Moon Lovers: The Second Chance escrita por Van Vet, Andye


Capítulo 37
A Pessoa que Está Apaixonada… Você!


Notas iniciais do capítulo

Olá, gente! o/

Esse capítulo tá grandão, mas acreditamos que vocês vão gostar bastante!!!
Altas expectativas para o que acontece nas próximas linhas e precisando loucamente, desde quando esse capítulo foi produzido, das impressões de todos vocês ♥ ♥

Sem esquecer do tradicional, e muito merecido, agradecimento aos comentários, um beijo e um queijo procês ;)

PS: Indicamos que deixem "Forgetting You" de Davichi fácil de ser ouvida. Deem o play quando ela for citada porque é ideal para criar o clima que pensamos para essa cena! :*

Ótima leitura!



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A caminho do próprio quarto, Shin escutou os irmãos mais novos conversarem animadamente no quarto de Jung, a porta entreaberta. Com a maçã que havia acabado de raptar da cozinha na mão, encaminhou-se para o aposento alheio, parando na soleira - numa situação que começava a tornar-se costumeira - para observar o que tanto Jung e Eujin falavam.

— Não, coloque essa — Jung tirava uma camisa do guarda-roupa e entregava ao irmão — Você parece tão antiquado, às vezes.

— Ei, ei… Sou o mais velho, mais respeito, por favor — Eujin resmungou, desabotoando a camisa azul que vestia e experimentando outro modelo em seguida. Após vesti-la foi para frente do espelho minuciosamente polido, que tomava uma parede toda do aposento, e analisou o resultado de frente — Realmente… Gostei do corte dessa. Acho que vou comprar algumas dessa marca para mim — aprovou abotoando as mangas — Só está um pouco folgada nas costas, mas com o blazer por cima não vai dar para notar.

— Claro que está folgado, você é um magrelo — Jung desdenhou, puxando um par de meias do gaveteiro.

— Não sou magrelo, não. As mulheres nunca reclamaram. Você que andou comendo demais nesses últimos anos — retorquiu quase indignado mediante a acusação.

— Tá me chamando de gordo? É sério? — o herdeiro lutador aproximou-se de Eujin e, com o torso ainda desnudo, ergueu o bíceps para o irmão, orgulhoso do trabalho de muitos anos de esforço — Toca aqui na minha gordura, ó!

— Saí pra lá! — Eujin empurrou Jung para longe, que voltou rindo para os seus afazeres no gaveteiro.

— É lindo acompanhar o desenvolvimento de um romance tão delicado e genuíno — Shin finalmente encontrou sua hora de falar, fazendo os mais novos notarem sua presença à porta.

— Shin! — exclamaram em uníssono — Não está estudando hoje? — Eujin perguntou.

— Na verdade, estou relaxando um pouco… Vou ver um filme agora ali no quarto, para distrair. E vocês também parecem que vão se distrair de alguma forma hoje, estou certo? — pontuou a frase com uma expressão intrigada.

— Por aí… — Eujin terminou de se ajeitar e, apoiando as mãos na cintura, falou orgulhoso — Vou sair com a minha garota, já estou morto de saudades dela.

— E eu vou conhecê-la — Jung emendou, sentando na poltrona para terminar de calçar as meias — Sabe… Aquela estudada criteriosa de irmão para irmão… Pelo jeito que Eujin fala dela, a garota deve, pelo menos, ter salvado um país e ganhado toda a beleza possível como retribuição.

— Você não tá errado não, maninho… Vem com a gente, Shin?

— Ah… — Shin desencostou do batente, coçando o queixo nervoso, sentindo a aspereza de dois dias sem se barbear. Pego de surpresa no convite, reorganizou os pensamentos e alinhou-os ao seu desejo de ficar solitário no quarto — Agradeço muito, mas fica para uma próxima. Estou mais caseiro esta noite.

— Que pena, ia ser muito legal apresentar Hye para você. Sem contar que teremos uma a mais entre nós, a amiga da Ha Jin, já que o Jung vai fazer a quinquagésima nona tentativa de mostrar para Ha Jin que ele está afim dela.

— Cala a boca, magrelo — Jung se levantou calçado e fechou o punho para acertar o irmão nas costas. Eujin foi mais ligeiro, se esquivando para trás e erguendo os braços enquanto alertava:

— Para agora, tá legal?! Se você amarrotar minha camisa, eu farei você engomá-la…

— Minha camisa!

Ainda na porta, Shin estava novamente experienciando aquela sensação anômala que acontecia sempre que Ha Jin era incluída naquelas conversas; sempre que ela era incluída nos sentimentos amorosos de seu irmão mais novo. Era um misto de irritação, indignação e impotência imaginá-la como a pessoa que fazia Jung se arrumar e se animar na ânsia de revê-la.

Algo dentro dele dizia que aquela situação tinha grandes chances de acabar mal para os dois e, apesar de estar pouco se importando em como acabaria para Ha Jin, temia ficarem ruins para o lado do herdeiro, caso o que o pai sentenciou na reunião da escolha da sucessão para CEO fosse executado, se não obedecido. E, se a governanta realmente não gostava dele, como tantas vezes Eujin dera a entender, por que ficava cultivando esses encontros? Talvez ele precisasse tomar uma atitude definitiva quanto a isso… Falar com ela pessoalmente, olho no olho…

— Eu vou — viu sua boca tomando a decisão antes da conclusão de seus pensamentos.

