Moon Lovers: The Second Chance escrita por Van Vet, Andye


Capítulo 47
Quem vê de Fora vê Melhor


Notas iniciais do capítulo

Olá!!! o/

Pausinha do dia para ler Moon Lovers? Sim ou com certeza?!
Antes de vocês embarcarem na leitura, dois agradecimentos grandes. Primeiro, todo mundo que veio comentar os badalados acontecimentos do capítulo anterior... muitas risadas garantidas para essas autoras aqui, rs. Segundo, a décima recomendação, a da Srta. Gre Cha. Já sabe, né? Obrigada é pouco! ♥

Capítulo de hoje segue com passagens divertidas, típicas da calmaria antes da próxima tempestade... ~sorriso conspiratório.

Ótima leitura e semana, beijos! o/



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Taeyang resolveu aproveitar que, por algum motivo curioso, praticamente todos os irmãos haviam saído naquele domingo e enviou uma mensagem para um encontro secreto. Mesmo que tivesse visto Na Na na tarde anterior, o desejo crescente que tinha era o de estar sempre ao lado dela. Agora estava vivenciando aquele novo sentimento: a saudade.

Há muito tempo ele não saboreava aquela sensação de liberdade, imprudência e, por que não dizer, aventura. Na verdade, se ele pensasse bem, talvez nem tenha tido essas experiências insanas, geralmente vivenciadas durante a adolescência, mas, agora, ele as achava realmente atraentes, ainda mais por compartilhá-las com aquela mulher tão maravilhosa que lhe brindava com um sorriso travesso sempre que se encontravam.

Na Na tinha uma expressão tão juvenil, tão similar a Na Na que ele conheceu anos antes. O semblante entristecido, assustado, que ela adquiriu com o tempo, durante aquele relacionamento abusivo, estava cada vez mais partindo para o esquecimento.

— Ainda me sinto constrangida em te obrigar a fazer isso — ela falou assim que entraram no restaurante.

O local era bem distante de onde usualmente poderiam ir, próximo à costa de Busan. Haviam passado a tarde fria se esquentando em um hotel que tinha vista para o mar e, reclusos em seu próprio mundo, haviam decidido evitar serem vistos juntos, temendo que boatos pudessem ser levantados e que a jovem, ainda emocionalmente debilitada, viesse a fraquejar sendo atingida.

— Você não tem que se sentir constrangida. Não está me obrigando a nada. Até estou gostando dessa sensação… Quebrando as regras. Sendo rebelde…

Taeyang respondeu e a abraçou, sendo observados por alguns clientes do local, a maioria sorrindo para eles, provavelmente achando a cena do casal que se abraçava bonita aos olhos.

— Mesa para dois? — uma moça gentil se aproximou deles e os levou até uma mesa próximo ao cantor da noite, lhes entregando o cardápio.

Era um restaurante pequeno, simples e aconchegante. A música ao vivo era envolvente e a baixa luminosidade dava um ar romântico ao ambiente, ou eles, em seu romance, viam beleza em todos os locais que seus olhos focavam.

— Acho que frutos do mar seriam uma boa pedida — ele falou para ela, sentado ao seu lado, o cardápio sobre a mesa, sendo consultado pelos dois.

— Concordo… Mas tenho uma condição — ela falou e ele a olhou com curiosidade — Eu pago a conta.

— Na Na… Não precisa se preocupar com isso. Eu…

— Shiiiu — ela contestou colocando o indicador sobre seus lábios — Sem reclamações. Sabia que eu tenho um bom emprego? Trabalho para uma grande empresa automotiva e posso arcar com um jantar para meu namorado…

Era a primeira vez que ela falava daquela forma. Os encontros secretos já duravam duas semanas, e mesmo que já tivessem cruzado todas as linhas de intimidade possíveis para um casal, Taeyang mantinha-se contido no que se referia ao seu relacionamento. Embora seu desejo fosse gritar aos quatro cantos o quanto estava apaixonado, preferia que ela ditasse o tempo e o caminho que os dois deveriam seguir.

— Como você quiser, então… — ele lhe deu um selinho, encerrando a conversa e concedendo a Na Na maior liberdade em se expressar. Ele não a forçaria, não perguntaria. Era o seu tempo, e ele respeitaria.

— Então vou pedir uma barca de frutos do mar e dois sucos…

— Por que não soju? — o rapaz questionou focado no cardápio.

— Porque você vai dirigir de volta para nossas casas, esqueceu?

— Ah, não… Pensei que íamos passar a noite aqui — fez bico.

— Eu adoraria, mas não é tão fácil… Amanhã já é segunda também.

— Eu sei — ele refreou-se temendo magoá-la — Eu só…

— Que desculpa eu poderia dar para meus pais, afinal? — ele se interrompeu estranhando a expressão travessa que ela tinha — Será que eu poderia pedir esse grande favor à Ha Jin?

— Na Na… Está falando sério?

— Claro que sim.

— Não… Melhor jantarmos e voltarmos para casa. Não quero que se prejudique por minha causa…

— Ué… E onde está o tal rebelde sem causa de uns dez minutos atrás?

Ela perguntou e os dois sorriram cogitando aquela possibilidade, vivenciando novas sensações. Esperaram o pedido ser trazido entre abraços reconfortantes, toques de mãos e beijos carinhosos, trocando juras silenciosas entre si a cada novo olhar.

— É realmente saboroso — Taeyang falou pela quarta ou quinta vez desde que começaram a jantar — Você é muito boa em tudo, mesmo… Até mesmo na escolha da comida! Estou encantado.

— Pare com esses elogios, rapaz — ela rebateu brincalhona — Sei que está dizendo essas coisas só para me conquistar.

— Não… Não é só por isso — admitiu — É realmente muito bom. Vamos… Prove esse…

— Muito bom mesmo… — falou de boca cheia, a mão diante dos lábios, o olhar brilhante.

— Sabe… — Taeyang inspirou profundamente antes de prosseguir, apoiando os hashis sobre o descanso de mesa, olhando para ela que o encarou de volta — Você tem olhos encantadores…

— Obrigada… — pareceu sem graça.

— E o seu sorriso é contagiante… — continuou aquelas palavras olhando-a profundamente — Por favor, Na Na… Não deixe que o seu sorriso se apague novamente nem permita que lágrimas despontem dos seus olhos. Eu não seria capaz de suportar.

— Isso não vai acontecer — respondeu convicta — Você disse que estaria sempre ao meu lado e eu confio em você. Sei que não vai permitir que nada disso aconteça.

— Sim… Eu não vou. Não vou me afastar novamente de você. Não quero deixar de ver o brilho de seus olhos… Quero poder dormir e acordar ao seu lado por um longo tempo… Quero dividir todos os momentos de minha vida com você…

— Eu também… Eu também quero. Na verdade, eu sempre quis… Desde que te conheci na empresa.

— Então temos um trato?

— Sim. E eu vou cumprir minha parte.

