Moon Lovers: The Second Chance escrita por Van Vet, Andye


Capítulo 62
O Fim e o Princípio de Todas as Coisas


Notas iniciais do capítulo

Annyeonghaseyo!!!
Olha a gente aqui de novo! o/
Antes de tudo, quero dizer que as férias foram ótimas, que aproveitamos bastante e que eu senti saudade de vocês ♥

Quero agradecer a vocês por todos os comentários recebidos nos capítulos passados e, também, os do capítulo da semana passada. É muito bom saber o que vocês têm achado do que escrevemos e, seja elogio ou crítica, queremos sempre saber suas opiniões, portanto, comentem sempre, sintam-se à vontade. As autoras adoram!

Sobre este capítulo, é o último do arco. Ele está com uma pegada diferente de todos os outros fins de arco, mas nem por isso deixa de estar emocionante (esperamos emocionar vocês). Assim sendo, fiquem bem tranquilas, peguem todos os medicamentos necessários, deixem a caixa de lenços por perto (ou uma toalha) e venham com a gente!!

Beijocas no coração e boa leitura.



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 Hansol achou que seu último castigo seria morrer assistindo um dos filhos partindo antes dele. Seria um terrível troco, pior do que não obter o perdão de Hin Hee, pensou naqueles momentos incertos.

Seu estado de saúde, a cada dia o aproximando do fim, piorou drasticamente ao descobrir que o herdeiro estava numa luta acirrada contra a morte prematura. Ele tinha apenas vinte e oito anos, a mesma idade em que a vida começou a fazer algum sentido para aquele velho homem, quando Hin Hee cruzara seu destino e o mudara para todo o sempre.

Gun entrou na ambulância batalhando contra duas paradas cardíacas. No hospital abriram sua cabeça como haviam aberto a de Shin, quase três décadas atrás, para que o cérebro não sofresse compressão na calota craniana devido ao inchaço do trauma.

Alguns ossos do rosto, das costelas e das pernas se quebraram durante o impacto violento do carro. Respirara ajudado por um ventilador mecânico por duas semanas, ou seja, se não houvesse energia no mundo, seu filho simplesmente não sobreviveria àquele período.

Todos aqueles revezes mexeram demais com Wang Hansol e o debilitaram novamente enquanto aguardava a melhora do seu terceiro garoto e ele sabia que não se recuperaria de novo.

Seu oncologista pediu para que ele permanecesse no quarto hospitalar recebendo todo o suporte possível, mas nada adiantava, médicos e enfermeiras, equipamentos de ponta e medicamentos poderosos à sua disposição se, no fim, Hansol sabia, ele morreria no hospital. Logo, preferiu retornar para a Mansão da Lua e aguardar seu filho recuperado com sua melhor disposição.

No mesmo dia que Jung o fora buscar, à tarde, o patriarca pediu para a menina que substituía Hin Hee muito bem na tarefa de governanta da residência preparar um jantar saboroso com as refeições prediletas de cada um dos filhos.

Ele se lembrava de todas as suas vontades, pelo menos as da infância. Convidou Sook e Yun Mi para se unirem aos demais e tentou resgatar algum apetite – estava difícil comer com vontade – completando a mesa.

Hansol chegou amparado por uma bengala à sala de jantar e observou todos os seus garotos e garota o olhando. Taeyang, acomodado ao lado direito, o lugar que sua mãe ocupava, rapidamente empurrou a cadeira do pai e se habilitou a ajudá-lo a se sentar em seu lugar, à cabeceira.

— Obrigado, meu filho — agradeceu gentilmente terminando de se ajeitar.

— O senhor deve estar faminto. Vou pedir para Go Ha Jin mandar servir — Sook, ao lado esquerdo do velho, se prontificou.

— Não… espere… — pediu — Antes preciso conversar com todos vocês — os filhos pareceram surpresos e tensos — Não é nenhum sermão. Nenhum pedido descabido. Primeiro, gostaria de saber se vocês deram as boas vindas ao irmão de vocês — apontou para Gun, apagado e taciturno, ao lado de Jung — Ele passou por uma experiência terrível nas últimas semanas. É uma sorte tê-lo entre nós novamente…

— Claro, papai. Nós estamos felizes. Acabei de dizer justamente isso para Gun — Sook informou ao patriarca. Os mais novos continuavam deslocados naquela pergunta.

— Bom… — Hansol não estava muito satisfeito — E você, filho? Como se sente voltando para o seu lar?

Gun fechou os olhos por um momento. Cabisbaixo, ele esperava não ser interpelado desse modo, diante de todos, para não tornar sua humilhação pior. Após um suspiro cansado respondeu ao seu progenitor.

— Estou… indo…

— Ele estava muito animado no hospital — Jung completou querendo empolgar o clima.

— É mesmo, Jung? Fico feliz. Muito feliz — em seguida, voltando-se para Taeyang perguntou — E as coisas na empresa? Conseguiram mesmo resolver todos os problemas?

Gun ergueu o rosto, olhando aflito do pai para o irmão. Preocupado, nem percebeu que Shin o fitava, do outro lado da mesa, num misto de pena e confusão. Descobrir que Gun estaria numa cadeira de rodas havia sido um choque para ele.

— Sim, papai. Foi como dissemos ao senhor, uma questão de tempo e esforço até que tudo fosse esclarecido.

— E como foi?

— Como? — Taeyang não entendeu o teor da pergunta.

— Como foi que conseguiram resolver os problemas?

— É… eu disse ao senhor na semana passada… — o rapaz argumentou, não entendendo muito bem por que o pai estava trazendo aquele assunto outra vez — Acho que não há mais nada para acrescentar…

— Eu ando um pouco desmemoriado, filho — Hansol sorriu e pegou na mão do jovem, pedindo gentilmente.

Olhando dentro de seus olhos, Taeyang entendeu o que o homem queria dele e se surpreendeu por perceber que nunca havia conseguido enganar Wang Hansol quando revelara o fim das investigações iniciadas ao lado dos irmãos.

— Hum… Certo… Nós estávamos trabalhando nesses últimos meses para provar a inocência de Shin. Ele não era culpado, não havia como, não depois de toda a dedicação que acompanhamos dele desde a sua volta. Em algum momento descobrimos que um funcionário de Nam Seong estava infiltrado na empresa — com o pescoço rijo de tensão, Gun aguardava o momento das acusações para se defender, mesmo que não tivesse nada em mente além da verdade.

— Quem era esse funcionário?

— O engenheiro que Gun contratou para melhorar o motor. Ele…

— Papai… — Gun intrometeu-se no assunto, as mãos suadas e o medo enovelando-se em seu peito.

— Espera, Gun. Taeyang não terminou — pediu com muita calma — Continue, filho.

— Sim… bem… O homem confessou que havia enganado Gun para poder ter acesso ao nosso projeto. Ele também forjou provas para parecer que um de nós havia cometido uma traição. Gun apenas estava muito empenhado no P02 e acabou dando chance a um homem falsamente arrependido.

Desconcertado, Gun olhava fixamente para Taeyang que continuava narrando os eventos num viés deturpado, ignorando o olhar do outro, parecendo convicto de suas palavras, como se aquela fosse a única verdade descoberta pelos irmãos.

— No fim das contas, Gun foi enganado, papai, como todos nós — Eujin ajudou naquela mentira.

— Nam Seong desde sempre agindo sujo para conseguir o que quer — Hansol observou. Ele não aparentava irritação. Sua mente já se encaminhava para o conformismo e apenas queria trazer a conversa à mesa com um objetivo muito específico — E como ficamos? A Wang S.A. pode resolver esse problema e voltar a subir no mercado?

