Moon Lovers: The Second Chance escrita por Van Vet, Andye


Capítulo 61
Medos e Escolhas


Notas iniciais do capítulo

Hi, darlings!

Olha só como um mês passou rapidinho?!… As férias estavam boas, mas acabaram num piscar de olhos, e agora nós voltamos com foco total para os próximos momentos da fanfic. Ainda temos alguns meses de muito romance, surpresas, chororô e redenção. É tanta coisa boa esperando vocês que só podemos dizer que esse capítulo é uma pequena catapulta para consequências futuras. Apreciem sem moderação.

Ps. Agradecemos de coração quem continuou por aqui relendo capítulos, comentando pela primeira vez, recomendando ou colocando suas impressões em dia. Obrigada, seus lindos!!!

RUMO AOS 900 COMENTÁRIOS ♥



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Jung aguardou muitos dias ansioso para que Gun voltasse a abrir os olhos e falasse com alguma lucidez, que retornasse para o mundo dos vivos, como ele costumava pensar.

Contava vinte e oito dias desde que o irmão dera entrada no hospital e entre estar em coma na UTI, correr risco de morte todos os dias em sua primeira semana no hospital, passar por cirurgias invasivas no mesmo período e retornar a dar alguma esperança aos médicos, havia uma quinzena.

A quinta semana do rapaz já começara no leito hospitalar. Jung estava comemorando que ele finalmente havia sido transferido para o quarto e que as drogas que o mantinham sedado e comatoso pelo período crítico, agora, estavam sendo aliviadas de seu sangue para que ele pudesse retornar.

— Hyung? — Jung chamou o irmão gentilmente ao vê-lo abrir as pálpebras devagar — Você consegue me escutar?

O médico que se incumbira de cuidar do Wang durante todo o período do acidente, um profissional muito bem-qualificado e contratado pelo próprio Hansol para não descuidar da vida do filho, aguardava as reações do seu paciente ao pé da cama.

— Dê tempo a ele, senhor Wang Jung… A medicação o deixa desorientado.

— Sim… — o mais novo concordou apenas observando o irmão se adaptar com a claridade do quarto e se conscientizar de quem ele era.

— Hum… o qu… hum… — Gun tentou falar, mas sua garganta parecia inchada.

O médico contornou a cama e se aproximou pelo outro lado do paciente, informando com tranquilidade, num ritmo pausado:

— Senhor Wang Gun, o senhor sofreu um acidente grave há alguns dias e agora está no hospital. A sedação ainda age sobre seu corpo e sua garganta deve estar sensível devido ao tubo endotraqueal que precisamos colocar no senhor nas últimas semanas.

“Não force nada. Não tente falar se perceber que está muito dolorido. Deixe a sensação de mal-estar vir e passar, e somente quando notar que é possível sem ser incômodo, fale ou se mexa.”

— Ele vai ficar bem? — Jung perguntou ao médico, apreensivo.

— Vai sim — o profissional o tranquilizou — Está vendo, senhor Gun, seu irmão está aqui esperando sua melhora. Descanse, não se force, ele não sairá do seu lado até que melhore.

Gun queria que as palavras saíssem de sua boca com naturalidade, mas uma fraqueza pegajosa não o deixava ficar no comando de seu corpo. Piscando em resposta ao homem desconhecido que lhe falava, voltou a fechar os olhos e dormiu um sono sem sonhos.

Dois dias na frente daquele primeiro sopro de consciência, Gun retornou a despertar, e mais disposto. Dessa vez não havia platéia aguardando seu retorno, o quarto em que se encontrava estava tomado pela penumbra e pelo silêncio. Com cuidado, o pescoço doía e as costas também, o rapaz olhou para o lado e enxergou Jung dormindo todo torto na poltrona de acompanhante.

— Juuung? — chamou o irmão.

— Hã? O que? — o mais novo acordou rapidamente, atordoado no primeiro instante — Gun? O que houve? Ah, você está acordado? — se situou no momento, ficando em pé e alerta em seguida.

— Tenho… s-sede.