Eujin e Jung pararam de discutir e olharam para o mais velho, olhos arregalados, perplexos. Talvez nem estivessem esperando que ele aceitasse o convite quando o chamaram, mas agora já estava decidido. Shin repetiu para não deixar dúvidas.

— Eu vou. Dá tempo de tomar um banho rápido e me trocar?

— Claro — Eujin respondeu, o sorriso de orelha a orelha.

***

Ha Jin e Mi Ok haviam chegado ao local combinado antes dos outros e o motivo era a ansiedade de Mi Ok. A garota, que estava na casa da amiga desde a tarde daquele sábado, parecia uma criança eufórica na expectativa de ganhar algum presente desde que soube do segundo encontro entre elas e os Wang.

Um sorriso abobalhado simplesmente não desaparecia do seu rosto, nem os suspiros exagerados enquanto olhava para o vazio cessavam. Para impressionar seu amor platônico comprou até um vestido moderninho que lhe custaria alguns dias de trabalho para pagar. Ha Jin, ao contrário, pegou a primeira peça de bom caimento que saltou aos olhos em seu cabideiro e achou satisfatório o resultado da roupa em seu corpo.

O que a incomodava era sua consciência. Não deveria ter aceitado o convite, os conselhos da governanta Nyeo pesando na cabeça, mas Eujin insistira tanto que gostaria de apresentar sua namorada que acabou cedendo.

— Aigo… Que cara é essa, Ha Jin? Animação! — Mi Ok puxou-lhe o braço, as duas encostadas no balcão do bar.

— E você controle a sua, porque isso já está irritando — resmungou, rabugenta.

— Quem está irritando? E-eu? — arregalou os olhos, perplexa — Não posso nem ficar feliz? Afinal, vou rever meu oppa… — esqueceu-se da amiga, fitando um ponto qualquer no teto, sonhadoramente — Ainda sinto o cheiro do perfume dele todos os dias, quando cheiro o tecido.

— O quê?! Está com o casaco dele desde aquele dia?

— Shhh… Se ele não te cobrou é porque nem sentiu falta, deve ter tantas roupas… Não ouse falar nada, aquele objeto sagrado agora me pertence — virou-se para Ha Jin, o semblante alucinado deixando a outra entediada com suas sandices.

Ha Jin respirou fundo, a mente mais uma vez viajando em problemas. Quando Eujin marcou o passeio deles, Jung prontamente descobriu e se convidou, certamente esperançoso quanto a possibilidade de revê-la numa situação mais informal.

Em seguida, ela achou por bem convidar Mi Ok para não formar um casal acidental com o herdeiro lutador, algo que pudesse aumentar ainda mais as expectativas dele. Assim que a oportunidade surgisse, ela havia se decidido, seria franca, e, para o bem de ambos, desestimularia os sentimentos do rapaz.

— Unnie, eles chegaram! — Mi Ok deu pulinhos eufóricos ao seu lado, fazendo-a despertar dos dilemas e a olhar para frente, na direção da entrada do estabelecimento — Uau! Que lindo meu oppa tá hoje… Hã? Quem? O que aquele grosseiro está fazendo junto deles?

Curiosa, a governanta focou nos companheiros de noitada aproximando-se. Jung, vinha na frente, sorridente como um cão que reencontra o dono, todos os dentes à mostra na direção dela, que acenou gentil. Mi Ok acenou também, frenética e empolgada. Eujin era o segundo no campo de visão, ao lado dele uma moça de corpo voluptuoso, belas pernas à mostra e cabelos escuros longos, escondendo parcialmente seu o rosto.

Ha Jin forçou a vista, uma impressão familiar emanando da desconhecida que ergueu a cabeça no momento que Eujin cumprimentava-as, paralisando Ha Jin por alguns segundos. Era simplesmente Woo Hee, ou sua contraparte moderna, diante de si…

— Olá, boa noite — Woo Hee curvou-se suavemente.

— Boa noite — ela retribuiu, ainda hipnotizada pela ideia de rever a princesa de outrora. O grande amor de Baek-Ah que terminara num fim tão terrível levando a música de dentro da alma do príncipe para sempre — Prazer em conhecê-la… Sou Go Ha Jin e essa é minha amiga, Mi Ok.

A moça, que a jovem governanta se esforçava para recordar o nome dito por Eujin – apenas princesa Woo Hee lhe vinha na cabeça – pareceu entender o momento de desconcerto e terminou de se apresentar de vez.

— Me chamo Nahm Hye — sorriu.

— Então, prazer novamente, Nahm Hye — Ha Jin sorriu sem graça — Eujin não estava exagerando quando disse que você é muito bonita.

— Ele é meu irmão, tem bom gosto — o quarto convidado introduziu-se nas apresentações, encarando-a daquele jeito abusado que costumava desarmar e entorpecer seus sentidos.

— Senhor Shin, boa noite — executou uma meia vênia, se tornando mais formal para cumprimentá-lo. Shin apenas meneou a cabeça em resposta, as duas mãos enfiadas nos bolsos da calça. Seu visual era despojado, mas retraído.

— Shin estava entediado de ficar em casa e resolveu se divertir conosco hoje — Eujin justificou sua surpreendente aparição tocando no ombro do mais velho, orgulhoso da companhia.