— Vamos dar o nosso melhor, papai — Yun Mi comentou com júbilo — Temos provas suficientes para acusar esse senhor de espionagem industrial. Ele mexeu com a família errada.

— Sim. Acredito — o velho sorriu orgulhoso para a garota. Voltando-se para Shin, continuou — E quanto a você, Shin, meu menino, eu já havia pedido desculpas a você anteriormente, mas acho mais do que apropriado repetir.

— Não, papai… Está tudo bem… — Shin ergueu a mão, querendo poupar o homem daquilo. O que estava feito estava feito, ele queria seguir em frente sem remoer nada.

— Você merece, Shin. Todos vocês merecem — Hansol prosseguiu com sua famosa teimosia. Uma réstia do patriarca imponente que ele fora elevou-se sobre seus rebentos ao continuar dizendo — Eu preciso esclarecer esse assunto com todos. Preciso ser um verdadeiro Wang e assumir meus erros.

"Sook nasceu de um casamento arranjado, assim como todos vocês… Exceto Shin. Eu amei muito a mãe de Shin e não importa, nunca importou, as origens dessa mulher. Mesmo muito jovem, ela teve fibra e coragem para enfrentar as piores dificuldades. Ela é valorosa e digna, e passou toda essa genética maravilhosa para ele.

"Da mesma forma, eu tive sentimentos verdadeiros por Chang, Min-joo, Ah Ra e Eun Tak. Apesar do contrato matrimonial, cada uma me foi especial de um modo… mas também fiz com que elas sofressem, assim como fiz Hin Hee sofrer. Nenhuma das suas mães escaparam desse patético ser humano que sou e o sofrimento, o desgosto, a decepção… Tudo isso costuma mudar as pessoas…

"O tempo passou… não consigo mais voltar atrás e fazer tudo melhor, mas posso pedir que vocês não se envolvam, não se culpem, não se odeiem, não se matem em nome desses erros, porque eles são meus, apenas meus. Elas podem terem sido minhas esposas em épocas diferentes, mas vocês são meus filhos em qualquer época… E são irmãos acima de tudo… Irmãos se unem, se consolam, se fortalecem, se apoiam…

— Papai, vá com calma — Sook pediu ao homem, visivelmente muito emocionado.

— Você também, Sook… Eles são mais novos, precisam da sua ajuda. Você tem a fibra moral de Chang Ru e isso é maravilhoso. Quero você  ajudando e instruindo todos eles — o mais velho anuiu — Taeyang é um garoto incrível, lembra muito a mim na minha melhor forma mental, comprometido e engajado, só que melhor, porque sabe dar valor ao ser humano antes do dinheiro. Eu o admiro muito, meu filho.

— Obrigado, papai — Taeyang agradeceu espantado.

— E Gun… Eu tenho certeza de que toda tristeza que o aflige, toda essa raiva por tudo que lhe aconteceu vai desaparecer rapidamente. Busque seus irmãos, eles vão lhe ajudar nesse período. Quando menos esperar, e toda frustração partir, seu grande talento, o grande engenheiro que está destinado a ser, se sobressairá acima de qualquer outro sentimento.

Gun permaneceu encarando o prato vazio adiante, pensamentos confusos se atacando em sua mente, sem compreender por que Taeyang e Shin não aproveitaram o momento de ouro que obtiveram para destruir sua imagem perante o pai.

— Quanto a Yun Mi, eu sinto um grande remorso dentro de mim por obrigá-la a tantas coisas… Em meu último ato falho com você, minha querida, obriguei-a a se casar…

— Não é necessário se importar com isso agora — ela respondeu com certa mágoa.

— É sim, e eu te liberto, Yun Mi — a garota o olhou com atenção, tensa em seus próprios sentimentos — Se você quiser se separar amanhã, eu aprovo. Eu dou a minha benção. Eu quero você bem, não longe, não vendida, não silenciada nem apagada… Você foi uma das estrelas mais lindas que já brilhou nessa constelação Wang. Faça o que a faz feliz.

Enquanto Yun Mi se arrepiava pelas palavras do pai, o homem passou para Eujin:

— Fui duro demais com você também, meu garoto músico. Como já deixei claro, estou farto de obrigar meus filhos a seguirem meus passos como robôs. A partir de hoje, quero te ver tocando novamente, porque você é muito bom nisso e eu me orgulho do seu talento. Então, vá no meu quarto mais tarde, leve aquele seu fagote e toque uma bela canção para o seu velho pai — disse carinhoso para um perplexo Eujin.

— Jung e Sun, as mesmas palavras que foram para Eujin vão para vocês. Quero os dois realizados em seus sonhos. Mostrem ao mundo que os Wang podem ser bons em qualquer coisa, inclusive em jogar videogame e lutar — riu de leve, regozijado por ver seu mais novo, Sun, boquiaberto pelo aval dele — Sou muito grato por vocês serem novos e não terem tido tempo de sofrer tanto quanto os demais… Tanto quanto Shin, por exemplo…

"Shin — voltou-se para o outro mais velho novamente — nunca vou poder quitar minha dívida com você, filho. Sua vida foi o que foi por culpa exclusivamente minha. Seja quem você quiser, ame quem quiser, viva como quiser… mas nunca mais se afaste dos seus irmãos. Eles precisam de você mais do que imaginam. Muitas pessoas precisam desse seu caráter inigualável e, assim como disse para Sook, esteja sempre por perto, sendo essa pessoa maravilhosa que é, filho querido".

Shin encarou o pai por um tempo, o isentando de toda a culpa que ele sabia que o homem carregaria para o caixão. Ele já o havia perdoado, em nome dele e da sua verdadeira mãe, e não havia mais espaço para mágoas.

Jung e Sun fungaram emocionados em suas cadeiras, despertando a todos daquele torpor melancólico.

— Senhorita Go Ha Jin — Ha Jin, que ouvia tudo com grande esforço para não chorar, ao lado da mesa, se aprumou ao escutar seu nome pela voz de Wang Hansol — Pode servir nossos jantares… Meu apetite até voltou!

***

Poucos dias depois da volta do senhor Hansol e de seu terceiro filho para a Mansão da Lua, Go Ha Jin caminhava atenta pelo mercado aberto de Busan em busca de alimentos dignos de abastecerem os armários da casa que afundava, a cada dia, em um estado profundo de tristezas.

Mesmo com as mágoas e desânimo que enevoavam aquele lugar, Ha Jin se sentia feliz e revigorada por presenciar as mudanças que ocorriam na família. Talvez o que o senhor Hansol mais desejara, e mesmo o seu antepassado, rei Taejo, começara a acontecer. Mesmo a herdeira da família parecia vivenciar uma nova fase em sua vida.

— Governanta…

Ha Jin, ocupada em organizar a louça do jantar onde todos os herdeiros dividiram a mesa com o pai, assustou-se em ouvir a voz de Wang Yun Mi adentrar a cozinha. O tom não apresentava prepotência ou sinais de prévia discussão característicos e seu semblante estava desprovido daquele conhecido ar prepotente.

— Sim, senhora — Ha Jin respondeu de pronto, uma breve vênia enquanto passava as mãos no avental.

— Estamos indo com papai para os jardins… O céu está estrelado e ele quis caminhar conosco por um tempo. Ficaremos próximos à piscina. Nos mande chá para todos, por favor.

— Sim, senhora… Deseja algo mais…? Um doce, salgados…?

— Não. Está tudo bem por enquanto. Se precisarmos de algo mais, eu peço depois. Obrigada.

