Moon Lovers: The Second Chance escrita por Van Vet, Andye


Capítulo 68
Os Tempos estão Mudando


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, tudo bem?
Esperamos que esteja tudo ótimo com vocês!

Queremos agradecer imensamente pelos comentários recebidos na semana passada. Estamos com quase 1000 comentários e nem esperávamos por tantos, então: MUITO OBRIGADA, de coração dessas duas autoras. ♥

Sobre hoje, um capítulo leve, porém muito importante. Temos momentos fofinhos que vocês sempre dizem curtir nos comentários, também temos decisões importantes e o início de uma nova fase (mais uma). Esperamos que curtam.

Sem mais delongas, segue o capítulo de hoje.

Boa leitura!



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Já era noite e o calor do verão começava a se intensificar naquela cidade. Da cama, sentado, Gun observava o jardim iluminado pelas lâmpadas artificiais que se espalhavam ao longo da mansão.

Sentia-se estranhamente resignado. Resignado em relação a sua condição física. Resignado em relação a empresa. Resignado, e essa era a situação que ele mais estranhava, em relação ao tratamento que estava recebendo dos irmãos.

A respeito de suas pernas, era bem verdade que progrediam diariamente, mesmo que de maneira lenta.

Desde o fatídico dia em que teve o dedo mindinho quase triturado e o momento humilhante onde Shin o estimulou a caminhar, as coisas mudaram para ele e sua recuperação.

Porém, diante de tudo, o mais estranho foi não ter odiado o irmão mais velho por se meter em seus problemas, muito menos pelo incentivo recebido que o levou a mais uma etapa vencida.

E foi a partir daquele momento que deixara de fazer uso constante da cadeira de rodas, conseguindo apoiar-se na maior parte do tempo no andador de reabilitação.

Depois de aproximados vinte dias daquele momento ridículo e humilhante, ele já podia tomar banho sozinho e suas maiores necessidades físicas não precisavam mais de apoio de terceiros. Um pouco de sua dignidade fora recuperada depois daquela intromissão.

A empresa era outro assunto que continuava martelando seus pensamentos dia e noite. As investidas de Taeyang e Jung perturbavam sua mente como uma gota insistente que é capaz de perfurar a pedra mais resistente.

Todavia, nos últimos dias, Taeyang havia parado de cercá-lo por completo. Jung, que ainda aproveitava qualquer brecha para entrar no assunto, persistia, mesmo que de forma mais sucinta. Os outros, quando cruzavam com ele pela casa, o olhavam com expectativa, mas evitavam qualquer tipo de contato mais próximo que o olhar.

A pasta com o projeto do carro deixado por Taeyang semanas atrás continuava sobre a mesma mesa. Ele sequer se deu ao trabalho de guardá-lo em uma das gavetas, mas como já havia acontecido antes, ele a focava intensamente agora, os sentimentos conflitantes o rodeando.

O que Gun queria realmente era que os outros parassem de esperar por ele. Ele sabia o que cada um dos olhares dirigidos a ele significavam. Queria que eles fizessem tudo sozinhos, que esquecessem que ele estava naquela casa, que esquecessem que ele existia. Sentia-se incapaz… Incapaz em ajudar, como o quer que fosse, na construção daquele carro.

Lembrou-se do pai. Lembrou-se da carta do pai e suspirou cansado.

Por fim, passou a pensar também a respeito das atitudes que os irmãos vinham tomando desde que ele voltara do hospital e do que fizeram enquanto ainda estava sem consciência.

Parecia inacreditável para ele o que soubera sobre os irmãos; como se fosse uma grande mentira que lhe fora contada por aquele médico tagarela que o acompanhou enquanto estava internado no hospital.

De Jung, nada do que soube lhe soara estranho. Ele o ajudou desde o primeiro momento em que abriu os olhos naquele leito em todas as suas necessidades. Fora ele que estivera ao seu lado e suportou suas crises, irritações e frustrações. O estranho vinha a partir dali, sobre seus outros irmãos.

O médico linguarudo, enquanto tratava de seus ferimentos ainda existentes, contara que fora Jung, juntamente com os outros dois irmãos mais novos, Eujin e Sun, que ficaram de prontidão em seu leito revezando a companhia até que ele acordasse por completo, para que não estivesse sozinho ao abrir os olhos. Essa informação sobre os irmãos mais novos foi a primeira a lhe provocar grande espanto.

Soube, em seguida, que Sook, Shin e Taeyang visitavam o hospital todos os dias enquanto ele estava desacordado e também enquanto estava em tratamento, os dois últimos evitando serem vistos para que não provocassem reações adversas no doente que se recuperava lentamente.

Soube sobre suas preocupações, que sempre procuravam o médico responsável para saberem sobre seu estado, as possibilidades de recuperação, e como ficaram aflitos ao saberem sobre sua condição, que perdera os movimentos das pernas momentaneamente. Shin, inclusive, sugerira contratarem um especialista para que lhe dessem um melhor norte sobre o caso, ainda que o seu médico já fosse um dos melhores na área.

Foram os três também, juntamente com Yun Mi, que fizeram com que todas as despesas médicas, dele e do pai, fossem pagas sem desfalcar ainda mais o caixa da empresa sob a certeza de que a saúde de seu pai e irmão eram mais importantes que qualquer coisa. Sook contribuíra financeiramente bem mais do que se poderia esperar.

Soube, com total espanto, que a irmã, Yun Mi, fora a responsável por organizar toda a mudança em seu quarto para que ele pudesse voltar à mansão mais tranquilamente.

A jovem, por vezes, visitou seu médico e pesquisou tudo o que era necessário para que o irmão pudesse viver da melhor forma enquanto se recuperava do acidente.

Ela tomou a frente da instalação de toda aparelhagem adaptada para ele, atenta a todos os detalhes, a fim de lhe proporcionar um pouco mais de comodidade e conforto durante os dias que ainda viriam.

E mesmo com todo o seu desprezo, com todas as grosserias e, ainda mais, mesmo com todas as maldades cometidas contra eles durante toda a sua vida e a grande burrice que arruinara a empresa, seus irmãos permaneciam ali, apoiando-o e incentivando-o a continuar, a não desistir e progredir, pelo seu bem e melhora, cada um de seu jeito.

— Isso tudo é estranho…

Comentou consigo mesmo e relembrou tudo o que sua mãe falou sobre seus irmãos durante sua infância, de como eles eram usados por suas mães para terem total atenção de Hansol, que não gostavam dele, que fariam o que pudessem para destruí-lo e que ele não deveria permitir que aquilo acontecesse. Lembrou-se das inúmeras vezes em que a mãe lhe falou que ele era o único Wang digno daquela família.

