Moon Lovers: The Second Chance escrita por Van Vet, Andye


Capítulo 3
O Salvador sobre Duas Rodas


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal!

Mais um capítulo e um super agradecimento aos comentários e incentivos de Dessa Wakizaki, A chapeleira maluca e Ogridoce.

Muito obrigada!:*



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Wang.

Poderia o sobrenome trazido para o seu conhecimento ser uma mera coincidência?

A família mais poderosa de Busan. Os Wang de Goryeo. Os Wang de Busan.

O universo estaria torturando-a com pegadinhas e ilusões? Brincando com as expectativas impossíveis de uma patética garota coreana?

"Qual o seu problema, Ha Jin…? Wang é um sobrenome comum", ela balançou a cabeça dissipando os pensamentos malucos e se concentrou no seu ônibus, aproximando-se pela avenida.

O coletivo encostou no ponto em frente ao café em que as primas haviam se reunido e meia dúzia de passageiros embarcaram.

A jovem passou o cartão pelo leitor validando a viagem e procurou um assento com privacidade, na parte dos fundos.

Acomodada, a bolsa apoiada nos joelhos, ela pegou seu smartphone e teve a ideia mais óbvia naquele momento: pesquisar sobre os empresários Wang no Naver¹.

"Wang" foi sua primeira busca.

Mais de quinhentos mil resultados se disponibilizaram para confundi-la e ao optar pelas imagens, a coisa ficou muito pior.

Ha Jin acrescentou Busan ao sobrenome e as buscas passaram a não mostrar apenas rostos, mas também um arranha-céu de arquitetura contemporânea em vários ângulos impressionantes. A argamassa entre as janelas se mesclava com os vidros espelhados, transformando a fachada num imenso W. Era uma construção, no mínimo, milionária. Ela passou por mais faces e mais prédios, contudo não achou nenhum semblante conhecido.

Na terceira vez digitou "Família Wang de Busan" e teve retornos parecidos, exceto que agora o logotipo da empresa no cartão da prima, a lua nova, surgiu em outros resultados.

Vinte minutos de exploração pela internet não trouxeram nenhum êxito com a identificação daquela família. Ao contrário, garimpou um artigo desanimador num blog de notícias financeiras, citando o quanto o patriarca da empresa zelava pela discrição dele e de seus herdeiros, não permitindo que ninguém saísse na frente das lentes.

Parecia que conseguir uma foto dos Wang era mais improvável do que a garota salvar um país.

Desolada, ela apoiou a nuca no encosto duro do coletivo e fechou os olhos. Ele veio-lhe na cabeça imediatamente.

"Você é minha. Minha rainha. Apenas minha.

A voz grave e o olhar resoluto perfuraram os anos e a acertaram como um disparo de flecha no presente. A moça abriu os olhos, assustada. Seu coração entrou em taquicardia e as mãos que seguravam o celular tremiam.

Foi uma lembrança palpável, como se ele tivesse vindo sussurrar pessoalmente no seu ouvido.

Com um aperto terrível de pesar, ela abriu novamente o navegador do aparelho e digitou "Gwangjong" no buscador. A gravura exposta no museu de história apareceu em tamanho reduzido, na tela de poucas polegadas. Tinha de ser o suficiente. Infelizmente, era isso ou suas memórias; alguma das duas precisaria dar conta da saudade que sentia daquele rosto.

***

Debaixo da claridade frouxa do fim da tarde, Ha Jin desceu no ponto de ônibus e iniciou a subida da ladeira que levava a um conjunto de prédios. A sua rua fazia parte de um bairro medíocre na periferia da cidade.

A entrada das casas era de tapumes de madeira ou portões decrépitos, enferrujados, e os telhados de amianto esquentavam absurdamente os cômodos que, por sua vez, tinham de acolher famílias grandes em poucos metros quadrados.

A infraestrutura pouco desanimava os moradores, pessoas que trabalhavam muitas horas por dia e só queriam um local para comer, tomar banho e dormir após o término do expediente.