— Digo o mesmo.

— Obrigada, Taeyang. Obrigada por tudo o que tem feito por mim, por sua paciência e compreensão.

— Não me agradeça. Eu é que sou grato por ter você ao meu lado. Isso me deixa extremamente feliz.

Um tempo depois, o casal responsável por suspiros e admiração naquele restaurante se levantou e rumou até o caixa, Na Na efetuando o pagamento sob o olhar injustiçado de Taeyang que, cumprindo sua palavra, nada falou.

Seguiram de mãos dadas por entre as mesas, a maioria ocupadas por outros casais e famílias, em direção à saída. Era a hora de irem embora e de desmontarem aquele momento que existia apenas entre os dois.

— O que houve? — Na Na olhou confusa para Taeyang que havia parado diante da porta do restaurante, a mão segurando a dela com mais firmeza que o necessário — Taeyang, minha mão? O que você tem?

— Vamos… Venha — ele falou sem lhe dizer nada, puxando a garota pelo caminho contrário ao que fizeram há pouco, indo para uma mesa distante, próximo de onde estavam anteriormente. Os casais próximos olhando para eles com estranhamento.

— Taeyang, o que está acontecendo? Por que está assim?

Mas Taeyang não respondeu. Sentado onde estava, Na Na ao seu lado, ele apenas fez um leve meneio com a cabeça indicando a porta de entrada. A jovem, olhando na mesma direção, sentiu um solavanco no estômago que pareceu congelar em seguida.

— O que ele está fazendo aqui?

A voz da garota, sussurrada em sua pergunta, explanou o questionamento que Taeyang tinha desde que avistara o irmão. Eujin, muito bem vestido com um traje de frio, cruzava a porta de entrada de braços dados com uma garota ao seu lado, tão bela quanto ele.

— O que vamos fazer?

— Algum problema? — a moça que os atendeu na entrada perguntou curiosa.

— Aquele casal… — Taeyang falou ansioso — Eles não podem nos ver.

— O que está acontecendo aqui? — a moça rebateu, preocupada — Por acaso isso é algum tipo de adultério? Senhor, eu não posso…

— Não… Não! Não é nada disso — ele rebateu, Na Na de olhos arregalados pelo pensamento da jovem — Aquele rapaz é meu irmão. Por favor, não deixe que ele nos veja.

— Por que ele não poderia ver?

— Namoramos em segredo — Na Na foi enfática.

— É algo como nos dramas? Suas famílias não permitem?

— Não… É muito complicado para explicar agora — Taeyang continuou, aflito — Não deixe que nos vejam.

— Mas… Não sei o que poderia fazer.

— Apenas não deixe — Na Na enfatizou.

—Vou tentar alguma coisa, mas não garanto muita coisa… — a jovem se distanciou olhando assustada para aquele casal recolhido.

Enquanto observavam a atendente se distanciar em direção ao casal recém chegado, Taeyang e Na Na se recolhiam o máximo que podiam na mesa quase por trás do balcão de atendimento, ambos de olhos abertos, tensos com o que aconteceria em seguida.

— Por que quis vir para cá, Eujin? Eu ainda não entendi muito bem — Hye perguntou mais uma vez. Não parecia chateada, apenas curiosa.

— Eu não estava com vontade de ficar na cidade. Eu vim aqui algumas vezes com papai e meus irmãos… Eu gosto do lugar… Ouça — ele fez um gesto levantando o indicador — Ouça a melodia perfeita das ondas do mar quebrando nas pedras…

— Acho que tenho o namorado mais romântico que poderia querer, afinal — a bela moça lhe deu um beijo

— Mesa para dois? — a atendente, levemente ansiosa, se aproximou.

— Ah… Sim, por favor — Eujin tomou a frente da conversa.

— Por aqui — a moça começou indo para um lado oposto, mas Eujin não a seguiu.

— Gostaria de ficar daquele lado — ele comentou gentil, apontado para o local onde os outros dois, ainda mais retraídos, começaram a se abaixar por trás da mesa.

— Oh… Não, senhor — a moça começou, nervosa — Aquelas mesas estão todas ocupadas…

— Mas tem uma vaga ali… — Eujin continuou, mirando exatamente a mesa que o irmão usava como proteção.

— Aquela também, senhor. Está reservada — a jovem continuou, tensão presente em sua voz — Mas temos mesas disponíveis desse outro lado…

— Mas…

— Eujin… — Hye interrompeu a pequena discussão — Vamos simplesmente nos sentar. Não importa o local, o que importa é que estamos aqui, tudo bem?

— Sim… Vamos então.

— Me sigam, por favor.

— O que vamos fazer? O que vamos fazer? O que vamos fazer? O que vamos fazer? — Na Na continuava repetindo aquela pergunta como um mantra, ambos sentados ao chão, por trás da pequena mesa vazia do restaura — O que vamos fazer?

— Não sei… Mas precisamos sair daqui logo.

— Como? Se você aparecer caminhando para a porta, Eujin vai te ver… — ela continuou espreitando por trás da toalha que cobria o pequeno móvel — Ele sentou de frente para cá… Aishhh! Por que ele veio logo para cá?

— Nosso pai nos trouxe muitas vezes para cá quando éramos mais novos — Taeyang explicava, sentado no chão, encostado na parede — Mas é muita coincidência que Eujin tenha vindo justamente hoje.

— Como vamos embora? — a pergunta mais tensa sendo feita.

— Não sei… Vamos pensar em algo.

— Senhor… — a moça havia voltado, sentou-se em uma cadeira, à mesa, para conversar sem levantar suspeitas — O que está acontecendo aqui?

— Moça… Esse rapaz é o meu namorado — Na Na começou a explicar e Taeyang, feliz por ter recebido aquela nomenclatura novamente, quase esqueceu do problema que vivenciavam — E aquele rapaz é irmão dele.

— E qual o problema de não verem vocês?

— Eu terminei um relacionamento de alguns anos faz pouco tempo e ninguém sabe que estamos namorando… Quis me preservar por enquanto, entende?

— Aigoo… Entendo sim — a moça sorriu para os dois, totalmente complacente — Com todo o respeito, não sei quem era seu ex, mas acho que a troca foi bem mais acertada dessa vez…

Na Na arregalou os olhos, espantada que tivesse ouvido aquele tipo de comentário. Taeyang, sentindo a face esquentar, serrou os lábios para que não sorrisse, completamente envergonhado daquela situação. A moça continuou.

— … E a julgar por aquele outro irmão que está lá dentro, parece que a família é realmente muito bonita… O senhor não teria um irmão solteiro para trazer aqui e me apresentar?

Questionou. Na Na não conseguiu controlar os lábios, querendo rir. Taeyang, com a face vermelha de constrangimento, se aproximou da jovem, um desejo incontrolável de gargalhar.