Ha Jin simplesmente não sabia o que pensar sobre aquilo. Não estava preparada para Shin naquela noite. Quando sabia que havia possibilidades de revê-lo, todos os dias antes de ir para o trabalho, por exemplo, travava uma disputa silenciosa com sua mente para se manter sã ao cruzar com ele pelos corredores da mansão ou nos horários das refeições.

O mesmo bolo de nervosismo dominou suas entranhas, como acontecera no jantar que Gun preparara para Na Na. Ela queria estar próxima ao herdeiro, mas seu coração se tornava inquieto e descompassado durante essa proximidade.

— Vocês vão ficar aí se encarando desse jeito estranho ou vamos para a sala de karaokê de uma vez? — Jung interrompeu a conexão visual estabelecida entre a governanta e o motoqueiro com seu questionamento incisivo.

A seguir, sem esperar resposta, pegou-a pela mão, provocando uma careta de contrariedade em Mi Ok, e encaminhou-se, o restante do grupo ao encalço, na direção de uma sala vaga.

O ambiente escolhido era um agradável recinto de paredes lilases e azuis, lustres modernos de baixa luminosidade nas paredes e um sofá, também lilás, em formato de U, com macias almofadas espalhadas pelo estofado. Uma longa mesa de vidro se dispunha no centro do sofá e, na parede à frente, o televisor.

Jung indicou um espaço para Ha Jin no estofado e, imediatamente, assim que a garota se sentou, buscou um lugar ao seu lado, na extremidade. Shin contornou a mesa do outro lado e se acomodou à direita da governanta, provocando um ar de desconfiança em Jung. Mi Ok se sentou no meio do sofá, a tez num misto de incômodo e indignação, ao passo que Eujin e Nham Hye ocupavam o outro extremo, risos e olhares apaixonados um pelo outro.

Deslocada entre os irmãos, Ha Jin tomou a palavra para se distrair, direcionando a conversa para Eujin e Hye, ao mesmo tempo que uma garçonete entrava na sala e tomava o pedido deles.

— Então vocês se conheceram daquela vez, Eujin? Quando saímos juntos no outro domingo?

— Exatamente — ele comentou alegre, a voz de Mi Ok ao fundo pedindo várias garrafas de soju à garçonete — Foi amor à primeira vista, ao menos da minha parte.

A moça sentiu o peito aquecer, um desejo imenso de dizer ao amigo o significado daquele poderoso sentimento que veio galgando pelos séculos dentro dele. Sorriu, feliz, escutando Nham Hye narrar sua versão da história, debaixo de protestos carinhosos e acréscimos detalhados do namorado, sobre como o romance, de fato, começou. Eles continuavam iguais a suas metades ancestrais, concluiu Ha Jin, viviam intensamente e sem enrolação.

— Engraçado… Essa explicação saiu tão natural, parece que te conheço faz um tempão — Hye finalizou o resumo de sua odisseia com Eujin — Você me parece levemente familiar, Go Ha Jin…

— É verdade. Ela não tem costume de sair matraqueando assim com gente nova — reiterou Eujin, apontando para a namorada — Meio tímida.

— Imagina — a governanta sorriu — Meu rosto é comum por aí, deve ser por isso. Quanto a timidez, eu também sou bastante, então deve ter acontecido alguma afinidade.

— Você é tímida? — Shin intrometeu-se, espiando Ha Jin com superioridade.

— Com licença, os senhores vão querer o quê para beber? — a garçonete terminou de arrecadar os pedidos de Mi Ok e Jung, e dirigiu-se para eles.

A atenção dos namorados se voltou para os pedidos e, depois de uma longa troca de olhares entre os outros dois, eles se dispuseram a  escolher o que queriam. Shin, a fim de relaxar um pouco, os músculos do corpo travados, optou por bebida alcoólica, como os demais.

***

A noite seguiu animada, contrariando as expectativas do herdeiro rebelde, e após as três primeiras garrafas de soju ele já sorria alegremente vendo Eujin e sua namorada divertindo a plateia ao som de um hit pop do passado. Eles realmente formavam um casal bonito.

Uma espiada para o lado e mirou demoradamente Ha Jin, batendo palmas e embalando o corpo ao ritmo da música… e um doce perfume se desprendendo de sua roupa na direção do olfato dele.

— Está mais calminho hoje, é? — Mi Ok interrompeu os devaneios de Shin, perguntando.

— Como?

— Desculpe por aquele outro dia… — ela continuou, uma garrafa na mão, ligeiramente bêbada — Eu gritei com você sem nem ao menos te conhecer… Havia abusado um pouco do álcool — um pouco? — Você é o irmão mais velho do Jung?

— O segundo mais velho — ele corrigiu tentado virar para o outro lado e prestar atenção no que Jung cochichava ao ouvido da governanta.

— Ah, tá… — Mi Ok resmungou melancólica e arrematou um gole generoso da aguardente assim que encheu o copo — Acho que estamos sobrando aqui… Quem sabe não querem que a gente forme um casal…

— Hã… Eu… — balbuciou ele, coçando a nuca.

— Mas, tomando a liberdade de te aconselhar, você deveria ser menos agressivo com a minha amiga… Ela é uma ótima pessoa e anda passando por momentos difíceis nos últimos meses, desde antes de estar na sua casa, inclusive.

Shin aproximou-se da sua interlocutora, falando baixo para não ser escutado, embora o som alto do karaokê já estivesse fazendo o serviço:

— O que você quer dizer com isso? Ela andou reclamando sobre… mim?