No apartamento da moça a situação não mudava muito. Enquanto procurava a chave correta no seu molho de chaves, uma barata doméstica escapuliu apressada debaixo do capacho para o corredor. O dinheiro que os condôminos economizaram para a dedetização do prédio devia estar sendo empregado muito bem empregado pelo síndico em qualquer outra coisa, pensou ela, aborrecida.

Seu lar se encontrava silencioso e organizado. A mãe precisou voltar para a cidade natal delas, mas deixou um ambiente limpo aguardando a filha. Apesar dos pesares, apesar de Go Ja Young ter ido embora, na verdade, porque detestava Busan, gostava de vê-la confortável.

Ela deixou a bolsa e os sapatos no minúsculo átrio e caminhou para a cozinha a fim de tomar um copo d’água.

Nem bem havia terminado de molhar a garganta quando a campainha tocou.

— GO HA JIN! ー uma voz familiar lhe chamou do lado de fora.

— Mi Ok? ー a garota perguntou, abrindo a porta para a amiga.

A amiga a mirou entristecida da entrada, agitando duas sacolas com garrafas de soju.

— Soube que te demitiram. Trouxe umas bebidas pra enchermos a cara e falarmos mal daquela porcaria de empresa. - Ha Jin sorriu, se divertindo com os estratagemas da outra para animá-la e arrebanhou Mi Ok para dentro do apartamento.

As duas mulheres se sentaram espaçosamente diante da mesinha de refeições, ajeitaram as garrafas como se fossem realizar uma oferenda muito importante aos deuses e trataram de completar seus copos com a aguardente de arroz.

A anfitriã bem sabia que não poderia exagerar na bebida agora que tomava medicações regularmente, contudo, empurrou essa preocupação para o fundo da consciência virando um grande gole.

— Ao fracasso da ISOI Cosméticos! - a amiga anunciou, brindando.

— Mas se a ISOI fracassar você perde o emprego.

— Ah é… verdade - a outra abaixou o copo, sem graça.

— Ao meu sucesso no novo emprego! - ela comemorou, surpreendendo sua animadora com a notícia.

— No-novo emprego?

— Sim. Vou trabalhar como governanta na casa de um milionário de Busan - e terminou o primeiro copo pontuando-o com uma careta.

Elas se abasteceram de novas doses.

— Como eu fico sabendo disso só agora?

— Calma, reclamona - a jovem gesticulou pedindo por paciência — Eu acabei de ganhar o cargo. Tenho uma familiar que vai casar com um dos filhos desse milionário. Eles precisam de alguém e eu estou mais do que disposta a não ficar sem dinheiro para pagar o aluguel dessa espelunca.

— Quem são essas pessoas? ー Mi Ok quis saber, inflada de curiosidade pela notícia fresca.

— Os Wang. Os Wang de Busan - Ha Jin respondeu sorrindo ironicamente para o nada.

— Wang? Do conglomerado automobilístico Wang?

— Acho que sim - ela concordou dando de ombros — A tal família que todos ouvem falar, mas nunca vêem.

— Eles são muito ricos. Eu conheci um Wang. Ele foi comprar vários perfumes e cremes há uns meses, na loja. Só descobri que pertencia a família quando ele passou seu cartão de débito da empresa. Até então era um rapaz muito simpático... e lindo - a amiga suspirou no fim da frase.

— Lindo? Espera, como ele era?

— Aah, um tipo daqueles que não vemos todos os dias - respondeu sonhadora.

Ha Jin apoiou o copo na mesa, endireitou o corpo e se concentrou em explicar as características que buscava, para a amiga.

— Ele tinha olhos grandes, nariz afilado e boca pequena? Como ele falava? Era uma voz grave e profunda? Ah, e o nome? Qual o primeiro nome dele? - perguntou ficando quase sem fôlego.

Mi Ok a observou boquiaberta. Ela deveria mesmo parecer uma lunática com toda aquela obsessão por um homem substituído por ossos há tempos. Seria mais correto, e mais insano, abrir o jogo para a amiga e contar que ela não viveu um ano babando na cama do hospital, e sim no período Goryeo, rodeada de príncipes, palácios e assassinatos. Com seu vício por dramas televisivos, era bem capaz da outra acreditar na loucura toda.

