Moon Lovers: The Second Chance escrita por Van Vet, Andye


Capítulo 30
Compactuando com o Inimigo


Notas iniciais do capítulo

Oi gente... Cheguei aqui rapidinho para deixar nosso capítulo 30 online.
Infelizmente não tive tempo para fazer a capa de sempre, estou enlouquecendo com várias atividades de final de período na Universidade, mas recompenso em breve, se conseguir sobreviver hahaha

No demais, obrigada aos comentários, os novos e antigos leitores. Sejam sempre bem-vindos!

Fighting!



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Taeyang circulou pelas ruas de Busan naquele fim de tarde com um misto de novas sensações em seu peito. Sentia-se livre por ter finalmente falado sobre os seus sentimentos para Na Na; sentia-se aflito por não saber onde ela estava durante aquela chuva que caía; sentia-se impotente por não poder procurá-la; sentia-se triste por ter um irmão como Gun; sentia-se envergonhado por ter brigado, mas sentia-se de alma lavada por ter colocado para fora anos e anos de frustração.

Resolveu não voltar para casa e enfrentar a família durante o jantar. Também não tinha fome e se pegou pensando durante as muitas horas que passara sozinho no beijo que trocara com Na Na. Ela não o rejeitou por completo, embora tenha se afastado em seguida. Não tinha como saber como ela se sentia sem procurá-la, mas não queria cruzar a linha de limite que a moça colocou entre os dois naquele momento. Ela precisava de um tempo, e ele o daria.

Quando chegou em casa, muitas horas depois, percebeu que o carro do irmão mais velho já estava estacionado e inspirou o ar com profundidade antes de atravessar o pátio e adentrar a mansão. A tempestade que caía, intensa e angustiante, refletia bem como ele se sentia por dentro.

— Onde você se meteu? — foi recepcionado pela mãe ainda à entrada da sala de visitas — Meu Deus, o que é isso no seu rosto? Então é verdade? O que você tem na sua cabeça para sair aos murros e pontapés com seu irmão?

— Mamãe, por favor, não quero falar sobre isso — respondeu sem muita animação, indo em direção ao quarto.

— Como não quer falar sobre isso? — a mulher estava exaltada — O seu rosto está terrível. Como pode brigar com seu irmão? Com o filho daquela serpente, ainda por cima? Qual o motivo de tudo isso? Como você pôde desonrar nosso nome e nossa família dessa forma, Taeyang? O que você tem em sua cabeça para fazer isso, ainda mais com seu pai viajando?

— Irmão… — Yun Mi chegara em seguida fazendo Taeyang bufar. A garota, assustada com o seu estado, levou as mãos à boca em espanto — Eu não consigo acreditar no que estou vendo! Soube pelos funcionários que você e Gun brigaram na empresa. O que está acontecendo?

— Tivemos um desentendimento, nada demais — ele retorquiu pressuroso para se desvencilhar daquele cerco.

— Não é possível que isso seja apenas um desentendimento — Yun Mi avaliou com esperteza — Vi os dois se desentenderem muitas vezes durante minha vida. Nunca chegaram a esse ponto. Isso tem a ver com…

— Não tem nada a ver com nada, Yun Mi — Taeyang cortou com firmeza — Agora, se me dão licença, quero tomar um banho e comer alguma coisa.

— Tudo bem, irmão. Não falarei nada... — a mais jovem calou-se daquele assunto — Papai está esperando por você no escritório.

— Papai já voltou? — ergueu as sobrancelhas, surpreso.

— Sim. E já está sabendo de toda essa situação sem motivos — Ah Ra se exaltou novamente — Não criei meus filhos para vê-los se digladiarem pelos corredores da empresa com os outros irmãos. Você nasceu em berço de ouro, Taeyang. Você é refinado. Você tem um futuro de liderança em sua frente. Não estrague tudo com emoções vãs…

— Vou ver papai no escritório.

O rapaz seguiu o caminho do corredor até o escritório em passos firmes, seguro de si e de tudo o que viveu naquele dia. Sentia o rosto repuxar com o inchaço, assim como tinha dificuldade para falar devido ao corte sobre os lábios, mas não se deixava abater. Mantinha o queixo erguido diante daquela situação e, mesmo diante de todas as circunstâncias, se sentia bem.

