Moon Lovers: The Second Chance escrita por Van Vet, Andye


Capítulo 39
Sempre Mal Agradecida


Notas iniciais do capítulo

Olá para todos!

Começamos essa pequena nota agradecendo os comentários de alta qualidade que vocês nos deixaram nos últimos capítulos. Adoramos todos!

Seguimos dizendo que vocês estão prestes a ler mais um daqueles momentos que nós sabemos o quanto gostam... Então aproveitem e preparem os ansiolíticos, porque essa é a parte do drama/fanfic em que as interações do casal principal começam a aumentar. Do lado de cá, só euforia e palpitação criando essas cenas... E do outro lado?

Super beijo e ótima leitura! o/



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Aquela noite não estava sendo fácil para a governanta mais jovem da Mansão da Lua. Seu horário de trabalho já havia terminado e ela estava sentada fazia cerca de quarenta minutos em frente a uma janela da cozinha esperando a torrente de águas que caia do céu abrandar. Nyeo, que já a aconselhara infinitas vezes para que ficasse aquela noite na mansão, observava em silêncio enquanto as esperanças da outra se esvaiam ao lado da torrente de chuva.

Ha Jin desejava muitas coisas em sua vida, mas o que ela menos queria era ter de passar uma noite completa naquela mansão. Não conseguia imaginar como seria voltar a dormir a tão poucos metros de distância do seu grande amor e, de fato, não estava preparada para esse teste, ainda mais agora, depois do que quase aconteceu no final de semana passado, ainda tão recente.

Ansiosa, apoiando o rosto com as mãos, os cotovelos sobre a bancada, a jovem mulher observava as grossas gotas de chuva encontrarem a vidraçaria e escorrerem por elas com uma expressão cheia de desgosto e irritação enquanto lembrava das muitas coisas que estavam acontecendo na sua vida, inclusive de quanto o patrão era fraco para bebidas e suscetível a ter atitudes que lhe provocariam arrependimento posteriormente; ao menos era isso o que havia deduzido.

Fazia três dias que mal encontrara com ele. Aquele que lhe tirava o sono e o pouco de sanidade que ainda lhe restava; Wang Shin, que parecia fugir da governanta como o diabo foge da cruz, só havia sido avistado durante os jantares desde a segunda-feira e Ha Jin, considerando que ele não esquecera sobre o que aconteceu - ou quase aconteceu - na sala de karaokê, não sabia se ele fazia de propósito ou porque estava realmente atarefado.

A bebedeira do último sábado havia se transformado em um divisor de águas em sua vida, e não parecia ser nada bom se ela pesasse tudo na balança de sua vida.

Shin, que estava bem mais próximo nas últimas semanas e ela quase poderia dizer que estavam bem, havia desaguado para longe desde que Mi Ok atrapalhou aquilo que ela imaginou poder se concretizar com um beijo.

O mesmo aconteceu com o herdeiro mais jovem. Jung mal lhe dirigia a palavra quando estava na casa. Parecia ter decidido encerrar todo e qualquer tipo de contato com ela e, por mais que achasse essa situação proveitosa - considerando o fato de ele ter percebido que não teria chances, se sentia mal pelas coisas que, talvez, ele estivesse pensando.

Outra que lhe martelava os pensamentos constantemente era Mi Ok. Mesmo que não tivesse mudado as atitudes para com ela, a amiga conhecida por perder os sentidos diante das bebedeiras e ficar completamente dispersa enquanto homogenizava álcool ao seu sangue, mesmo que estivesse embriagada durante a maior parte daquele passeio, percebeu o clima que se instaurou entre a governanta e o patrão.

“E se, Mi Ok, completamente bêbada, havia percebido algo assim, o que os outros, ainda mais Jung, sóbrio, teriam visto?”

— O que aconteceu entre você e o seu patrão? — Mi Ok perguntou assim que as duas chegaram em casa.

— Nada — Ha Jin, nervosa com a pergunta, tremia ao tentar colocar a chave na fechadura - se era o excesso de bebida ou o nervosismo pela pergunta, ela não saberia responder.