Ha Jin ainda fazia a vênia quando Yun Mi deixou a cozinha e voltou para a sala, encontrando-se com os outros. O coração, disparado, começou a se tranquilizar e um filete de sorriso se formou em seu rosto. Apressou-se para preparar o melhor chá que conseguisse fazer.

Colocou mais um pacote de legumes no carrinho de compras que Park Seo Yeon, o motorista que a acompanhava, puxava pelas ruas da cidade, relembrando aquele momento de mudança.

Distraída, não reparou uma terceira pessoa se aproximar dos dois sorrateiramente, o motorista sendo mais ágil no reconhecimento, fazendo uma vênia e cutucando a governanta para que ela fizesse o mesmo.

Ha Jin empalideceu. Shin sorria. Ela fez uma vênia forçada. Ele lhes deu bom dia. Responderam. Ele se aproximou ainda mais, os dois funcionários parados, rígidos por motivos distintos, observando o patrão inspecionar os legumes e frutas comprados anteriormente.

— Acho que a governanta não sabe escolher muito bem as acelgas… — falou para ninguém em especial — Estas frutas… Poderiam ser mais novas também…

Seo Yeon olhou discretamente das compras para a governanta sem focar diretamente o rosto do patrão, tenso com aquelas palavras. Ela, ao contrário, mantinha a tez firme e os braços cruzados ao encará-lo de frente.

— O que o senhor acha que devo fazer, então? — ela rebateu, ofendida por aquele comentário petulante — Foi a governanta Nyeo que me explicou como escolher… Acho que o senhor deveria procurá-la e reclamar sobre minhas péssimas escolhas…

— Quanta brutalidade, governanta… — ele se aproximou um pouco mais, o motorista se afastando e lhe dando passagem, ele, porém, se direcionando ao homem — Onde o carro está estacionado?

— Mais abaixo, senhor, perto da entrada do mercado — Seo Yeon respondeu rapidamente.

— Pode esperar pela governanta no carro — ele continuou, o tom misterioso, Ha Jin arregalando os olhos, espantada — Vou auxiliá-la agora. Ela precisa de algumas dicas para escolher melhor o que nos servirá na mansão.

— Sim, senhor… Já vou. Bom dia — o homem saiu rapidamente, temendo que a advertência que a governanta certamente receberia pudesse atingi-lo também.

— Não acredito que fez isso, senhor Wang — ela começou assim que o homem desapareceu de suas vistas, atrevida — Você se tornou especialista em frutas e legumes agora que descobriu suas raízes agrícolas?

— Aish… Como você reclama — ele ralhou, mas não estava chateado.

— Como reclamo? Você me fez passar a maior vergonha na frente do Seo Yeon e agora ele vai pensar que estou sendo advertida pelo patrão… A fofoca que isso vai gerar na mansão… Aigoo… Não sei escolher? Você vai algumas vezes na casa dos seus avós e acha que é especialista em horticultura?

— Ha Jin…

— Saiba que foi a sua mãe que me ensinou como fazer isto! Não acredito que precisei ouvir tudo isso a essa hora da manhã. Você sabia que…

A ladainha insistente da jovem governanta foi interrompida pelos lábios do herdeiro. De olhos arregalados, temendo que pudessem ser vistos, ela contemplou seu grande amor, de olhos fechados, pressionando seus lábios, tentando aprofundar um pouco mais o selinho que trocavam. Ela permitiu.

Perdida naquele misto de sensações, Ha Jin também fechou seus olhos e se deixou ser abraçada, o corpo muito próximo do dele, os lábios se movendo devagar, os braços os mantendo unidos.

— Está mais calma agora? — ele perguntou, o sorriso de canto, conquistador, oferecido à jovem assim que os lábios se descolaram.

— Um pouco… — foi evasiva, temendo um possível reconhecimento pela rua.

— Só queria passar um tempo com você… quase não conseguimos naquela mansão.

— Isso porque você e seus irmãos me dão um trabalho enorme… — reclamou enquanto caminhavam pelas vendas do mercado. O tom estava mais ameno.

— Isso é uma reclamação trabalhista? Então… acho que vou falar com Taeyang para te demitir de vez…

— O que? — ela o olhou espantada — Não fale uma coisa dessas… Nem de brincadeira.

— Mas Sook te ofereceu uma ótima oportunidade… Por que não aceita logo?

— Nesse momento, eu não posso…

— Por que não?

— Prometi à sua mãe… à governanta Nyeo que ficaria na mansão por enquanto…

— Cuidando de mim? — o tom dele tinha algo diferente. Não era tristeza, nem surpresa; era reconhecimento. Shin conhecia a ligação que existia entre aquelas duas mulheres e percebia, a cada dia, o quanto as duas se importavam com ele. Se sentiu feliz.

— Não posso revelar o motivo… Ela não me permitiu.

— Eu sei que é — brincou escolhendo algumas tangerinas.

— Hmm… Acho que você está se superestimando demais... — Ha Jin desdenhou pegando as frutas das mãos dele, as colocando no carrinho.

— Você acha? — ele a olhou surpreso, um sorriso abobalhado.

— Sim! Eu acho. E pare de me olhar desse jeito.

— De que jeito? — ele sorria abertamente.

— Desse jeito — ela o encarou, a expressão fechada.

— Você está tão rude, hoje… — brincou com ela, roubando um selinho — Te segui até aqui só para ficarmos juntos e você só me lançando pedradas… Isso não é justo, Ha Jin — fez bico.

— Tudo bem — ela suspirou profundamente — Gostei que você apareceu aqui, mas isso é arriscado. Ainda mais assim… Vai dar o maior falatório entre os funcionários…

— Isso não é bom? Você vive dizendo que precisamos ser discretos. Acho que uma fofoca dessa entre os funcionários vai despistar suspeitas por um tempo…

— Não acredito que estou ouvindo isso — ela sorria, vencida — Já pensou se alguém nos vê juntos aqui?

— O que é que tem? — ele perguntou desfazendo o sorriso, cansado daquela mesma história de sempre.

— O que é tem que tem que eu preciso do trabalho.

— Não vamos te demitir. Todos naquela casa gostam de você…

— Não sei…

— Claro que sim, deixe de bobagens. Vamos… sorria… — ele pediu e lhe ofereceu um novo sorriso. Ela não resistiu e sorriu de volta — Agora sim… Estou satisfeito.

Continuaram comprando mais algumas frutas e seguiram para o mercado de carnes. Os dois, lado a lado, como um casal de longas datas, brincavam entre si enquanto escolhiam aquilo que abasteceria as próximas semanas da mansão.

— Quando vai me deixar colocar esse cachecol para lavar? — Ha Jin perguntou sem se dirigir a Shin diretamente, mas uma nota de brincadeira poderia ser percebida.

— Já vai começar…? — um certo azedume na voz do outro.

— O bom é que sua avó escolheu uma cor neutra, caso contrário, seria estranho combinar com suas peças de roupa…

— Qual o problema de vocês com meu cachecol? — o rapaz perguntou com a face rubra, encarando-a — Estão com inveja por que não têm uma avó boa o suficiente para tricotar para vocês um presente de aniversário?

— Eu não… — respondeu ainda divertindo-se — Só quero que me deixe fazer meu trabalho de governanta e lavar a peça… Faz quase um mês que ganhou e não tira do pescoço… Nem está mais aquele frio…

— Você e Eujin são dois desnaturados sem sentimentos falando essas coisas… — ralhou de braços cruzados, cedendo — Vou colocar hoje, mas vou ficar de olho na senhorita… Qualquer alteração, qualquer coisinha diferente…

— Não vou destruir seu presente de aniversário… Vou apenas lavar.