— É por essas e outras que o pessoal da loja dizia que você não batia bem dos pinos, Ha Jin ー retrucou monocordicamente e encheu o copo das duas pela terceira vez — Era um cara bonito apenas. Com dinheiro e bonitão. Não lembro do nome nem de maiores características físicas. Sinceramente, estava pouco me importando com ele. Precisava cobrir mais três clientes para a cobra da Park Jun não me tomar a comissão. Só ficou na minha memória por ser um Wang e ter comprado bem... Por que tantas perguntas? Você já conhece alguém daquela família?

Seria dali para o hospício se a garota saísse matraqueando sobre a verdade.

— Curiosidade, mas não está mais aqui quem perguntou - balançou os ombros mostrando indiferença.

— Não seja tão sentimental. Você bate bem dos pinos sim... Só anda falando coisas esquisitas - Mi Ok riu meigamente, como se pedisse desculpas, e se ofereceu para completar o copo delas mais uma vez.

***

Ela desconfiou que se levantasse muito rápido tombaria sentada, então respirou profundamente e estudou a melhor estratégia de se firmar nas pernas.
As quatro garrafas de soju que chegaram cheias ficaram completamente ocas. Ha Jin e a amiga estavam esticadas no tapete, parecendo alligators no pântano, encarando o teto mofado do apartamento e discutindo assuntos banais, dos quais não se lembrariam quando a bebedeira dissipasse.

Seus estômagos roncavam de minuto à minuto, reclamando pelo jejum de muitas horas, já que a noite as acompanhava por bastante tempo.

— Eu vou tentar agora, mas se eu ficar tombando você me escora com a perna, tudo bem? - a jovem pediu para a outra mulher.

— Tá bem - Mi Ok gargalhou — Estou depositando minha fé em você… Fighting!

Ha Jin procurou não rir. Era a coisa mais engraçada do mundo ser uma bêbada deplorável que não conseguia alcançar a porta da rua, mas ela não podia rir. Concentrando-se de forma sobrehumana, apoiou os cotovelos no chão e girou o corpo letargicamente para a esquerda, parando de joelhos.

— Falta só ficar de pé - a amiga incentivou, rindo desvairadamente do tapete.

Com as palmas esticadas no solo, ela impulsionou o quadril para cima e, como se estivesse numa sessão de yoga, quase escorregando por causa das meias contra assoalho, conseguiu se manter apenas nas pernas.

— Eu disse que conseguiria! - exclamou na felicidade estridente dos alcoolizados — Eu disse!

— Vai tomar seu banho então que eu tô morrendo de fome - reclamou Mi Ok.

A trôpega jovem passou para o banheiro e se enfiou dentro de uma impiedosa ducha gelada. Ela precisava comprar algo para comerem, mas não poderia sair no estado de embriaguez atual ou cairia como uma indigente na primeira esquina.

Deixou a água cair por vários minutos sobre sua cabeça e nuca, de olhos fechados e as mãos apoiadas no azulejo para sentir o jato mais intensamente. O mal estar foi se misturando ao ralo, lentamente. A chuveirada não curava a bebedeira, contudo ela já se sentia disposta o bastante para vestir uma roupa limpa e ir buscar dois noodles na avenida principal.

Quando voltou para a sala-quarto para se trocar, Mi Ok cochilava de boca aberta na mesma posição de antes. Ela vestiu jeans e camiseta, secou levemente os cabelos com a toalha, contornou o corpo estirado da amiga, calçou os sapatos no átrio e saiu para o corredor. Assim que retornasse prometeu enfiar aquela doida alcoolizada dentro do chuveiro.

O ar fresco da noite resgatou ânimo e bem-estar ao seu corpo, enquanto percorria a ladeira na descida rumo a loja de conveniência da avenida, a mais próxima do apartamento. Para atravessar na faixa de pedestre ela teria de andar muitos metros, de forma que a preguiça calculou as possibilidades. Era uma noite de sexta-feira e, apesar do dia, as duas vias estavam moderadamente calmas. Com um pouco de atenção, conseguiu atravessar sem problemas entre um fluxo e outro de trânsito, chegando na loja do outro lado.