— Ah, sim — foi pegar um copo d’água da jarra que estava sobre a mesinha perto da janela, esfregando os olhos para espantar a sonolência — Aqui está… Espere, vou arrumar seu travesseiro… Vamos, tome. Cuidado. O médico disse que os goles precisam ser pequenos, senão você enjoa.

Ele realmente não conseguiu ser capaz de tomar a quantidade de água que sua garganta ressecada queria. Se sentindo tonto, devolveu o copo ao irmão e se acomodou nos travesseiros.

Jung procurou não se impressionar demais ou, ao menos, não deixar transparecer o quanto a aparência de Gun havia se transmutado naquelas semanas.

Do aspecto sagaz e portentoso que o irmão exalava antes da tragédia, quase nada sobrara. O acidente, as lesões e a quase morte fizeram com que o herdeiro emagrecesse dez quilos enquanto sua pele ia ficando pálida e murcha, seu rosto encovado.

— O que… que... aconteceu… comigo? — ele perguntou para o outro depois que a tontura passou — Eu não lembro… de muita coisa…

— Não force, o médico disse. Primeiro você tem que se recuperar.

— Sim, mas… eu quero saber, Jung…

— Humm — ele não queria entrar nos detalhes, não se sentia a pessoa indicada para isso, mas tentou falar o essencial — Você sofreu um acidente feio com a Lamborghini há cinco semanas. O carro deu perda total, Gun. Você chegou perto disso também, mas agora está tudo bem. Todos estão ansiosos aguardando a sua recuperação.

Jung falava rápido demais. A mente de Gun continuava letárgica devido às medicações para controlar suas dores e os anti-inflamatórios para agilizarem sua cura. Deste modo, ele precisou de algum tempo para montar todas as palavras do irmão e se situar no tempo.

Se lembrou que os outros herdeiros haviam descoberto sobre sua traição à empresa e se lembrou da mãe o chamando de bastardo, jogando garrafas em sua direção e o expulsando do apartamento. E, embora aquelas recordações fossem ruins e desagradáveis, algo muito mais palpável o incomodava naquele momento.

— Jung…

— Sim?

— Por que... não estou sentindo minhas pernas?

— Ah, isso… — o irmão parecia nervoso — o médico vai vir conversar com você mais tarde.

— Jung, o que está acontecendo? — no monitor cardíaco instalado ao lado do leito, a máquina começou a acusar agitação e batimentos acelerados no paciente.

— Olha, você deve se acalmar…

— Eu perdi meus movimentos? — Gun não estava conseguindo se manter em paz. A cabeça rodava de novo, a garganta estava mais dolorida do que nunca, os olhos ardiam e Jung simplesmente não sabia como lidar com seu irmão se não fosse com a verdade.

— Calma, tá. Vou chamar o médico.

Gun usou toda sua energia para pegar no pulso do irmão e o puxar de volta para si.

— Por favor, Jung… Me conte a verdade — uma lágrima caiu de seu olho.

— Hyung, você está vivo e isso é o que importa — o garoto argumentou aflito, triste, chateado — Não pense nisso agora.

Jung passou longe da resposta que ele queria. Impaciente, o herdeiro tentou mexer suas pernas mais uma vez. Elas não queriam obedecer seus comandos, inertes debaixo dos lençóis. Era como se não pertencessem ao resto do seu corpo e, para alguém independente como Wang Gun, não existia nada mais desesperador do que se sentir impotente.

Jung contou em todos os dias daquelas duas semanas, desde que Gun acordara, quantas vezes sua mãe fora rejeitada em suas tentativas de entrar no quarto do filho mais velho para visitá-lo. Algo muito sério havia acontecido entre aqueles dois, o mais novo presumia, mas nenhum deles estava disposto a lhe informar o quê. Ele também não fazia questão em saber.

Porém, era uma constante deveras irritante. Jung no meio dos dois. Jung no meio da mãe e do restante de sua família. Jung se equilibrando numa corda bamba para não decepcionar quem lhe havia dado a luz, mas sem entender de onde vinha tamanha raiva nela. E esse movimento que era obrigado a efetuar tantas vezes em meio à sua família começava a cansá-lo.