— Assim espero, e não revire os olhos assim — uma nova risada discreta dela, ele desanuviando a expressão fechada.

— E vai ver seus avós hoje? — ela perguntou tranquila. Os dois faziam o caminho de volta para o estacionamento onde o motorista a esperava.

— Vou sim… — respondeu puxando o carrinho cheio de compras — Quer vir comigo?

— Adoraria… Mas não posso. Quem sabe na minha folga…?!?

— Você sempre me dando desculpas. Quero te levar lá…

— Não são desculpas, também quero ir, mas, neste momento, não posso me ausentar muito tempo da mansão.…

— Eu sei… — a expressão se fechando um pouco.

— Vamos!! Não faça essa cara. Aproveite que estará lá e mande um abraço para a governanta. Diga que fiz uma torta com as melancias que ela mandou…

— Você mesma já não falou isso para ela pelo celular?

— Aigoo… Deixe de ser assim. Apenas dê o recado — os dois sorriram daquele comentário.

— Ha Jin…

— Hmmm… — ela respondeu sem muita atenção, remexendo em uns pacotes do carrinho.

— Eu vou pedir que Hin Hee volte para a mansão.

— O que? — ela o olhou com surpresa, olhos arregalados — Está brincando comigo?

— Por que eu brincaria sobre um assunto desse? — ele rebateu, inconformado — Eu só quero que… Acho que já faz muito tempo que ela foi embora… Eu… Não importa… Eu quero que…

Shin foi surpreendido desta vez. Ha Jin abandonou sua tarefa de organizar os pacotes e, jogando-se contra ele, o abraçou com carinho. Aquele momento se manteve inalterado por alguns instantes.

Ha Jin sentia seus olhos umedecerem de alegria, seu peito bater mais apressado, emocionado. Finalmente mãe e filho dariam um novo passo. Finalmente Shin poderia vivenciar aquela nova realidade.

— Está chorando? — ele perguntou depois de ouvir a governanta fungar.

— Estou… Mas é de alegria. Estou muito feliz… Muito…

— Por que se preocupa tanto assim?

— Porque eu te amo… Porque eu quero que seja feliz.

Shin ainda conseguiu roubar mais alguns beijos da governanta desavisada enquanto estavam abraçados e, depois, ao se encaminharem para o carro que a levaria para a mansão.

Agora, com um sorriso bobo enfeitando seus lábios e o coração aquecido com tanto carinho, ele enfrentava a manhã amena da Coréia do Sul e cruzava algumas muitas províncias em direção a PyeongChang.

O desejo de estar com eles, perto deles… De ouvir mais, de conhecer mais. O herdeiro Wang necessitava daquilo como se o sangue o chamasse para aquela pequena família, para a sua família.

Ele estava parado de frente para a porta daquela casa. Era tão simples e acolhedora. Aquela recente e constante sensação de reconhecimento lhe esquentando por dentro. Olhou o celular e viu que passava das onze.

Era quase hora de almoço e sentiu-se nervoso por chegar em um horário daquele, porém venceu os três degraus que o separavam da porta e a bateu gentilmente. Ajustar o cachecol ao pescoço foi o tempo que se deu entre o toque e a porta aberta:

— Shin! — o senhor alto e magro se alegrou e o abraçou carinhosamente.

— Shin? Meu menino está aí? — ele reconheceu a voz da senhora enquanto era abraçado pelo senhor. O peito queimando de felicidade.

— É ele sim, Sang — o homem respondeu já o puxando para dentro — Coloque mais água no sulleongtang

— Não se preocupem comigo… — ele tentou, mas já havia sido alcançado pela pequena senhora que abandora as panelas para estar com ele.

— Quem bom que veio nos ver, meu neto — ela falou, um sorriso enorme para ele — Vamos, se apresse. Sente — indicou o sofá afastando as almofadas — Vou assar umas batatas também… Sei que gosta.

— Não se preocupe comigo, de verdade… Não quero dar trabalho.

— Meu neto, não repita mais essas palavras… Você não dá trabalho. Você só nos traz alegrias. Fique com seu avô. Vou terminar nosso almoço — Shin sentiu aquele bolo pesado se formar no estômago.

Não era acostumado a ser tratado daquela forma e, do fundo do coração, tinha medo de se acostumar e ser arrancado dessa realidade.

Sentando-se sobre o sofá, o senhor ao seu lado, lhe sorrindo, ele observou com certa nostalgia, a senhora cozinhando. Imaginou como sua vida seria se, no passado, seus pais tivessem cumprido as promessas que se fizeram. Não tinha mágoas, preferiu liberá-las, mas imaginou sua vida como uma criança que cresce livre. Sentiu saudades daquele pensamento, mas, no mesmo instante se arrependeu, se dando conta que Eujin e seus outros irmãos não existiriam se sua vida e fizesse naquele passado mais justo.

— E Hin Hee? — ele perguntou de supetão, o homem parando alguma frase diante da pergunta.

— Ah… Sua mãe foi ao mercado, no centro. Não deve demorar muito, mas é provável que não chegue para o almoço.

 

— Entendo…

— Como está o seu pai? — a senhora perguntou da cozinha. Não era mentira que odiava aquele homem por todo sofrimento que fez sua filha e neto passarem, mas não lhe desejava mal.

— Ele está melhor… — preferiu não comentar sobre a piora que o pai enfrentava nos últimos dias. Ele mesmo tentava não pensar que, agora, o perderia a qualquer momento — Não há muito o que fazer, ele tem aproveitado o tempo como pode.

— É uma pena… — o senhor falou, pensativo — Um homem tão jovem… Mas é a vida, é como ela é. Quando chega nosso momento, não há o que fazer. O bom é que ele aproveite seu tempo para resolver suas mágoas e que possa fazer sua partida em paz…

— É o que espero — Shin concordou, um suspiro profundo, o sentimento de perda o envolvendo, aquela vontade constante de chorar quando mencionava o pai se aproximando.

— Ah… — o senhor pareceu animado, talvez percebendo a tristeza do neto, levantando do sofá e indo até o quarto, voltando com um baú de madeira logo depois — Queria ter te mostrado antes, mas as coisas só acontecem como tem que ser… — abriu a caixa e a entregou para Shin, que a recebeu receoso, temendo novas sensações difíceis de segurar. Não estava emocionalmente bem.

— O que é isso? — perguntou automaticamente, já vendo o conteúdo do objeto.

— Umas coisas que sua mãe guarda desde que você nasceu — o homem explicou com simplicidade — Não sei quanto tempo mais ela seria capaz de suportar tudo isso, mas todas as coisas que ela fez na vida lhe renderam dor e muitas lágrimas. Independente disso, ela decidiu suportar. Suportou tudo por você, meu neto…

Enquanto ouvia as palavras do velho homem, as mãos curiosas mexiam nos objetos guardados tão cuidadosamente. Shin viu algumas fotos dele quando bebê. Percebeu que nunca tinha se visto naquela fase, a mulher que ele achou ser sua mãe durante toda sua vida jamais se importou em registrar momentos de sua infância.

— Nessa aqui você tinha dez dias — o senhor falou quando ele focou a imagem. Ele tinha os olhos fechados, era tão pequeno, e sorria. Tinha um semblante puro e inocente. Parecia feliz em seu macacão de tricô verde — Essa mão é da sua mãe. Ela teve medo de te fotografar antes. Pensou que você poderia ficar doente… aquela bobona…

— Não fale assim da menina — a mulher interrompeu a gargalhada do marido enquanto Shin continuava olhando as imagens — É cuidado de mãe. Toda mãe é assim.