— E por que aquele clima todo estranho quando eu e Jung voltamos? É esse o cara por quem está apaixonada?

— Apaixonada? — a voz saiu estridente.

— O que estavam fazendo sozinhos no karaokê?

— Que conversa sem sentido é essa, garota? Está bêbada demais. Não está falando coisa com coisa…

— Sabe o que eu acho de verdade?

— Não quero saber — a mais velha tirava os sapatos enquanto entrava, tentando encerrar o assunto inquietante.

— Que vocês formam um casal legal — sorriu da expressão assustada da outra, sem se importar com suas objeções.

— Tá louca, menina?

— Nenhum pouco!! Vocês vivem discutindo, são dois reclamões. Não consigo pensar em um casal mais perfeito! Estão na mais completa sintonia.

— Deixe de falar bobagens…

— Não estou falando bobagens, só estou observando as coisas, juntando os fatos…

— Pois pare com isso! Você não leva jeito para investigadora — Ha Jin respondeu enquanto se trocava, rápida e nervosa — Apenas tome uma água e vá se deitar. Já tivemos emoções demais por hoje…

— Sim, sim… Farei isso, mas vou ficar de olho…

— De olho fechado e boca calada! Boa noite, Mi Ok… Não vai responder? — Ha Jin perguntou irritada depois de alguns instantes.

— Você disse para ficar de boca calada.

— Aish… Você vai me deixar louca — ralhou cobrindo a cabeça com a coberta.

— Boa noite… — a outra respondeu entre sorrisos.

…  

“Por que estou com tanto medo de ficar a sós com ele? E por que ele continua me evitando? Ele ia realmente me beijar? O que passou na cabeça dele para tentar fazer aquilo? E agora, me evitando… Estou certa que lembra do que houve e está envergonhado. Arrependido, talvez? Por que aquele mal educado estaria arrependido por quase ter me beijado? Eu que deveria estar irritada por isso. Eu fui cercada por ele, eu quase fui beijada… Quase, se Mi Ok não tivesse feito o favor de voltar naquele momento. Aish… Que vida essa minha!!! E Jung? O que será que ele pensou quando nos viu? Só espero que ele não tenha ficado chateado demais. Gosto dele, é um bom garoto. Mas… E Shin? Será que ele está, finalmente, tendo sentimentos por mim? Sentimentos? Está louca, Go Ha Jin? Que tipo de sentimento você acha que ele teria? Estava bêbado. Mal tem olhado na sua cara, aquele… Aquele… Aish… Tudo bem, vamos raciocinar. O importante agora é não falar mais do que deve e seguir sem encontrar com ele. Quando isso acontecer, agir naturalmente e esperar que ele fale primeiro. Sem atitudes precipitadas, Go Ha Jin! Sorrir e acenar são princípios básicos. Apenas ignore o que aconteceu e siga. Coloque uma pedra sobre isso. Esqueça!”

— Ha Jin, por que você não fica de uma vez? —a governanta Nyeo repetiu o discurso de antes mais uma vez, despertando a governanta daquele pequeno momento de interação consigo mesma — Esse período é marcado por chuvas e estamos bem no início do inverno. Não acredito que ela vai diminuir em algum momento…

— Eu sei, mas realmente não quero ficar, governanta. Agradeço muito a sua preocupação, mas tenho certeza de que em algum momento a chuva vai diminuir. Eu vou conseguir sair.

— Por que tanta resistência, Ha Jin? Por acaso aconteceu algum problema que faça você ter tanta dificuldade em aceitar permanecer em nossos aposentos? Você tem um dormitório exclusivo lá embaixo…

— Não aconteceu nada, governanta — tentou parecer convincente — Eu gosto de dormir na minha casa, no meu colchão. Tenho meus costumes e umas manias… Não sei se me adaptaria aqui.

— Por que não tenta? —  Nyeo insistiu — Ninguém vai te incomodar. O aposento é seu.

— Eu sei que sim, mas é melhor não. Gosto de ir para minha casa no final do expediente. Dá uma sensação de que tenho um lugar para voltar.