Naquela manhã, todavia, o rapaz estava animado, ao menos gozando de algum otimismo. Embora estivesse arrastando a cadeira de rodas que carregaria o irmão, Gun conseguira alta médica. Dali para frente ele poderia se tratar em casa e, portanto, estava fora do risco de vida.

Assim, Jung permanecia com seu pensamento positivo sem saber que teria um novo obstáculo para se desenvencilhar em meio a rusga silenciosa da mãe com o irmão, e que ela aconteceria em alguns minutos.

— Bom dia! Cheguei! — exclamou querendo parecer exultante entrando no quarto de hospital onde Gun se recuperara nos últimos dias.

O mais velho não esboçou nenhuma reação para ele. Ele nem sequer moveu um músculo para saudá-lo. O rosto macilento voltado para a janela encarava melancolicamente a luz quente de uma manhã de inverno que já não tinha força e se rendia às temperaturas amenas da primavera.

Seu semblante era triste, vazio e perdido e Jung não sabia lidar com aquela nova fase. O sempre orgulhoso e independente Gun tirou férias e ele não sabia quando retornaria.

— Falei com o médico mais cedo… — o herdeiro mais moço deixou a cadeira de rodas ao lado do leito e se aproximou cauteloso para perto do outro rapaz — Você está de alta médica, não é? Isso é tão bom. Finalmente poderá voltar para casa. Temos duas notícias boas em uma única semana, porque papai também retornou do hospital. Ele está te esperando.

A piora no quadro de saúde de Hansol fora o segundo baque que se abatera sobre a Mansão da Lua no mês anterior. Ao descobrir que seu terceiro filho lutava pela vida após o sério acidente automobilístico, o patriarca padecera terrivelmente de sua condição médica e havia sido internado às pressas outra vez.

Conforme o filho ia convalescendo em um leito, Hansol ia ganhando ânimo no outro. Os dois moribundos chegariam quase juntos à residência dos Wang.

— Como você está se sentindo hoje? — Jung arriscou uma pergunta para ver se tirava o outro da inércia.

— Deixe a cadeira desse lado... — Gun apontou para a sua direita, à altura do tronco — ...que me movo sozinho para ela.

— Nem pensar — foi categórico — O médico disse que você não deve forçar a coluna. Papai vai contratar um fisioterapeuta para te ajudar em casa também. Venha, hoje quem te carrega sou eu — e esticou os braços para pegar o irmão como se pegava uma criança sonolenta na cama.

— Me deixa em paz — Gun resmungou, evitando olhá-lo nos olhos, e empurrou-o para trás, se agarrando nas laterais da cadeira.

De um jeito torto e truculento ele deslizou para o banco, mas acabou percebendo sua péssima ideia ao tomar essa iniciativa solitária.

O colar cervical, limitando ainda mais seus movimentos, e os braços, ridiculamente sem a firmeza de outrora, quase o traíram e fizeram com que se esborrachasse no chão. Jung amparou-o do melhor jeito que pôde, tentando a todo custo não ferir-lhe o orgulho no processo de salvá-lo da queda.

Um clima tenso se instalou entre os dois. Gun parecia ter acabado de engolir um submarino soterrado no deserto e Jung não encontrava a espontaneidade prazerosa que experimentava com os seus outros irmãos, mesmo em momentos constrangedores.

Eles acordaram pelo silêncio e, sem nenhuma palavra, o garoto começou a empurrar a cadeira já imaginando se a cena se repetiria quando precisasse colocá-lo no carro.

— Gun…?

Jung e Gun nem bem haviam cruzado os limites do quarto e se depararam com a figura altiva da mãe os aguardando na saída. Yoon Min-joo caminhou vacilante para suas duas crias, as mãos apertando com força a bolsa contra o peito, o olhar transbordando de expectativa. Gun olhou para o outro lado, engolindo seco, bastante perturbado.

