Moon Lovers: The Second Chance escrita por Van Vet, Andye


Capítulo 22
O Herdeiro que não conhecia o seu Lugar


Notas iniciais do capítulo

Capítulo novo e nele, temos várias personagens narradas, assim como uma pequena passagem de tempo.

Aqui também está o final do nosso segundo arco. As coisas ficarão mais intensas a partir de agora, não só com o nosso casal principal HaJin/Shin, mas também com todos os outros que começarão a aparecer de forma bem mais permanente, vocês conhecerão mais de cada um deles que vão, agora, se entrelaçando em suas vidas...

Estamos a todo vapor escrevendo da melhor forma para vocês e esperamos, de coração, que gostem desse capítulo e dos que virão a seguir. Estamos ansiosas para começarmos com o próximo arco! =D

E, como sempre, não deixem de comentar. Nos mantenham ativas e felizes para continuar nos dedicando para que essa história siga e tenha um final (feliz, de preferência). Adoramos as especulações, aceitamos opiniões e melhoramos com as críticas, então, sintam-se à vontade!!!

E para os que ainda não estão participando conosco no grupo do face, segue o link nas notas finais do capítulo. Está sendo maravilhoso interagir com vocês por lá! ♥

Vou parando por aqui porque o capítulo está grande e com algumas emoções aparentes. Peguem os calmantes, preparem a xícara de chá e boa leitura.

FIGHTING!



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Shin adentrou no restaurante indicado por Min-joo e por um momento achou que tivesse errado o endereço. O local não estava à altura da altivez da senhora, um estabelecimento modesto, com cartazes colados nas paredes informando as promoções dos pratos do dia. Ele se sentiu apreensivo cerrando os punhos ao passar para dentro do salão. Sua mãe não fazia nada de caso pensado e naquilo também deveria ter alguma razão.

Em meio a fumaça das grelhas sobre as mesas e ao esperado movimento da hora do jantar, ele mirou, oculta numa mesa pequena atrás do caixa, a mulher de óculos escuros e roupas fúnebres. Em questão de segundos se deu conta do propósito do endereço de encontro: ela não queria ser vista pela alta sociedade ao lado do filho mulambento, sua eterna vergonha. Suspirando pesadamente, dominando o nervosismo que era estar próximo da mãe, aproximou-se.

— Boa noite, mamãe — saudou-a em voz alta indo se sentar na cadeira disponível de frente para a mulher.

Min-joo virou a cabeça para ele e o encarou através das lentes escuras do óculos. Apenas um copo d’água intocado sobre a superfície de madeira separava mãe e filho. Shin colocou seu capacete no chão ao mesmo tempo que um atendente o cumprimentava e oferecia o cardápio da casa.

— Comeremos depois, obrigado — o rapaz desconversou para afastar o desconhecido dali. Se sua acompanhante não tomava nem a água servida pela casa, o que diria da comida — Vejo que escolheu um ambiente bem diferente para rever seu primogênito — voltou-se para a senhora ao estarem a sós novamente.

— Meu tempo eu administro com muita inteligência, portanto serei direta, Shin — despiu-se dos óculos para deitar seu olhar glacial sobre o filho — Saia daquela mansão imediatamente e abdique seus direitos na empresa. Você não tem espaço naquela família.

Em seu íntimo, o herdeiro já imaginava que o motivo daquela conversa secreta carregava esse tema, mas seu emocional nunca estava preparado o suficiente para a rejeição de Min-joo; um bolo se formando na garganta tão potente que o fez desviar o olhar do dela por alguns segundos antes de se recompor.

— Isso lhe faria feliz?

— Imensamente — um brilho maldoso dançou nos belos olhos negros da mãe acompanhando o belo sorriso astuto.

— Por que a senhora me odeia?

Ela respirou fundo, como se fosse muito cansativo ter de explicar aquele pequeno detalhe da relação deles, embora parecesse muito à vontade ao se expressar sobre isso:

— Não há um motivo exclusivo, de fato… Você nasceu para ser um estorvo na minha vida e me arrependerei para sempre por esse dia, porque no momento que coloquei meus olhos em você eu soube que me traria infelicidade. Você é minha eterna vergonha, desgraça e erro e por isso eu o mandei embora. É por isso que quero que vá embora agora. Esse lugar não te pertence. Nunca vou perdoá-lo por ser o motivo de eu ter saído da mansão. Aquele lugar é meu e você o roubou de mim.

A segunda bordoada doeu bem mais que a primeira, tanto que ele se arrependeu de perguntar. Um gosto ruim subiu até sua boca, misturado a uma ardência atrás dos olhos. Shin piscou para afastar o mal estar e se concentrou em transformar a tristeza em mero desprezo. Era difícil... somente aquela criatura à sua frente manipulava bem esse poder alquímico.

— Lamento pela senhora, mas dessa vez eu vou ficar.

— Pare de se sentir importante… — a mãe rosnou — Volte para os Estados Unidos.