— Nessa você já tinha quase um ano… — o homem pegou outra das muitas fotos. Nela, Shin estava sorrindo, em uma banheira cara, vários brinquedos ao seu redor — E aqui foi um pouco depois do seu primeiro aniversário — ele batia palmas, sorria. Os dois dentes da frente bem aparentes — Eu gosto dessa — o senhor falou, indicando com o dedo. Nela, Shin e seus olhos intensos focavam o que deveria ser a lente da câmera e ele estava sério, aparentemente admirado com aquele objeto. Deveria ter aproximadamente dois anos, os cabelos cheios, rebeldes.

Continuou remexendo na caixa, percebendo com tristeza que Hin Hee nunca aparecia em nenhuma das fotos ao seu lado. O coração deu um solavanco ao encontrar, guardado em uma sacolinha de tule, o macacão verde que acabara de ver na foto feita em seus primeiros dias de vida.

— Ah… Esse macacão foi sua avó que fez…

— Ficou lindo em você, igual esse cachecol… Você combina com tricô — a senhora falou da cozinha, participando da conversa enquanto remexia nas panelas. Não imaginavam os sentimentos e pensamentos que se misturavam dentro do neto — Agora que sei seu tamanho, posso fazer mais peças para você. Aí na caixa também estão os sapatinhos que sua mãe comprou assim que conseguiu um dinheiro depois que soube que estava te esperando.

Ele viu os sapatinhos. Eram verdes, de tecido listrado. Fechavam com um botão e eram tão pequenos que cabiam na palma da sua mão. Ele inspirou profundamente, ainda haviam outras coisas no baú, mas seu coração parecia não aguentar mais, não agora, com aquela carta nas mãos.

Shin abriu o envelope destinado à Hin Hee. Lembrou daquele momento assim que seus olhos encontraram o pedaço de papel. Ele fizera aquela carta quando tinha seis anos, na escola, porque era a semana em que comemoravam o dia dos pais.

Lembrava de ter feito uma colagem para o pai e que recebera um cravo branco para lhe entregar. Na atividade para as mães, ele decidiu fazer mais uma colagem para, a até então sua mãe, Min Joo, e pediu para a professora que o ajudasse com a cartinha para Hin Hee que ele disse ser como sua outra mãe.

Até mesmo a rosa que lhe dera junto à carta estava guardada, e mesmo que ela estivesse marrom e morta, desidratada dentro daquele papel plástico, encontrá-la fez com que Shin relembrasse momentos felizes, vivazes. Sentiu que não mais suportaria aquela tempestade de sentimentos.

A senhora, mais sensível, embora parecesse durona, desligou o fogo de algumas das panelas, esperando apenas pelas batatas. Se aproximou do neto e sentou-se no sofá, deixando que o rapaz ficasse entre os dois.

Carinhosamente, a mão da mulher lhe tocou o ombro, um sorriso foi ofertado, e ao olhar para ela, Shin sentiu seu mundo mais uma vez desabar em lágrimas. Chorou nos braços daquela senhora, afagado pelo senhor, o desejo de nunca ter sido afastado daquele lar, consciente de que deveria recuperar o tempo que lhe foi roubado, feliz por se reconhecer.

O herdeiro Wang já havia abandonado os hashis havia alguns minutos. Comia utilizando as mãos, faminto pelo tempero daquela mulher, e temia que as calças poderiam estourar a qualquer momento, não resistindo a tudo o que lhe era oferecido.

— Isso tudo é muito gostoso — falou de boca cheia, o sorriso satisfeito, recuperado da choradeira passada — Como pude sobreviver minha vida inteira sem esse tempero?

— Agora tem tempo para se fartar — a senhora sorriu — Embora Hin Hee tenha uma mão excelente…

— Sim… Nunca havia comido nada mais gostoso do que o que ela fazia na mansão… Só o da senhora…

— Isso porque a menina aprendeu comigo — a senhora respondeu feliz.

— Não duvido — Shin continuou enchendo a boca novamente — Isso está delicioso...

— Que bom que gostou, querido neto... — a mulher passou a mão carinhosa em sua cabeça.

— E quem vai lavar a louça? — o senhor perguntou, o ar de quem queria se safar.

— É a sua vez, Gyung Ho — ela rebateu, enfática, assumindo uma nova postura de combate — Sempre aparece com esses comentários na hora da louça…

— Eu lavo — Shin se ofereceu.

— Não senhor, isso é trabalho do seu avô. Não pode mimá-lo, meu querido. Ele é terrível se…

— Aigoo… Pare de falar mal de mim, criatura.

— Pare de ser preguiçoso…

— Eu lavo…

— Não… seu avô lava.

— Vamos resolver isso no jogo… — o velho falou e os outros dois olharam para ele — vou preparar o copo com sal.

— Não acredito nisso — a mulher revirou os olhos — Quantos anos você tem?

— Vamos lá… Vamos ser justos, só isso. Não quero lavar, mas Shin quer… e você não deixa. Vamos beber.

— Você não tem idade para isso…

— Pare de ser tão chata…

Ele voltou trazendo dois copos grandes de aço, colocou água, pimenta e sal com exagero em um deles, mexendo muito bem com uma colher em seguida. Por fim se levantou, Shin o acompanhando, assustado com o que viria a seguir. Ficaram de costas para a mulher, Gyung Ho pronunciando em seguida:

— Vamos lá, Sang, mude os copos.

Shin estava tenso. Aquela brincadeira fazia o senhor sorrir empolgado, ele temia os efeitos de tanto sal e pimenta juntos para a saúde de um idoso. Havia se oferecido para lavar a louça, não sabia como as coisas haviam chegado naquele ponto.

— Pronto — Hoon Sang falou misteriosamente e os dois se viraram, sentando-se cada um em uma cadeira, de frente com os copo. Shin deixou que o avô escolhesse primeiro e segurou o copo também.

— No três, tudo bem? — o velho falou e começou a contar — Um… Dois… Três…

Eles viraram o copo. Por um milésimo de segundo, Shin não sabia o que estava acontecendo com seu corpo. A garganta começou a arder, o peito acelerou, os olhos queimaram e ele sentiu o rosto esquentar ao mesmo tempo que seus olhos choravam sem seu consentimento.

Os velhos olharam para ele com aflição. A cabeça estava toda vermelha, as orelhas pareciam em chama, seus olhos esbugalhados e ele parecia sofrer dores terríveis. A senhora, tomada por leve desespero, apressou-se em tomar o copo da mãos do marido e o encher de água, oferecendo com urgência ao neto.

— Beba… — ela falou com leve angústia.  

— Meu filho… O que você tem?

Nyeo Hin Hee acabara de entrar na casa, as sacolas que trazia lançadas sobre o chão. Ela se aproximou vendo Shin terminar o copo com água, em choque, o filho vermelho até as mãos e com lágrimas caindo de seus olhos, as mãos dela segurando o seu rosto.

— Meu Deus, você está queimando — ela virou para os pais — O que está acontecendo? — perguntou e logo entendeu a cena — Vocês fizeram ele tomar água com sal, papai?

— E pimenta… — o velho falou. Um sorriso amarelo, esperando a bronca.

— Beba isso, Shin — ela encheu novamente o copo com água — Beba e vai se sentir melhor.

Ele o fez, os olhos, em chamas, focando os olhos da jovem senhora à sua frente. Ela sempre estava ali para ele, onde ele estivesse, independente do que acontecesse. Aquela mulher sempre chegava na hora certa, e sempre o salvava do que quer que fosse.