— Tenho mais quatro irmãos solteiros — se divertiu ainda mais com a cara que a jovem atendente lhe fez — Um deles eu realmente não aconselho. Dos outros três, um deles acredito estar interessado em alguém, mas não tenho certeza. De toda forma, tenho ainda dois irmãos que posso te apresentar. Acho que vocês devem ter a mesma idade.

— E todos são assim… como você e aquele lá? — Na Na, espantada com tudo aquilo, olhava de um para o outro, incrédula que estivesse ouvindo aquela conversa.

— Somos um tanto diferentes… Mas acho que sim.

— O que você acha? — a mais nova perguntou para Na Na, pega de surpresa naquele questionamento — São bonitos, os outros irmãos?

— Humm… Eu diria que… sim.

— Ótimo. Vou ajudar vocês — a moça sorriu para os dois e se levantou, pegando uma bandeja sobre o balcão e a levando até a mesa de Eujin. Na volta, atendeu mais algumas pessoas e, discretamente, as pessoas mais próximas acompanhando a movimentação, se encaminhou ao casal escondido — Vou tirar vocês pela saída dos funcionários, pela cozinha. Vão rápido e não deixem que meu pai veja vocês. Venham.

A jovem caminhou até a parte de trás do balcão onde os dois estavam escondidos. Abriu uma portinhola e, a segurando, permitiu que os dois engatinhassem apressados para trás do móvel. Ali, ela os levou por um corredor, passaram pela cozinha onde um homem e mais dois rapazes cozinhavam tão concentrados que mal os perceberam. Indicou a porta, servindo de “escudo” para que os dois corressem por trás dela.

— O que foi, Soo-Ra? — o homem perguntou percebendo o movimento.

— Oh… Nada, papai. Só estou indo lá fora tomar um ar — desconversou.

— Não fique muito tempo lá fora. Está frio.

— Sim, papai… Só vou respirar um pouco. Já entro.

E se apressou, indo encontrar o casal que a esperava do lado de fora do restaurante. Na Na, aparentemente mais tranquila, respirava aliviada. Taeyang lhe abraçando, esperando a jovem.

— Muito obrigada por sua ajuda, moça! — Na Na a abraçou assim que ela saiu — Não sabe como nos ajudou. Muito obrigada!

— Sim. É verdade — Taeyang continuou — Muito obrigado por sua ajuda.

— Não tem problema…

— Qual o seu nome? — Na Na perguntou. Agora percebia o quanto ela era jovem. Deveria ter, no máximo, vinte anos.

— Park Soo-Ra.

— Obrigada, Park Soo-Ra — Taeyang agradeceu novamente.

— Nada de agradecimentos… Só escolham melhor o lugar onde namoram e… Você — apontou para Taeyang — Vou esperar que volte e me apresente os seus irmãos.

— Sim… Não se preocupe.

E, saindo, os dois foram discretamente até o carro de Taeyang. Eujin, curiosamente, havia estacionado muito perto dele. Entraram discretamente e, aliviados, deram partida, saindo daquela enrascada e voltando, debaixo de muitas gargalhadas, para casa.

Mais tarde, enquanto lia um livro na sala de visitas, Taeyang, relaxado com um moletom confortável, viu Eujin voltar, ainda trajado em suas belas roupas, corado do frio que fazia nas ruas de Busan.

— Uou… Estou cansado — o mais novo comentou, se jogando em uma das poltronas da casa, os pés sendo apoiados sobre a mesa de centro.

— Por que? — Taeyang, por trás de seus óculos de grau, aparentou desconhecimento dos fatos ocorridos mais cedo.

— Ah!!! — continuou, espreguiçando-se, os olhos fechados — Dei uma saída. Estou namorando, sabe?

— Sério? — o mais velho fechou o livro e tirou os óculos, fitando o irmão — Fico feliz por você. Tenho certeza que é uma boa garota.

— Ah… Ela é sim. Linda também.

— E quando vamos conhecê-la?

— Acho que… Muito em breve. Quero apresentá-la para todos. Acho que, agora, estou com a pessoa certa.

— Muito bem… — Taeyang sorriu para a animação de Eujin — Então teremos um casamento em breve?

— Ah… Não. Ainda somos jovens demais para isso… Mas acho que é o que eu quero, afinal.

— Torço por sua felicidade.

— Obrigado, irmão — Eujin continuou em seguida, mudando o tom de animado para especulador — Quer saber de uma coisa estranha?

— O que?

— Eu fui com ela naquele restaurante que o papai sempre nos levava, na costa, lembra?

— Hmmm… Sim, sei qual é… — o mais velho foi evasivo, levemente nervoso.

— Você tem ido lá? — Eujin continuou, atento ao irmão.

— Não recentemente, por que? — mentiu no seu mais perfeito teatro.

— Hoje eu vi um carro igualzinho ao que você usa na frente do restaurante… Mesma cor, mesma marca… Acho que até a placa era a mesma.

— Não acho que era igual ao meu… — Taeyang, ansioso, justificou — Estranho que tenha se confundido assim.

— Não… Não mesmo. Era idêntico ao seu. Não acho que seja normal para aquele lugar ter clientes com um SUV azul royal na porta.

— Mas não existe um único por aqui, não é mesmo? — Taeyang continuou, não sabia ele, mas o sangue se esvaia de sua face.

— Hmm… É verdade. Pode ser isso mesmo, uma coincidência da vida — concluiu e se levantou, espreguiçando-se e caminhando para o corredor dos quartos — Vou dormir mais cedo hoje. Estou realmente morto. Ah… Taeyang — o mais velho se virou para encará-lo — Da próxima vez, vocês não precisam se esconder atrás da mesa. Imagino que deve ter sido bem desconfortável fugir do restaurante daquele jeito, embora acho que esse tipo de diversão é bem-vinda para pessoas tão sérias como vocês dois. No futuro, só precisam acenar e dar um tchau, ou podem se aproximar e jantar conosco. Seria um prazer…

— Oh… Eu… Eujin…

— Seu segredo está bem guardado, irmão — piscou o olho e fez um sinal de positivo — Boa noite!

***

Ela seguia firme rumo ao seu objetivo. Nem sabia por que ainda continuava com aquilo, mas permanecia. Sorria, era gentil e amável, mesmo assim Jung parecia não notá-la, ao menos era no que ela acreditava.

Independente de seus pensamentos negativistas, tentava seguir plenamente confiante. Já fazia um bom tempo que eles se falavam, que se conheciam e ele, aparentemente, estava evitando falar de Ha Jin, embora ela tivesse certeza que ainda pensava nela.

Cruzou as portas da academia de uma vez. Já não estava tão tímida quanto da primeira vez nem se deixava intimidar pelas colegas de aula. De queixo erguido e peito estufado, se valia da proximidade que tinha com o professor e, além de ter mais da sua atenção, ainda aproveitava para irritar as outras.