— Não. Não vou voltar — deu de ombros parecendo indiferente  — Já atendi à esse pedido cinco anos atrás e não vi vantagem nenhuma.

— Pouco me importa se isso vai ser vantajoso para você ou não, garoto! — Min-joo exclamou acertando a mesa com o punho fechado fazendo o copo d’água tombar e rolar pela superfície de encontro ao chão.

O restaurante era um ambiente tão barulhento naquele horário que ninguém se deu conta do objeto se espatifando de encontro ao chão gorduroso. O jovem Wang observou a água empoçar entre os rejuntes, o semblante sereno, mas sua mente tinha consciência de que a mãe continuava a encará-lo mortalmente. Debaixo do ruído das grelhas individuais assando filetes de carne e das risadas embriagadas dos comensais noturnos, a voz dela ressurgiu mais obstinada do que antes:

— Pouco me importa você… — a mulher continuou altiva — Se quer ficar, saiba que estará comprando uma briga muito além das suas capacidades, seu insolente estúpido. Você…

— Pouco me importa a senhora também, mamãe — Shin cortou-a secamente voltando a mirá-la — Você me jogou fora há cinco anos e está me jogando fora novamente... Mas entenda uma coisa, eu não irei embora. Não mais. Se faz questão de me ver como um pária entre as suas crias, tanto melhor. Vou me comportar como um cão sem dono, afinal é desse jeito que eu gosto, sem ter de me importar com mais ninguém, especialmente com Gun.

—   Não ouse…

— Como imaginei, essa conversa foi muito divertida — levantou-se bruscamente, o capacete na mão — Até à vista... — começou a partir deixando sua acompanhante perplexa por estar sendo ignorada sumariamente, mas retornou no último instante para ainda lhe informar — E pare de ligar no meu número particular ou serei obrigado a bloqueá-la permanentemente.

Enquanto deixava o restaurante às pressas, os ouvidos do herdeiro foram curiosamente atraídos pelo som de uma voz muito peculiar que ele considerou familiar. Sentada numa das mesas do lado de fora, a governanta Go Ha Jin travava um diálogo muito concentrado na companhia de uma moça desconhecida.

Suas expressões mesclavam tédio e desânimo ao escutar sua interlocutora, embora parecesse subitamente animada toda vez que entornava uma nova dose de soju. Estranha coincidência, havia algo naquela mulher… Uma familiaridade em seus trejeitos, seu rosto, e nada tinham a ver com o resgate de um mês atrás...

Em nenhum momento a atenção dos olhos dela fora captada por ele que ficou ligeiramente desconcertado ao perceber que o relógio avançava nos ponteiros dos segundos e que ainda estava parado na calçada, analisando a garota. Retomando o controle de sua mente, partiu para longe dali sem ser avistado.

Segurando o guidom firmemente, ultrapassando os veículos e musicalizando a avenida com o potente ronco da moto, Shin guiava instintivamente, pois sua cabeça permanecia no restaurante. Sentia-se orgulhoso por superar a mãe naquela discussão. Olhar para Min-joo não era tarefa simples… Enfrentá-la como ele fizera seria impossível para o antigo Wang Shin, o garoto do passado. As palavras de Sook pulsavam dentro dele, muletas motivadoras, toda vez que sentia que poderia fraquejar.  

“Apenas deixe claro para as pessoas, que nós dois sabemos quem são, que você não jogou a toalha. Não há porque desistir de algo apenas porque alguns se sentiriam mais confortáveis com a sua exclusão”

E ele quase fraquejou novamente, mas se reergueu no último segundo. A mãe recorreria às mesmas frases asquerosas para tentar afastá-lo. Fazer com que se sentisse menos, efêmero, dispensável na vida dos Wang. Enaltecer seu irmão mais novo era a forma mais inteligente escolhida por Min-joo. A mulher sabia o quanto era traumatizante para ele ser rebaixado em comparação ao irmão, afinal eles eram do mesmo sangue, do mesmo ventre… Por que Shin deveria ser menos?  

Lágrimas de ódio salpicaram seus olhos ao recordar os argumentos daquela senhora que o persuadiu, ou melhor, intimidou, cinco anos antes…

— Existe um modo de você ter meu respeito, filho — ela lhe garantiu, inflando o rapaz que acabara de entrar para a faculdade de esperança.

A alegria em seu peito era dupla; primeiro, por ouvir a mãe o chamando carinhosamente; segundo, por ter sido convidado ao apartamento dela para um brinde amistoso e familiar pelo seu ingresso no ensino superior. Ele finalmente havia acertado com ela, a deixara orgulhosa.  

Ainda estava olhando-a pressuroso quando a ouviu propor:

— Suma da Coreia. Largue essa faculdade, é um erro. Nada disso combina com você. O seu sobrenome não combina com você. Hansol vai lhe dar privilégios na empresa por ser o primeiro a estudar na área, mas é Gun que merece esse reconhecimento. Seu irmão já vai começar a faculdade e as vantagens que você tem tido devem ser dele…  Seu irmão, Shin… Você ama seu irmão?