— Estou melhor… — ele falou, a voz estranhamente rouca, um tempo depois.

— Papai… Quantas vezes tenho que falar para o senhor que isso faz mal? Não bastou fazer isso com o entregador de leite semana passada?

— Minha filha… é só uma brincadeira, e sua mãe não queria deixar…

— Papai… Não importa. Shin poderia ter passado mal. Ter tido algum problema de saúde e precisar ir ao médico…

— Aigoo… Esse garoto já é um homem. Pare de protegê-lo assim como se ele fosse quebrar… Ele não é um bebê de colo, olhe só o tamanho dele. E foi ele que aceitou o jogo…

— Não importa, papai… Isso…

— Tudo bem — Shin lhe ofereceu um sorriso carinhoso, a mão, ainda vermelha, lhe tocando o pulso sobre a mesa — Eu estou bem, de verdade…

— Viu só? — Gyung Ho falou com birra, os braços cruzados — Está sadio como sempre foi.

— E parece que perdi, não é mesmo? — Shin sorriu para o senhor e os dois se tornaram cúmplices daquele momento. As duas mulheres, perdidas entre o desejo de brigar ou aceitar as estripulias dos dois, cederam.

— E como vão as coisas na mansão? — Hin Hee perguntou enxugando a louça que ele terminava de lavar.

— Um pouco melhor… — ele respondeu sem muito entusiasmo, novamente omitindo o estado terminal de seu pai.

— Seus irmãos…? — ela parecia inspecioná-lo.

— Meus irmãos parecem mais próximos, agora… É bem estranho ver isso acontecer. Nunca imaginei vivenciar esse dia. Até mesmo Yun Mi mudou um pouco.

— Isso é muito bom… Aquela menina também sofreu bastante…

— Eu sei.

— Seu irmão Gun, como tem lidado com essa nova fase.

— Não muito bem, eu acho. Ele está estranho, calado. Acho que ele pensa que tudo acabou.

— Não o abandone nem negue apoio se ele precisar de você. Ele ser como é não é culpa dele, mas de sua criação. Independente de tudo o que viveram, ele é seu irmão.

— Sim… Farei o que puder e… o que ele permitir que eu faça.

— E seu pai? Como ele está realmente?

— Do mesmo jeito… Quer dizer, pior. Não tem estado muito bem esses dias, então estamos todos esperando o pior a qualquer momento.

— É uma pena…

— Mas ele está bem, parece tranquilo e tem aceitado tudo muito bem. Temos tentado não focar nesses assuntos…

— É o melhor…  E Ha Jin… Como ela está se saindo sozinha na mansão? — a mulher quis mudar de assunto.

— Melhor do que imaginávamos. Ela tem dado conta do recado direitinho, você sabe, e é muito dedicada. Costuma dizer que foi bem treinada… — um sorriso amigável para a mulher — Agradeceu pelas melancias… Fez uma torta.

— Que bom… Ela é uma grande garota… Forte, corajosa e decidida. Sou muito grata por tudo o que ela tem feito…

— Eu também. Ha Jin é especial…

— Ela é… — a mulher o olhou com carinho e continuou a enxugar a louça. Shin interrompendo o breve silêncio.

— Hin Hee… — ele parou em seguida, a mulher o olhando curiosa. Ele continuou, obstinado, as orelhas avermelhando, agora de constrangimento — O que você acharia se eu… Se eu… e Ha Jin… Bem… É que eu acho que…

— Você gosta dela de verdade? — ela falou claramente, ele arregalou os olhos.

— Ér… Pode ser que sim… — focou a louça que ainda faltava lavar.

— Eu acho algo muito bom — ela sorriu para ele, os olhos amáveis de sempre — Acho que seu coração fez a melhor escolha…

— Obrigado…

— Eu que agradeço por me contar…

— Omo… Eu não acredito que perdi de novo — o velho Gyung Ho reclamou mais uma vez naquela tarde. Estavam os quatro, sentados no chão da sala, jogando Gong-gi¹.

Na ordem, Hin Hee vencia por duas rodadas sobre Shin. Hoon Sang era a terceira colocada, apenas uma rodada abaixo de Shin. O patriarca havia conseguido avançar apenas até a quarta fase, nem mesmo completando a primeira rodada.

— Você sabe que Hin Hee é ótima nesse jogo… Nem sei por que deu a ideia se já sabia que ia perder…

— Não sou ótima, mamãe… só gosto do jogo — Hin Hee sorria genuinamente feliz. Era ótimo vê-la assim.

— E esse moleque vai pelo mesmo caminho da mãe — o velho ralhou sobre Shin, completando mais uma rodada, sorrindo exultante sobre seu feito — Olhe só… Nasceu com o dom de me fazer perder nesse jogo…

— Ah… Não fale isso, vovô…

Ele parou. As pedrinhas do jogo caindo espalhadas pelo chão. O velho olhou para ele, os olhos brilhantes, o rastro de um sorriso tímido se formando. Ele abaixou a cabeça, os olhos igualmente marejados, e tomou as pedrinhas de volta nas mãos, passando-as para a senhora, a próxima jogadora.

— Não, meu neto… É a sua vez. Mostre para seu avô toda sua habilidade. Vença esse velhote ranzinza.

— Não sou velhote, nem ranzinza… Vá, vá… É a sua vez — ele incentivou Shin a continuar, o mais novo com os sentimentos a mil. Ele continuou o jogo, sorrindo, se divertindo, assustado por aquela familiaridade, ainda mais desejoso por ela.

...

— Sei que não posso pedir para você ficar… está tarde e o caminho é bem demorado e perigoso. Preferia que viesse de carro ou de ônibus… Essas estradas geladas… Pode acontecer alguma coisa de ruim...

— Pare de se preocupar demais… — Shin olhou intensamente para Hin Hee — Não vai acontecer nada comigo, tudo bem?

— Preciso ter fé que sim…

— Eu… quero te pedir uma coisa…

— Diga…

— Eu… queria que você… voltasse para a mansão…

— Shin…

— Eu sei que não é fácil, mas muita coisa mudou…

— Eu te amo demais, meu filho, e só Deus sabe a dor que sinto por estar tão longe de você, por não poder te ver todos os dias e te proteger como gostaria… Mas eu preciso desse tempo para mim.

"Você está bem, parece feliz apesar de todos os problemas que tem enfrentado e, além do mais, você tem Ha Jin ao seu lado… Naquela mansão, eu nunca fui o que deveria ser para você, e eu sinto muito por te obrigar a isso… não posso voltar, não agora… as lembranças são muito claras, muito tristes…"

— Eu entendo… Eu entendo tudo o que você disse e concordo… Eu sei que não foi fácil e sei que ainda não é, mas eu quero muito que você me proteja como antes — os olhos brilhantes, umedecidos — Eu quero que você esteja perto de mim… eu sinto sua falta, demais…

— Não importa onde eu esteja, eu nunca deixarei de te proteger, meu filho, saiba disso… teremos muito tempo para ficarmos juntos…

— Desculpe por te pedir essas coisas, por tentar te obrigar a fazer coisas que você não deseja como te fizeram no passado, não tenho esse direito…

— Não pense assim… Você não é como eles, meu amor… Não é.

— Obrigado por me amar… por não desistir de mim… obrigado… — os olhos da mulher também estavam úmidos, cheios de ternura e amor — …mãe.