— Eu disse para a senhora dar um tempo a ele, mãe — Jung começou — Esperar ele voltar para casa e…

— Não preciso da sua permissão, Jung. Gun é meu filho e preciso saber se ele está bem… Tenho esse direito.

— Eu sei, mas assim a senhora está sendo intransi…

— Nos deixe a sós, Jung. O nosso assunto é particular — Gun o interrompeu, ordenando. Seu olhar estava intenso e ainda desorientado, contudo suas palavras eram repletas de convicção.

Não havia muito o que fazer. Jung até se sentia aliviado por ter permissão de se afastar daquele conflito, escapando de ter de tomar partido novamente. Assumindo uma expressão de vencido, disse que esperaria perto dos elevadores e deixou-os sozinhos no corredor deserto daquele andar.

— Gun… — Min-joo se aproximou do seu primeiro filho com uma voz carinhosa.

Ele esperou que ela viesse. Esperou que ela se agachasse à sua frente, porque não ergueria o rosto para olhá-la. Deixou que sua mãe tocasse nas suas maçãs descarnadas, resultado de dias a fio, desacordado, sem poder se alimentar, no hospital.

Permitiu também que ela lhe sorrisse, como uma boa mãe sorri para um filho ao revê-lo depois de uma longa viagem pela América. Gun até foi paciente e aguardou que Min-joo desfiasse suas agruras maternas, contando como foram as últimas semanas dela:

— Eu vivi com o coração na mão — confessou — Quando cheguei nesse lugar e vi você pelo vidro da UTI… Todo machucado, seu rosto irreconhecível… Você é meu filhinho. Eu fiquei chocada ao ver meu filhinho naquele estado… Gun… Eu… Achei que ia te perder…

— Mas a senhora está certa... — ele finalmente falou — Você me perdeu.

— Não fale isso. Os médicos disseram que há alguma chance, boas chances, dos seus movimentos voltarem.

— Por que acha que estou me referindo ao fato de não conseguir andar? — rebateu descobrindo que poderia continuar se surpreendendo com o raciocínio demente daquela mulher — Tem chances ainda? Acha mesmo que voltarei ao jogo contra meus irmãos? Acabou para mim aqui — bateu nas pernas, que agora eram dois membros inúteis ocupando lugar no espaço — Mas a senhora não entendeu, imagino. Vou explicar: nem se eu estivesse na minha melhor forma física voltaria para a nossa empreitada. Se eu fizesse isso, tudo seria diferente. Seria mérito meu. Conquista minha. Não sua!

— Filho… — ela pegou em sua mão, afobada. Ele puxou com rapidez, no mesmo instante, como se o toque estivesse em brasas — Você se lembra daquele dia? Achei que tinha esquecido do erro que foi tudo aquilo. Eu e minha língua cretina que não sabe quando parar. Eu estava bêbada…

— Não! Não, não, não, não… A senhora nunca esteve tão verdadeira quanto alí. Pare de me fazer de idiota. Eu não sou mais a criança de cabeça fraca em quem você colocava as ideias malucas que quisesse e manipulava como bem queria…

— O que é isso? Gun, eu nunca te manipulei! Tudo que fiz…

— …foi para voltar para a mansão. Para ser a mulher do meu pai novamente. Quando percebeu que isso não aconteceria, mudou a tática. A senhora não queria dinheiro, jamais precisou das posses dos Wang para viver seu luxo. Você me queria no cargo máximo da empresa para poder provar ao papai e as outras mulheres da vida dele que agora conseguira seu tão sonhado objetivo…

— Quem veio a esse hospital lhe dizer essas asneiras? — Min-joo perguntou, confusa, querendo mudar o foco da conversa o mais depressa possível. Ela não estava conseguindo controlar o trem desgovernado que vinha direto ao seu encontro.

— Eu estou fora do jogo, mamãe. Tive tempo demais para pensar nisso tudo enquanto estava aqui… Agora eu sei quem você é e o que sempre quis de mim.