Não sou o único digno em levar o nome Wang… Não sou tão digno assim… Não sou digno para isso…

Lembrou-se de todas as vezes em que, na sua adolescência, ela lhe dizia que os irmãos sempre queriam estar à sua frente, utilizando-se de todas as artimanhas necessárias para ocuparem o primeiro lugar na predileção de Hansol.

Fora ela que o incentivou a maltratar os irmãos, a humilhá-los, a diminuí-los sem qualquer motivo, apenas para que estivesse sempre acima dos demais… E ele, como um tolo, um marionete, seguiu seus comandos sem pestanejar. Jamais se questionou se aquilo fazia sentido, se era realmente verdade.

Isso não faz mais sentido… nada disso faz sentido…

Como num filme, sua mente lhe trouxe todas as provocações direcionadas à Yun Mi desde a primeira infância. Lembrou-se de como se regozijava ao destratá-la, machucá-la, ao tentar mostrar o quanto ela era incapaz, mesmo que não o fosse.

Viu, como se diante de seus olhos, todas as vezes que inferiorizou os irmãos mais novos por suas escolhas, por suas infantilidades, por suas ingenuidades. Como os detestava por tentarem - e enfrentarem - tantas vezes diante de Hansol serem liberados daquela realidade empresarial, daquele fardo. Gun odiava aquela ousadia, aquele desejo de autonomia, mesmo sem entender, embora agora compreendesse que os odiava por, talvez, sentir o desejo de fazer o mesmo.

Massageando as têmporas com os dedos das mãos, os olhos fechados, os pensamentos agitados, lembrou-se com certa angústia de todos os projetos que roubou de Taeyang desde que adentraram na empresa, de todas as vezes que fez com que ele fosse humilhado e destratado diante do pai e dos acionistas, de como se sobrepôs a ele e o tratou com desdém, com soberba… Lembrou-se de como sempre fora incentivado a isso, a ser o melhor sobre todos os outros, independente de suas atitudes.

Lembrou-se ainda das humilhações gratuitas, das ofensas e de todas as vergonhas que fizera Shin passar. Nunca entendeu ao certo o motivo de o destratar, de odiá-lo, apenas o fazia e sentia-se bem por ser recompensado por sua mãe a cada nova afronta que o mais velho recebia, na maior parte do tempo, calado.

Por muitas vezes sentiu falta da amizade infantil que tinha com o mais velho, das suas aventuras e segredos compartilhados, mas depois de tantos anos naquela rotina de depreciação gratuita, se viu habituado na prática de escárnio que já fazia parte de si.

Pensando sobre seus atos, sobre tudo o que fizera em sua vida contra seus irmãos, naquele momento, nada daquilo parecia bom; não conseguia mais sentir o orgulho que sentira num passado tão próximo.

Agora, deixando-o ainda mais confuso e perdido em seus sentimentos, como se nada daquilo tivesse acontecido, como se nenhuma de suas injustiças tivessem sido feitas, eles o tratavam como um deles, como um igual. Faziam o máximo diante daquilo que ele próprio permitia, para que se sentisse mais próximo de sua família e apoiado.

Por fim, como um relance dolorido, lembrou-se de tudo o que disse e fizera para Na Na.

Não sou digno…

Ao longe, ainda naquele corredor, começou a ouvir vozes cada vez mais altas, se exaltando por um motivo desconhecido para ele. Tentou ignorar e voltar para o seu suplício pessoal, mas o som era alto e as gargalhadas o desconcentravam.

Estavam novamente naquela prática de se reunirem no quarto do bastardo - não, no quarto de Shin - como já ouvira inúmeras vezes desde que ele voltara para a mansão.

Respirando profundamente, puxou o andador para perto de si e apoiou as mãos nas barras, pensando em sair e caminhar um pouco pela sala, ir até o jardim, como o médico indicara dias atrás:

“Você precisa exercitar suas pernas. Elas precisam voltar a saber o que é andar. O andador está aqui para que faça isso, mas não se prenda a ele. Precisa evoluir e passar para uma bengala quando se sentir mais confiante. Não tenha mais medo senhor Wang, a pior parte você já venceu, mas se esforce. Vamos seguindo com um passo de cada vez.”

Usou os braços, bem mais firmes e resistentes que nos meses anteriores, e impulsionou o corpo para ficar de pé, sustentando as pernas endurecidas que ele finalmente conseguia, com grande esforço, novamente controlar.

Um passo, mais um, e outro… a sensação de vitória a cada pequeno espaço de distância vencido ainda mais próxima. Assim, continuou sua caminhada sentindo os ligamentos das pernas e pés colaborarem dolorosamente ao lembrar-se dos estímulos dos outros para, mesmo diante das dores, não desistir.

No quarto de Shin, como já era de costume, os ânimos dos herdeiros estavam agitados. A comoção estava grande e, naquele momento, a discussão era sobre a vida de Sun.

— Mas todo mundo sabia que você gostava dela — Jung falou como se aquilo já tivesse sido citado antes. A cabeça estava descansada sobre a barriga de Eujin, ambos deitados no chão, sobre o tapete. Sun, esparramado sobre a cama, bufou de indignação, birrento.

— E não foi apenas uma única vez que falamos para você sobre isso — era Eujin apoiando o outro  — Você era o único bobão que não via o que sentia.

— O que eu não consigo entender realmente é o motivo dela não aceitar, porque a gente sempre soube que ela também gostava de Sun… — Jung comentou para ninguém em especial — Sei que Sun fez um monte de porcaria, mas será que isso foi o suficiente para ela deixar de gostar dele?

— Não é tão simples assim, Jung — Taeyang tomou a fala, sentado sobre o chão, apoiava as costas na cama que Sun tomara para si — Doh Hea passou muitos anos de sua vida sonhando com alguém que sempre a tratou mal. Depois de adulta e de fazer muito para que ele a notasse, descobriu o que ele "pensava" dela, além de usá-la como moeda de troca em uma aposta estúpida…

— E coloca estúpida nisso — Shin resmungou de sua poltrona, próximo a Taeyang.

— Vão me crucificar de novo? — Sun retrucou. Pegou um dos travesseiros e escondeu o rosto, a voz abafada — Estou cansado de vocês me apontando. Parem de falar sobre minha vida. Todos vocês erram ou já erraram em alguma coisa também…

— Claro que a gente erra, mas conseguimos reconhecer a tempo — Jung se defendeu, a voz alta.