— Não, não… — ergueu a mão, abafando aquela possibilidade — Estou dizendo para ser mais gentil, como Jung, por exemplo… Embora eu ache que seu irmão exagera na dose — respondeu numa nota de tristeza.

O rapaz virou-se novamente para as pessoas que eram o foco da conversa. Jung levantando no exato instante em que a música do casal terminava e tomando posse dos microfones.

— Vamos, Ha Jin? Vamos cantar? — sacudiu os objetos na direção dela, sorridente.

— Ah, eu acho que ainda não estou no clima, Jung… Mas cante você.

Jung desmanchou o semblante, partindo da alegria para o desapontamento. Mi Ok saltou bruscamente de onde estava sentada, esticando os braços e se convidando aos pulos:

— Eu vou! Eu vou! Quero cantar! — sem brecha para argumentar, o herdeiro lutador passou o microfone para ela, que ainda se ofereceu na escolha da música.

— Sua amiga é animação pura — Hye comentou para Ha Jin apontando para Mi Ok.

— Ela é ótima — Ha Jin concordou, temendo um segundo show de embriaguez da amiga. Ela já parecia embolar a língua dentro da boca quando iniciou a primeira estrofe da cantoria em dupla.

— Ela deu uma boa lição de moral em Shin no nosso último encontro — Eujin riu, relembrando.

— É, e eu confesso que não estava nos meus melhores dias naquela vez — Shin aderiu ao assunto, sorrindo de lado — Desculpe por aquilo — virou-se diretamente para a governanta e pediu olhando-a nos olhos.

— Ah, tudo bem, o senhor está perdoado faz tempo — rebateu de imediato, rindo nervosamente.

— Senhor? Shin, faz favor, pare com essas formalidades com ela — Eujin apontou para irmão, exigindo em meio à brincadeira.

— Eu não ligo, eu não ligo — Ha Jin defendeu-o, ficando cada vez mais corada, movendo as mãos exasperadamente.

No centro da sala, Jung aumentou o tom da cantoria para fazer o quarteto parar de interagir tão espontaneamente e prestar atenção à sua apresentação.

— Mi Ok me disse que você andou enfrentando problemas nos últimos meses — Shin abordou a garota, aproveitando a distração de Eujin e Hye nos cantores, para falar-lhe com privacidade — É algo relacionado ao trabalho na casa do meu pai? Algo que eu possa, de alguma forma, melhorar?

Por que ele é assim? Por que tem de ser tão parecido com So? Bruto e indiferente na maioria das vezes, mas completamente solidário em outras? Por que se importa com as agruras da reles funcionária servente?

Ha Jin ponderou, notando que a bebida estava tranquilizando seu pânico inicial enquanto o fitava de perto. Observou então que ele cortara o cabelo recentemente, as laterais e a nuca aparadas rente e o restante dos cabelos caindo em suaves madeixas negras e onduladas. Teve vontade de exprimir sua opinião sobre aquele corte, sobre como ele estava bonito, mas conseguiu apenas responder à sua pergunta do modo mais discreto que pôde:

— Não é nada, somente os corriqueiros problemas pessoais que todos temos. Na mansão vai tudo bem, gosto de trabalhar para a sua família.

— Tem certeza? — ele apoiou a mão no queixo e ela percebeu que seu olhar estava um tanto baço, o que indicava o efeito do soju espreitando dentro dele — E o seu coração?

— Meu coração? — ela repetiu a pergunta, atônita e assustada pelo que ele pudesse estar se referindo. Por que quer saber como anda meu coração?

É… Você tem um problema cardíaco e precisa ser submetida a uma cirurgia para corrigir, não é isso?

— Ahhh… — mais aliviada, embora encucada porque um assunto tão pessoal, algo que ela não tinha comentado com nenhum dos herdeiros, nem mesmo Eujin, chegara ao conhecimento dele. Só pôde imaginar a boca grande demais de Mi Ok abrindo-se para falar o que não era da sua conta — Estou bem. Tomando meus remédios em dia e tudo mais. A cirurgia não é prioridade, por enquanto.

— E é permitido tomar bebida alcoólica durante o tratamento? — Shin ergueu a sobrancelha, especulador.

— E você é minha mãe, por acaso? — desafiou-o, não controlando a resposta afiada. Ao invés dele fechar o tempo ou discutir, o natural entre eles, o rapaz sorriu amigavelmente.

— Acho que nós dois não conseguimos manter cinco minutos de diálogo sem brigar. Com meus outros irmãos é somente amabilidade e brincadeiras, mas comigo sua predileção é outra — objetou, o significado desse comentário uma incógnita à garota — Sua amiga está certa, assim como Eujin: eu sou meio fechado… Minha mãe também deve estar correta quando diz que sou detestável. No fim, nem posso reclamar.

— Sua mãe não está certa — o informou firmemente, a raiva pela rainha Yoo incandescendo no seu ser por um instante — E cada pessoa tem uma personalidade, é normal. Muito embora eu ache, sendo muito honesta, que o senhor melhorou bastante na convivência dos seus irmãos. O restante é aquilo que lhe disse da outra vez… O senhor deve se permitir mais proximidade a eles, à sua família, ou eles nunca vão conhecer o seu verdadeiro lado.

— Meu verdadeiro lado… — ele murmurou, repetindo e sentindo o peso das afirmações dela.