— Você está enganado! — tentou agarrá-lo novamente. Ele puxou o braço com força ou, pelo menos, no máximo que sua debilidade muscular conseguia para se esquivar — Pare de ser assim. De dizer essas palavras. Gun, você está me machucando. Peças desculpas e vamos esquecer esse mal entendido.

— Engraçado que tenha falado isso, porque a senhora me machucou a vida inteira e eu nunca ouvi suas desculpas.

— Quer que eu peça desculpas? — ela lutava com seu colossal ego — Eu peço então…

— Não sofra por nada, mãe. Quero que nunca mais me procure. Posso estar inválido, mas não sou idiota. Não sou mais seu fantoche…

— Pare com essas palavras. Você não é meu filho dizendo isso.

É a intenção.

— Volte aqui!

Não hoje. Não mais.

Ele pressionou o botão da cadeira preparando-se para sair dali.

— Gun! — Min-joo exclamou estendendo a mão para o rapaz. A mão de unhas vermelhas e anéis caríssimos apenas agarrou o ar. Virando o objeto para o outro lado, ele deu as costas àquela mulher — Não me ignore — ela resistiu, parte atônita, parte desorientada, parte inconformada. Seus olhos lacrimejaram na direção do filho — Olhe para mim, Gun.

Ele continuou o caminho, firme e resistente, lembrando dos últimos momentos terríveis antes do acidente para que tais memórias lhe dessem força em sua decisão. Prosseguiu.

Diante dos elevadores, encontrou Jung atento, aguardando seu retorno. Dali, deixou que o irmão mais novo o conduzisse e nem lutou contra seu orgulho ao chegar o momento de ser carregado para o banco do carro. Seu brio estava apagado, tão diferente daquele dia lindamente ensolarado.

 ***

Aquela já deveria ser a enésima vez que Eujin ligava para Hye desde que os irmãos lhe fizeram entender e refletir sobre a condição da moça e que ela provavelmente seguia para um caminho sem volta, o mesmo que fora destinado à sua irmã.

Esperou apreensivamente que ela aparecesse durante o casamento de Yun Mi, mas ela fraquejou e não o encarou. Desde então, ligava a todo o instante para a jovem. Havia apenas uma certeza em seu coração: precisavam conversar.

Havia decidido não dar atenção aos seus sentimentos e se dedicar exclusivamente aos problemas que sua família enfrentava, mas não conseguiu.

Imaginava como ela estava, suas condições, as palavras de Ha Jin martelando diuturnamente em sua cabeça: “Não deixe ela partir sem mais nem menos. Vá descobrir o que houve. Se as coisas eram verdadeiras como você sentia, sempre tem um motivo. Uma explicação. O tempo nem sempre é o melhor remédio para esse tipo de coisa…

Entre ter a ligação rejeitada, ouvir a mensagem de desligado ou simplesmente aquele toque irritante até a ligação cair, os dedos do herdeiro estavam treinados em “desbloquear” “rediscar” “chamar Nahm Hye” e “desligar” depois de ter a ligação rejeitada.

Em seu íntimo, o que ele queria era, mesmo que uma única vez, olhar nos olhos da “namorada” - afinal, não haviam terminado - e ouvir de seus lábios o que estava acontecendo entre eles, como haviam chegado nessa situação, por que iria se casar e por que não contou para ele antes.

Se tinham de ficar separados, queria poder seguir sua vida livre daquelas questões. Queria livrá-la da culpa de ter mentido também.

Cansado daquela situação, colocou o telefone no bolso da calça depois de mais uma tentativa frustrada, pegou um casaco e saiu convicto de seu novo objetivo.

Enquanto dirigia, Eujin pensava em todos bons momentos que viveu com Hye. Sua mente trabalhou em suas memórias, desde o dia que se conheceram até o momento em que se amaram pela primeira vez, todas as vezes que estiveram juntos, os sorrisos, as alegrias, os pensamentos para um futuro promissor…

Então, de repente, todo o sonho se transformara em um terrível pesadelo. Ele via sua namorada lhe tratando como a um completo estranho depois de tudo o que viveram; ela sequer o fitou e aquilo o corroeu por dentro, como um ferro que se corrói quando é lançado ao ácido.