A taça de vinho que ele segurava escorregou para o tapete, o rapaz estava em choque. “Seu ingênuo, seu grande imbecil”. Penalizava-se mentalmente, processando a arapuca que Min-joo armara e sentindo o rosto contrair-se em dor.

— Não quero seu choro, quero sua resposta — ela pegou a taça tombada, apoiando na mesinha de centro  — E então?

Ele tremia da cabeça aos pés. Algo queria dilacerá-lo de dentro para fora, uma força destrutiva sem precedentes. Urrando de raiva, levantou do sofá e chutou a mesa arremessando o móvel longe. A mãe permanecendo impossível diante da histeria do filho mais velho.

— Se quebrar mais alguma coisa dentro deste apartamento chamarei a polícia — Min-joo alertou em tom monocórdico, intacta sentada no seu assento — Como vai ser?

Shin virou-se para a senhora, as maçãs brilhantes de lágrimas, e respondeu:

— Sumirei da sua vida e deixarei o caminho livre para quem dos meus irmãos se dispor, mamãe… A senhora nunca mais me verá, não se preocupe.

— Obrigada, meu filho. Serei eternamente grata.

Os tempos mudaram, o herdeiro rebelde concluiu quase chegando ao acesso que levava para a colina da Mansão da Lua. Gun não iria usufruir dos joguetes da matriarca e ele não consideraria mais nenhuma palavra saída da boca daquela senhora. A partir de hoje, ela se tornaria apenas uma das ex-esposas do seu pai, não sua mãe.     

***

— Aishh... Mi Ok, por que você nunca me escuta?

Ha Jin reclamava com a amiga pela enésima vez. Desde que saíram de sua casa que a jovem governanta, irritada por algum motivo que a outra desconhecia, resmungava de todos os detalhes daquela noite.

— Claro que te escuto. Só quero que você se divirta um pouco… É sério, se você visse a cara que está fazendo agora, você concordaria comigo.

Ha Jin olhou para a amiga com uma expressão irritada. Ela preferia estar em casa, deitada sobre os seus lençóis, vendo suas novelas dramáticas e afogando suas mágoas com um bom e fumegante prato de lámen do que ali. Até mesmo convidou a chata da amiga para o programa, mas essa insistiu que as duas deveriam sair, ver gente. Socializar. E a última coisa que ela realmente queria era ver gente. Via gente a semana inteira. Desejava se isolar naquele momento.

Estavam em uma rua movimentada, com um grande fluxo de carros acompanhando a estreia da noite naquele sábado. A garota pediu, assim que saíram, para irem a uma das tendas no quarteirão de sua casa, mas a amiga queria mudar o rumo do passeio e escolheu um restaurante gordurento no meio da loucura turbulenta do centro da cidade. Muitas pessoas caminhavam pelas calçadas em direção aos seus lares ou em encontro de amigos, como as duas faziam agora.

— Você falava sério quando disse que iria me levar para ver gente — comentou sem muita animação, entornando a primeira dose de soju, observando a multidão.

— Sim, falei sério. Agora diz o que você tem — Mi Ok começou bebendo também. Ela escolhera um local ao ar livre, assim a outra poderia absorver um pouco da lua, das estrelas, dos pedestres, dos carros, ou seja, da vida além do seu apartamento.

— Se era para falar da minha vida e dos meus fracassos, poderíamos simplesmente ter ficado na minha casa.

— Você é extremamente irritante quando quer, Ha Jin… Agora me diga de uma vez… problemas com a tal senhorita azedume da mansão?

— Não — a outra falou irritada, balançando a mão direita diante do rosto como se quisesse espantar uma varejeira gorda — Ou melhor, sim. Também, eu acho…

— Tem tido muitos problemas?

— A tal tentou me bater de novo…

— Como é? — os olhos de Mi Ok esbugalharam de perplexidade saltando das órbitas assustadoramente. Em outra situação, Ha Jin teria achado graça — O que ela tem contra você, afinal?

— Não sei… Quer dizer… Segundo o senhor “não me toque nem se aproxime porque você não tem o direito de me dirigir a palavra ou fazer qualquer coisa que seja por mim”, eu tenho a língua grande.

— Hmm… Mas isso nós sabemos que é verdade.

— Agradeço o apoio.

— O tal senhor com o nome grande demais para eu decorar é o herdeiro que chegou há pouco?

— Sim — a cara ainda mais fechada. O queixo apoiado na mão.

— Aigoo… Deixa de chatice e me conta o que aconteceu de uma vez.

— O senhor Wang conversou com a governanta da casa e me pediu para ficar na casa também — ergueu a cabeça e se recostou contra o encosto da cadeira — Vou receber mais e ter outras milhões de funções. Também não vou precisar pagar as porcarias das taças.

— Isso é ótimo!

— Seria, se não morasse ninguém naquele lugar.

— Não seja tão dramática.

— Dramática… Sei…

— Não vai continuar? — Mi Ok perguntou diante do silêncio repentino da amiga.