— Eu entendo você, querida — a mais velha concordou indo para perto de Ha Jin — Já faz um bom tempo que não visito minha família — continuou e a mais nova lhe olhou com interesse — Resolvi ficar na mansão há muitos anos, era mais cômodo, no final.

— Onde mora sua família? — Ha Jin perguntou interessada.

— Gangwon — a outra respondeu simplesmente — Em um vilarejo próximo a um rio. Nessa época eles se preparam para o plantio de morangos por causa do frio… Meus pais tem uma pequena estufa agora… Tudo ficou mais fácil depois dela. São bem conhecidos na região.

— Faz quanto tempo que não os vê?

— Vim para Busan aos catorze anos. Meu pai queria que eu estudasse, me profissionalizasse e tivesse oportunidades que não teria por lá. Dizia que eu tinha muito potencial para me perder na agricultura. Pouco depois, uns tios conseguiram um trabalho para mim aqui na mansão. Depois disso, ficou um pouco complicado me ausentar da mansão, mas sempre que consigo, passo alguns dias lá

— Mas mantêm contato com eles?

— Sim. Converso por telefone. Tenho pensado em passar um tempo com eles no futuro… Férias, talvez.

— Isso é muito bom — Ha Jin concordou complacente — Não é bom nos afastarmos da nossa família. Por mais que seja complicado o relacionamento, e que às vezes existam atritos, ela é a nossa base, devemos estar fincadas nela.

— É verdade… — Nyeo respondeu parecendo distante.

— A minha mãe também mora em uma cidade pequena e um pouco afastada daqui. Não temos o melhor relacionamento do mundo, mas agora que estou trabalhando e não tenho muito tempo, ela sempre vem me visitar. Às vezes chego em casa do trabalho e ela já está por lá me esperando com nove acompanhamentos diferentes… Nesses dias eu como do melhor e ela monitora minha vida com uma destreza incrível. Ficou ainda mais protetora depois do problema no coração e não me dá descanso — as duas sorriram amigáveis.

— E você tem seguido o tratamento corretamente?

— Sim, sim… — a mais nova concordou tranquila — Depois que comecei a tomar a medicação tenho sentido uma boa melhora. Às vezes, quando fico muito ansiosa ou nervosa, sinto um aperto muito forte, mas o remédio geralmente controla, então creio que tudo ficará bem.

— E o tratamento dura quanto tempo? — Nyeo quis saber.

— Acho que para sempre — Ha Jin respondeu brincalhona — O médico que me acompanha falou de uma cirurgia. Tem cerca de 90% de chance de ser bem sucedida, mas nem de longe tenho dinheiro para isso… E é bem delicada…

Enquanto as duas mulheres conversavam, não perceberam que eram observadas por um dos Wang. Shin, que estava indo tomar um suco, parou próximo à porta assim que ouviu as duas conversando aquelas amenidades. Por que estava ali, parado ouvindo tudo? Ele não sabia, mas permaneceu tempo suficiente para ouvir o quanto as duas se davam bem e como a mais nova parecia, realmente, ser quem os irmãos costumavam dizer. Seguiu para o quarto desistindo do suco, evitando interrompê-las e, de lá, também esperou a força da chuva diminuir.

— Por que não pede um táxi? — a mais velha sugeriu vendo Ha Jin se mover rapidamente agora que a chuva diminuía — Seria mais fácil voltar para casa e não correria o risco de tomar chuva, caso fique forte novamente. Além de que chegaria mais rápido.

— Acho que a senhora tem razão — Ha Jin concordou colocando o casaco fininho — Vou pedir um táxi lá fora.

— É o melhor a se fazer — Nyeo falou bondosamente — E venha mais agasalhada amanhã. Esse casaco não te protege do frio e encharca rapidamente.

— Sim, senhora. Farei isso. Até amanhã, governanta Nyeo — a mais nova despediu-se com sua vênia usual.

— Até amanhã — a outra retribuiu o aceno.