— De toda forma, não deve ser fácil para ela ter de lidar com todos esses sentimentos — Taeyang continuou — Ela amava, mas não tinha amor. Foi desprezada, enganada, superou todas essas dores sozinha e descobriu, depois de tudo o que sofreu, que é amada por aquele que fez todas essas coisas acontecerem com ela. Não é fácil.

— Não é mesmo… — fora Eujin em seu tom melancólico — Relacionamentos são complicados…

— E você piorou a situação quando falou mal dela para a Midori… Não devia ter feito isso — Jung endossou — Te falei para não contar sobre sua vida para uma pessoa que nem sequer conhecia… Lascou tudo por isso!

— Eu sei… Eu sei… Eu me arrependi demais sobre isso… eu… ahhh! Sou um estúpido.

— Sim, um estúpido que perdeu totalmente o juízo — Eujin falou mais uma vez.

— E quem é você para me falar de juízo quando está prestes a deixar aquela garota se casar com um cara que ela não gosta? — o caçula alfinetou e Eujin desfez o sorriso momentâneo.

— Essa situação é bem complicada também — Jung comentou, o braço apoiado sobre os olhos, tapando-os.

— Você fala de mim, mas é tão bobão quanto eu — Sun acusou o mais velho que tinha a expressão consternada — O que tem feito por sua própria vida, irmão?

— Não precisa me ofender… — Eujin falou mais para si do que para o outro — Esse assunto me machuca muito… eu não sei o que farei. Estou perdido…

— Então não fale sobre os meus sentimentos também. Eles também doem.

— Eu sei que sim… Desculpe, Sun — Eujin disse de uma vez. Parecia distante naquele momento.

— É melhor pararmos de falar sobre essas coisas… Elas ferem bastante — Taeyang disse de pronto, tentando evitar mais melancolia entre irmãos.

— E do que vamos falar? Da empresa? — Jung começou novamente — Já estou cansado desse assunto também.

— Vocês, crianças… Embora entenda por que papai nos queria juntos na empresa, não consigo imaginá-los amando o ofício — Taeyang comentou divertido.

— Isso porque é IMPOSSÍVEL amar o ofício de estar preso dentro de uma empresa — Jung respondeu de uma vez, agoniado — Aquele lugar dá agonia. A gente deixa para vocês que amam o que fazem…

— É… — Sun continuou — Os quatro mais velhos são os melhores para o cargo. Imagina que exótico seria vermos Shin, Gun, Taeyang e Yun Mi trabalhando gentilmente entre eles…

— Mas isso já está acontecendo, e eu tenho gostado bastante… Só falta Gun, realmente. Mas ele vai entender uma hora — Jung falou de pronto, animado com aquela possibilidade.

— Seria bom…

— Seria ótimo, porque eu não vejo a hora de terminarmos esse carro! Mal tenho tempo para ver Mi Ok desde que começamos a tentar fazer o motor.

— Hmmm… Está sentindo falta da namorada… — Eujin voltou a brincar, o tom de voz tirando risadas animadas dos outros.

— Pelo menos eu tenho uma namorada para encontrar depois de sentir falta — o outro soltou de uma vez, grosseiro.

— Essa doeu — Eujin moveu-se e a cabeça do irmão mais novo caiu sobre o chão — Por que estão me magoando desse jeito? — o tom teatral, mas a tristeza parecia real.

— Por que fez isso? — Jung perguntou massageando a nuca.

— Não quero mais ficar perto de você — Eujin respondeu com a expressão entristecida, procurando um novo lugar para ficar — Você é mau… Os dois — apontou para Sun — Os dois então me maltratando… Vou ficar perto dos meus irmãos mais velhos, eles me amam e me apoiam.

— Tudo bem, vamos parar com isso de uma vez — a voz de Shin se ouviu novamente, Eujin acalentava-se apoiando a cabeça no ombro de Taeyang — Todos temos nossos problemas pessoais e não temos como fugir deles… Apenas enfrentá-los.

— É muito bom te ouvir falar sobre não fugir, hyung — Eujin soltou ainda abraçado a Taeyang.

— Vocês estão bem ásperos hoje… — o mais velho comentou de cara fechada.

— Releve, hyung. Deve ser a aproximação do evento — Taeyang defendeu os outros, Eujin brincando, abraçando-o, tentando lhe dar um beijo na bochecha, ele o afastando como podia — Estamos todos envolvidos demais, preocupados…

— Eu sei que sim, mas as nossas preocupações com o rumo da empresa e a criação do motor não podem ser fortes o suficiente para que venhamos a nos ofendermos. Ninguém aqui deixou de viver por causa da empresa, todos nós temos problemas e temos que lidar com eles. Acima de tudo, somos irmãos e não precisamos nos maltratarmos por isso… ou por qualquer outro assunto.

— Fale por você — Sun falou novamente — Você e Taeyang respiram àquela empresa e deixaram de viver, sim! Não sei como Na Na e Ha Jin aguentam isso. Daqui a pouco vão se mudar para o prédio da Wang S.A.

— Sempre vejo Na Na… Esqueceu que ela trabalha comigo, pirralho — Taeyang defendeu-se, uma tapa na canela do mais novo, a distração fazendo com que recebesse o beijo do outro. Shin olhou para os irmãos sentindo-se estranho.

Quantos dias desde a última vez que vira Ha Jin já haviam se passado? Quanto tempo fazia que não se falavam, nem mesmo por celular? Como não foi capaz de perceber todas as tentativas que ela fez? Como pode ser tão insensível e não perceber que se afastou da namorada que tanto ama?

Sentiu um buraco gelado se abrir em seu estômago, espalhar-se por seus membros superiores e inferiores; a cabeça latejou com a consciência da culpa finalmente sendo sentida. Não se deu conta de quão bobo e estúpido havia sido com ela desde o início daquele novo desafio familiar.

Estava em falta com ela, com a única mulher por quem sentiu o que sentia. Estava em falta com ela e com o sentimento dos dois. Como fora tão desligado ao ponto de não perceber que estava distante e que a deixara sozinha? Como foi capaz de deixar Ha Jin sozinha depois de tudo o que passaram?

Anotou em sua mente que, ao final de toda aquela comoção pela empresa, se dedicaria a ela e ao relacionamento dos dois. Depois daquele lançamento, a empresa viria em segundo lugar. Estaria com ela. Precisava estar com ela.