— O problema é Yun Mi. Eu realmente não sei o motivo, mas ela não vai com a minha cara desde Goryeo e não tem mudado nem mesmo atualmente. Desde que coloquei os pés naquele lugar ela foi categórica em deixar claro que não quer que eu fique dentro da mansão e o motivo para isso, só ela sabe.

"Na quinta, a bruxa me viu no corredor dos quartos e veio como uma carreta a 200km/h tentando me atropelar. Só não conseguiu o feito porque o Salvador da Pátria apareceu bem na hora montado em seu cavalo negro me impedindo de cair."

— Bem…

— Mas, no fim das contas, a sorte foi dela. Assim que a mão daquela maluca encostasse no meu rosto outra vez eu bem poderia deixar a mansão no carro da polícia, só que ela ia sair numa ambulância — concluiu ferozmente após interromper a outra.

— Acho que entendi… — Mi Ok objetou cautelosa, a expressão confusa, esperando que Ha Jin a interrompesse novamente — Mas o que quis dizer com “não vai com a minha cara desde Goryeo”?

— Hã? Ah... Maneira de falar…

— Hmmm… Certo… — continuou achando tudo muito estranho, mas preferiu ignorar — Talvez ela tenha ciúmes de você, já que era a única garota dentro da mansão.

— Não… não deve ser isso — Ha Jin achou o comentário infundado — Ela não tem motivos para sentir ciúmes. Acredito que deva ter me escolhido para atormentar durante toda a eternidade…

— Ah… Tudo bem — Mi Ok sentia que a amiga não estava presente naquele passeio de fato. Ela sempre tendia a falar coisas estranhas quando se referia à Mansão da Lua e seus moradores e o olhar costumava ficar distante, como estava agora — Então esse tal cavalheiro te protegeu da insossa?

— Sim… ele abriu a porta bem na hora que ela levantou a mão… — Ha Jin voltou a focar a amiga — Juro que pensei que teria o rosto deformado daquela vez… Existia muita cólera no olhar de Yun Mi, como eu não lembrava de ter visto… Mas parece que o reflexo dele continua tão bom quanto antes…

— Você conhece esse herdeiro? — Mi Ok a questionou de uma vez — Fala dele como se não fosse a primeira vez que o visse.

— Er… Bem… Eu já o vi antes — a governanta pareceu sem graça. Não poderia falar para a amiga sobre o dia em que quase fora atropelada, mas muito menos poderia falar sobre Goryeo. Ponderou qual das duas informações seria menos impactante.

— Quando? Como conheceu esse herdeiro se ele nem estava no país? — a testa franzida intensificava a curiosidade.

— Ele chegou… faz pouco mais de um mês… E eu quase sofri um acidente… Foi ele quem me salvou.

— Como assim você quase sofreu um acidente, Go Ha Jin? — o tom de Mi Ok ficou forte e preocupado — Como não me contou sobre isso?

— Ah… Já faz um tempo. Eu acabei esquecendo — desconversou embalando na segunda dose de sua bebida.

— Não se esquece algo assim, garota.

— O importante é que fui salva e estou bem — as duas pararam quando a garçonete chegou com suas refeições — Estou bem — sorriu com todos os dentes.

— E então… — a outra, ainda aparvalhada pela informação, encerrou o assunto momentaneamente, não querendo irritar a amiga novamente — Esse novo Wang… Como é mesmo o nome dele…?

— Shin. Wang Shin.

— Sim. Wang Shin. Esse Wang Shin apareceu com o intuito de te salvar?

— Se essa é a intenção dele, não tem dado muito certo — e colocou uma porção exagerada de comida na boca.

A fome animalesca de Ha Jin, devorando o macarrão ferozmente, deu tempo a outra para refletir sobre as atitudes estranhas que vinha presenciando nela nos últimos tempos. Assuntos desconexos como aquele a fazia relembrar das suas palavras enigmáticas no leito do hospital, depois da amiga sofrer de crise nervosa e ser diagnóstica com problemas cardíacos.  

“Alguma vez você já ficou imaginando como se sentiria se todas as pessoas da sua família tivessem morrido? Pior, como se tivesse acordado no tempo errado e elas já tivessem vivido, casado, tido filhos, envelhecido e deixado este planeta no ciclo natural das coisas?”

***

Domingo a noite, o prazo limite em que Na Na conseguiu evitar Gun. Agora ele estava do lado de fora da casa de seus pais, aguardando na calçada sua sogra convencer a filha a ir falar-lhe. Na Na não tinha gosto em envolver seus pais nos seus assuntos pessoais e, contrariada, contudo engajada a não deixar transparecer a crise no relacionamento, acabou cedendo à insistência dele.

— Olá… — disse indiferente encarando o namorado oculto na penumbra da rua. Seu bairro era pouco movimentado, logo a saudação ecoou pateticamente na escuridão.

— Olá, Na Na — ele deu alguns passos na direção dela, se tornando perfeitamente visível à luz do poste — Me perdoe — pediu, fitando-a resoluto e entregando um buquê de flores delicado e de bom gosto.  