O abraço apertado e cheio de carinho, um carinho escondido por trinta anos, envolveu mãe e filho por um momento que poderia não mais acabar. Hin Hee, impossibilitada de amá-lo abertamente, recebeu naquelas palavras a carta branca para, finalmente, ser mãe.

O peito cheio de alegria se misturou aos batimentos do peito dele, entregue ao que deveria ter sido seu desde o seu nascimento. Não queria mais esperar, não queria mais se privar e privá-la desse sentimento. Estava feliz. Mesmo com todos os problemas, como ela dissera, aquele era o momento de sua vida no qual ele se sentia mais feliz.

— Meu filho… meu filhinho… — ele ouvia aquelas palavras ainda dentro daquele abraço acolhedor, aquele abraço materno, quando sentiu o celular vibrar no bolso da calça — Nunca… nunca vou desistir de você… Eu te amo tanto…

— Obrigado… — ele ignorou a chamada esperando que ela parasse — Obrigado por tudo, por ser minha mãe. Por não desistir de mim…

— Obrigada por ser um filho maravilhoso… O melhor que eu poderia querer…  

— Não sou tão maravilhoso… me desculpe por te pedir para voltar…

— Não se preocupe com isso. Precisarei voltar em algum momento, mas não agora.

— Não se apresse… — ele se afastou e resolveu pegar o celular. Era Taeyang ligando pela segunda vez. Atendeu alarmado — Algum problema?

— Onde você está, irmão? — o outro, angustiado.

— Longe… papai está bem?

Não. Venha para casa, rápido.

— Tudo bem. Vou agora.

— O que houve com seu pai? — Hin Hee perguntou igualmente alarmada.

— Não sei, mas preciso ir agora…

— Por favor, meu filho, tenha cuidado.

— Terei. Não se preocupe.

— Me ligue assim que chegar em casa, quando tiver notícias.

— Sim, senhora… Já vou.

***

A confusão começou logo quando Shin chegou à portaria da propriedade Wang. Havia um carro estacionado de forma displicente em frente ao portão de ferro, atravessado na passagem de veículos, obstruindo o fluxo como se o local lhe pertencesse.

O ronco do motor de sua moto, embora alto, não foi suficiente para abafar a gritaria que aquela mulher fazia em frente à guarita enquanto os seguranças tentavam contê-la do modo mais diplomático possível. Era Yoon Min-joo fazendo mais uma de suas cenas.

Exaltado por ter sua entrada atrasada devido a tal inconveniente, Shin parou a moto entre o veículo e o portão e aproximou-se da discussão:

— O que a senhora está fazendo aqui? — o herdeiro perguntou às costas dela.

Min-joo o encarou com o desprezo automático de sempre e se virou para os funcionários outra vez, ignorando-o, exigindo direitos que já haviam escapado de seus domínios há tempos.

— Estou mandando, ordenando, abrirem os portões para que eu possa subir. Sou a senhora daquela mansão… Morei aqui por muitos anos… Tenho filhos com Wang Hansol… Filhos que estão lá em cima. Exijo que abra a merda do portão, seu desgraçado! — apontou o dedo indicador, a unha escarlate brilhando, no rosto do chefe da segurança. Um homem baixo, mas de tez enérgica, que agora suava dentro de seu terno ao tentar controlar aquele problema.

— Eu perguntei o que a senhora está fazendo aqui? É algo em que possa ajudá-la? — Shin repetiu, não desistindo ainda, a voz mais incisiva.

— O que é, seu miserável? Não falo com bastardos… — cuspia para ele — Ficou decepcionado por ser o filho da empregada? É. É isso mesmo… Você jamais sairia de mim. Não você.

Ele suspirou fundo, um verdadeiro esforço para ignorar a agressividade da mais velha e seguir inabalável. Entretanto, as palavras doeram. Mesmo que ele estivesse montando uma relação de amor genuíno com sua mãe biológica, escutar os dizeres ferinos como os que Min-joo tinha o dom de proferir contra ele, trazia sentimentos amargos. Ela não é sua mãe, disse para si, em mente, para conseguir enfrentar a situação de cabeça erguida.

— O que está acontecendo? — ignorou todas as ofensas da mãe de fachada e perguntou ao chefe da segurança.

— A senhora quer entrar na casa, mas… É que… Ela não pode mais…

— Por que não? — Shin estava disposto a dar uma chance. Ele sabia o que acontecia lá em cima e achava que ela merecia estar perto de seu pai porque também fez parte da vida dele. O olhar dela era de ódio, sim, mas também de angústia. E ele, mais do que ninguém, conhecia esse olhar — Os filhos dela estão lá… Ela sempre teve livre acesso à mansão.

— Acontece que foi justamento o senhor Gun quem exigiu que ela não subisse. Ele disse que nos demitiria caso ela pisasse na sala — o homem respondeu de pronto.

— Isso é um absurdo! Meu filho jamais diria tal coisa…

Shin olhou de Min-joo para o topo da colina, local onde a residência se erguia impávida e abrigava seus irmãos, a garota que ele amava e também seu pai. Todos estavam lá agora.

Gun seguia estranho esses dias, mas pela primeira vez concordou que ele fora assertivo em barrar a própria mãe. Chegava um tempo diferente para aquela família, um tempo de luto, e eles o atravessariam sem brigas e escândalos.

— A senhora tem apenas alguns minutos para sair desse portão — disse por fim, a coragem o armando — Quando eu chegar lá em cima, ligarei para cá e, se ainda estiver aqui fazendo cena, chamarei a polícia.

Dizendo tais palavras, Shin subiu em sua moto sem se importar com os xingamentos proferidos em seguida e partiu colina acima a toda velocidade, depois dos seguranças abrirem o portão para que apenas seu veículo de duas rodas passasse. Em nenhum momento olhou para trás.

Ao entrar na Mansão da Lua com seu semblante preocupado, o herdeiro percebeu que seu caminhar se tornara instável, os joelhos estavam rígidos, mas as pernas pareciam de borracha. Esquecera daquilo momentaneamente enquanto lidava com o problema na portaria, mas agora ele voltava com força total.

Ao sair de Busan para visitar os avós no interior, o tempo todo de viagem pensava na recaída que seu pai tivera, entretanto ainda não se via preparado para aceitá-la. Nunca se veria preparado para aceitar o fim.

Eun Tak, Chang Ru, Na Na, Yoseob, Doh Hea e Sun Hee rodeavam a sala de estar, todos com expressões desoladas e olhos vermelhos. Um funcionário da mansão servia suco e água para os presentes e Ha Jin se mantinha postada entre o corredor que levava aos quartos e a sala, olhando tudo tristemente. Todos pareciam sem forças até mesmo para conversar.

Shin saudou as pessoas com meneios mudos de cabeça, também não se sentia disposto a cumprimentos prolongados, mas seguiu até Ha Jin que o informou em tom carinhoso disfarçado de profissionalismo:

— O senhor Wang e seus irmãos estão no quarto dele — curvou-se delicadamente para o rapaz, que agradeceu com um gesto parecido e seguiu para as escadas.

No andar superior, o andar em que tantas vezes um pequeno Shin correu para o quarto do pai para descobrir se ele estava cochilando, a senhora Ah Ra acabava de sair do cômodo principal, os olhos molhados e o semblante desolado. Soluçando e escorando as mãos pelas paredes, sequer notou, ou fingiu não notar, a aproximação dele, ao se cruzarem pelo corredor. Às suas costas, uma voz rouca e murmurante disse-lhe ao ultrapassá-lo:

— Seu pai não vai descansar enquanto não te ver…

Mais uma vez ele acenou com brevidade e prosseguiu ao destino final, a porta aberta à sua frente, sentindo uma bola de chumbo se formando em seu abdômen. Não estava preparado para aquilo. Não queria que fosse verdade.