Para aliviar a consciência daquela imbecilidade, ligaria para ela tão logo os irmãos saíssem do seu quarto. Poderiam se ver? Deveria ir até a sua casa?

Não acredito que abandonei Ha Jin…

— Só mesmo Taeyang e Na Na para namorarem assim…

— O que está falando, seu fedelho — Taeyang deu um peteleco na cabeça de Eujin — O que está falando sobre mim?

— Nada, hyung… Nada… — o outro tentou se defender, gargalhando.

— Ao menos nosso irmão mais velho tem mais exemplo para nos dar…

— O que? — Taeyang ralhou com Sun também — Vocês dois, seus dois pedaços de… Não sabem o que estão dizendo. Na Na e eu...

— NÃO! Eu não quero saber… — Eujin falou novamente — Não quero saber de nada sobre os relacionamentos dos hyung… Imagina que estranho deve ser eles…

— Ah, seu pirralho cabeça de vento… — Shin jogou uma das almofadas em Eujin também, preparando-se para levantar — Cala essa sua boca grande ou vou enfiar meu edredom nela.

— Socorro, estou sendo agredido pelos meus irmãos… Eles que deveriam me resguardar e proteger…

— Peça desculpas… — Taeyang o imobilizou. Toda discussão era um teatro entre eles. Os dois mais novos animados com o pequeno duelo.

— Desculpa, hyung. Desculpa… Desculpa… Meus hyung têm os melhores namoros do mundo. EU JURO! EU JURO!

— Vou aceitar, desta vez — Shin falou, de pé, ao lado do mais novo, em ponto de atacá-lo.

— Hmm… Espero que esse tipo de comentário não se repita.

— Não senhor…

— Não diante de vocês — Sun falou e Shin o ameaçou com uma careta, um pequeno movimento, como se fosse atacá-lo. Sun preparado para correr. Os três mais novos riram animados.

— Mas, falando sério agora — era Jung novamente, voltando à palavra depois daquele pequeno embate e crise de risos — O caso é que não está nada fácil…  Precisamos fazer algo ou vamos perder esta oportunidade.

— Eu sei, mas nenhum de nós é realmente bom com motores — Taeyang emendou o irmão — De toda forma, precisamos continuar tentando até que consigamos o melhor.

— Seria tão bom se Gun aceitasse trabalhar com a gente… — Eujin falou em seu tom sonhador, novamente a cabeça recostada no ombro de Taeyang.

— Eu imaginei que ele iria, realmente — Sun falou também, virando-se na cama para ficar de frente com os outros — Ele gosta de desafios e é um “senhor motor”. Ele é um bom engenheiro, deveria tentar.

— Yun Mi também comentou que queria que ele estivesse à frente do motor — Jung continuou — Queria dizer essas coisas para ele, que confiamos, mas ele não me deixa falar quando o assunto é “empresa”. Fico só falando o que posso… Ele não dá abertura…

— Gun é um dos melhores engenheiros que já vi… Seus projetos eram sempre muito bons, mas ele nunca conseguiu terminá-los — Eujin comentou saudoso.

— Isso porque ele ainda não se sente capaz — Shin tomou a fala novamente — Além do receio em se provar no passado, como me disseram, é normal que se sinta ainda mais inseguro depois de tudo o que tem passado. Ele está debilitado, principalmente emocionalmente. Não deve ser fácil enfrentar tudo o que ele tem enfrentado nos últimos meses…

— Nos últimos anos… — Eujin interrompeu.

— Exato — Shin concordou.

— Ele sofreu a vida inteira se formos parar para pensar… — Jung complementou.

— É… Ele sofreu…— Shin concordou.

— Assim como você, Shin… — Eujin finalizou.

— Sim, eu sei, mas isso não quer dizer que eu ou ele queremos a pena de vocês, ou essa cara de bunda que estão fazendo agora — os mais novos sorriram do linguajar — Muito pelo contrário. O que nosso irmão precisa é de apoio. Que nós o apoiemos como vocês me apoiaram e confiaram em mim quando eu não tinha nada para oferecer. Precisamos acreditar que ele vai melhorar e é essa confiança que devemos passar para ele até que ele volte a andar totalmente e se sinta bem consigo mesmo…

— Mas aí… Se demorar muito… O evento já está muito perto — Jung continuou, o tom de tristeza — E ele não me ouve…

— E você só está apoiando nosso irmão pelo motor? — Shin perguntou surpreso — Esse é o seu único interesse?

— Claro que não! — Jung defendeu-se, ansioso — Claro que não, hyung! Quero que ele ande novamente. Quero vê-lo dono de si como antes… Fico triste quando vejo meu irmão naquela situação… mas não posso negar que queria ele com a gente…

"Agora, por exemplo, ele poderia estar aqui, mas ele não deixa que a gente se aproxime e mostre para ele que nos importamos de verdade… Queria conseguir desfazer todos os maus pensamentos que eu imagino que minha mãe colocou na cabeça dele."

— Não adianta ficar se martirizando por isso, Jung — Shin falou novamente — Se ele quiser trabalhar conosco, será uma grande alegria, mas se não, continuaremos a fazer o que estamos fazendo até agora. Apenas dê tempo ao tempo.

— Mas precisamos dele… — Sun falou também, o tom estranhamente preocupado — Como Taeyang explicou na última reunião, só Gun poderia fazer esse motor funcionar realmente bem.

— Sim… Eu disse isso, mas concordo totalmente com Shin. Gun ainda precisa acreditar nele e no que ele é capaz, assim como cada um de nós também precisou passar por isso em algum momento. Eu mesmo jamais imaginei que conseguiria estar à frente da empresa como estou…

— Mas você é muito bom nisso — Eujin interrompeu o irmão.

— Mas só fui capaz quando acreditei que eu poderia, assim como vocês também melhoraram em muitas coisas depois que se viram capazes.

— Por que você não conversa com ele novamente? — Sun perguntou esperançoso — Fale sobre nossa confiança nele.

— Não — Taeyang foi categórico — Não vamos interferir. Deixe que nosso irmão tenha o tempo que precisar. Não vamos mais ficar forçando esse assunto, porque ele não parece querer se envolver no momento. Vamos esperar… Se não for nesse, talvez em um próximo projeto…

— Ele pode nunca querer participar de nada — Eujin observou certeiro, abraçado às pernas, a cabeça apoiada nos joelhos.