Nivelando todas as sensações vividas, as descobertas dos últimos meses, o pensamento constante de que a vida é curta demais para se perder tempo com coisas que não valem a pena, ele respirou cansado, aliviado por não ter sido barrado na entrada ao se identificar como Wang, e procurou o carro de Hye, estacionando três ou quatro vagas ao lado da vaga dela.

A empresa, tão imponente quanto a da sua família, em seus muitos andares, era toda espelhada e refletia o céu nublado numa representação real de como sua vida se encontrava naquele momento.

Ansioso, tamborilava os dedos no volante por incontáveis minutos, frustrantes e desesperadores. O relógio nunca estava ao lado de quem esperava, nunca ajudava quem dele precisava.

Quase duas horas depois, Eujin sentiu o coração disparar naquele misto de sensações catárticas: Nahm Hye, em um traje formal, sério e escuro, tão apagada como ele jamais poderia imaginar, e não desejara presenciar, se aproximava de seu carro em passos rápidos e firmes, ele a acompanhando em todo o trajeto de onde estava, observando quando ela passou por trás de seu carro sem atentar para ele. Estava absorta em seu próprio mundo, a chave do carro na mão destravando o automóvel.

— Hye… — ele a chamou saindo rapidamente do carro e, por um breve momento, a jovem imaginou estar ficando louca por vê-lo ali, tão perto de si — Precisamos conversar.

— O que está fazendo aqui, Eujin? — o tom firme disfarçava o abalo que seu coração sentiu ao vê-lo diante de si — Por que continua insistindo?

— Precisamos conversar…

— Não temos nada para conversar.

— Tudo bem se não quer falar agora… Volto amanhã. E depois… E no outro dia também. Não vou descansar enquanto não nos sentarmos, enquanto não ouvir da sua boca tudo o que preciso… Enquanto não olhar em seus olhos e ter a consciência sobre o que está acontecendo.

— Eujin, eu te peço… Por favor, não torne as coisas mais difíceis… — os óculos escuros escondiam a tristeza, e as lágrimas já formadas, de seus olhos.

— Você acha que é fácil saber que a mulher que você ama vai casar e que o noivo não é você? Você acha que eu estou achando fácil ter que conviver com essa sensação de ter sido enganado por todos esse tempo…?

— Eu não te enganei… — a cabeça baixa deixou uma lágrima escorrer por trás dos óculos.

— Então me explica… Por favor, Hye. Eu preciso saber o que está acontecendo. Não me deixa desacreditar sobre tudo o que vivemos… Não quero perder o que construímos…Eu preciso que você me diga que nada disso é o que você deseja. Me diz que você está sendo obrigada a casar, porque eu vou entender, eu vou tentar fazer algo, eu…

— O que você vai fazer, Eujin?

— Eu não sei… Eu não sei, mas eu preciso que você me fale a verdade, por favor, Hye… Ou vou acreditar que tudo o que vivemos foi apenas uma ilusão…

— Não foi uma ilusão…

— Então me fale…

— Não faça alardes — ela pediu, o jovem chamando à atenção dos seguranças à paisana no estacionamento — Entre no carro e me siga.

Eujin obedeceu aquele pedido que mais parecia uma ordem e entrou no seu carro seguindo Nahm Hye sem saber, ao certo, o que estava acontecendo entre os dois, ou para onde estavam indo.

Era tudo mais triste do que imaginou. A expressão de Hye, mesmo sob os óculos escuros, mostrava que ele não era o único que sofria. Sentiu-se mal por não tê-la procurado antes, por ter pensado apenas em si próprio todos aqueles meses.

Por fim, sentados em um café simples não tão longe da empresa, se olhavam intensamente, em total silêncio, enquanto esperavam seus pedidos chegarem à mesa. Se comunicavam naquele fitar: ele lhe pedia a verdade, ela lhe pedia paciência. Finalmente, com a chegada dos seus chás, o contato fora quebrado e a voz de Nahm Hye, finalmente se fez ouvida.