Quando entrou na sala onde tinha as aulas, Jung, como sempre, estava sendo bombardeado de doçuras e encantos daquelas mulheres. Ela poderia ser feliz e agradecer a todos os deuses que conhecia por ele ser um rapaz tão bondoso e inocente. Ela, porém, tinha plena convicção de que nada do que aquelas mulheres faziam ou falavam era simplesmente por bondade ou aprendizado. Elas queriam ter qualquer tipo de oportunidade com ele, mesmo que tivessem que passar por cima umas das outras para isso.

Ela seguia resoluta. Observou o bando por alguns instantes se dando conta que elas não estavam para brincadeiras. Além das duas ahjumma que tinham idade para serem mães dele, mais três ou quatro jovens que aparentavam ter sua idade pareciam tentar abrir o terreno até encontrar um pouco da atenção do professor.

Caminhou sabendo que seria alvo de pensamentos negativos e insultos por ser a causadora do fim daquela balbúrdia em torno do Wang lutador. E foi exatamente o que aconteceu: Assim que a viu, Jung liberou-se daquelas urubus e lhe ofereceu um sorriso amplo de boas-vindas, como fazia sempre que seus olhos encontravam com os dele. Também era ela que o esperava ao final da aula, era para ela que ele oferecia carona e lhe deixava na porta de sua casa todas as noites em que aparecia nas aulas.

— Mi Ok — Jung chamou assim que a aula terminou — Me espera um pouco.

Novamente, algumas das alunas olharam para ela com aquele despeito que ela já se acostumara a receber. Se sentia convencida por isso, por ser a propiciadora daquela irritação, e as olhava altiva, certa do grau de intimidade que possuía com o desejado e que nenhuma delas, certamente, teria algum dia.

Mi Ok não precisava de nenhum esforço para que o jovem professor a procurasse. Ela não se insinuava ou ficava gracejando com ele nas horas vagas. Ela apenas era ela mesma, sem esforços ou exageros e, em resposta, ele vinha até ela por conta própria. Era certo que não pelos motivos que ela gostaria, mas as outras não precisavam saber desse detalhe… Não enquanto pudesse omitir.

— Está indo para casa agora? — perguntou se aproximando após se desvencilhar das outras alunas.

— Estou sim… A propósito, a aula de hoje foi muito boa. Você é um excelente professor. Poderia seguir carreira.

— Agradeço, mas isso é porque tenho alunas dedicadas como você — retribuiu o elogio e ela se desmanchou por dentro — Posso te dar uma carona?

— Hmmm… Não vai te atrapalhar? — perguntou naquele jogo de interações que criaram.

— Claro que não. Você sabe que não me atrapalha. Não gosto de pensar que está voltando para casa sozinha.

— Você tem várias alunas voltando sozinhas depois da aula…

— Mas nenhuma delas é Khan Mi Ok — ele respondeu piscando o olho e ela, perdida em seus sonhos românticos, exultou — Me espera. Eu volto em dez minutos.  

Antes de ser deixada em casa, Mi Ok foi levada para a praça do bairro onde geralmente os dois conversavam sobre o dia. Era naquela praça onde eles desabafavam seus problemas um com o outro, onde ouviam conselhos e se conheciam enquanto comiam alguma coisa preparada na rua. Era ali que a relação entre os dois se tornava mais próxima, mais íntima.

A jovem, a cada dia mais apaixonada, ouvia atentamente as decepções do herdeiro, lhe dizia suas opiniões e sentia constantemente aquele desejo incontrolável de abraçá-lo. Jung, que nunca tivera uma amizade tão forte com uma garota, estranhava se sentir tão à vontade com ela, a sua confiança e desejo de estar na sua companhia pelo tempo que fosse possível.

Quando terminaram seus soondae, Mi Ok usando a jaqueta do rapaz, rumaram para o carro, ambos com aquela sensação de não querer ir tão cedo, mas sabendo que deveriam.

— Você vai viajar com sua família no Natal? — Jung perguntou enquanto dirigia, curioso sobre a rotina da moça.

— Nada… Você acha que tenho tempo? — respondeu conformada — A ISOI vai realizar um evento nessas próximas semanas. Está todo mundo louco na nossa loja. Há alguns meses participamos no evento sobre Goryeo…

— Ah… Você falou uma vez. Foi no museu. Onde será dessa vez?

— Não sei ainda, mas já está dando trabalho… Jung — ela lhe deu um olhar maroto,  o rapaz sorria ao volante pela expressão travessa que ela assumiu — Bem que você podia conversar com a sua cunhada, eim… Ou com o seu irmão e descobrir onde vamos desta vez…

— Acha mesmo que tenho esse poder? — ele respondeu brincalhão, atento à direção — Não consigo convencer ninguém de nada. Não tenho charme suficiente para isso… Deveria pedir a Eujin. Ele sempre se dá bem com essas coisas.

— Não… Você está enganado.

— Sobre o que?

— Você tem charme suficiente para o que quiser… — ele a olhou rapidamente, em silêncio, confuso e impressionado, fazendo a curva que daria na frente da casa dela.

— Chegamos — falou segundos depois, sem saber como conduzir a conversa depois daquelas palavras. Mi Ok, de bochechas vermelhas, estava atenta ao movimento que vinha de sua casa.

— O que está acontecendo? — se perguntou levemente tensa, saindo do carro.

— Ah… Mi Ok — o rapaz que vinha correndo da casa de Mi Ok parecia alterado. Jung saiu do carro em seguida, preocupado — Papai está sentindo uma dor muito forte no braço esquerdo. Ele já voltou do trabalho assim, mas está reclamando demais agora. Vou na casa do vizinho pedir o carro emprestado.

— Hmmm… Não precisa. Eu posso levá-lo — Jung se ofereceu e foi, finalmente, notado pelo irmão mais velho da moça.

— Quem é você? — um olhar inquisidor fez com que o rapaz se intimidasse levemente — Por que está aqui com a minha irmã? De quem é esse casaco que está usando, Mi Ok?

— Oh… Boa noite — saudou com uma breve vênia — Meu nome é Wang Jung. Eu sou amigo da Mi Ok…

— Ele é o professor de defesa pessoal e meu amigo. Ha Jin trabalha na casa dele e…

— Ah… o da mansão… — foi olhado de alto a baixo, incomodando-se com aquele ar de desprezo — Não pense que o fato de ser rico te dá o direito de ficar aqui com a minha irmã sem que nossa família saiba. Isso é desrespeitoso. Se é um homem que honra seu nome, entre e peça a permissão do nosso pai…

Oppa, por favor — Mi Ok se exasperou, envergonhada — Ele é meu amigo. Não é nada disso do que está pensando.

— Não estou desrespeitando Mi Ok, hyung. Só a acompanhei para que não voltasse sozinha da academia a essa hora da noite — Jung se adiantou nervoso.

— Não quero saber de suas explicações. Converso com você depois, mas já que está aqui, de toda forma, leve papai ao hospital. Vou avisar para ele. Você — se dirigindo a Jung — espere aqui. Mi Ok, venha comigo…

Oppa… Ele é meu amigo…

— Depois conversamos, garota. Venha explicar que ele vai levar papai…

— Aish… Você é tão irritante!