— Eu sei. E se for assim, nós vamos continuar apoiando nosso irmão, não importa o que ele escolha. Eu realmente quero dar tempo para ele.

— Tudo bem… Vamos esperar…

— Vou evitar pressioná-lo também.

— Façam isso. Acreditem no nosso irmão. Em algum momento ele vai acreditar em si também.

— E de que horas vai começar a reunião desta semana? — Sun perguntou cansado.

— Serei bondoso com vocês… — Taeyang sorriu — Às quatorze está bom?

— Pensei que seria pela manhã — falou tristemente.

— Vocês não podem faltar aula, seu moleque preguiçoso — Shin ralhou com o caçula lhe lançando uma almofada no estômago.

Sun, em seu teatro podre, choramingou para o mais velho dizendo que não queria ir à aula e aquela era uma boa justificativa para faltar. Jung, comentando ser esse o motivo de todas as reprovações disciplinares que ele já enfrentou, subiu na cama e lhe deu uma chave de pescoço insistindo para que ele mudasse suas atitudes e estudasse mais.

Os mais velhos sorriam e Eujin tomara o papel de juiz naquela pequena luta teatral. Nenhum deles, em nenhum momento, ouviu o barulho das rodas do andador se aproximarem ou se afastarem da porta do quarto do mais velho.

De volta a sua clausura, Gun percebeu que sua pequena caminhada pelo corredor o deixara com sentimentos ainda mais conflitantes. Estava escutando palavras amigas e descobrindo a compreensão de pessoas que sempre julgou serem suas inimigas. Depois daquele acidente, depois do que fizera para a empresa, estava recebendo apoio de onde menos esperava e isso lhe parecia assustadoramente perturbador.

Dominado por esse conflito interno, parou no meio do seu quarto se decidindo sobre o que fazer a seguir. Então, com seus movimentos vagarosos, ficou diante da cômoda de roupas e procurou a carta que o pai havia lhe deixado entre as meias e cuecas. O envelope amassado, manipulado dezenas de vezes durante os últimos meses, guardava os conselhos honestos do velho Hansol para ele.

Mais passos cautelosos em direção à cama e conseguiu abandonar o andador se aconchegando no colchão macio. Depois de acomodado sobre os travesseiros, a mão foi de encontro ao interruptor do abajur. Quando a luz favoreceu seus olhos, se pôs a ler as palavras que já conhecia de cor…

Gun, meu filho precioso…

Não tivemos muitos momentos bons nos últimos tempos. Eu me afastei de todos vocês durante esses anos, mas especialmente de você e de Shin.

Sei que em seu coração nunca conseguiu entender o motivo de eu jamais lhe dar as chances que mereceu dentro da empresa, mesmo sabendo, de olhos fechados, que você merecia todas elas, mas confesso agora com toda a franqueza que meu coração pode te ofertar, que muitas vezes te vi, mas enxergava sua mãe através de você.

Min Joo e eu compartilhamos mágoas demais para um casal. Nos casamos por obrigação, como sabe, mas ela tentou nutrir um sentimento bom por mim. Eu que não a honrei.

Ela passou todos esses anos, desde o seu nascimento até, certamente, o meu último suspiro em vida, procurando formas de me machucar e provar que podia ser melhor que o homem que a despedaçou. Então, ela usou contra mim a arma mais certeira que tinha em mãos: você.

Peço perdão, sabendo que eu mesmo nunca poderei me perdoar por ter sido omisso na sua criação cercada de tantas frustrações e desejos de vingança. Incontáveis vezes olhava para você, já um adulto, e via em seus olhos o esgotamento por tentar manter essa pose de disputa que sua mãe criou…

Filho, chega!

Você passou quase trinta anos da sua vida aguentando esse fardo, mas chegou a hora de mudar. Acredito que já tenha entendido que nenhum dos seus irmãos são seus inimigos, muito menos Shin, que sempre conservou um amor genuíno por você quando eram bem pequenos e ainda livres dessas influências sufocantes.

Não sei o que essas crianças terão em mente para mudar a condição da empresa ou de suas próprias vidas daqui em diante (quando me for), contudo peço, como o último pedido desse velho tolo e cruel a um filho tão desfavorecido, que se una a eles, que dissolva esse orgulho corrosivo plantado em seu peito para enxergar as alegrias de viver livremente. Viver sem disputas.

Conheço seu talento, sei que ele é grande, e você não precisará usar de nenhum subterfúgio para se provar aonde quer que resolva estar. Você é talentoso, é muito melhor do que eu um dia já fui.

Te amo, garoto. De seu falho pai, Hansol.

Terminada a leitura da carta, Gun enxugou os olhos, que sempre lacrimejavam ao ler as últimas palavras do pai para ele, e guardou-a novamente dentro da gaveta do criado-mudo. Em seguida, apagou a luz do abajur e ficou no escuro, desperto por muitas horas até o sono alcançá-lo, lutando bravamente contra o orgulho mencionado na carta enquanto pensava se poderia viver sem disputas. Viver em paz.  

***

Sun quase desistira de concluir o curso depois que tudo em sua família desandou e ficou mais claro do que nunca que não havia um milésimo de vocação de sua parte para a indústria automobilística. Todavia, sentiu que deveria fazer aquilo pelo pai, como uma forma de satisfazê-lo em sua morte, mesmo que houvesse sido liberado daquela dívida pelo próprio senhor.

Estava em uma das salas de estudos da biblioteca, na universidade, reservada por Doh Hea, olhando no notebook algumas propostas para o seminário que fariam em alguns dias. Ao mesmo tempo, contabilizava as disciplinas que ainda teria de passar e os meses que teria de enfrentar enquanto esperava a jovem, sua parceira naquela atividade de Marketing, voltar do banheiro.

Jae Ye Won e Lee Je Hoon, os outros dois membros da equipe, estavam atrasados, como acontecia frequentemente nos últimos meses. A desconfiança de que os dois estavam saindo cada vez mais forte.

— Aproveitei e trouxe mais alguns livros para a pesquisa — Hea falou se sentando. Estavam em uma sala reservada, fechada com porta, à chave — Ye Won e Je Hoon ainda não chegaram? — constatou alarmada.

— Não… nem mandaram mensagem. Acho que estão perdidos, juntos por ai… — um sorriso largo foi oferecido à jovem.

— Também está desconfiado? — ela retribuiu a especulação com alegria.

— Tenho quase cem por cento de certeza!

— Seria algo estranho e legal ao mesmo tempo. Eu adoraria ver os dois juntos.