— Minha família e a família Kim são amigas e parceiras há décadas, de muito antes de eu nascer… E como você deve imaginar, fui prometida ao segundo filho da família quando nem mesmo sabia o significado da palavra casamento. Era uma grande aliança para as duas famílias, além de estreitar a relação de amizade e parentesco entre todos os envolvidos.

“De princípio, muito jovem, e bem amiga de Pyo, não imaginei o peso que aquela promessa traria para nós. Quando completei meus treze anos, soube em um jantar que aquele rapaz, que havia crescido comigo e que eu tinha como um parente, quase um irmão, seria meu marido dali há alguns anos.

“Era o meu pai falando para mim naquela noite, o homem que mais amei e respeitei em toda a minha vida. Era o homem que esperava passar para as minhas mãos todo o patrimônio de gerações. O homem que sempre confiou em mim sobre coisas que nenhuma mulher em minha família jamais fora ouvida. Era meu pai… Ele me valorizava e eu não poderia dizer não. Não quando ele esperava tudo aquilo de mim… Não quando ele me permitiu tantas coisas.

“Levamos como uma brincadeira. Tanto eu como Pyo jamais nos vimos como casal, jamais nos desejamos como homem e mulher e, na nossa ingenuidade, acreditamos que, com o passar dos anos, nossos pais entenderiam que não era aquele futuro que queríamos para nós… Que desistiriam daquela ideia e nos deixariam seguir nossos destinos da forma como escolhemos… mas não.

“Conforme envelhecemos, o compromisso tornou-se mais sério. Por vezes, e foram muitas as tentativas, criamos meios de deixar nossa opinião evidente, mas o respeito aos nossos pais, a esperança que colocaram sobre esse casamento, a possibilidade de unir as famílias em definitivo e a alegria que eles demonstravam ao falar sobre o casamento nos fazia desistir no último momento, nos fazia criar desculpas que um novo momento chegaria, que ainda tínhamos tempo…

"Seguimos tentando, dia após dia, encontrar uma forma de falar a verdade, de expor nossos sentimentos, mas as coisas foram se apertando e começamos a nos conformar… Isso até o dia em que te conheci.

“Naquele dia… Eu não queria voltar para casa… Fui em busca de um buraco onde pudesse me enfiar e não precisar sair nunca mais… Meu pai tinha organizado um evento, convidado parentes, a família Kim e depois de um discurso emocionado, falou que aquele era um dos momentos mais felizes de sua vida. Eu estava, oficialmente, noiva de Kim Pyo.

“Não tivemos coragem de dizer não. Nos olhamos e, diante de todos aqueles olhares, apenas concordamos em aceitar aquele destino, crendo que em algum momento poderíamos conversar com nossos pais, que tudo daria certo ou que poderíamos realmente fingir, talvez… mas você me viu… Você me viu quando a única coisa que eu desejava era ser invisível. Você me fez sorrir quando minha alma estava cheia de tristeza e eu não consegui te dizer não…

“Pensamos em acabar com tudo de uma vez. Contei a Pyo sobre o que acontecia entre nós, sobre meus sentimentos, e ele me apoiou na ideia. Nos preparamos, esperamos o momento certo e, em um jantar marcado entre nossos pais, decidimos não adiar mais… Mas tudo deu errado novamente.

“Os pais de Pyo nos contaram, animados, que haviam comprado ações da Nahm Auto e meus pais estavam animadíssimos por mais esse vínculo estreitado. Disseram que já eram quase irmãos, que deveriam começar a participar mais ativamente das coisas da família.

“Eu não suportei mais aquilo… Cada vez me sentindo mais acuada, mais impotente. Pyo me acompanhou, me perguntou o que faríamos e eu disse para voltarmos lá e contarmos tudo, mas eu fraquejei. Resolvi que te contaria a verdade, mas os dias se passaram e eu não consegui, simplesmente não conseguia olhar para você e te deixar ir.