— Com licença, papai — falou adentrando a sala, após uma leve batida à porta. Hansol, sentado atrás da escrivaninha como era de costume, o recebeu com um suspiro cansado e pesado depois de vislumbrar seu rosto.

— Sente-se Taeyang — praticamente expirou aquelas palavras. Oferecera para o filho um assento ao lado de Gun.

O mais velho, que mantinha o mesmo ar superior de sempre, evitou olhar para o irmão em todo o seu percurso. Taeyang percebeu que ele já estava limpo, seus ferimentos tratados, mas no fundo, sabia que o orgulho estava muito mais ferido que seu corpo. Uma leve alegria preenchendo seu coração por isso.

— Cheguei de uma viagem cansativa tem pouco mais de uma hora e já tenho algo como isso me esperando. Não me interessa os motivos de se esmurrarem — Hansol começou estafado, porém irritado — Mas não vou permitir que façam seus shows em nossa empresa. Todos os funcionários estão comentando sobre a briga dos herdeiros da Wang S.A. O que pensam que estavam fazendo brigando dessa forma?

O silêncio fora a resposta dada para o pai. Os dois homens, sentados lado a lado, não se olharam, mas firmaram um pacto mudo de não pronunciarem a mais ninguém o motivo que os levara até aquela situação.

— Tudo bem... Não vão falar. Já esperava por isso — Hansol continuou — Pensei que você fosse um homem mais ajuizado, Taeyang. Estou totalmente decepcionado com você. Nunca pensei que viveria para ver o dia em que levantaria seus punhos e tentaria resolver o problema que fosse a base da força. Não o criei para isso... Sinto que falhei como pai.

— Desculpe, papai.

— "Desculpe, papai"? Acha que o seu pedido de desculpa vai conseguir recuperar tudo o que perdeu no dia de hoje?

— Não — respondeu sem olhar o homem nos olhos.

— E você, Gun — virou-se para o mais velho — Sempre tão altivo e cheio de si... Como pôde se deixar levar dessa forma e usar os punhos? Como quer que eu confie em você se no primeiro momento em que me afasto da nossa empresa você age dessa forma, como um lunático sem sentido?

Gun não respondeu diante do silêncio de seu pai. Sabia que nenhuma de suas palavras faria com que o homem encerrasse aquele sermão, ou que a decepção que ele levava em seu rosto desaparecesse.

— Fazem ideia do prejuízo que me deram? Sabem o tamanho da vergonha que sinto de vocês nesse momento?

— Sim — os dois responderam em coro.

— Não me importa em nada o motivo que os levou a tomar essa atitude. Não me interessa o que fez com que os dois chegassem a esse ponto, embora imagine que tenha sido algo extremamente sério e tenha minhas suspeitas. Sei que não são os melhores amigos, que mal têm afinidades, mas não quero que essa cena se repita jamais entre os dois ou qualquer um de seus irmãos, independente do motivo que venha a surgir.

"Vocês têm o mesmo sangue, tem um nome. Devem se apoiar, e não se esmurrar para resolver seus problemas. Perdi muito dinheiro investido em seus estudos, em suas faculdades e especializações para vê-los resolverem problemas com socos e pontapés. Essa atitude não é condizente a um homem, muito menos a um homem Wang. Não façam com que eu me arrependa de tudo o que fiz por vocês até agora."

— Desculpe — Taeyang novamente falou.

— Tome um banho, coma e vá ao hospital — Hansol aconselhou o mais novo após mais um suspiro exasperado — Leve um de seus irmãos, se não quiser ir só. Jung acompanhou Gun, tenho certeza que Eujin poderá ir com você. Soube que foram eles que os impediram de se matar… — suspirou novamente — Ao menos os dois mais novos têm algum bom senso… Amanhã eu quero os dois presentes na reunião com os acionistas às oito em ponto.

— Sim — responderam em conjunto.

— Apertem as mãos — Hansol impôs com firmeza — Não tenho mantido vocês sob o meu teto para serem inimigos.

Taeyang olhou para Gun pelo canto dos olhos. Sabia que aquela conversa terminaria daquele jeito desde que vira o irmão sentado em frente ao pai. Era assim que as coisas entre os filhos de Hansol eram resolvidas. Respirou profundamente e virou os olhos para o lado oposto do irmão, avistando o jardim através da janela. Sentia raiva. Não conseguia encará-lo.

— Eu mandei apertarem as mãos — Hansol gritou autoritário diante daquela rejeição mútua, socando a madeira polida da mesa à sua frente.