Incapaz de ser grosseira, a moça aceitou o presente, resgatando-o das mãos dele. Seu gesto positivo se traduziu em mais uma brecha para ele prosseguir, um sorriso ansioso nos lábios.

— Não há desculpa para o meu comportamento essa semana… Para as coisas que eu disse… Eu sei…

A tristeza na sua expressão parecia real o suficiente para a moça fraquejar. O forte de Gun sempre fora seu olhar confiante, e testemunhá-lo vacilante trouxe uma sensação de empatia dentro dela. Havia honestidade na ação, pensou com expectativa.

— Você ultrapassou um limite, Gun…

— Ah, não… Diga que tenho outra chance, por favor… — lamuriou, trazendo-a subitamente para um abraço apertado.

Na Na ficou rígida e apreensiva, o coração acelerado, enquanto o futuro noivo a envolvia pelos braços e encostava seu rosto contra o dela, sussurrando em seu ouvido:

— Sou um idiota, mas preciso de você. Sinto muito…

— Eu…

O rapaz recuou minimamente, apenas para poder olhar diretamente nos olhos confusos do seu par. Com a mão direita tocou-a no queixo e continuou:

— Aquele não era eu, você sabe. Além do mais, isso não vai se repetir. Você é muito preciosa para mim.

— Será que… — ela murmurou, organizando as ideias, e então foi abordada nos lábios por um beijo delicado, mas firme o suficiente para colocar um ponto final naquela discussão.

Já tinha as flores, já tinha a súplica por perdão, já tinha o carinho conciliatório. O que mais aguardava para seguir naquele noivado como se nada tivesse acontecido? A moça não via muitas opções e ele parecia verdadeiro desta vez.  

***

A semana seguinte foi mais cheia do que Ha Jin poderia esperar. Passar o sábado fazendo nada com Mi Ok ou vendo pessoas na rua não lhe dera um novo ânimo, como a amiga prometera.

A governanta, que mal sabia sobre o que acontecia na fábrica, descobriu assim que chegou na segunda-feira, por sua informante particular - Sung Ryung - que o senhor Wang decidiu que cada um dos filhos teria um mês para comandar a empresa e mostrar suas habilidades na direção.

Seria esse o teste para que um deles conseguisse o cargo máximo da Wang S.A. e Ha Jin compreendeu que a situação era mais que suficiente para justificar o clima tenso que se intensificou na mansão desde a tal reunião com todos os herdeiros acontecera.

Descobriu também, e não sabia como a outra funcionária se informava sobre todas essas coisas, que era a vez de Wang Gun comandar o império da família. Já havia observado e não era segredo para ninguém, que o genioso herdeiro tinha a veia para controlar, comandar e ordenar o que desejava para os subalternos. Certamente ele levava a bagagem do controle que exerceu no seu antigo reino entranhado no sangue.

O que realmente angustiava a governanta mais jovem era saber que, em breve, Sun e Jung também assumiriam esse posto e, esses sim, ela sabia não ter nenhuma veia voltada para a administração.

Passou todo aquele dia tentando entender o que acontecia na cabeça do senhor Hansol, no porquê dele não ter evoluído depois de tantos anos e continuar tendo vários filhos e os instigando a se matarem por um trono, ou posto de liderança, como era o caso, envolvendo pessoas que não tinham o menor interesse em participar de seus planos.

Hyung também lhe informara, e nesse ponto Ha Jin refletiu se seria seu papel brecar tanta fofoca, que Wang Shin resolvera ficar em definitivo e que iria participar daquela disputa. A governanta já havia percebido isso desde a semana passada, mas se fez de surpresa para não diminuir a sagacidade da empregada em captar as mais variadas informações na casa e transmitir para ela.

Com um sorriso abobalhado transitando seu rosto, se lembrou da tal aposta feita pelos herdeiros caçulas, se dando conta agora de que o mais novo perdera e, por isso, teria de levar Doh Hea para um jantar.

Mesmo que fosse totalmente contra apostas, independente de quais fossem os motivos reais, permitiu que uma fagulha de esperança esquentasse o seu coração sobre aqueles dois. Acreditava que, nessa vida, eles não sofreriam como no passado e que, por sua culpa, não teriam seu amor ceifado tão bruscamente.

Outro amor que estava frequentemente na cabeça da governanta era relacionado à Na Na. Como ela poderia ter dado mais uma chance para Gun horas depois de tudo o que lhe contara? A prima sempre usava de artimanhas para convencê-la a sair com ela e, dessa vez, a desculpa utilizada fora comprar um sapato novo em plena tarde de domingo.  

Durante o passeio, elas lancharam e o momento fora oportuno para que Na Na falasse como ele fora grosso e desrespeitoso durante toda a semana, como a ignorou, maltratou e como ela se sentia péssima com aquela situação.