Jung observou os dois irmãos voltarem para a casa com um misto estranho de sensações. Primeiro, se perguntou o motivo de ter oferecido carona para pessoas que não conhecia, então justificou-se por serem familiares de Mi Ok. Em segundo, havia achado esquisito e, ao mesmo tempo, divertido ter sido confundido como namorado da moça pelo irmão mais velho dela. Ela estava envergonhada por isso e havia ficado muito fofa assim, o que o levava para a terceira questão: Por que estava achando a amiga sempre tão “fofa” nos últimos dias?

Alguns minutos depois, ainda pensando sobre as eventuais respostas aos seus questionamentos, Mi Ok, vestida de um novo casaco e com o do rapaz nas mãos, o irmão e um casal de mais idade saíram da casa. A expressão dela foi suficiente para que ele deixasse as dúvidas de lado e focasse na moça, claramente constrangida com tudo aquilo, parecendo querer enfiar a cabeça na terra e sumir. Se controlou para não sorrir. Uma vontade repentina de se aproximar dela.

— Jung, por favor, me desculpe — sussurrou quando se aproximaram, lhe entregando o casaco.

— Então é você o namorado da minha filha? — o senhor mais velho perguntou assim que seus olhares se encontraram.

— Papai!!! Por favor. Eu já expliquei — ela parecia em desespero, ele se divertia com toda confusão.

— Boa noite, senhor — Jung, se curvando, se apresentou mais uma vez, estranhando não ter ficado chateado com toda aquela especulação — Meu nome é Wang Jung, eu sou…

— Já sei o seu nome, fedelho… Não precisa repetir. Han Ok falou que você mora na casa onde a menina Ha Jin trabalha. Não pense que a sua posição lhe dará passe livre para a minha casa… — os olhares dos dois jovens amigos se encontraram novamente, ela pediu desculpas apenas movimentando os lábios, claramente constrangida — … Mi Ok é uma menina de família e as coisas têm que estarem de acordo com isso.

— Por que não vem nos visitar mais cedo, um outro dia, para conversarmos mais calmamente? — a senhora interrompeu o marido depois de um suspiro — Podemos jantar juntos se preferir.

— Seria um prazer, senhora — respondeu sorrindo, porém levemente atordoado — Mas eu não…

— Não quero a minha filha chegando tarde em casa, está ouvindo? — o mais velho continuou quase esbravejando, o dedo em riste para o rapaz — Han Ok nunca chega mais tarde que dez horas da casa da namorada…

— Mas ainda nem são nove horas, homem — a senhora interrompeu novamente.

— E por que não entraram quando chegaram? — ele perguntou para a mulher, carrancudo — O que faziam aqui fora longe das nossas vistas?

— Papai… seu braço… Vamos ao hospital de uma vez! — Mi Ok interrompeu, envergonhada demais para continuar ali. Os vizinhos observando toda movimentação.

— Sim, vamos de uma vez — a esposa concordou com a filha e apoiando o marido, se encaminhou até o carro, os outros a seguindo.

Jung, com um toque na trava da chave, acionou as portas do carro, que abriram para cima, chamando a atenção dos outros, provocando susto nos dois mais velhos e admiração por trás de um sorriso encantado do irmão de Mi Ok. Essa, constrangida demais com tudo o que estava vivenciando, só queria terminar com aquilo de uma vez e morrer em seguida.

— Dirija com cuidado, rapaz… Eu estou de olho em você — o homem falou ainda assustado com aquela tecnologia, entrando em seguida no BMW laranja de Jung, sua esposa indo depois.

— Eu vou na frente — Han Ok olhou astuto para a irmã, a mão sobre seu ombro e o sorriso vitorioso a empurrando para trás. A jovem suspirou irritada e entrou, não sem antes lançar mais um pedido de desculpas com o olhar para o amigo envolvido sem qualquer aviso prévio naquela confusão.

— Ai… Ai… Ai… Meu braço está doendo muito… Não faço ideia do que pode ter sido — o mais velho choramingou mais uma vez. A esposa, ao seu lado, o acalentando. Mi Ok, em total silêncio, mantinha os braços cruzados enquanto olhava para a rua através da janela, desejando no fundo de seu ser sumir e nunca mais ser encontrada.

— Vai ficar bom logo, marido… Tenha um pouco mais de paciência, sim — Jung sorriu consigo mesmo quando viu, pelo retrovisor, a garota revirar os olhos em resposta àquela interação dos pais. Definitivamente, ela estava muito fofa.

— Esse é um carro bem maneiro — Han Ok comentou animado observando o painel, os dedos deslizando pelos detalhes alcançáveis — Deve ter sido muito caro, não é?

— Um pouco — o mais novo não quis parecer ostensivo respondendo que não sabia o valor exato do automóvel, considerando que apenas escolheu sem atentar para valores — Gosto muito dele. É leve para dirigir e muito confortável…

— É sim… Bem confortável — Han Ok continuou, batendo de leve no banco do carona — O valor dele deve dar pra comprar umas três casas como a nossa…

— Pare de falar idiotices — Mi Ok ralhou de seu assento.

— É um I8? — Han Ok ignorou a irmã.

— É sim — Jung respondeu sem graça, mas o outro, ao contrário de Mi Ok, não percebeu.

— Ele é híbrido. Um dos melhores lançados nesta temporada. O gasto dele é bem menor do que o da maioria e não polui muito — o rapaz deslizava os dedos pelo painel, teto e estofados enquanto comentava, encantado demais com aquele privilégio.

— Parece gostar e entender bastante de carros — Jung comentou.

— E quem não gosta? — Han Ok respondeu com simplicidade — Um dia compro um desses…

— Nem vendendo sua alma vai conseguir — Mi Ok rebateu novamente, o irmão reclamando de volta, Jung achando novamente tudo muito divertido.

— Há quanto tempo está saindo com a minha filha? — o mais velho interrompeu aquele momento de distração e discussão, voltando ao assunto anterior. Jung, sentindo um solavanco no estômago com e pergunta do homem, foi salvo por Mi Ok. A boca levemente aberta enquanto ela falava.

— Papai… Nós não estamos saindo.

— Deixe de desconversar — o homem rebateu — Está na cara de vocês que estão namorando. O jeito que se olham é o suficiente para qualquer ser humano normal perceber isso. Não queira me fazer de bobo com suas desculpas. E eu estou perguntando para ele, então responda de uma vez, rapaz.

— Nós nos conhecemos há alguns meses, senhor. Três ou quatro, não sei bem, mas não… — Jung começou, olhando rapidamente para o de Mi Ok pelo retrovisor, o olhar encontrando o do homem em seguida.

— E ainda não foi em nossa casa? — o velho fuzilou a jovem com o olhar — Não foi essa a educação que lhe dei, Khan Mi Ok.