Estava, muito sutilmente, começando a entender o que chamava sua atenção para a governanta. Além da beleza, porque notando-a de perto e informalmente ela era muito bonita, esse modo de Go Ha Jin explanar as coisas sobre ele, com franqueza e propriedade, balançava-o por dentro.

Ninguém nunca havia sido assim. Nenhuma pessoa se submetera a ler o caráter do filho marginal de Hansol. Exceto por Nyeo, não havia outra mulher no mundo capaz de se expressar com tanta convicção sobre a personalidade de Wang Shin.

A música de Jung e Mi Ok terminou e, embora a garota quisesse emendar em outra canção empolgante, o rapaz rapidamente retornou ao seu posto à esquerda de Ha Jin.

— Estavam papeando sobre o que? — perguntou aos dois, um sorriso estranho nos lábios.

— Nada demais — Shin retornou para sua bebida.

— Vamos cantar uma próxima música juntos, agora? — virou-se para a garota pretendida esperançoso.

Ha Jin suspirou, resignada, e sua cabeça zonzeou um pouco alertando-a sobre a necessidade de colocar algo dentro do estômago para balancear a bebedeira. Apoiando a mão na mão de Jung, imensa perto da dela, começou:

— Jung, acho que precisamos conversar…

— Vou pedir para a garçonete trazer algo para beliscarmos, o que gostaria de comer? — ele atropelou a fala, ansioso.

— Qualquer coisa — ela admitiu — Mas…

— Já volto então — se levantou bruscamente, partindo.

— Aonde Jung vai? — Eujin quis saber.

— Buscar algo para comermos.

— Eu vou também — Mi Ok deixou o microfone sobre a mesa e correu ao encalço do seu amor não correspondido.

— Que tal uma segunda rodada do nosso dueto incrível então, hein senhorita Hye? — Eujin abraçou a namorada carinhosamente, a convidando — Vocês dois me desculpem, mas simplesmente não consigo ficar sem agarrar essa mulher.

Shin e Ha Jin riram, seus ombros mais próximos um do outro.

— Certo, tem uma música incrível do EXO que quero tentar.

— EXO? Sério? — o rapaz pareceu contrariado, mas, mesmo assim, foi arrastado para o desafio de bom grado.

Enquanto Jung e Mi Ok não retornavam e Eujin e Hye cantavam apenas para eles mesmo - ébrios não apenas pela bebida, mas também pelo sentimento que viviam, Shin voltou a falar:

— Meu irmão está interessado em você, não sei se percebeu… — tamborilou os dedos na mesa, fingindo desinteresse na constatação.

— É… acho que sim… — Ha Jin concordou, cabisbaixa, brincando com os dedos sobre as coxas — Estou tentando dizer para ele…

— Dizer o que? — Shin a interrompeu, erguendo a cabeça interessado — É mútuo?

— Claro que não — a moça disse como se aquilo fosse óbvio demais. Queria, na verdade, que ele tivesse o poder de ler seus pensamentos para saber que nesse exato momento seu maior desejo era beijar seu irmão mais velho na boca — Jung é… É… Eu o considero tão meu amigo como Eujin.

— Hum… Então deve estar na hora de ser honesta, porque ele anda cultivando sentimentos por você. Jung é ingênuo e bondoso, não merece ser enganado.

— Não estou enganando! — exclamou irritada — Estou tentando ser franca… Vou falar assim que a oportunidade surgir.

— Ainda mais se você gosta de outra pessoa — o herdeiro rebelde continuou, insistindo — Ele vai ficar arrasado ao descobrir algo do tipo, se ainda almejar namorá-la. Você gosta de outra pessoa? — a pergunta tomou a governanta de assalto, arregalando os olhos.

Shin não tinha muita convicção do porquê, contudo ter essa resposta era muito importante para ele. Era uma dúvida que, por mais de uma vez, lhe tirara a concentração dos estudos ou do trabalho, por exemplo. Certamente, era apenas a preocupação por Jung o afligindo.

— Voltamos! — Mi Ok entrou espalhafatosa, carregando uma bandeja de aperitivos, acompanhada por um desconfiado Jung, munido de mais comida, espionando como ia sua paquera ao lado do irmão.

Ha Jin não respondeu a pergunta e Shin voltou a se fechar em seu casulo.

***

— Que tal brincarmos para descontrair? Estamos muito separados — Eujin agitou erguendo os braços.

Duas horas inteiras haviam se passado, todos mais bêbados e relaxados, e a disposição inicial do grupo trocada devido as idas e vindas ao banheiro a toda hora. Agora, Shin ficara com a ponta do sofá e Jung do outro lado, para alegria de Mi Ok que podia puxar assuntos aleatórios para chamar a atenção do rapaz.

— Aceito! — a própria bateu na mesa, o corpo oscilante devido a um soluço inesperado — A pessoa com mais músculos entre nós é… um, dois, três… Você! — Apontou para Jung, que recebeu a indicação dos demais.

Ele, o único não embriagado do grupo, sorriu jubiloso à constatação que servia como um grande elogio para alguém tão vaidoso com seu corpo, conquistado a duras penas.

— VAI! VAI! VAI!— o grupo incentivou, aplaudindo.

— Vou tomar refrigerante porque, como disse mais cedo, amanhã dou aula e tenho de estar inteiro, mas é verdade… Vocês não poderiam estar mais certos — argumentou, estufando o peito e entornando o copo de refrigerante a sua frente.