Ha Jin ficava feliz que a prima desabafasse com ela e percebesse que ele era cheio de defeitos, mas não entendia como uma pessoa tão boa poderia estar com aquele herdeiro em particular. Por fim, não aceitava que, no fim, tivesse se rendido tão facilmente.

No decorrer daqueles dias, devido ao grande fluxo de afazeres, a governanta precisou levar o jantar para o Wang isolado e enfrentar o mal-humor desmedido que emanava do último quarto daquele corredor por três vezes.

A primeira vez, na segunda-feira, porque a governanta Nyeo precisou correr para resolver o problema de um dos pratos a serem servidos no jantar.

— Ha Jin, por favor, leve o jantar do senhor Shin. Preciso resolver esse excesso de sal antes que os demais cheguem.

— Sim, senhora.

Depois, na terça-feira, o motivo fora uma reunião extraordinária entre a empregada mais velha e o casal que comandava a casa. Naquela noite, Ha Jin ficou sem ar. Foram quarenta e seis minutos no controle da mansão e ela passou a respeitar e dar ainda mais crédito para Nyeo depois daquela terrível experiência.  

Por fim, na quinta-feira, a culpa fora de Yun Mi que comprara várias peças de roupas e enxovais de seda e outros tecidos finíssimos. A herdeira exigiu que a primeira governanta se responsabilizasse pela lavagem e organização dos tecidos sob a desculpa de não confiar no trabalho da mais nova, fazendo-a ficar responsável pelo jantar e casa por mais de uma hora dessa vez.

As duas governantas bem sabiam a verdadeira intenção de Yun Mi com aquele pedido: queria testá-la e aproveitar-se de qualquer deslize para se livrar dela. Ha Jin, porém, se empenhou ainda mais e tudo saiu além do esperado, ela recebendo elogios da maioria dos presentes. Até mesmo o senhor Hansol a elogiou arrancando-lhe um  sorriso satisfeito, ainda mais ao perceber a irritação estampada no rosto enciumado da herdeira.

Mas a tarefa de alimentar o Wang antissocial não era das mais agradáveis. Ela respirava profundamente tentando aspirar forças sempre que precisava encontrá-lo e o momento de ir até o seu quarto parecia uma caminhada para a perseverança, ou irritação, na maioria das vezes.

Ela ainda não o perdoara por ele não se lembrar do que viveram no passado e acumulava sobre essa mágoa os muitos momentos tristes que já vivenciara naquela casa, o que ela se esforçava em tentar esquecer.

Assim sendo, o ritmo dos afazeres em nada a ajudava em sua promessa de se manter o mais distante possível das suas recordações, daquele quarto, daquele homem, daqueles olhos…

Agora, depois de passar o sábado ao lado da mãe que resolvera vir vê-la com seus próprios olhos e saber melhor sobre seu trabalho e sua saúde e o domingo envolto nas cobertas que a protegiam do clima frio de início de inverno em companhia de grandes xícaras de chá e café - além das seis ligações de Mi Ok para saber se ela estava bem, a terceira semana pós Wang Shin nas dependências da Mansão da Lua recomeçava com a cozinha novamente a todo vapor.

Sun chegara da faculdade em companhia de três colegas de turma, entre eles Doh Hea, com a finalidade de estudarem ou terminarem algum trabalho em atraso.

Estavam os quatro trancafiados na sala de estudos e fora a informação de que ficariam para o jantar, que chegou de supetão, a responsável por levar os funcionários a trabalharem mais do que já era costumeiro.

Ha Jin, que estava satisfeita por ter encerrado todo o trabalho da lavanderia antes do meio-dia, sentiu pelo caminhar da tarde que, mais uma vez, teria a missão de alimentar o enclausurado, não ficando feliz em constatar essa situação.

Ela tentou se aproximar, estreitar a relação dos dois, como acontecera com Eujin, Jung e Sun, sempre que precisava ou era forçada a encontrá-lo, mas Shin parecia ter criado uma muralha ao seu redor, tal qual So fizera por tantos anos em sua vida.

A ideia que tinha era de que o herdeiro não confiava nela e se divertia em rejeitá-la.

— Como estão as coisas na casa, Ha Jin?  — a governanta Nyeo começou assim que a mais nova entrou na cozinha — Desculpe por ter te deixado sozinha…

— Tudo bem governanta, entendo bem a situação  — respondeu complacente — Acabei de sair da sala de estudos. Os garotos estão empenhados, realmente. Deixei suco de laranja para eles. Designei alguns funcionários para a lavanderia. Solicitei mais toalhas de banho e guardanapos.

— Obrigada, querida. Você não imagina o quanto tem me ajudado desde que aceitou ficar aqui. As refeições são o que há de mais importante nessa mansão. Tanto o senhor Wang como a senhora Ah Ra priorizam a alimentação de qualidade e quando há visitas, as coisas ficam ainda mais intensas…

— A senhora é excelente em tudo que faz. Tenho certeza que nada se perderá do seu controle.

— Obrigada... — havia um discreto sorriso vaidoso no rosto da mulher.