“E eu não sei o motivo… que força foi aquela que me fez te dar meu número… Não sei o motivo, não sei, mas eu desejei te ver de novo… E de novo… E eu te peço perdão por isso… Por não ter te dito não desde o primeiro momento. Por não ter sido sincera com você, eu… só não queria te perder…

“Eu… eu queria poder viver boas emoções… só mais uma vez… antes de tudo o que ia acontecer. Eu fui egoísta, eu sei, mas nunca te enganei sobre meus sentimentos. Nunca fui mentirosa quando te falei sobre o que sentia… Conseguia ser eu mesma quando estava com você e… isso foi incrível.”

— Você precisa parar com tudo isso.

— Não posso… Não agora.

— E quando será? Quando casarem? Quando tiverem filhos?

— Não posso… Meu pai…

— Não, Hye. Não aceito essa justificativa. Não aceito você estar acabando com o nosso relacionamento porque seu pai quer que você case com esse cara. Quantas vezes você me falou que eu precisava dizer não ao meu pai? Quantas vezes você me disse para lutar pelos meus sonhos e fazer o que eu desejava? Quantas vezes, Hye? Quantas vezes você disse que me apoiaria? Que ficaria comigo e iria me ajudar a superar?

— E quantas vezes você fez o que eu disse? — ela o focou imponente. As bebidas esquecidas sobre a mesa — Quantas vezes você se posicionou diante da sua família e fez o que o seu coração dizia? Quantas vezes, Eujin? Como você pode me dizer tudo isso se nunca teve coragem de fazer o mesmo?

— Mas você não pode se casar… Você não pode  — os olhos dele estavam marejados, a tristeza e a impotência reveladas, as mãos despenteando os cabelos em desespero — Podemos dar um jeito… Precisamos pensar em alguma coisa. Você não pode aceitar…

— Eujin…

— E nós dois? Como ficamos, Hye? — ela desviou os olhos dos dele para manter-se sã — O que acontece com a gente?

— Lembra do ditado do bolinho de arroz na pintura?

— Não… — Eujin negava veementemente com a cabeça — Não é assim que as coisas são…

— É exatamente essa a nossa situação nesse momento… Tão impossível quanto comer os bolinhos da pintura.

— Você está… desistindo de nós dois?

— O que eu sinto por você é forte demais para simplesmente responder a isso…

— Então desista do casamento… Se negue… Negue se casar com outro homem que não seja eu e…

— Desista…

— O que?

— Diga ao seu pai que não vai continuar na empresa, que vai seguir seus sonhos…

— Hye… minha família não está bem… estamos com problemas…Meu pai, meu irmão… não posso…

— Se liberte de tudo isso e eu me libertarei também. Vivemos a mesma situação, Eujin. Estamos presos no que nossos pais nos acorrentaram.

— Mas… eu…

— Vamos seguir juntos, Eujin… Livres.

— Hye…

— O casamento é em cinco meses… E eu vou esperar por você até lá.

 ***


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Notas finais do capítulo

Glossário:

Concubina Oh - Nyeo Hin Hee
Hae Soo - Go Ha Jin
Hwangbo Yeon-hwa - Wang Yun Mi
Imperatriz Hwangbo - Woo Ah Ra
Ji Eun Tak (OC) - 4ª esposa de Wang Hansol
Khan Mi-Ok (OC)- amiga de Ha Jin
Lady Hae - Kim Na Na
Li Chang Ru (OC) - 1ª esposa de Wang Hansol
Park Soon-duk - Doh Hea
Park Soo-kyung - Doh Yoseob
Park Sun Hee (OC) - Esposa de Sook
Sung Ryung (OC) - empregada/amiga de Ha Jin
Taejo - Wang Hansol
Wang Baek Ah - Wang Eujin
Wang Eun - Wang Sun
Wang Yo - Wang Gun
Wang Ha Na - filha de Wang Sook
Wang Jung - Wang Jung
Wang Mu - Wang Sook
Wang So - Wang Shin
Wang Wook - Wang Taeyang
Yoon Min-joo - Imperatriz Yoo



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