— Ah, pare de ser convencido — Eujin inclinou-se para frente e deu um peteleco na cabeça do irmão, provocando o riso dos outros— Fale de uma vez.

— Vamos lá… A pessoa mais bonita entre nós é… Você! — apontou para Ha Jin de imediato. Desta vez, houve uma confusão de apontamentos. Eujin e Ha Jin indicaram Hye, que indicou Eujin. Mi Ok, abertamente frustrada por vê-lo escolher a amiga, esticou o braço para Jung mesmo assim. Shin não levantou o braço, observando tudo de olhos miúdos.

— Hye ganhou, ela é linda mesmo! — Eujin exclamou, orgulhoso.

— Não, não… — a namorada sacudiu a cabeça em negativa — Shin não respondeu.

— Ora, eu não vou indicar a namorada do meu irmão, afinal — defendeu-se depois de perceber que a mulher falava dele — Nem esses dois marmanjos aí.

— Ainda tem duas mulheres na mesa — Hye retorquiu de pronto, a fala embolada — Ha Jin ou Mi Ok. Escolha de uma vez.

Aéreo, Shin respirou pesadamente e se decidiu, encarando Mi Ok.

— Como eu não te conheço bem… Acho que vou votar nela então — apontou para a governanta — Mas realmente não há muita opção — reforçou, virando para olhar dentro dos olhos da sua escolha.

— Empate técnico então — Eujin considerou, coçando o queixo avaliador — Como foi culpa do Shin isso ter empatado, o próximo só pode ser você.

— Ei, alto lá — o mais velho protestou batendo o copo na mesa de vidro — Isso não é justo, fui obrigado. Vou mudar meu voto: Mi Ok. Fico com Mi Ok e Hye ganha — defendeu-se rapidamente, se esforçando para organizar as ideias na cabeça.

— Não, nem vem — Mi Ok se expressou veemente — Seu irmão está certíssimo.

— Concordo — Hye apoiou.

— É isso aí — Jung uniu-se ao coro, vendo nisso uma forma de vingar-se de Shin por ter perturbado sua confiança durante toda a noite.

— VAI! VAI! VAI! — todos ordenaram em uníssono.

— Aishhh…! — ele reclamou, contrariado — Isso é um complô contra mim. Tá legal, minha vez então…Dentre nós, quem precisa encontrar algo ou alguém que a mereça e a faça feliz de verdade… Você… — Shin apontou na direção de Jung, embora pudesse muito bem direcionar aquela mira em Ha Jin, justamente ao lado do irmão. Todas as outras mãos, entretanto, apontaram indubitavelmente para ele — Isso é perseguição — bufou.

— Beba de uma vez, maninho — Eujin riu alto, inspecionando Shin se servir de mais uma dose e entornar.

— Satisfeito? — perguntou mal-humorado para o rapaz que havia ordenado. Depois, encarando Ha Jin sem trégua, sugeriu — A pessoa que quer contar que está apaixonada por outra pessoa, mas não encontra coragem?… Você…

Um silêncio profundo se abateu sobre a sala. O mundo ao redor de Ha Jin e Shin deixou de ser necessário e, um instante de pura tensão percorreu do corpo dele, se chocando contra o dela.

Os pelos dos braços da governanta se eriçaram, a cabeça tonteou ao passo que, no outro extremo, o rapaz não tinha certeza do que havia dito, e porque havia dito. Sua única certeza era que não conseguia mais enxergar Go Ha Jin como uma qualquer na multidão. Ela era especial. Ela o atraía para o irracional.

Novamente a indicação de Shin era incerta, podendo ter como alvo tanto ela quanto o irmão. Jung indicou a si próprio, contrariando as regras. Quando a percepção ao redor de Ha Jin finalmente retornou, ela votou em Mi Ok, que também apontava para o próprio peito. Eujin e Hye ficaram desorientados por um tempo, porém encontraram suas escolhas, o herdeiro galanteador em Jung e a bela garota de cabelos brilhantes em Mi Ok.

— Sou eu de novo, então… — Mi Ok não pareceu incomodada por perder.

— Vou ao banheiro — Jung levantou com violência, deixando a sala de cenho franzido.

— Que tal pegarmos um ar, Eujin? Acho que bebi demais… — Hye pediu ao namorado, que aceitou o convite — Voltamos já, já…

— Todo mundo indo embora… Seremos só nós três na brincadeira? — Mi Ok perguntou, desapontada.

— Deixa isso para depois — Ha Jin sugeriu à amiga e enfiou um petisco salgado na boca para aliviar o efeito da bebedeira, já que o Efeito Shin não passaria tão cedo.

— Vou ao banheiro também — Mi Ok deu de ombros, saindo do seu assento sobre o olhar angustiado da jovem governanta, construindo a situação que ela mais temia naquele passeio: ficar a sós com ele.

***

Nos corredores, tendo a leve sensação que ‘sobraria’ se continuasse dentro da sala do karaokê, Mi Ok caminhou em busca de Jung. Primeiro sondou a entrada do banheiro masculino, perguntando, sem rodeios, para um rapaz que passava na frente do sanitário se ele poderia descobrir se existia um jovem de blazer escuro e peitoral largo lá dentro.

Constatado que não, ela dirigiu-se para a entrada do estabelecimento, encontrando-o solitário, acompanhado apenas de um copo de suco, no balcão do bar. Ansiosa pela inesperada situação favorável construída, Mi Ok aproximou-se do herdeiro Wang e se sentou no banco vago à esquerda dele.

