — ela narrava os fatos com divertimento na voz, mas estava se sentindo deveras enraivecida por saber daquilo — Achou mesmo que ia me dar o golpe?!

— Não, não, não… Isto foi ideia deles. Posso resolver sozinho os problemas da empresa, não quero me escorar em você como um covarde. Na verdade, talvez, acho que devemos nos divorciar agora. Seu pai faleceu… não há mais sentido em manter o acordo que travamos no dia do casamento.

Aquilo também a pegou desprevenida. Não havia motivo para contrariar, era o que ela mais desejava, afinal, mas não ficou feliz ao escutar aquilo da boca de Jin In. Era como se ele a estivesse desamparando, de novo. Como Shin. Como seu pai. Um saiu de casa. Um morreu. E agora ele, devolvendo-a?

— Se isso é o que você quer — deu de ombros mais uma vez. Em seguida ficou estática, surpresa, ao sentir o corpo dele inclinado sobre o seu, quase respirando o ar que ela expirava — O… o quê? — balbuciou desnorteada — O que está fazendo?

— O vinho — ele inclinou-se mais, esticando o braço para algum ponto acima do ombro da moça, o tórax quase encostando no rosto de Yun Mi, e pegou a garrafa na mesinha que estava do lado — Peguei.

Como uma predadora, momentaneamente segura de si, Yun Mi fisgou-o pela gravata antes que ele reclinasse para seu lado do sofá e o manteve a uma distância bastante perigosa. Bastante próxima.

Seus olhos se digladiaram como chamas disputando um único sopro de oxigênio, e ela ouviu seus lábios indagarem:

— Você ainda ama aquela mulher?

Jin In franziu o cenho cheio de curiosidade e entrou na brincadeira com maestria.

— Você quer o divórcio?

— Eu perguntei primeiro — seus dedos longos subiram pela gravata e apertaram o nó, o trazendo para mais perto.

Jin In sorriu bobamente, à beira do precipício da razão, inebriado, tanto pelo gesto, como pelo perfume da Wang. No segundo seguinte, estava dando sua resposta com um selinho molhado contra os lábios dela.

Yun Mi não soltou a gravata após o breve beijo. Estava alegremente afrontada pela iniciativa ousada daquele homem. Um sentimento pulsante formigava entre suas pernas e ela decidiu que não o inibiria por mais nenhum segundo.

Puxando-o contra si, devolveu o selinho com um intenso e prodigioso beijo. Os lábios tingidos de batom deixando impressões vermelhas ao redor da boca dele enquanto sua língua cavava furiosamente um modo de acessar a língua do seu parceiro.

Ele mal teve tempo para se surpreender, tratou logo de ser peça ativa no jogo. Estava nele há alguns meses, aliás.

As mãos grandes e seguras de Jin In acolheram a cintura de Yun Mi e puxaram o corpo dela para perto do seu no mesmo tempo que o beijo deles beirava o obsceno para os mais conservadores.

A investida audaciosa despertou nova onda de provocação na garota que descolou-se daquele beijo e o empurrou com firmeza para o sofá.

— Eu não… — Jin In ficou confuso com o empurrão e começou a se justificar achando que havia exagerado na empolgação.

— Não fala nada — Yun Mi exigiu, cortante e poderosa.

Rastejou sibilante de encontro a ele, os cabelos desalinhados e as bochechas coradas, sentando-se sobre o seu colo, o beijando nos lábios outra vez. Depois, com voracidade, atacou o pescoço.

Abriu os primeiros botões da camisa dele com impaciência. Seguiu beijando e acariciando seu tórax musculoso com ousadia. Desceu o zíper da calça. Foi além.

Choi Jin In entrou na dança rapidamente, se deixando envolver naquela luxúria desenfreada. Ele estava ansioso por poder tocar Wang Yun Mi desde que a vira no jantar arranjado por seus pais na Mansão da Lua. Não acreditava em paixões à primeira vista, mas foi fisgado mesmo sendo um descrente.

E cada vez que tinha que estar próximo a ela, seja com qual humor ela estivesse, ele somente queria abraçá-la, beijá-la e transformar o casamento mentiroso em algo verdadeiro. Nem o gênio terrível – insegurança de uma menina assustada – foi capaz de quebrar a labareda que crescia na alma dele quando a olhava.

Não entendia muito bem como haviam chegado às vias de fato, mas optou por não se perder nesse questionamento. Tocou-a nos locais que almejava: costas, pescoço, seios, coxas e quadris. Sua boca traçando uma trilha frenética por todo o colo dela, suas mãos tomando a liberdade de deslizar por onde queriam.

Através da janela, o céu sem estrelas de Yun Mi, o mesmo céu que proporcionara uma lembrança melancólica em Jin In culminado pelo eclipse anterior, testemunhou naquela noite dois corpos nus, deitados sobre o tapete, se amando loucamente.

As peles suadas brilhavam à luz pálida da lua enquanto desenvolviam sua dança erótica e sincronizada. Para aquela Yun Mi, tórpida pelo desejo, esse era o primeiro dia do resto de sua vida.

***

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Glossário:

Concubina Oh - Nyeo Hin Hee
Hae Soo - Go Ha Jin
Hwangbo Yeon-hwa - Wang Yun Mi
Imperatriz Hwangbo - Woo Ah Ra
Ji Eun Tak (OC) - 4ª esposa de Wang Hansol
Khan Mi-Ok (OC)- amiga de Ha Jin
Lady Hae - Kim Na Na
Li Chang Ru (OC) - 1ª esposa de Wang Hansol
Park Soon-duk - Doh Hea
Park Soo-kyung - Doh Yoseob
Park Sun Hee (OC) - Esposa de Sook
Sung Ryung (OC) - empregada/amiga de Ha Jin
Taejo - Wang Hansol
Wang Baek Ah - Wang Eujin
Wang Eun - Wang Sun
Wang Yo - Wang Gun
Wang Ha Na - filha de Wang Sook
Wang Jung - Wang Jung
Wang Mu - Wang Sook
Wang So - Wang Shin
Wang Wook - Wang Taeyang
Yoon Min-joo - Imperatriz Yoo



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Moon Lovers: The Second Chance" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.