— O senhor está confundindo tudo, papai. Eu e…

— Olha aqui, moleque. Quero você na minha casa o mais rápido possível, está me ouvindo? Vou dar essa oportunidade de se redimirem… Se não for na minha casa como um homem deve fazer ao se interessar por uma garota, não vou abençoar esse relacionamento, estão me ouvindo? Ai… Meu braço…

— Não se esforce…

Mi Ok mantinha a boca aberta, a feição assustada demais para falar qualquer coisa, desnorteada ao ver Jung balançar a cabeça com um “sim” nervoso em resposta às palavras do pai. O irmão, concordando com tudo o que o senhor falava, continuava deslizando os dedos pelo carro como se fosse algo precioso demais.

— Já chegamos — Jung avisou em seguida, indo para o estacionamento do hospital.

Assim que as portas do carro subiram, um novo susto dos mais velhos, Mi Ok, irritada, com os braços cruzados, ficou parada um pouco distante depois que desceu. Jung deu a volta no carro e se aproximou da família, percebendo os três mais velhos já à frente, talvez dando o espaço devido a um casal que acaba de ser descoberto.

— Desculpe por tudo isso — ela pediu novamente depois de um longo e cansado suspiro, sequer conseguia encará-lo tamanho o constrangimento — Minha família é meio louca assim, às vezes. Não me deixam explicar nada. Estou com vergonha de você.

— Por que?

— Por que? — ela o encarou incrédula — Olha só no que você se meteu só por me dar uma carona…  Não é difícil deduzir o motivo da minha vergonha. Isso tudo é muito constrangedor.

— Seus pais são legais… — ele tentou confortá-la, a mão astuta indo até o ombro da moça que o encarou em resposta ao toque inesperado — Só estão preocupados com você. Seu irmão também. Eu consigo entender muito bem todos eles.

— Você não os conhece…

— E você está se preocupando à toa.

— Estão pensando que você… Aish… Por que não me escutam? Eu expliquei tudo em casa, mas eles não me escutam, nunca me levam a sério…

— Deixe pensarem o que quiserem… Não tem problema nenhum da minha parte. Se for preciso, depois podemos conversar com eles e resolver tudo de uma vez, o que acha?

— Mas… mas… — ela o olhou confusa — Mas…

— Mas nada. Depois resolvemos isso. Vamos entrar de uma vez — falou e a puxou pelo pulso. Ela, estranhando aquele novo toque, se deixou levar.

— Você não vai para casa?

— Não. Vou levar vocês de volta antes — o rapaz sorriu e ela derreteu. Como pode ser tão lindo?

— Tudo bem…

Pouco mais de uma hora depois, essa se passando sob olhares intimidadores de Han Ok para Jung, além de perguntas sobre o relacionamento dos dois e constantes reclamações de Mi Ok para o irmão, o senhor Kang foi liberado.

Escoltado pela esposa que não o abandonou um segundo sequer enquanto era consultado e recebia o tratamento, souberam que o problema havia sido uma distensão muscular. Não era grave e poderia ser tratado em casa, porém provocava dores agudas.

No caminho de volta, a senhora, gentil e carinhosa, pediu que Jung parasse em uma farmácia para que comprassem os medicamentos receitados e partiram, de uma vez, com destino ao bairro tranquilo onde a família morava Khan.

— Obrigada pela carona, meu filho — a senhora, gentil, agradeceu com um sorriso sincero.

— Está tudo bem, senhora. Não precisa agradecer. Foi um prazer.

— Quero a senhorita dentro de casa em cinco minutos — o patriarca ralhou, grosseiro, interrompendo a conversa, caminhando para casa. A senhora e o filho mais velho ao lado.

— Venha nos visitar em breve, sim?

— Sim, senhora. Eu virei. Obrigado!

— Jung… Não sei como te agradecer por essa ajuda…

— Não agradeça!

— E não sei como me desculpar por todo esse inconveniente.

— Também não se desculpe, eu me diverti. Sua família é ótima. Não se sinta mal…

— Não sei o que aconteceu… Por que isso tinha que acontecer?

— Mi Ok, fique tranquila. Não foi nada demais. Está tudo bem, okay?

— Tudo bem… — ela falou, tímida, não conseguindo encará-lo.

— Me dê seu celular.

— Por que? — uma nota de estranhamento na voz da jovem.

— Vou salvar meu número nele — falou simplesmente pegando o aparelho nas mãos, digitando em seguida — O meu não está aqui, mas vou ligar para mim — continuou, o aparelho agora no ouvido — Quando chegar em casa, salvo seu número também.

— Hmmm…

— Agora me prometa uma coisa…

— O que?

— Me ligue se estiver com problemas ou se seu pai piorar… Me ligue se quiser conversar também. Promete?

— Oh… Sim. Eu prometo — sorriu pegando o aparelho de volta.

— Agora eu já vou. Não quero que você tenha problemas com seu pai — falou tocando na cabeça dela, mexendo em seu cabelo.

— Tá bom — ela sorriu novamente, completamente tensa — Boa noite.

— Boa noite.

***

Quando Sun fechou a porta de seu quarto atrás de si, respirou tão profundamente que sentiu como se os seus pulmões estivessem doloridos. Fechou os olhos se dando conta de onde havia acabado de chegar e levou a mão até o peito, cerrando-a e batendo forte contra o próprio corpo em uma tentativa frustrada de parar de sentir o que achava que estava sentindo.

Caminhou até a cama e se jogou sobre ela sem conseguir impedir o sorriso abobalhado de aparecer. Então se viu abraçado ao travesseiro, apertando-o com força, pensando que poderia ter feito isso com ela.

Eu poderia ter abraçado ela? Não… Não seja idiota!.

Aquela já era a quarta vez que saía com Doh Hea. Era incrível que se sentisse dessa forma depois daquele primeiro encontro que por tantos meses tentou evitar. Conseguia lembrar daquele momento como se houvesse acontecido no dia anterior, mesmo que já fizesse duas semanas.

Como eu pude sair com Doh Hea quatro vezes em menos de um mês?

~

— Eu não acredito que estou sendo obrigado a fazer isso… — Sun reclamava pela enésima vez desde que começara a se vestir para o tal passeio com a filha de Doh Yoseob.

— Cara… você precisa se conformar… — Jung impulsionou, empurrando o mais novo para fora do quarto.

— Mas você bem que podia ter se vestido melhor, eim moleque? — Eujin pontuou assim que Sun cruzou a porta para o corredor. Ele já estava a caminho do quarto do mais novo quando os encontrou.

— Não tenho motivos para me vestir melhor — o rapaz, com um casaco grosso sobre o moletom listrado, jeans rasgado e tênis, respondeu rabugento escondendo o rosto com o capuz — É apenas uma volta com a chata da Doh Hea.

— Ele tá irritadinho ou é impressão minha? — Eujin continuou fazendo graça e apertando a ponta do nariz do outro.