— Eu também… — ele pensou em falar sobre eles, mas foi interrompido por Hea.

— Então vamos adiantando enquanto eles não chegam. Você conseguiu encontrar alguma coisa na internet?

— Dei uma olhada sobre alguns produtos que poderíamos tentar lançar…

— Produtos já lançados?

— Sim.

— Mas como vamos lançar um produto que já está no mercado?

— Ah… Você não entendeu — ele sorriu satisfeito, se sentando mais ereto antes de continuar explicando — Eu pensei em lançarmos um produto que caiu no mercado.

— Como assim? — a jovem pareceu levemente confusa.

— Sabe o videogame da Atari¹? — ela balançou a cabeça afirmativamente — Pensei em dar uma melhorada nele… design, funções, jogos… poderíamos usar os mesmos jogos arcade da época em que fazia sucesso, mas de um jeito mais jovem, mais atual.

“Podemos usar alguns programas em 3D para dar uma melhor demonstração do projeto e usar os 4 P’s² para pesquisar sua aceitação e venda e criar um bom projeto de marketing para a venda… Acho que seria legal. E videogame é algo que gostamos e conhecemos, então não será tão chato. O que acha?”

— Eu…? — ela perguntou abobalhada — Eu acho que vai ser o máximo! Podemos trabalhar a parte técnica do Atari. Manter o console e apenas melhorar as funções. A gente vai ter que tabelar um preço de venda…

— … E pensar em uma boa propaganda de volta ao mercado.

— Um slogan… Algo como… “A qualidade do passado, os jogos do futuro”.

— Isso! Gostei. A gente trabalha bem juntos.

— Sempre te disse isso, seu bobo, você que nunca se deu conta…

— É… Fui meio lento com tudo na vida… Agora já não tem muito o que fazer…

— Olha… Encontrei uma estratégia de marketing que poderíamos usar aqui — ela desconversou, virando o notebook para o rapaz — A gente precisa, antes de tudo, definir um público alvo…

— Isso… Vamos pesquisar — ele concordou em desconversar, pegando alguns dos livros que ela trouxera e começando a folhear.

Uma das partes positivas de estar na Universidade era a possibilidade de ver Doh Hea todos os dias, ao menos durante a semana. A jovem era mais um incentivo para que Sun pudesse vencer os semestres que ainda faltavam, para que ele completasse aquele curso.

Eles também estavam mais próximos, ela não parecia mais se afastar dele como nos primeiros encontros depois que revelou seus sentimentos para ela e descobriu o quão idiota sempre fora.

Se odiava por ter cometido tantas imbecilidades em seus dezenove anos e esperava, com fé e confiança, que agora, aos vinte, uma onde de mudanças o levassem, que novos pensamentos povoassem sua mente, como aquela boa ideia de projeto.

Esperava que as bobagens juvenis fossem apenas lembranças em um passado que não voltaria mais, afinal, sabia que não era o adulto mais responsável do planeta, mas se esforçaria para não cometer erros tão bobos como os do passado.

O coração estava a cada dia mais cheio de bons sentimentos por aquela garota, os cabelos uniformes, em seu tom natural, que sorria para ele a cada nova empreitada concluída, empolgada com a atividade de lançar aquele videogame, de ter seu trabalho reconhecido.

— Você é incrível — ele deixou que seus pensamentos tomassem som e pronunciou observando a garota trabalhando no novo design do videogame.

— Que nada — ela lhe lançou um sorriso empolgado — Gosto de trabalhar com essas coisas… Me atraem. Se não fosse fissurada em jogos, trabalharia no marketing de qualquer empresa com todo bom gosto.

— Não duvido que se sairia muito bem — ele continuou — Você sempre se sai bem em tudo o que se motiva a fazer.

— Ah… Não fala essas coisas. Fico envergonhada…

— Não deveria. É a verdade, afinal — continuou remexendo em alguns livros sobre a mesa.

— Oi gente… — Je Hoon cumprimentou os dois ao entrar no ambiente de estudos. Ye Won entrando logo após ele — Desculpem o atraso… A gente precisou fazer umas coisas antes de vir para cá…

— Hmmm… A gente entende — Hea comentou, um brilho zombeteiro no olhar. Sun a seguiu.

— E conseguiram fazer o que precisavam?

— Sim… Conseguimos — Ye Won respondeu desconfiada, sentando-se — Como estamos no trabalho?

— Sun teve uma ideia excelente!

— Sun? Qual?

— A de relançarmos o Atari?

— Como seria isso? — Je Hoon perguntou interessado, abrindo seu notebook.

— Vamos remodelar o Atari e colocar na praça. Deixar o mesmo design e investir em novidades atuais. Vai ser legal…

— Uau, Sun… Adorei a ideia — Ye Won falou com admiração — Você tem umas ideias bem legais quando quer…

— Obrigado…

— Vamos dividir as partes…

— Sim… Ye Won, pode pesquisar a praça… Je Hoon, pensa em alguma estratégia de marketing para o lançamento.

— O slogan é “A qualidade do passado, os jogos do futuro” — Sun complementou, lendo sua anotação.

— Vamos arrasar… FIGHTING! — Hea concluiu, empolgada.

Duas horas depois, os quatro amigos já haviam avançado consideravelmente em seu trabalho, a proposta de Sun saindo de seus pensamentos e tomando forma em um programa 3D, editado por Ye Won.

— É isso! — a garota falou salvando o projeto — Está feito, e ficou muito legal. Foi uma ótima ideia, Sun. Vamos arrasar!

— Valeu… — o garoto ficou envergonhado. As bochechas coradas chamando a atenção de Doh Hea.

— Acho que já podemos ir… — Je Hoon falou guardando seus pertences — Quando nos encontramos de novo?

— Acho que amanhã… — Hea respondeu de pronto, ainda focada em suas pesquisas, o notebook aberto — Posso reservar essa sala quando sairmos…

— Por mim, tudo bem — Ye Won falou se levantando.

— Por mim também — Je Hoon afirmou também.

— Nos vemos amanhã…

Despediram-se e Sun, em silêncio enquanto guardava lentamente seu material, observava Doh Hea compenetrada em seu notebook. Não se cansava de olhá-la, de sentir-se um estúpido por não ter notado aquela jovem antes.

— Estou terminando, Sun… Se quiser ir na frente, eu entrego a chave e faço a reserva…

— Não… Eu te espero… Você passou a vida inteira me esperando… É o mínimo que posso fazer.