Ha Jin seguiu apressada pela parte dos fundos da Mansão da Lua. Cortou o caminho pela sauna, molhando as calças ao passar entre as muitas plantas do local. O casaco sobre os ombros, assim como Nyeo afirmara, em nada a protegia da garoa que caía e do frio que sentia, forçando-a a apertar as mãos contra a bolsa em uma tentativa vã de se sentir aquecida enquanto os dentes começando a bater.

Seguiu apressada até os bancos em frente ao jardim e assustou-se quando ouviu uma voz familiar falando em meio às plantas, fazendo os pelos do corpo eriçarem e, dessa vez, não pelo frio:

— Aonde vai a essa hora, garota? — perguntou com seu tom forte.

— Estou indo embora, senhor — ela respondeu com um pouco de grosseria depois do pequeno susto.

— Não está vendo que vai voltar chover forte? — ele a perscrutava com o olhar, a voz cortante.

— Estou sim — falou apressada, irritada, os dedos dormentes do frio — E é por isso que estou tentando me apressar, então…

— Olhe só como você é… — desdenhou balançando a cabeça.

— O que? — ela parou os passos e se virou novamente para ele, cansada — O que eu fiz agora?

— Estou prestando um favor e você simplesmente me ignora. Ótimo! — foi irônico em cada uma daquelas palavras.

— Tudo bem — ela respirou profundamente, antes de falar. Sentia frio e queria ir embora de uma vez. Precisava encerrar aquela conversa, estava irritada e, por isso, decidiu se aproximar e começou após uma breve, porém profunda vênia, com o tom debochado — Desculpe a forma grosseira e obrigada pela consideração, senhor, mas preciso me apressar antes da chuva forte voltar. Acredito que chegarei rápido em casa com um táxi, então não…

— Pegue! — ele falou ignorando toda encenação lhe estendendo o capacete que havia retirado de baixo do banco onde estava sentado.

— Por que está me dando esse capacete? — ela estranhou por completo aquele ato.

— Porque vou levar você em casa — falou simplesmente, levantando, ainda com o capacete nas mãos.

— Ah, não precisa, senhor. De verdade — ela pareceu nervosa, balançando as mãos freneticamente — Não precisa se dar ao trabalho, eu vou…

— Já disse para pegar o capacete — ele repetiu empurrando o objeto até ela — Eu vou levar você.

Dizendo isso, caminhou rapidamente até a garagem, saindo instantes depois guiando sua moto. A chuva milagrosamente havia ficado mais amena, dando uma trégua e, com o capacete na cabeça, embalado em seu casaco de couro, Shin apareceu diante de Ha Jin sobre aquela moto a oferecendo, mais uma vez, sua garupa em forma de carona.

— Suba — foi autoritário em suas palavras e a garota, sem saber como reagir, se perdeu naquelas palavras e momento, subindo conforme ele ordenara.

Os dois seguiram pela rua deserta até a avenida próxima à mansão em completo silêncio. Ha Jin, temendo que o rapaz pudesse sentir o pulsar de seu coração, tentou segurar o mais frouxamente possível, o medo ambíguo entre cair daquela moto por afrouxar o aperto ou abraçá-lo com força sentindo o seu corpo e correr o risco de ser descoberta em seus sentimentos.

Sentia que tremia. O vento frio, os respingos da chuva batendo em seu corpo e pesando seu casaco conforme a moto avançava. Ela não sabia se o tremor era realmente causado pelo frio ou pela excitação de toda aquela aproximação.

— É melhor você segurar mais firme — ele falou em meio a um grito cortando a noite gélida pela primeira vez. Parecia ter ouvido os pensamentos da governanta.

Sentindo o coração acelerar ainda mais, Ha Jin fez o que o seu condutor falara e o abraçou com mais força, sentindo o corpo esquentar em oposto ao vento frio e dolorido que maltratava a pele. O barulho da chuva, que voltava a ficar forte, e a velocidade da moto os impedia de conversar.