— Ah… Vá se ferrar — Sun ralhou dando um tapa na mão do mais velho.

— Mas que modos são esses, irmãozinho? Saiba que mamãe saberá disso…

— Sai da minha frente, idiota — irritou-se e empurrou o irmão, caminhando pesadamente.

— Mas que barulheira é essa? — Shin, colocando a cabeça para fora da clausura de seu quarto, chamou a atenção dos outros três.

— Sun está indo encontrar Doh Hea — Eujin falou brincalhão, Jung misteriosamente retraído depois que o irmão mais velho apareceu.

— Finalmente — Shin falou com um ar zombeteiro, ainda da porta — Se divirta, Sun. E lembre-se, antes de apostar, pense muito bem no que tem a perder além do que poderá ganhar…

— Aishh… Você também?

— Cuidado, Shin… — Eujin falou com graça — Sun tem adquirido um linguajar meio imundo, mas vou avisar para mamãe lavar a boca dele com sabão.

— Lembrem-se sempre que eu sou o hyung e posso fazer o que quiser com vocês, seus fedelhos…  Vocês têm que me respeitar — respondeu recostado ao umbral da porta, os braços cruzados.

— Poxa vida, Shin… Eu te protegendo…

Eujin comentou falsamente magoado enquanto o mais velho sorria relaxado, Sun desistindo dos três e continuando o caminho lentamente para o destino que ele mesmo havia traçado.

— Que reunião é essa aqui? Consegui ouvir as demonstrações de afeto do meu quarto — Taeyang se juntou aos outros. Saíra de seu quarto muito bem alinhado, calça e blazer reto, ambos pretos, sobre uma camisa grossa em tom mostarda. Um cachecol grosso, listrado e escuro enrolado ao pescoço e um casaco bege e comprido sobre os ombros.

— Vai sair? — Eujin perguntou curioso, uma sobrancelha arqueada e um sorriso malicioso em resposta ao desconforto, mesmo que rápido, do irmão mais velho diante da pergunta.

—  Ah… Vou sim. Vou tomar um chá por aí…

— Sozinho…? — Eujin continuou e os outros três olharam claramente curiosos.

— Sim. Vou sozinho — Taeyang decretou vendo a descrença no olhar dos outros, inclusive no de Shin, que lhe deu um olhar empático.

— Acho que o mais importante, por agora, é que uma certa pessoa cumpra sua parte da aposta… — Shin comentou se aproximando dos outros.

— Aposta? — Taeyang perguntou para ninguém especificamente, agradecendo intimamente ao irmão mais velho por aquela ajuda.

— Eu fiz uma aposta com Sun — Jung começou sem muita empolgação — Que se Shin ficasse na empresa, ele teria que sair com Doh Hea.

— Fizeram uma aposta sobre Shin? Meu Deus, como puderam? — o tom era divertido — E essa sua cara de desgosto é por isso? — perguntou para Sun, uma expressão zombeteira tão pouco vista em Taeyang tomando conta dele — Meu irmão, Doh Hea é uma menina excelente. Não deveria ficar tão chateado em sair com ela.

— É o que estamos tentando fazer esse cabeça oca entender — Eujin continuou, um cascudo forte o suficiente para fazer barulho no mais novo — Mas eu sei que rapidinho ele vai mudar de opinião…

— Virou vidente agora? — Jung perguntou com o semblante fechado, os braços cruzados.

— Não. Mas sou esperto o suficiente para olhar ao redor e perceber o que está acontecendo… — olhou nos olhos de cada um daqueles homens, como se soubesse o segredo mais profundo de cada um deles, enquanto proferia aquelas palavras.

— É quase um astrólogo real — Shin brincou, dando um peteleco na cabeça do rapaz — Se não fosse um Wang, diria que é um descendente do tal Ji Mong que papai falava.

— Ah… É verdade! — brincou Taeyang, gargalhando e espantando os demais por sua reação. Jung quase soltando uma risada para o comentário do mais velho, se reprimiu antes.

— Vocês todos — Eujin apontava — Me respeitem ou vou começar a revelar os segredos ocultos que sei de cada um. As estrelas nunca mentem…

— Deixe de falar asneiras — Shin sorriu engraçado, seu íntimo temia que o irmão falasse mais do que deveria — Está parecendo um astrônomo, só que sem o rei.

— Embora não seja isso o que eu quero para meu futuro, admitam que eu tenho talento.

— Tudo bem… Tudo bem. Muito talento. Eu estou saindo agora, quer uma carona? — Taeyang finalizou o assunto de uma vez — Onde vão se encontrar?

— Numa lanchonete, aí, qualquer… — Sun resmungou em resposta.

— Vamos, eu te levo — incentivou o mais novo com a mão em seu ombro.

— Cuidado para não levar uns socos da Hea, Sun — Jung comentou em um tom desnecessariamente alto quando os irmãos estavam quase ao fim do corredor — Ela tem um bom soco de esquerda. Não tente beijar sem que ela queira.

Mas o mais novo não respondeu, embora Taeyang tenha sorrido, parando em seguida ao olhar irritado de Sun, que seguiu o seu caminho, saindo da mansão, as mãos nos bolsos e o semblante vencido, totalmente carrancudo. Pensava que, ao menos agora, os irmãos parariam de uma vez de enchê-lo por causa daquela garota.

Pediu que Taeyang o deixasse na esquina da lanchonete onde encontraria com a amiga de infância. Caminhou até o local do encontro observando os pés afundarem na pouca neve que havia pela calçada imaginando o tipo de conversa que levaria com ela, quantos minutos conseguiria ficar em sua companhia.

Quando entrou no local, vários jovens lanchando, nenhum deles verdadeiramente conhecido aos seus olhos, olhou ao redor e reconheceu o local. Uma música agradável preenchia o ambiente que tinha uma quentura acolhedora e reconfortante, lhe fazendo agradecer mentalmente por ter sido liberado do frio que aquele curto caminho lhe proporcionou.

Esticando o pescoço, forçando os pés em suas pontas, tentou avistar a garota que, estranhamente, ainda não havia chegado. Resolveu sentar-se em uma das mesas próximas a uma grande parede de vidro que dava visão total para o movimento da rua, pedindo um capuccino com bastante chantilly enquanto esperava, olhando o relógio de minuto em minuto, irritando-se que ela estivesse atrasada. Indignado que ela, talvez, tivesse lhe dado um bolo.

— Desculpe a demora, Sun — era ela, diante dele, retirando o casaco pesado de cima dos ombros e justificando o atraso com um sorriso amável enquanto falava — Papai pediu que eu o acompanhasse até…

Mas Sun não estava ouvindo o que a garota dizia. Pela primeira vez em anos, a jovem conseguiu lhe deixar sem palavras.