Seu noodle favorito esperava na sessão sabor carne. Para sua parceira de bebedeira pegou lamen de frango. Ainda levou duas latas de chá preto e ajeitou tudo no cesto de compras. De volta à entrada, parou no caixa e esperou uma mãe passar meia dúzia de guloseimas com os filhos.

Enquanto aguardava sua vez, seu olhar andejou vitrine afora e parou numa moça na calçada, prestes a ser abraçada por trás por um rapaz alto, de vastos cabelos negros. A desconhecida sorriu carinhosamente ao sentir o toque dele e virou-se para coroá-lo com um beijo intenso. Ha Jin encarou bobamente a cena, imaginando a história daquele casal, como começou e até onde chegaria, e sem se dar conta, uma lágrima rolou pela bochecha alva.

"Você é minha rainha." So deixou claro novamente em alguma realidade paralela.

Estremecendo, a garota enxugou o rosto e depositou as compras na esteira do caixa.

— Cartão ou dinheiro? - questionou o funcionário entediado.

— Dinheiro - ela respondeu distraidamente.

Se eles vivessem nessa época, ela não cansava de se questionar, poderiam se amar livremente, como quisessem, igual aquelas duas pessoas na calçada.

Com o jantar em mãos, a pequena moça tomou a avenida novamente. Sua cabeça flutuava em Goryeo, recordando as tantas vezes que So carinhosamente buscou o contato dela e ela o repeliu, tomada por aquela visão estúpida de um Gwangjong sanguinário.

Se Hae Soo tivesse entrevisto mais atentamente o coração carente do quarto príncipe, daria o voto de confiança tão merecido a ele bem antes. Não desperdiçaria nenhum segundo evitando ou fingindo indiferença. Ludibriar os sentimentos dele só serviram para enganar os dela. Hoje, mais do que nunca…

Go Ha Jin foi sugada para fora dos seus devaneios por dois faróis enormes e cegantes acompanhados de uma buzina estridente. Ela voltou para Busan, para seu bairro, e se viu na linha de frente contra o implacável para-choque do caminhão que cantava pneus tentando brecar. A jovem coreana só teve tempo de fechar os olhos e torcer por uma morte veloz e indolor.

De repente, seu corpo foi alçado ao ar por braços mágicos. O caminhão ficou para trás, resfolegando no asfalto, e não houve colisão. Como uma boneca de pano, ela foi facilmente resgatada para longe do fim.

Seu traseiro bateu contra a lataria próxima ao tanque de gasolina de uma moto potente e encorpada. Atônita, Ha Jin abriu os olhos e descobriu que estava agarrando o tronco do motoqueiro. Ele deixou de encarar a pista por um segundo e penetrou no olhar dela brevemente, através do visor do capacete.

Indiferença, beleza e confiança esquadrinharam-na até alma. Eram os olhos de Wang So.

O motoqueiro estacionou bruscamente junto ao meio fio assim que o trânsito lhe deu brecha. Ao longe, a buzina revoltada do condutor do caminhão ecoava pela avenida. O homem a empurrou para fora da moto sem cerimônia.

— Quer morrer, sua idiota? ー perguntou rudemente, a voz abafada pelo capacete.

Com o tórax apertado e o cérebro em choque, ela tencionou dizer algo, mas ele encarou seu rosto com indignação pela última vez e, sem olhar mais para trás, partiu para a via fritando o asfalto.

Ela ficou na calçada, tendo certeza de que estava ficando surtada, vendo fantasmas em todo rosto próximo ao seu.


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Notas finais do capítulo

E o que vocês acham?
Ha Jin viu So ou foi somente excesso de fossa?

Até a próxima!

¹Naver (네이버) é um dos principais e mais populares portais de buscas coreano. Ele foi criado em 1999 por ex-funcionários da Samsung que fundaram a Naver Company. Esse foi o primeiro portal de web coreano lançado com seu próprio motor de pesquisa. Além de pesquisas, o Naver possui vários outros serviços, como e-mails, blogs, vídeos, dicionários (com mais de 30 idiomas, inclusive o português), ranking de palavras mais procuradas, entre outros.



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