Os irmãos se fitaram como dois oponentes prestes a duelarem. Gun fora o primeiro a estender a mão. O mais novo, depois de inspirar uma grande quantia de ar a fim de manter os nervos controlados, aceitou o aperto e, ambos, como em um sussurro, pediram desculpas um ao outro.

***

Shin não estava muito animado para comparecer àquela reunião na empresa e os motivos eram diversos. A fábrica se tratava de um ambiente bem mais adequado a sua personalidade, informal e despretensioso. Nela, apesar das visitas regulares de Taeyang, com quem procurava não se importar, havia mais espaço para respirar, longe da companhia sufocante de seu outro irmão, Gun. Se fosse possível resolver tudo por lá, em qualquer ocasião, o cargo seria perfeito.

Hoje não havia essa opção. Todos os Wang, exceto Jung e Sun – dois sortudos que estavam na faculdade – deveriam estar presentes no debate sobre os últimos detalhes da finalização do carro modelo que a multinacional lançaria ao mundo no início do verão. Shin suspirou fundo, ombros curvados e mãos nos bolsos, saindo do elevador e se encaminhando rumo à sala de reuniões.

Ao abrir a porta do recinto, que ele visitava raras vezes, encontrou o séquito de acionistas majoritários costumeiros, os três patrocinadores japoneses do novo produto, Yun Mi conversando toda simpática com um deles em japonês, Eujin e, por fim, o seu pai, na cabeceira da opulenta mesa envernizada. Hansol olhou para ele, a sombra de um sorriso amigável nos lábios, e retornou a sua pose rígida. Shin acenou para os presentes, respeitoso, mas reservado, e reivindicou um lugar ao lado de Eujin, que parecia lutar contra o sono, bocejando a cada minuto.

— Quer ver algo curioso? — Eujin inclinou-se para perto de Shin e cochichou, olhando para a porta.

— Hã? — Shin ergueu a cabeça, distraído, e viu o rapaz indicar a entrada da sala com um aceno discreto de cabeça.

O herdeiro rebelde quase levou um susto ao ver o estado do rosto de Taeyang. Parecia que o irmão bebera todas e resolvera arrumar briga com algum valentão de bar. As fofocas na mansão, entre os irmãos, não deram a dimensão real dos resultados.

Taeyang tinha o canto do lábio inchado, um corte visível próximo ao supercílio e um generoso vergão avermelhado abaixo do olho direito. Consciente de que estava despertando a curiosidade da pequena plateia, assim que entrou no ambiente, o filho de Ah Ra realizou uma vênia profunda, o semblante ligeiramente apreensivo, e sentou-se ficando em silêncio. Shin olhou para o irmão pensativo, imaginando o motivo que levara ele a se desentender com o outro naquele ponto.

Não que seu outro irmão não provocasse… Haveria motivos de sobra para executar uma boa surra em Gun, contudo Taeyang era obrigado a conviver próximo dele há tantos anos que Shin considerou-o vacinado contra suas provocações e falta de caráter. Eujin, um dos que separara o embate, chegou a comentar sobre ter algumas suspeitas, porém não arriscaria nada sem certeza.

— Agora quer ver algo engraçado? — Eujin retornou para ele, os olhos novamente pregados na porta.

Ele não fez questão de disfarçar sua expectativa, afinal nem seria possível devido ao aspecto chamativo no rosto de Gun. Se alguém contasse que o atual CEO havia se lançando de um bungee jump que terminara errado, ele acreditaria. Hematomas e tumefações na boca, na bochecha, na testa e um calombo arroxeado no lugar do nariz. Seus olhos não eram possíveis de se enxergar, ele chegou de óculos e com eles permaneceu até se sentar na poltrona, de frente para Taeyang, ainda por cima. Taeyang ajeitou sua gravata, abertamente desconfortável pela proximidade.

Gun reuniu os papéis à sua frente, estudando-os por cima, e acionou o retroprojetor já conectado ao notebook. Em seguida, de controle na mão, levantou e tomou a palavra diante dos presentes.

— Bom dia, senhores…

— Pretende realizar uma reunião sem nem, sequer, olhar nos olhos das pessoas, rapaz? — Hansol rosnou fitando o filho através de miúdos olhos reprovadores.