Conversar… Aquele era, de fato, o primeiro momento que os dois ficavam juntos, e a sós, depois do dia em que quase se beijaram. Desde então, Ha Jin temia que ele pensasse que ela estivesse se aproveitando daquele momento por estarem embriagados.

Aparentemente, e ela não sabia se era para o bem ou para o seu mal, Shin resolveu ignorar aquela situação ou, talvez, realmente não lembrasse de nada. Imaginou - não, sonhou - que  depois daquele dia, na segunda, o patrão já a chamaria ao seu encontro e lhe tomaria explicações, que lhe daria o beijo interrompido, mas, ao contrário, ele mal aparecia na mansão durante o dia e, quando estava em casa, só saia do seu quarto para as refeições, ignorando-a por completo.

Em um semáforo, entre carros e caminhões, a governanta foi puxada de seus delírios pelo farol alto de um veículo, conscientizando-se de onde estava, olhando ao redor ao sentir as gotas de chuva batendo com força contra seu corpo.

Aproveitou a pausa e passou uma das mãos nos olhos, calculando o tempo que levariam até chegarem na sua casa naquela condição, pensando que aquela não fora, nem de longe, a melhor opção para aquela noite, afinal o patrão venceria o caminho em quinze minutos tranquilamente se em condições normais, mas agora, com as ruas molhadas e a chuva dificultando a visão, sabia que o percurso demoraria bem mais.

Refazendo todo o trajeto mentalmente, percebeu que estavam bem no meio dos dois destinos: não seria possível voltar para a Mansão da Lua agora, muito menos estavam próximos da casa da garota. Se irritou pensando no por que ele não lhe oferecera carona em um dos carros da família.

A chuva começou a cair com mais força, lhe deixando ainda mais irritada. Se arrependeu por não ter pego algo que a protegesse melhor antes de sair de casa naquela manhã e tentou se cobrir um pouco mais, escondendo a cabeça nas costas do rapaz, encolhendo-se atrás dele.

— Vamos ter que parar um pouco — ele gritou para ela que apenas balançou a cabeça em concordância. Tremia intensamente em resposta ao frio.

Mais um ou dois longos minutos se passaram até que, enfim, ele diminuiu a velocidade da moto. Guiava os dois para algo que parecia ser um galpão. Ha Jin observou e viu que se tratava de uma construção. Provavelmente os seus responsáveis estariam em suas casas nesse momento, quentinhos e secos enquanto tomavam uma boa sopa fervente, ao contrário daqueles dois malucos que tiveram a brilhante ideia de andar de moto na chuva.

Shin parou o veículo na entrada do galpão e, finalmente, não estavam mais sendo castigados pela chuva. Ha Jin desceu primeiro, apoiando-se nele que, em seguida, tirou o capacete e desceu também.

— Vamos esperar um pouco. Não está tão longe da sua casa… — ele comentou recostando na moto, olhando para ela que tentava retirar o casaco grudado no corpo — Tire o capacete primeiro. Fica mais fácil até para respirar.

— Ah… — ela retirou o objeto. O rosto avermelhado do frio. O olhou nos olhos e desviou em seguida, voltando a se concentrar no casaco de tecido que, encharcado, a incomodava pelo frio e peso excessivos.

— Por que não usou um casaco mais grosso? — ele perguntou enquanto observava a governanta se livrar o casaco.

— Porque não imaginei que choveria desse jeito e que estaria debaixo da chuva. E o senhor não devia ter se dado ao trabalho — ela comentou sacudindo o casaco vigorosamente após espremê-lo retirando o máximo da água que pôde — Não quero que fique doente por minha causa, mesmo que eu não tenha pedido por isso…

— Sempre mal agradecida — ele comentou se encaminhando até o cavalete onde ela estava tentando vestir o casaco novamente — Mas acredito que deveria ter pego um dos carros…  

Ha Jin o maldisse em seus pensamentos por ele ter cogitado essa possibilidade apenas agora. Estava com frio, toda molhada, suscetível de um resfriado graças ao estranho acesso de bondade impensado do patrão que a ignorou pelos últimos três dias.