— Então como é isso de sair com um bando de beberrões e não poder beber nada? — Mi Ok perguntou, evitando o assunto óbvio, a mentira usada por ele para escapar da sala.

— Hã? — Jung espantou-se ao ser abordado, mas descobrindo ser somente a amiga de Ha Jin voltou a encarar as prateleiras de vidro do bar — Não é muito legal, se quer saber… Hoje eu preferia ter bebido todas.

— Você disse que tem aula amanhã… Do que mesmo?

— Defesa pessoal para mulheres e adolescentes — disse simplesmente.

— Uou! Sério? Como é isso? Você é faixa preta em qual luta?

— Não sou faixa preta em nenhuma luta… ainda — Jung deu um risinho tímido — Pratico Taekwondo desde a adolescência e me inscrevi num programa voluntariado para ensinar pessoas mais frágeis a utilizarem as técnicas simples da arte para se protegerem, sem precisar de anos de treinamento. Ninguém vai sair expert, mas garanto que conseguirão dar uns bons chutes por aí.

— Onde acontecerá? — ela quis saber com obstinação, uma ideia iluminada se formando em sua mente.

— Por que? Quer ir? — ele perguntou, erguendo a sobrancelha, então uma possibilidade também nasceu em seus pensamentos esperançosos, ao acrescentar — Pode levar a Ha Jin…

Mi Ok suspirou paciente e encostou a mão no braço de Jung. Fitando-o nos olhos, disse com gravidade:

— Você gosta da Ha Jin, não é? Acho que o contrário não acontece, ela não gosta de você, não do jeito que espera. Deveria tentar olhar em volta, às vezes tem uma pessoa legal por perto e você nem está reparando.

— Ela disse que não gosta de mim? — ele questionou, o semblante desolado e os ombros caídos, deixando a garota com vontade de carregá-lo no colo e curar aquela dor de amor o quanto antes.

— Praticamente — respondeu, não querendo deixar Jung pior, e muito menos, complicar a amiga.

No piano bar, o músico dedilhava uma melancólica e famosa canção coreana, que quando cantada falava justamente de amores não correspondidos e sentimentos gastos em vão. Jung observou o fundo do copo, sentindo uma vontade imensa de não ter se convidado para aquela noite. Uma vozinha persistente dentro dele ainda quis saber:

— Você que é muito amiga dela deve saber… Como faço para conquistá-la?

— Não sei — Mi Ok respondeu atravessada — Tenho a impressão que ela está em outra. Melhor seria partir para algo diferente. Como disse, a vida é cheia de oportunidades desperdiçadas…

***

Shin pegou uma almofada e encostou a cabeça nela, se punindo por ter virado copos demais. Jamais conseguiria guiar uma moto, não naquele estado, então lembrou-se de que havia chegado de carro, com os irmãos, e que Jung não beberia para poder guiar o veículo na volta. A garota ao seu lado levantou, contornou a mesa pelo outro lado e encaminhou-se para os equipamentos de karaokê, escolhendo uma música, tentando manter-se distante do rapaz.

— Te ouvirei cantando pela primeira vez — ele falou, as luzes cintilantes da sala criando uma aura misteriosa ao redor dela. Não era uma pergunta, entretanto a moça disse:

— Às vezes eu canto no trabalho… no chuveiro… quando limpo minha casa… É bom, se me dá vontade — Ha Jin apertou alguns botões do controle remoto e selecionou Forgetting You de Davichi — Deixa minha alma mais leve, principalmente se o meu coração está pesado.

— E seu coração está pesado, agora? — Shin perguntou, desgrudando a cabeça da almofada. As estranhas impressões retornando com força total.

Ela anuiu sem esboçar nenhuma palavra. A música iniciou e, a medida que cantava, debaixo do olhar do amor da sua vida, o homem que perseguia sua razão através das eras, as pernas se tornavam de borracha. Aproximando-se, ela se sentou bem ao seu lado, o rapaz se afastando um pouco para lhe conceder aquele espaço.

A música falava sobre memórias, destino, distância e esquecimento. Contava sobre eles, embora Shin não tivesse a mínima ideia de tudo o que haviam vivido. Era dolorosamente confuso para Ha Jin sempre que se dava conta daquilo.

Shin era So física e espiritualmente, mas também não era. Ela tivera uma vida arrebatadora, sofrida, apaixonante e intensa. Ela até tivera uma filha com aquele homem e não podia compartilhar nada daquilo com ele, porque não era ele.

Que terríveis erros Hae Soo cometera nas reencarnações ancestrais para ter sua parte contemporânea presa ao seu corpo da dinastia Goryeo. A garota gostaria de descobrir.

Uma maldita vida dupla. Amando confusamente dois homens diferentes com o mesmo rosto, a mesma personalidade e o mesmo destino perturbado.

“Você é minha única rainha.”

A emblemática frase do rei So, poderosa a ponto de causar calafrios na barriga de Hae Soo, retumbava na cabeça da jovem ao nadar no olhar perfurante do motoqueiro.

Em certas ocasiões, quando o observava profundamente como agora, tinha a nítida impressão que príncipe renegado vivia em algum lugar dentro dele, esperando o momento adequado para se revelar e declarar seu amor, voltar a dizer, num confesso íntimo, que ela era a única rainha dele.