Crispando os lábios de contrariedade, Gun aproximou-se da mesa e deixou os óculos escuros junto com os seus papéis, um arco arroxeado profundo do tamanho de um punho raivoso – o punho de Taeyang – desenhado ao redor do olho esquerdo.

Shin apertou os lábios firmemente para não gargalhar. Achou prudente também desviar os olhos para os papéis da pauta do dia, se concentrar nos jargões técnicos expostos no texto, e não no rosto prestes a rir de Eujin. Enquanto isso, e de um modo nada disfarçado, acionistas e patrocinadores, encaravam os irmãos machucados ponderando silenciosamente sobre o óbvio.

— Bom dia, senhores — Gun continuou, a voz solene e abafada pelos machucados, fingindo que não ter uma peça de carne moída no lugar do rosto — Estamos entrando na reta final da criação do P02 nesses próximos meses e, como podem ver, nosso modelo está prestes a sofrer a primeira montagem-teste na fábrica ao fim do mês — e clicou no controle remoto para revelar a imagem do veículo idealizado, em 3D, no quadro branco — Nossos engenheiros darão o melhor de si para cumprir esse prazo, contudo, ainda ficaram algumas questões a resolver...

Taeyang observou sua pauta com atenção e se levantou em seguida, ajeitando o terno no corpo. Todos ficaram em suspenso encarar quando ele caminhou até Gun e tirou o controle de sua mão, o outro esticando a palma e entregando o objeto para o irmão com um “quê” de deboche nas expressões. As que os machucados o deixava fazer…

— Visto as singularidades do mercado oriental comparado às tendências do mercado ocidental, principalmente no continente americano e parte do europeu, pensamos num produto que agregue conforto, segurança e praticidade visando as famílias, e, em contrapartida, inovação, luxo e potência. Basicamente, a Wang S.A quer um carro para todas as esferas do indivíduo de classe média padrão e almeja a introdução do veículo não apenas como mais uma opção asiática no ramo, mas, sim, na certeza de conquistar uma tendência mundial...

— Nossa ideia pode parecer ousada — Gun interrompeu Taeyang, ambos dividindo o “palco”, que o fuzilou discretamente, apertando o controle remoto na mão — Mas ousadia é a marca da empresa. Desde os anos 90, meu pai e meu avô inovam no mercado com modelos como o Vision 500 e o HT 64…

Shin observou a apresentação dos irmãos, a atenção momentaneamente dispersa para o significado genuíno dos Wang. Eles eram uma família problemática da raiz aos ossos e, ainda assim, possuíam a obstinação para os negócios. Às vezes, pensar sobre isso era admirável, embora quase sempre assustador.

Lembrou-se das histórias que corriam a linhagem de seu sangue, geração após geração, de antepassados se digladiando até as últimas consequências para se tornarem reis e rainhas. Um sentimento estranho e sufocante apoderava-se de Shin ao recordar sobre esses assuntos e a vontade de deixar tudo para trás e jamais se envolver nos jogos de poder familiar aumentava. Em sua consciência existia uma balança que ora pendia para o ímpeto de se provar para todos os irmãos, a mãe e pai, e ora para o desejo de montar em sua moto, tornando seu paradeiro desconhecido definitivamente.

Passou os olhos pelos rostos dos presentes que agora pareciam estar mais engajados em escutar o que Gun e Taeyang diziam do que admirarem seus ferimentos. Hansol conservava sua máscara de observador imperscrutável, não tendo como saber se orgulhava-se ou desgostava-se dos dois rapazes. Os acionistas realizavam anotações pontuais conforme o assunto era destrinchado.

Os investidores do japão erguiam as sobrancelhas em total sintonia com aquilo que esperavam encontrar para colocaram seu dinheiro. Yun Mi lançava olhares furtivos para Shin, que tentava ignorá-la de uma vez por todas. Eujin parecia mais curioso ao conteúdo da reunião, apesar de consultar o celular constantemente por baixo da mesa. Shin achou mais produtivo retornar a atenção total para o que Taeyang dizia:

— … Ainda existe uma questão a melhorar no P02, aquele que vem sendo o nosso calcanhar de Aquiles… O motor. Nossos engenheiros continuam trabalhando arduamente para desenvolver um componente econômico e de expressiva potência, algo que raramente se vê no mercado e…

— E tenho uma novidade quanto a questão — Gun interrompeu Taeyang novamente, a postura corporal se inflando de superioridade — Um ex-colega de graduação me contatou recentemente porque gostaria de uma chance na empresa. Trata-se de um engenheiro mecânico de alto nível, com um currículo extenso em montadoras de prestígio nos Estados Unidos e na Itália.