Hea usava algo muito diferente dos seus típicos trajes escuros e rebeldes. As pontas dos cabelos estavam esverdeadas, amarrados do lado, caídos sobre o seu ombro esquerdo. Havia brilho em seus lábios e suas bochechas estavam rosadas “Ela colocou maquiagem?”. Uma blusa rosada, soltinha, com mangas que iam justas até os cotovelos combinavam perfeitamente com a calça justa, florida, revelando discretamente seu corpo. “Ela está… bonita?”

— Espero que entenda — ela concluiu sentando-se. O rapaz a olhava estático — Está tudo bem com você, Sun?

— Oh… Estou sim…

— Então… É capuccino? — ela perguntou animada.

— Sim…

— Vou querer um desses também — falou para o garçom que já havia se aproximado dos dois, continuando assim que ele se distanciou — O que tem feito de bom agora que estamos, finalmente, de férias?

— Ah… Nada demais — ele respondeu estranhando que ela ainda não tivesse perguntando sobre o convite de saírem juntos — E você?

— Vou para um torneio de esgrima antes do Natal…

— Legal! Boa sorte…

— Obrigada! É o último em qual participo, então quero ser a melhor.

— Por que o último? Vai parar?

— Vamos nos formar ano que vem, não é mesmo? Papai quer que eu procure um estágio agora.

— Mas você gosta muito de esgrima e… “Por que eu estou me importando com isso?”

— Sim… É verdade. Mas eu sei que preciso trabalhar também. E mesmo que goste de lutar, não é disso que quero viver, de fato. Vou manter como um hobby… Também já pensei em me tornar gamer, sabe? Mais para a frente… Papai revirou os olhos quando falei, mas não discordou, contanto que eu faça o estágio e me dê bem no curso.

— Sorte a sua…

— Seu pai ainda está irredutível? — perguntou com verdadeira preocupação.

— Sim…

— Não se preocupa, Sun. Uma hora as coisas melhoram, pode ter certeza. Seu pai vai perceber isso. Apenas acredite e tenha paciência.

“Por que ela está tão graciosa? E por que tão feminina? Por que está sorrindo assim para mim? Por que estou incomodado com isso?”

— É… Quem sabe, um dia…

— Sun, não sei se está sabendo, mas vai lançar um filme da Marvel super legal na próxima semana e eu gostaria de ir. Quer me acompanhar?

— No cinema? — ele pareceu desconfortável.

— Sim… Somos amigos, não é? Não quero ir só… convidei Jae Ye Hoon, mas ela vai viajar com os pais — ela continuava sorrindo daquele jeito esquisito para ele.

— É… Pode ser — não conseguiu dizer não, perdido naquela novidade que era sair com a garota e observá-la.

E continuou se perdendo em todas as conversas que os dois mantinham. Era estranho que se sentisse daquela forma perto de Hea. Era estranho que a visse naquele momento de uma forma diferente do que sempre viu. Era ainda mais estranho que, depois de tudo o que falara para os irmãos, estivesse se sentindo bem na companhia dela e que tivesse vontade de encontrá-la novamente assim que chegou em casa, naquela noite.

— Como foi, irmão? — Jung perguntou assim que o mais novo cruzou a porta do seu quarto. Ele e Eujin estavam deitados sobre a cama aguardando para maiores novidades. “Esses dois não têm o que fazer? O outro até namorada tem…”

— Por que estão aqui? — Sun perguntou de volta, ignorando o irmão enquanto retirava o casaco.

— Esperando para saber como foi… Tivemos medo que, talvez, você não conseguisse voltar para casa de tanto desgosto.

— Mas estou muito orgulhoso de você — Eujin disse se aproximando e lhe dando tapinhas nos ombros — Fico feliz que seja capaz de cumprir suas promessas.

— Vocês são insuportáveis…

— Agora conta de uma vez como foi — era Jung novamente, o mais novo se jogando sobre a cama também.

— Não vou falar nada.

— Não seja idiota. Como ela estava? Ela foi de bota de couro e aquelas coisas? Você teve muita vergonha?

— Não… Ela estava… bonita.

— UOU — Jung aplaudiu e urrou — Cara, isso é um avanço dos grandes.

— Por isso você não tem namorada — Eujin falou para o mais novo, olhando para ele com aparente estranhamento, um tom superior na voz — Como pode agir dessa forma? Não seja imaturo, Jung, por favor…

— Aishh — bufou — E quem você pensa que é para falar assim?

— Seu irmão mais velho e que tem uma namorada. Sun, fico muito feliz que tenha, finalmente, percebido que Doh Hea é uma garota bonita.

— Sim… Acho que ela é, afinal… Suportável... — ele falou, uma sobra de sorriso se formando.

— Ele está sorrindo? — Eujin se descontrolou olhando para Jung, saltando sobre Sun e o abraçando enquanto gritava — AI MEU DEUS!!! Ele está sorrindo quando pensa nela…

— E eu sou o imaturo… — Jung, de braços cruzados sentado sobre a cama, balançava a cabeça em negativa ao ver a dança idiota que o mais velho, de pé, fazia agora.

~~

Foi desperto das recordações sentindo o celular vibrar em seu bolso. Desbloqueou o aparelho e sorriu bobamente para o que viu. Não sabia o que estava acontecendo, mas se sentia estranhamente bem por isso.

“Espero que tenha chegado bem em casa. Foi muito divertido hoje. Se estiver livre, podemos ir ao parque no final de semana.”

Era uma mensagem de Doh Hea. Ela sempre foi assim tão gentil? Como nunca percebi isso antes? Balançou a cabeça em negativa sobre a cama, se acusando por ser tão imbecil e respondeu a mensagem sentindo algo quente e reconfortante dentro de seu peito.

“Estou bem. Podemos ir ao parque no domingo. Foi muito divertido mesmo.”

“Então está combinado. Nos encontramos na mesma lanchonete antes?”

“Pode ser. 16 h?”

“Está ótimo!”

“Até lá então.”

“Até lá. Boa noite.”

“Boa noite.”


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Notas finais do capítulo

Glossário:

Concubina Oh - Nyeo Hin Hee
Hae Soo - Go Ha Jin
Hwangbo Yeon-hwa - Wang Yun Mi
Imperatriz Hwangbo - Woo Ah Ra
Ji Eun Tak (OC) - 4ª esposa de Wang Hansol
Khan Mi-Ok (OC)- amiga de Ha Jin
Lady Hae - Kim Na Na
Li Chang Ru (OC) - 1ª esposa de Wang Hansol
Park Soon-duk - Doh Hea
Park Soo-kyung - Doh Yoseob
Park Sun Hee (OC) - Esposa de Sook
Sung Ryung (OC) - empregada/amiga de Ha Jin
Taejo - Wang Hansol
Wang Baek Ah - Wang Eujin
Wang Eun - Wang Sun
Wang Yo - Wang Gun
Wang Ha Na - filha de Wang Sook
Wang Jung - Wang Jung
Wang Mu - Wang Sook
Wang So - Wang Shin
Wang Wook - Wang Taeyang
Yoon Min-joo - Imperatriz Yoo
Nahm Hye - Woo Hee