— Eu que agradeço a confiança, governanta.

— A senhorita Na Na também virá essa noite…

— É…? Que bom — falou sem muita empolgação e a mais velha a observou. Pareceu ler seus pensamentos a respeito daquele relacionamento com o herdeiro — Com licença. Vou ver a área externa — fugiu.

***

Na sala de estudos, o clima estava pesado. Sun e Doh Hea travavam uma batalha pela última palavra em uma parte do trabalho. Sun estava com o rosto tão vermelho quanto o seu cabelo e remexia os braços com ímpeto enquanto tentava convencer a todos da sua convicção. A garota, que tinha os braços cruzados e uma expressão complacente, continuava a discussão como se aquilo a divertisse de alguma forma.

— Eu já disse que isso está errado — Sun bradava com irritação para Doh Hea. A garota permanecia imóvel apenas olhando o outro — Não é assim.

— Sun, eu realmente prestei atenção ao que o professor falou. Estou certa quando digo que é a Teoria de Fayol¹ — Hea respondeu demonstrando uma incrível paciência, ao contrário de seu oponente.

— Mas não é… Ye Won, Je Hoon… O que vocês acham?

— Acho que vocês parecem um casalzinho resolvendo se vão comprar lámen de carne ou frango — Lee Je Hoon falou de uma vez. O garoto estava deitado sobre uma das poltronas e sacudia o pé entediado, esperando os dois resolverem o problema.

— Ah… Deixa de falar asneira — Sun rebateu possesso — Ye Won… ?

— Desculpa, Sun, mas concordo com Hea e He Hoon — Jae Ye Won falou parecendo mais enfadada que o outro amigo — Faz uns cinco minutos que estão nisso. A teoria é a de Fayol sim. Ford² é o dos carros, lembra? Os dois são Henry, você só confundiu os sobrenomes.

— Vocês são um bando de pessoas volúveis…

— Não somos volúveis, cara — He Hoon continuou — Só quero terminar isso hoje e quanto mais vocês discutirem, mais tempo perdemos.

— Devo concordar novamente com He Hoon — Ye Won se posicionou — E eu acabei de pesquisar…  — mostrou o notebook para todos.

— Vocês dois, sim, parecem um casal, concordando com tudo — Sun desdenhou irritado, não querendo perder.

— Cara, se Ye Hoon e eu nos gostássemos como você e Hea se gostam, eu não estaria perdendo tempo como um idiota.

— Será que podemos voltar a focar no seminário? — Hea falou finalmente, observando a expressão chocada de Sun, trazendo todos para o trabalho mais uma vez.   

***

Ao escutar o toque das mãos contra a porta, Shin parou sua leitura e focou em quem entrava. Não sabia qual das duas governantas estava ali agora e, por algum motivo desconhecido, desejou que a mais nova adentrasse em seu quarto.

Ele, mesmo que não demonstrasse, achava interessante a sua petulância e imprudência. Go Ha Jin era uma criatura peculiar e ele se divertia com as muitas frases de efeito que ela dizia quando a tratava com aspereza.

— Entre.

— Boa noite, senhor Shin.

A governanta, como sempre, tinha a expressão fechada enquanto invadia a privacidade do seu aposento empurrando aquele carrinho. Não pôde deixar de observá-la por trás do livro que levava em suas mãos e se lembrar do dia em que a encontrara jogando video game com os irmãos. Ela parecia tão à vontade na companhia deles… Se perguntou por que sempre estava sisuda ao trazer sua refeição.

— O que temos hoje? — perguntou deixando o livro sobre o criado-mudo, indo até a governanta e destampando as travessas enquanto ela dispunha a louça sobre a escrivaninha na sua irritante mania de não levar os pratos para onde ele estivesse no cômodo — Japchae³? Alguma ocasião especial acontecendo aqui esta noite?

— Se o senhor fizesse o favor de sair desse quarto, saberia que temos visitas… — resmungou entredentes.

— O que disse? — ele perguntou. O sorriso discreto se desfazendo rapidamente para que não fosse pego de surpresa pela governanta.

— Ah… Temos visitas — falou audivelmente, sem olhá-lo diretamente.

— E o que mais? — instigou. Tentava conter o riso diante da frustração dela. A governanta parecia em ponto de explodir.

— Mais o que? — continuava seu trabalho sem o focar. Ele sentia a tensão no ar esticando-se semelhante a uma bolha de sabão.

— Não disse mais nada além disso?

— Não.

— Pensei ter ouvido algo mais…

— Se ouviu, não tem por que ficar me perguntando? Está tudo pronto — finalizou, virando-se para sair.

— O quê?

— Venho buscar a louça mais tarde. Bom apetite — se despediu com um breve aceno de cabeça, totalmente disposta a rechaça-lo.

— Quem são as visitas? — perguntou fazendo Ha Jin parar, tensa, ao meio do caminho.

— São amigos do senhor Sun. Da faculdade. Vieram fazer um trabalho e ficarão para o jantar.

— Quem mais?