"Após conversamos, ele pediu para ter a chance de mostrar um motor brilhante em que vem trabalhando sozinho e pretendia patentear… Ao examinar os esboços e escutar suas explicações devo concordar: é isso que falta para nosso projeto. Estou disposto a contratá-lo como meu último ato como CEO e deixar que ele nos atribua seu talento, mas antes faço gosto que o próprio se apresente e lhes mostre o que vem desenvolvendo… Jo Han Rok, entre, por favor."

Shin observou o esguio homem de feições nervosas entrar na sala de reuniões e cumprimentar Gun e aos demais. Taeyang olhou chocado para aquela revelação assim como seus outros irmãos, Hansol, Yoseob e os acionistas. Gun transparecia um ar de confiança acima do normal, o sorriso não podendo se alargar devido aos hematomas, mas o brilho no olhar sagaz como a uma raposa.

O tal Jo Han Rok tomou a controle dos slides e da reunião, deixando Taeyang ainda mais desajustado. Sentou-se em sua poltrona, mil coisas parecendo passar por sua mente. Nesse ínterim, por um instante, Shin e Taeyang se fitaram e, pela primeira vez, o herdeiro rebelde percebeu que eles estavam em sintonia numa opinião: Gun estava maquinando algo… E era grande.

***

Foi o som forte da tempestade que caia que despertou Na Na de seu sono. O celular, no silencioso e com a vibrador desativado, piscava no chão ao lado de seu colchão. Ela esticou o braço sem muita vontade e, desbloqueando o aparelho, visualizou doze chamadas não atendidas e sete mensagens na caixa de entrada.

Tocou a tela do aparelho sem animação. Dentre as doze chamadas, uma era de sua mãe e uma de Ha Jin. As demais, como ela bem imaginava, vinham de Gun.

O rapaz seguia insistindo em contactá-la nos dias após a briga, mas ela resolveu acatar a sugestão da prima e decidiu ficar um tempo ali, sozinha, longe daquelas pessoas que haviam lhe feito tão mal. Diante de toda aquela situação, estava grata ao senhor Hansol por tê-la permitido tirar suas muitas férias em atraso naquele momento. Não sabia se o homem estava consciente sobre toda a situação, mas acreditava ser do conhecimento de todos que ela havia sido o pivô da discussão entre os herdeiros.

Decidiu, ainda fatigada e sonolenta, ligar para a mãe em resposta à chamada perdida. Inspirou profundamente enquanto a ligação chamava. O celular apoiado na bochecha. O corpo esparramado por completo sobre o colchão.

— Oi, mamãe — respondeu em resposta à senhora que lhe atendeu.

Como está se sentindo? — a mulher perguntou preocupada do outro lado da linha.

— Cansada… Sinto uma sensação estranha em meu peito, mas estou bem.

Minha filha… deveria voltar para casa. Quanto tempo pretende ficar com sua prima?

— Não sei, mamãe. Embora esteja assim, estou me sentindo bem aqui.

Acredito que sim… Ha Jin é uma ótima menina. E sobre Gun? O que decidiu?

— Ainda não sei… Não quero falar com ele por enquanto.

Filha, o que houve de verdade? Por que não nos conta? Seu pai também está preocupado com você. Se for preciso, vamos conversar com os pais dele e…

— Não,  mamãe. Por favor — ela interrompeu com ímpeto — Não precisam fazer nada. Não se preocupem. Vou resolver tudo assim que me sentir melhor.

Ele continua ligando para cá. Já apareceu aqui duas vezes procurando você.

— E o que disse? — ela pareceu preocupada — Não quero que ele saiba onde estou. Não quero falar com ele agora e também não posso permitir que ele venha importunar na casa de Ha Jin.

Não se preocupe. Não disse onde está. Seu pai e eu combinamos de falar que está na casa de sua avó. Que saiu de férias.

— Obrigada, mamãe — suspirou cansada — E me desculpe por estar colocando vocês no meio de meus problemas.

Não agradeça — a mulher falou cheia de carinho — Somos seus pais e é nossa obrigação cuidar de você e de seu bem.

— Eu sei… obrigada mesmo assim.