Shin, que mantinha um ar jovial enquanto comentava sobre seu pensamento e caminhava até ela, perdeu momentaneamente a linha de seu raciocínio ao se deparar sendo observado pelos olhos astutos da governanta.

Aqueles olhos estavam tendo um certo tipo de impacto sobre ele que não era normal e, em conjunto com o olhar, as bochechas coradas pelo frio e os lábios entreabertos, rosados, pareciam uma espécie de quadro inquisidor e, de alguma forma, sedutor, emoldurado pelos cabelos negros, molhados, grudados na pele exposta do pescoço.

Ele engoliu em seco, e com grande dificuldade, em seguida, sentindo aquele incômodo em seu estômago mais uma vez. O corpo rígido, apoiado contra o cavalete, foi pego de surpresa ao sentir o coração acelerar momentaneamente ao continuar observando a composição daquela situação.

Em uma visão geral, Ha Jin, sem o casaco, com os braços tensos ao lado do corpo, o encarando com expressões ameaçadoras, não parecia ter percebido a blusa de tecido rosa claro grudada em seu corpo, ensacada na calça, deixar o sutiã preto, rendado, marcado e evidente demais naquelas condições. “O que essa garota está fazendo comigo?”

— Sinceramente — ela recomeçou se aproximando um pouco, ele com medo do que sentia — Também acho que o senhor deveria ter pego um dos carros se a intenção era dar carona a alguém em um tempo de chuva…

— Mas bem que você não reclamou — Shin rebateu tentando manter o foco na discussão, e não nela, julgando se deveria avisá-la ou não sobre aquela transparência perturbadora. Pensou também em cobri-la com seu próprio casaco, mas desistiu em seguida, as palavras dela acertando em cheio sua dignidade.

— Não sei se o senhor percebeu, mas não tive escolhas.

— Você é mesmo mal agradecida.

— Não, senhor. Apenas me atenho aos fatos. Minha visão sobre a situação atual não é das melhores. Como posso ficar satisfeita quanto a isso?

— Poderia apenas agradecer minha boa intenção — a distância entre os dois parecia menor a cada nova fala.

— Muito obrigada, senhor. Muito gentil da sua parte — falou desdenhosa — Mas estamos ilhados. Qual a lógica disso agora?

— Por que você não fica calada nunca? — ele perguntou ameaçadoramente, perto demais.

— Por que ficaria calada se não estou satisfeita? — rebateu, o estômago gelado por toda aquela aproximação.

— Você pareceu bem satisfeita no último sábado — ele acusou e Ha Jin sentiu o peito parar.

— Sobre o que está falando? Não me lembro de ter ficado tão satisfeita assim — rebateu ansiosa. “Então lembra de tudo e resolveu me ignorar…”

— Você não lembra de nada? — acusou e ela lhe devolveu um olhar gelado.

— Não lembro de nada. Não lembro de ter tentado absolutamente nada porque nada do que aconteceu naquele sábado foi verdadeiramente significante…

— O que… Como assim…? O que você está falando agora? — Shin, claramente desconcertado, perguntou.

— Estava bêbada, senhor. Certamente nada do que eu tenha feito, ou tentado fazer, foi de fato relevante. Não se preocupe nem considere o que quer que tenha acontecido, embora não me lembre de nada. Com toda certeza nada teria acontecido se eu estivesse sóbria.

— Você… Você é… Muito petulante.

— Já cansei de ser adjetivada pelo senhor. Por favor, mude — Ha Jin cruzou os braços e se virou, encerrando aquela conversa e diminuindo a aproximação ao se afastar. O patrão, confuso e irritado, virou-se também, dando-lhe as costas — E agora, vamos passar quanto tempo mais aqui? — ela perguntou instantes depois.

— Não sei bem… Vamos esperar um pouco — ele respondeu sem muita convicção, ainda irritado demais — Se as coisas não melhorarem, podemos ligar para Eujin…

— Ótimo, poderia ligar agora, por favor?  — a governanta requereu, virando-se novamente para o patrão que, novamente desorientado pela transparência, rebateu.