— Não se cobre demais, nem pense essas coisas — ela o encarou, séria — Tudo na vida acontece como tem que acontecer…

— Não posso me sentir bem sabendo que te perdi por minhas próprias atitudes… Mas eu vou tentar, eu vou… estou…

— Sun…

— Não se preocupa comigo…

— Sun… — ela falou abandonando o notebook e indo até ele — Talvez a gente precise de tempo… Você tem passado por problemas grandes em sua vida, imagino o quanto deve estar confuso com tudo isso… Talvez… O que acha que sente por mim seja apenas um escape…

— Por que não acredita em nada do que eu falo? Por que meus sentimentos parecem confusos para você? Hea… Eu entendo que esteja chateada comigo, entendo que não aceite as coisas que te falo, mas não duvide do que eu estou sentindo aqui — bateu no peito com força — Isso tem me machucado…

— Não tanto quanto me machucou durante todos esses anos…

— Eu sei que não. Eu te entendo…

— E eu a você… Mas não fale de sofrimento quando passei por tudo o que você me obrigou a vivenciar… Eu gosto de você, Sun, não vou mentir, mas também não vou dizer que não fico triste quando lembro de tudo, quando penso que nunca tive importância para você nem mesmo como amiga…

— Eu era um idiota… um tolo…

— Mesmo que eu sinta o que sinto e que você acredite que também sinta, meu amor por mim mesma é maior que isso… Não vou me permitir sofrer novamente. Neste momento eu estou muito magoada… Não dá.

— Eu sinto muito… Eu sinto muito que eu seja o motivo de sua mágoa… Que eu tenha sido tão estúpido ao ponto de te fazer sofrer assim. Me sinto um completo idiota.

— Não se martirize…

— Me desculpa. Me desculpa por te fazer sofrer. Eu sinto muito por isso, sinto muito, de verdade… do fundo do coração…  

— Eu sei…

— Mas… você gosta mesmo de mim?

— Sim…

— Então eu posso…?

— Não sei… Eu não sei se posso… Eu…  

Sun não conseguiu controlar seus impulsos diante daquelas revelações. Não se deu conta de mais um limite que ultrapassou sem a permissão de Doh Hea. Ela o olhava, olhos arregalados, os lábios colados naquele beijo esperado por tantos anos, mas agora, indesejável.

O empurrou com força. Os olhos de ambos não se desviaram um segundo sequer. Susto, decepção, arrependimento… Esses eram os sentimentos compartilhados por eles, em silêncio.

Doh Hea começou a guardar suas coisas em silêncio sob os olhos assustados de Sun. Não sabia o que dizer, já estava arrependido de seus atos; Hea, triste que os dois tivessem chegado naquele ponto.

— Não faça isso novamente, Sun, por favor — falou com rispidez, passando por ele e parando à porta — Respeite o meu espaço, os meus limites… Os meus sentimentos. Não sou mais a menina boba que aceitava tudo o que você fazia e aplaudia como se fosse o melhor para mim… como se fosse algo espetacular. Sinto muito por tudo isso, por tudo o que temos passado e por estarmos nesta situação. Realmente, nunca imaginei que nosso relacionamento terminaria nesse ponto…

— Hea… terminar...?

— Neste momento, eu sou mais importante do que o que sinto por você.

— Você disse que me desculpou… Mas acho que não.

— É… Talvez eu ainda não tenha esquecido de tudo. Me dá um tempo, tudo bem? Se dê um tempo também. Precisamos respirar aliviados, sem a influência de um sobre o outro. Precisamos pensar e ponderar o que é realmente importante em nossas vidas…

— Me desculpa…

— Por favor, entregue a chave da sala lá embaixo. Vou fazer a reserva novamente antes de ir. Até amanhã.

***

A menos de dois meses da data decisiva para a Wang S.A., o lançamento do evento automobilístico chinês, os herdeiros trabalhavam arduamente debruçados sobre seus afazeres em cima da mesa de reuniões principal; os Wang estavam abandonando os escritórios particulares em detrimento do companheirismo e do engajamento coletivo.

Taeyang liderava os irmãos do seu melhor jeito, coordenando as tarefas como um maestro tomando confiança em seus primeiros gestos.

Yun Mi criou um curioso caso de amizade com Kim Na Na, as duas se ajudando para aumentar os fundos do projeto em apresentações elaboradas e informativas em videoconferências para os estrangeiros.

Sun e Eujin se encarregavam do design e de todo o aspecto visual do marketing do novo carro. Eles poderiam pagar para uma equipe de criação competente, mas optaram por arregaçar as mangas e tornar a coisa ainda mais personalizada, e menos dispendiosa.

Jung quebrava a cabeça junto com Taeyang nas finanças, uma tarefa extenuante para fazer com que tudo que eles queriam para o modelo inovador coubesse no orçamento limitado que dispunham.

Shin passava a maior parte do tempo na fábrica, criando e descartando rascunhos, imaginando como conseguiria resolver a questão do motor sem precisar gastar com um engenheiro gabaritado para ajudá-los.

Passara-se quase um mês desde a última conversa que os irmãos travaram sobre deixar Gun em paz na sua decisão de não se envolver com a empresa. Para a Wang S.A. e seu novo lançamento, tudo seguia como o planejado, contudo o motor continuava sendo um impasse.

Shin não era um engenheiro, apenas um homem com muita vontade, e para algumas coisas conhecimento é mais necessário do que a vontade mais ardente. Jung possuía um pouco de habilidade na criação de motores sport, entretanto não havia bagagem suficiente para que ele assumisse esta parte em sua plenitude. 

Naquele momento, todos os seis Wang, e Na Na, terminavam mais uma das longas reuniões de fim de tarde com a sensação de que algo ainda faltava. Então, diante dos irmãos, Taeyang, gravata frouxa e olheiras pesadas, anunciou sentado em sua poltrona:

— É… Vamos ter que contratar um engenheiro. Mesmo sem poder, vamos precisar desfalcar da equipe de marketing para poder bancar a criação do motor.

— É uma pena… — Eujin suspirou lamentando — Tínhamos ótimas ideias para esse setor.

— Nós fizemos o máximo que conseguimos — disse Shin, um leve ar de desapontamento na voz, indicando Jung ao seu lado — Existem certas coisas que os livros e apostilas não dizem e eu tenho medo de gastar matéria-prima e trazer mais prejuízos para o nosso caixa em minhas tentativas às cegas.