Tudo bem. Sua prima já chegou?

— Ainda não.

Então prepare algo gostoso para as duas comerem quando ela chegar. É o mínimo que você pode fazer.

— Tá bem. Farei sim.

Fique bem, e me ligue.

— Certo.

Amo você, minha filha.

— Também te amo, mamãe.

Na Na sorriu um pouco pensando nos pais. Eram pessoas simples e de bom coração. Ela tinha orgulho de estar naquela família e era feliz por ter apoio, mesmo que eles não soubessem o que houvera entre eles. Seguiu ligando para a prima.

Oi Na Na. Está precisando de algo? — a prima perguntou solicita. O barulho ao seu redor provocava ruídos na ligação.

— Eu estou bem — agradeceu a preocupação com um tom mais ameno — Já saiu da mansão?

Sim. Chego em casa daqui uns trinta minutos.

— Certo. Estou te esperando.

Até mais.

Por fim, depois de responder as duas ligações importantes entre aquelas, focou em ler as mensagens. Todas de Gun. Ela as ignorou. Porém, uma entre aquelas lhe chamou à atenção. Um nó gelado no estômago ao ver o nome de seu remetente: Wang Taeyang.

Pensou um pouco antes de abrir a mensagem. Uma leve ansiedade lhe rodeando. Sentiu-se frustrada por estar sentindo aquilo e, por um breve momento, recordou o beijo entre os dois. Uma sensação estranha seguiu se formando enquanto lia as palavras escritas.

Sei que me pediu para que não te seguisse. Sei que muitas coisas aconteceram, talvez eu tenha feito mais do que deveria, mas não posso abafar em mim a preocupação que tenho. Por favor, esteja bem. Não tire de mim a alegria de te ver.

A jovem segurou o aparelho com as duas mãos e leu tudo aquilo novamente. Forçava o objeto com pressão o aproximando de si enquanto pensava. Em seguida, voltou as mensagens do aparelho. Focou a primeira enviada por Gun. A necessidade de comparação surgindo em sua mente.

Precisamos conversar. Vai fugir agora?

Seguiu a leitura de todas as outras. Traziam para si aquele, até então imperceptível, autoritarismo desmedido. Sim. Aqueles eram Gun e Taeyang em sua essência. Mesmo em uma situação como aquela, suas personalidades permancera inabaláveis. Suspirou e resolveu responder uma daquelas mensagens:

Não se preocupe. Estou bem. Eu só preciso de um tempo. Obrigada!”

***

— Na Na, já cheguei — Ha Jin avisou adentrando no pequeno apartamento. A prima estava na cozinha. O cheiro era envolvente.

— Que bom — ela estranhamente sorria. Fazia quatro dias que estava em sua casa e, desde então, era a primeira vez que lhe sorria por si só — Vá se lavar, o jantar está quase pronto.

— Jantar...? — Ha Jin sorriu se aproximando da bancada sentindo os aromas — Desse jeito vou acabar me acostumando e falando com os tios para te adotar de uma vez.

As duas sorriram pelo comentário divertido. Na Na tinha uma expressão diferente dos outros dias, era claro. Será que aconteceu alguma coisa para ela está assim?

— Vejo que está um pouco melhor — comentou por fim — Fico feliz em te ver assim mais ativa.

— Estou sim, obrigada. Mas se apresse, vá se lavar. Vamos jantar.

Minutos depois Ha Jin voltou para a sala. Sobre a pequena mesa, arroz, carne, vegetais, ovos, algas, cogumelos, broto de soja e molho. As primas se sentaram ao redor do móvel e começaram a comer.

— Vou ficar mal acostumada com isso tudo — era Ha Jin comentando novamente após comer uma boa porção e suspirar de contentamento pelo sabor delicioso da refeição.

— É o mínimo que posso fazer por você, Ha Jin — Na Na respondeu se servindo também.

— Já te disse para não pensar assim. Somos primas, somos boas amigas. Jamais deixaria você sozinha.

— Você é uma pessoa maravilhosa, não dá para negar. Obrigada.

— Não agradeça. Coma…

As duas comeram um instante em silêncio. Ha Jin observando a prima atentamente durante aquele momento. Ela estava diferente.

— Falou com a tia hoje? — recomeçou.

— Sim… Falei com ela mais cedo.

— E como vão as coisas?