— Ligue você...

— Não tenho o número dele…

— Você bebeu a noite inteira com ele duas vezes e não se deu ao trabalho sequer de anotar o número? — ele ralhou, tentando mudar o foco dos seus pensamentos, mas perdendo-os novamente ao focá-la. Certamente não se dava conta do quão sensual parecia naquele momento.

— Não — ela respondeu simplesmente cruzando os braços. Shin fechando os olhos, ansioso pela visão — Você deve ter, ou estou enganada? Afinal… Ele é seu irmão.

— Tenho… — respondeu tentando manter o foco e o raciocínio, o corpo tentando agir contra ele — Mas não trouxe o celular.

— Como é? — Ha Jin, irritada, tinha os braços firmes ao longo do corpo novamente — Como saiu de casa sem o telefone?

— Não pensei que seria necessário — respondeu desviando-se novamente. Ela o desconcertava naquele momento. O peito dolorido enquanto reprimia o impulso de beijá-la. “Você não está bêbado. Não pode pensar nessas coisas. Você não quer isso.”

— Não acredito — balançou os braços irritada. Partiu para a própria bolsa e procurou seu aparelho — Dez por cento de bateria. Mas que droga!

Ha Jin reclamou e se recostou outra vez no cavalete de frente para ele que estava, agora, recostado na moto mantendo uma distância segura dela que tinha os braços novamente cruzados dando demasiado volume para o busto aparente sob a camisa transparente grudada ao corpo. Os cabelos grudados contra a pele, o rosto corado e a respiração pesada.

Shin, que tentava ignorá-la, sentia uma comichão irritante em todo o corpo por estar ali, com ela, naquela situação. Deveria avisá-la sobre sua roupa, mas continuava sem entender o motivo de não fazê-lo. Também não entendia o porquê daquela vontade irritante e insistente de beijá-la.

Ainda continuava sem entender por que oferecia caronas, provocava conversas inusitadas e falava coisas com sentidos ambíguos para aquela mulher. Desejou em seu coração que aquela chuva parasse de uma vez, que pudesse deixar a garota em casa e não precisasse mais vê-la aquela noite. Não sabia se conseguiria controlar por muito tempo a vontade de tomá-la em seus braços e aquecê-la enquanto a beijasse.

Os dois permaneceram assim: Ha Jin, em total silêncio, tentando se aquecer e olhando acusadoramente para o seu benfeitor, de tempos em tempos, esperando com ansiedade que aquela chuva voltasse a diminuir e que ela pudesse sair dali, da presença daquele homem que mexia com seus sentimentos de tantas formas distintas.

Shin também não se pronunciou até ser obrigado a dizer “Vamos” para a garota. Em silêncio, recostado na moto, ele a observava pela lateral dos olhos ponderando seus estranhos sentimentos, atento aos seus movimentos e às marcas aparentes sob a camisa dela.

~/~


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Notas finais do capítulo

Glossário:

Concubina Oh - Nyeo Hin Hee
Hae Soo - Go Ha Jin
Hwangbo Yeon-hwa - Wang Yun Mi
Imperatriz Hwangbo - Woo Ah Ra
Ji Eun Tak (OC) - 4ª esposa de Wang Hansol
Khan Mi-Ok (OC)- amiga de Ha Jin
Lady Hae - Kim Na Na
Li Chang Ru (OC) - 1ª esposa de Wang Hansol
Park Soon-duk - Doh Hea
Park Soo-kyung - Doh Yoseob
Park Sun Hee (OC) - Esposa de Sook
Sung Ryung (OC) - empregada/amiga de Ha Jin
Taejo - Wang Hansol
Wang Baek Ah - Wang Eujin
Wang Eun - Wang Sun
Wang Yo - Wang Gun
Wang Ha Na - filha de Wang Sook
Wang Jung - Wang Jung
Wang Mu - Wang Sook
Wang So - Wang Shin
Wang Wook - Wang Taeyang
Yoon Min-joo - Imperatriz Yoo
Nahm Hye - Woo Hee



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