— Você está sendo prudente, Shin. Não se culpe — Yun Mi o tranquilizou embora ela própria estivesse impaciente por não ver uma saída.

— Vou tentar entrar em contato com alguns profissionais conhecidos da Wang S.A. e iniciar a fase de orçamentos, então… — Taeyang tornou a falar. Estava esgotado de tanto trabalho naquele dia, mas teria de passar mais horas na frente de um telefone criando network e comparando currículos.

— Fico com você. Dividindo essa tarefa vamos todos mais cedo para casa — Shin se prontificou, mesmo sabendo que tinha marcado de jantar com Ha Jin. Ela entenderia, ele esperava, mais uma vez.

— Não precisa. Eu vou assumir essa parte — a voz surgiu por detrás deles.

Ninguém havia percebido a entrada dele no ambiente até que a pasta com os detalhes do projeto, a pasta colocada por Taeyang há muitas semanas na cômoda do irmão, fosse lançada sobre o tampo da mesa de reuniões com descaso.

Não apenas o CEO interino, mas todos os outros olharam para o dono da voz e testemunharam Gun, de pé, apoiado em uma bengala caprichada de prata, encarando-os com seu famoso ar superior.

— E eu vou precisar que subam esse capô. Meu motor não caberá dentro deste carro novo — resmungou, manquitolando em direção a uma das poltronas vagas, acomodando-se ao lado de Sun. Os irmãos o seguiam com a cabeça, processando as duas novidades: Gun entre eles e, ainda por cima, caminhando apenas com o auxílio de uma bengala.

— Quando você deixou o andador? — Jung perguntou para o mais velho, maravilhado com o que via.

— Já faz uns dias — deu de ombros, não querendo mais tocar naquele assunto. A fase das humilhações estava terminando e tudo o que Gun gostaria era que todas as coisas ruins pelo que seu corpo passou ficassem confinadas no esquecimento — Preciso que me atualizem sobre o projeto. Até onde avançaram desde que me passaram essas anotações?

Taeyang se endireitou no seu assento procurando se recompor da grande surpresa daquela tarde e tomou a atenção dos demais, em especial de Gun, por alguns minutos. Com praticidade, se enveredou por todas as etapas concluídas, contando até que ponto o trabalho em equipe os havia levado.

— Então… você aceitou a nossa oferta? Vai ajudar com o motor? — Taeyang perguntou cauteloso para o irmão, terminadas as explicações.

— Se eu estou aqui é porque vou — respondeu no seu famoso jeito altivo de se dirigir aos demais — Essa empresa era do meu pai, não vou deixar que ela afunde por minha causa depois de tantos anos de dedicação dele… Tentarei com o meu melhor, mas quero que saibam que será minha última vez.

— Como assim? — Eujin o indagou.

— Eu não quero mais estar nessa empresa depois que este projeto for lançado — disse com franqueza — Quero me retirar de tudo que me ligue a Wang S.A. Vou pegar minha parte e investir numa empresa menor para gerar algum lucro no mercado de ações e vocês poderão seguir aqui como bem entenderem.

— Mas você é… — Jung começou, chateado por ouvir o irmão falar de modo tão desapaixonado sobre algo que ele amava tanto, a empresa.

— Não — Taeyang ergueu a mão, pedindo para o mais novo se calar. Era muito cedo para dizer o que aconteceria com os negócios. Era muito cedo para sentenciar o destino de qualquer um deles quando todos buscavam o jeito de se recuperarem da tormenta dos meses anteriores. Era muito cedo, sobretudo, para pressionar Gun — Você é muito bem-vindo à empresa novamente. Depois que o projeto for lançado, nós respeitaremos sua decisão, seja ela qual for. No momento, Gun, vamos focar em outras questões, como terminar o motor faltando pouco tempo para a estreia do carro. Por favor, nos ajude com o seu melhor.

— Não precisa nem falar. Eu vou dar o meu melhor.

— Ótimo — Shin se manifestou. Em seguida levantou da poltrona e vestiu o terno que estava sobre o encosto — Já que não estamos para perder tempo, vamos para a fábrica agora. Quero te mostrar o que foi testado até então.

— Por mim, tudo bem — Gun levantou-se, manquitolando calmamente em direção à porta.

— Eu perdi alguma coisa ou eles vão mesmo trabalhar juntos? — Sun perguntou, perplexo, assim que Shin e Gun deixaram o local.

— Não perdeu, maninho — Eujin sorriu mais esperançoso do que nunca — Os tempos estão mudando…  

— Sim. Finalmente estão… — Taeyang concordou sorrindo otimista para Na Na que, sentada ao seu lado direito, apertou-lhe a mão carinhosamente por debaixo da mesa.

***


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Notas finais do capítulo

Pois então, o que acharam desse capítulo? Momentos fofinhos, não é? E uma chamada de atenção ao desligado Shin. O que acharam da posição de Doh Hea? O que têm a dizer sobre Gun?
Deem suas opiniões... E encontramos vocês no próximo domingo. :*

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¹ Atari, Inc. é uma empresa de produtos eletrônicos, e uma das principais responsáveis pela popularização dos Video games. Foi fundada em 1972 por Nolan Bushnell e Ted Dabney, e no mesmo ano começou a produzir em massa máquinas que reproduziam o jogo Pong.

² Os 4 P's do marketing também chamados de Mix de Marketing ou Composto de Marketing representam os quatro pilares básicos de qualquer estratégia de marketing: Produto, Preço, Praça e Promoção.

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Glossário:

Concubina Oh - Nyeo Hin Hee
Hae Soo - Go Ha Jin
Hwangbo Yeon-hwa - Wang Yun Mi
Imperatriz Hwangbo - Woo Ah Ra
Ji Eun Tak (OC) - 4ª esposa de Wang Hansol
Khan Mi-Ok (OC)- amiga de Ha Jin
Lady Hae - Kim Na Na
Li Chang Ru (OC) - 1ª esposa de Wang Hansol
Park Soon-duk - Doh Hea
Park Soo-kyung - Doh Yoseob
Park Sun Hee (OC) - Esposa de Sook
Sung Ryung (OC) - empregada/amiga de Ha Jin
Taejo - Wang Hansol
Wang Baek Ah - Wang Eujin
Wang Eun - Wang Sun
Wang Yo - Wang Gun
Wang Ha Na - filha de Wang Sook
Wang Jung - Wang Jung
Wang Mu - Wang Sook
Wang So - Wang Shin
Wang Wook - Wang Taeyang
Yoon Min-joo - Imperatriz Yoo



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