Na concepção de tempo-espaço dentro dela, aquelas declarações aconteceram outro dia, entretanto, o mundo tinha girado ao redor do Sol milhares de vezes desde que Soo decidira não iniciar uma guerra sangrenta ao recusar o pedido de casamento daquele rei apaixonado.

— Por que ele está pesado? — Shin sussurrou soturnamente para Ha Jin ao fim da canção, os dois perigosamente próximos. Tão próximos que um suspiro mais forte poderia fazer com que colassem os lábios um no outro — Eu acho que… Que gostaria de acabar com isso…

O herdeiro avançou alguns centímetros mais, fazendo a garota perder a firmeza dos músculos, o microfone escapando de seus dedos e rolando para o chão de carpete fazendo um barulho abafado. O peito dela batendo loucamente, esperando pelo avanço dele, ansioso por provar dos lábios da intrometida governanta que parecia estar se intrometendo no seu coração.

— Mas que droga essa porta! — Mi Ok gritou enraivecida, chutando a porta que havia emperrado, o estrondo assustando Ha Jin e Shin. Os dois se afastaram como dois gatos escaldados, o mais distante possível um do outro.

Jung entrou destravando a porta, avaliando o rosto constrangido do irmão e da sua paixonite, extremamente desgostoso. Poderia ser apenas uma cisma, contudo a impressão que teve por toda a noite, intensificada pela alegação de Mi Ok “ela está em outra”, era que a governanta gostava, sim, de um dos Wang, e esse, nem de longe era ele.

***

CENA BÔNUS

Ha Jin encontrou Shin sentado sozinho à mesa do café da manhã, se alimentando calmamente, como se não fosse o culpado por causar um tsunami destruidor dentro dela. Ela havia passado duas noites e dois dias infernais, tentando entender o significado daquele quase beijo e, portanto, estava convicta de que não passaria mais nenhuma hora sem as devidas respostas.

— Qual o seu problema, garota? — Shin indagou cortante, quase derrubando o suco em seu colo devido ao susto que tomou quando a jovem governanta bateu a bandeja que trazia em mãos, com força contra a superfície da mesa.

— Meu problema, senhor, é que eu preciso limpar as sobras do café e como você acordou tarde, atrasou meu serviço — retrucou com selvageria, retirando as guarnições inacabadas da frente dele, arrancando os jotgarak de suas mãos.

— Ei, ei! — Shin exclamou, revoltado, se levantando da cadeira — Que modos são esses? Eu sou seu patrão, sua insolente… E ainda estou com fome...

— Pois coma algo na rua — ela o enxotou com a mão. Terminando de preencher a bandeja, começou a lhe dar as costas.

— Como ousa?!

— Como ouso o que? — deu meia volta e bateu a bandeja na mesa novamente. Shin piscou assustado e recuou um pouco ao ver o rosto avermelhado de Ha Jin — Como ouso querer agilizar meu trabalho? Como ouso falar com você dessa maneira? Como ouso querer saber por que o senhor tentou me beijar no fim de semana?

— Hã?! — ele engoliu em seco, chocado.

— Não se faça de surdo. Eu estava bêbada, o senhor também, mas isso não quer dizer que suas intenções não fossem aquelas. Por que quis me beijar? — ela nem acreditou que estava falando aquilo, mas sua voz não obedecia a razão e continuava a sair num ímpeto de indignação, como uma mãe tirando satisfações com um filho malcriado. Seu coração batia mais rápido que as asas de um beija-flor apressado.

— Acontece que… Na verdade eu… Eu não tentei te beijar — ele desconversou, encarando todas reentrâncias do chão, todas as imperfeições da parede, todas as mobílias da sala de jantar, todas as ranhuras do teto, todos os grãos de poeiras suspensos no ar, exceto os olhos dela.

— Covarde — Ha Jin rebateu segurando as mãos, uma na outra, para que parassem de tremer. A seguir, voltou a pegar a bandeja.

— Eu não sou covarde — Shin respondeu com firmeza e pegou-a pelo pulso. Quando os olhos dos dois estavam focados um no outro, ele repetiu, parecendo desempenhar um grande esforço para não fugir dali — Não sou covarde.

— Então assuma, você quis me beijar.

— Eu quis sim… E daí?

— E daí que… Que…

— Você não gostou? Quer que eu me desculpe? Tudo bem, eu posso fazer isso.

— Não é nada disso — Vá lá, Ha Jin, coragem! — Não quero sua desculpa. Quero apenas saber se… o senhor está gostando de mim?

Entretanto, quando Shin abriu a boca para responder, um som ensurdecedor estremeceu as paredes da sala e Ha Jin não pôde escutar a resposta dele. Nada, além do toque irritante do seu despertador, chamando-a para um novo dia de trabalho podia ser escutado.

Apanhada de suor, apesar do frio, Ha Jin abriu os olhos e começou a se orientar na penumbra. Estava no seu apartamento… Fora apenas um sonho… Ela nunca teria coragem de confrontar Shin na vida real, nunca teria coragem de confirmar o que seu coração se angustiava mais e mais para saber. Quem sabe na próxima noite aquele sonho tivesse continuidade e a governanta dos seus sonhos, a destemida, apaziguasse aquelas expectativas.

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Notas finais do capítulo

Não deixem de comentar... Esse capítulo é um dos nossos preferidos nesse arco e adoraríamos saber o que acharam.
BOA SEMANA!



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