— Gun continua ligando para lá, mas disseram que fui para a casa de uma tia.

— O que pretende fazer? — Ha Jin foi direta e a prima lhe olhou pensativa.

— Ainda não sei…

— Na Na… Eu não sei ao certo o que houve, mas está pensando em dar uma nova oportunidade para ele? — a prima perguntou acusativa.

— Não… Entendi que nosso relacionamento não era sadio. Gun me falou coisas terríveis naquele dia. Me senti humilhada como mulher, como profissional… como ser humano. Ele me destratou de uma maneira que jamais imaginei. Eu o olhava e sentia que não conhecia aquele homem. A sensação que tive é a de que fui enganada durante os últimos quatro anos.

— Então se posicione agora.

— Farei isso. Não quero mais passar por essas coisas.

— Tenho certeza que encontrará alguém que te mereça de verdade, que te ame por quem você é e que valorize suas qualidades, que se adapte aos seus defeitos.

— Obrigada por me apoiar…

— Se você achar que deve encontrá-lo, quando decidir, me avise. Não irá sozinha. Sei que deve estar com receio de encontrar com ele, por isso vou com você. Fico de longe observando e se ele aparecer, dou um soco bem no meio da barriga dele — falou enquanto gesticulava toda a cena fazendo Na Na rir novamente — Sei que ele é alto, mas nem que seja um pontapé… Ele bem que está merecendo. Se bem que…

— O que?

— Nunca imaginei que o senhor Taeyang faria algo daquele tipo. A cara deles está terrível, mas a do senhor Gun é a pior. Ainda bem que ele apareceu para te defender…

— Sim… — Na Na desviou o olhar da prima, se concentrando outra vez na comida. Ha Jin sorriu para aquele gesto.

— Você agradeceu? Afinal, ele tomou suas dores… Fico pensando porque ele fez isso…

— Taeyang é um homem muito gentil e bondoso. Ele jamais permitiria que quem quer que fosse sofresse qualquer tipo de injustiça diante de seus olhos.

— Entendo… — Ha Jin percebeu o brilho no olhar da prima. Era incrível que ela mesma não percebesse aquilo.

— Hoje ele me enviou uma mensagem no celular…

— Foi? — se mostrou interessada — Deve estar preocupado.

— Imagino que sim. Ele tem estado um pouco aéreo pela mansão. Quase não se alimenta direito e, às vezes, fica parado olhando para o nada como se esperasse por alguém…

— Ha Jin — chamou a atenção da prima depois de um significativo silêncio — Posso te pedir um favor?

— Claro! — respondeu solicita.

— Poderia avisar a Taeyang que estou bem?

— Hmmm… Sim — respondeu surpresa.

— Diga que estou aqui, que não precisa se preocupar. Mas peça, por favor, que ele não comente com mais ninguém. Não quero que os outros saibam, muito menos Gun. Conversarei com ele no momento em que achar que devo e terminarei tudo de uma vez.

— Tudo bem. Eu darei o recado.

— Obrigada por tudo, minha prima. Não sei como estaria sem você.

— Quero apenas que se recupere, que fique bem.

— Farei isso. Agora coma logo antes que esfrie. Quero ver o que o Goblin vai fazer agora que sabe da noiva.

— Sim… vamos. Vamos terminar.


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Notas finais do capítulo

Glossário:

Concubina Oh - Nyeo Hin Hee
Hae Soo - Go Ha Jin
Hwangbo Yeon-hwa - Wang Yun Mi
Imperatriz Hwangbo - Woo Ah Ra
Ji Eun Tak (OC) - 4ª esposa de Wang Hansol
Khan Mi-Ok (OC)- amiga de Ha Jin
Lady Hae - Kim Na Na
Li Chang Ru (OC) - 1ª esposa de Wang Hansol
Park Soon-duk - Doh Hea
Park Soo-kyung - Doh Yoseob
Park Sun Hee (OC) - Esposa de Sook
Sung Ryung (OC) - empregada/amiga de Ha Jin
Taejo - Wang Hansol
Wang Baek Ah - Wang Eujin
Wang Eun - Wang Sun
Wang Yo - Wang Gun
Wang Ha Na - filha de Wang Sook
Wang Jung - Wang Jung
Wang Mu - Wang Sook
Wang So - Wang Shin
Wang Wook - Wang Taeyang
Yoon Min-joo - Imperatriz Yoo

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