Mas era…

Sun soluçando quando ele entrou no quarto do pai o trouxe sem nenhuma delicadeza para aquela realidade.

Hansol estava deitado na imensa cama de casal que deixava seu corpo magro ainda menor em meio aos lençóis. Mil e um equipamentos médicos ao seu redor, uma parafernália de fios e monitores, que o manteve alerta nos últimos dias, mas que, por opção do próprio paciente, se encontravam desligados e silenciosos no momento. Ele havia desistido, estava jogando a toalha de vez.

Os olhos do homem senil alcançaram os do filho antes que os irmãos. Todos eles estavam ali: Sun na poltrona ao lado do pai; Yun Mi de braços cruzados quase envolvendo-se em um abraço protetor, de pé, mais afastada do leito; Taeyang pegando na mão esquerda do velho, sentado no colchão; Jung segurando o choro aos pés da cama com Gun ao seu lado, na cadeira de rodas, os olhos desfocados dali; Eujin próximo à janela, lutando contra a vontade de chorar e olhando para os jardins banhados pelos raios de Sol que começava a se pôr de minuto em minuto; Sook, próximo à porta, se esforçando para ser forte, para dar exemplo aos outros, olhava fixamente para um ponto qualquer. Com todas essas pessoas no quarto, fôra ele, o moribundo, quem enxergou primeiro a entrada de Shin.

— Shin… — sorriu com entusiasmo para o garoto. Seu rosto ganhou alguma vida e os olhos chegaram a brilhar ao ver seu segundo herdeiro contornando a cama e indo pegar em sua mão direita. Sentou-se sobre a cama, ao seu lado. O toque e a presença do garoto era muito mais que acolhedora.

— Por que o senhor fez isso? Por que pediu para… desligarem as máquinas?

— Ah… meu filho… Um homem não… não pode ser um homem se só consegue viver por meio dessas coisas…

— Pai, isso…

— Shin… — Hansol balançou a cabeça, seu rosto fraco e pálido fez um grande esforço para produzir esse gesto simples — Shin… não vamos… perder tempo. Você me perdoa mesmo?

— O que? — Shin indagou. Taeyang ergueu o rosto para o mais velho e observou o irmão um instante, um nó se formando em sua garganta — Que pergunta sem sentido é essa?

— Seus irmãos… Eles me perdoaram por fazê-los sofrer… Sun e Jung me perdoaram por não ter tido tempo suficiente com eles… Eujin me perdoou por ser tão estúpido e não aproveitar para escutar suas músicas… Yun Mi me perdoou por tratá-la como uma peça de luxo e obrigá-la a se casar… Obrigá-la a fazer tantas coisas contra sua vontade… Ela me perdoou…

"Gun também me perdoou por não lhe dar outra opção… Por deixar Min-joo sufocá-lo tanto com sua revolta… Taeyang me perdoou por sempre duvidar de sua competência… Por não enxergar seu talento genuíno… E Sook me perdoou também… Por ser um pai relapso e ausente a vida toda… E você… Você me perdoa, meu filho?… Me perdoa por ter te condenado a trinta anos de sofrimento? Por fazer sua mãe… sofrer também?… É possível perdoar tal… tal ato horrível?"

 

— Pai, pare com isso — Shin apertou a mão do velho. Lágrimas inundando seus olhos, sem controle algum — Eu te amo, não diga bobagens.

— Eu fui injusto com todos vocês, mas a sua história é a que mais me dói, filho… Você levou tantas pancadas que eu ainda não sei como continua de pé…

— Vamos esquecer o passado. Nada disso importa agora…

— O perdão importa… Sei que nunca terei o dela… A compreendo totalmente… Mas o seu… Não posso ir em paz sem o seu perdão, meu menino…

— Pai… — a emoção era incontrolável. Era um bloco de concreto o esmagando por dentro.

— Me perdoe, Shin… — a voz do velho foi ficando fraca, uma luz se apagando lentamente num corpo, outrora, vivaz — Tenha boas lembranças de mim, por favor…

— Eu já te perdoei, papai — Shin chorou — Eu te perdoei há muito tempo… Eu nunca consegui sentir raiva do senhor por muito tempo… Eu te perdoei, papai… E a minha mãe também te perdoou — o rapaz mentiu na impulsão — Ela me disse… Minha mãe me disse que perdoou o senhor por tudo e que lamenta não conseguir vir, mas o perdoou sim… O perdoou do fundo do coração. Tudo…

— Que bom… — Hansol sorriu, era seu último sorriso. De repente, a lembrança passou como um sopro balsâmico na mente dele. Nela, o rosto de Hin Hee, jovem e inocente, dizia que o amaria em qualquer condição, para sempre — Isso é bom…

— Não se esforce, papai — Taeyang recomendou, segurando o choro a todo custo.

— Sejam felizes… Fiquem unidos…

— Papai! — Shin exclamou vendo o homem fechar os olhos lentamente.

— Eu os amo… Eu os amo, mas agora… preciso… descansar…

Hansol fechou os olhos mais uma vez e não os abriu mais.

Sook caminhou para o corredor para chorar. Sun chorou alto em sua cadeira, abraçando-se às pernas. Taeyang finalmente deu vazão ao seu choro, um soluço alto e incontrolável liberado.

Eujin se agarrou às cortinas da janela e encobriu o rosto com elas escondendo suas lágrimas. Yun Mi se abraçou mais, se recolheu mais em sua dor, em silêncio, lágrimas copiosas saltando de seus olhos negros.

Gun fez um movimento na direção da cama, tentando alcançar o pai, mas caiu da cadeira de rodas direto para o chão. De modo terno, foi amparado por Jung, chorando na mesma intensidade do mais velho.

Os dois se abraçaram buscando algum consolo um no outro enquanto viam Shin apertar o corpo do velho contra o seu, exigindo que ele não partisse, sacudindo o patriarca inutilmente.

E, com todos os filhos ao seu redor, sofrendo pela sua despedida definitiva, talvez de uma forma como não merecia, Wang Hansol partiu.

***


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Notas finais do capítulo

Não esqueçam de deixar a impressão de vocês sobre o capítulo. O que acharam do capítulo? O que acham que será dos herdeiros Wang a partir de agora? Esperamos seus comentários.
— Rumo ao próximo arco-

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¹ No Brasil é conhecido como 5 ou 7 marias. https://www.youtube.com/watch?v=JyuO_zrtavM

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Glossário:

Concubina Oh - Nyeo Hin Hee
Hae Soo - Go Ha Jin
Hwangbo Yeon-hwa - Wang Yun Mi
Imperatriz Hwangbo - Woo Ah Ra
Ji Eun Tak (OC) - 4ª esposa de Wang Hansol
Khan Mi-Ok (OC)- amiga de Ha Jin
Lady Hae - Kim Na Na
Li Chang Ru (OC) - 1ª esposa de Wang Hansol
Park Soon-duk - Doh Hea
Park Soo-kyung - Doh Yoseob
Park Sun Hee (OC) - Esposa de Sook
Sung Ryung (OC) - empregada/amiga de Ha Jin
Taejo - Wang Hansol
Wang Baek Ah - Wang Eujin
Wang Eun - Wang Sun
Wang Yo - Wang Gun
Wang Ha Na - filha de Wang Sook
Wang Jung - Wang Jung
Wang Mu - Wang Sook
Wang So - Wang Shin
Wang Wook - Wang Taeyang
Yoon Min-joo - Imperatriz Yoo



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