— Toda a sua família e os convidados, com exceção do senhor Wang. Ele tinha um compromisso e precisou se ausentar esta noite.

— Quem mais está ai?

Ha Jin soltou o ar antes de responder, relaxando também os ombros e o pescoço, focando os olhos de Shin em seguida. Parecia cansada daquela conversa mole e ele esperou curioso a resposta que viria.

— Por que não sai desse quarto e vai o senhor mesmo ver quem está lá?

— Você é bem insolente, hein garota? — ele constatou sem, na verdade, parecer ofendido. Se aproximou dela novamente.

— Posso ser sim, mas não consigo ficar parada vendo o que o senhor tem feito. Acredito, sim, que deva ter tido muitos problemas em seu passado, e acredito que muitos deles o acompanham até hoje, mas até quando continuará se escondendo deles? Até quando vai preferir se ausentar ao invés de enfrentá-los de frente?

— Você não sabe o que está falando… Como se atreve?

— Me corrija se eu estiver errada. Me mande embora se acha que falo mentiras.

Um silêncio sepulcral envolveu o quarto de Shin. Nesse instante, os dois se olhavam como gladiadores apostos para o embate. Ela mantinha o olhar desafiador e o encarava de frente, de queixo erguido, mas sentia as pernas tremerem em resposta ao fitar intenso que recebia de volta.

— Viu? Não me corrigiu nem me mandou embora. Sabe que eu tenho razão.

— Não disse isso…

— Definitivamente, fico feliz que tenha permanecido na mansão e esteja se esforçando pela empresa, mas o senhor não está fazendo o que realmente é importante.

— Como qualquer coisa relacionado a minha vida pode te fazer feliz? E o que você acha que é realmente importante? Aliviar o trabalho já muito pesado da criadagem que precisa perder seu tempo vindo trazer minha comida?

Ele perguntou avançando passo à passo contra o corpo da governanta. Os olhos semicerrados a esmiuçavam. Parecia observar cada um dos seus movimentos, cada um de seus detalhes faciais.

Ela fechou os olhos impaciente, inspirando o ar enquanto se continha em todos os aspectos por ter aqueles lábios tão perto de si, por ver aqueles olhos esquadrinharem sua alma, por sentir aquele aroma tão próximo de si. Uma rajada de ar irritado saiu pelo nariz antes de responder.

— Estar com a sua família. Tomar o seu lugar junto ao seu pai. Lutar contra os seus medos e enfrentar suas frustrações… Isso é realmente importante — respondeu sem demonstrar a fraqueza que a tomou pela aproximação. Os rostos ainda muito próximos.

— Você não sabe o que fala… — o tom era baixo e desafiador. Ela sentiu o hálito quente massagear seu rosto.

— E o senhor sequer tenta. Prefere se esconder. Mas chegará o dia em que precisará enfrentar tudo isso… mais cedo ou mais tarde.

A governanta deu dois longos passos para trás e desviou o olhar de Shin temendo qualquer reação que seu corpo pudesse ter em resposta à aproximação.

Abaixou a cabeça em uma demorava vênia, o olhando novamente nos olhos ao terminar o cumprimento protocolar. Ele a perscrutou em cada ação no mais completo silêncio.

— Os monstros do passado não irão embora se você não os expulsá-los. Com licença.  

Ha Jin saiu e deixou Shin com a boca levemente aberta. Ele não sabia ao certo como se sentia, mas vagava entre a surpresa e a reflexão. Como uma garota tão jovem, e petulante, poderia ser tão sábia, tão intensa? Caminhou até a mesa onde estava seu jantar e sentou-se desconcertado.

—  "Os monstros do passado não irão embora se você não os expulsá-los." Mais uma boa frase de efeito, Go Ha Jin — comentou remexendo a comida à sua frente.

***

Aquela noite parecia mais estranha que o normal na casa dos Wang. Ha Jin, que estava apostos, ao lado da mesa de jantar, observava com atenção, olhos de rapina, os familiares da casa enquanto Nyeo permanecia organizando a cozinha.

Sua atenção estava direcionada sobre todos ao redor da grandiosa mesa retangular disposta na sala de jantar, a qual, no momento, não tinha a presença de seu patriarca.

Nela, a senhora da casa, Woo Ah Ha, sentada ao lado de Yun Mi, comentava algo com a filha que aparentava ser muito importante, renegando, as duas, por completo a atenção dos demais dispostos à mesa.

Sun e os amigos, sentados um ao lado do outro, falavam sobre algo, que ela imaginava ser o trabalho, com um entusiasmo desmedido. O Wang caçula, de tempos em tempos, assumia um tom avermelhado em suas maçãs do rosto e, nesses momentos, parecia constrangido e pouco à vontade.

Jung, sentado ao lado de Eujin, piscava o olho para a governanta de tempos em tempos. Ela tentava ignorá-lo sem parecer de todo arrogante e pensou que, talvez, a paixão que o amigo sentira no passado não tivesse sido superada. “Problema”. Precisava dar um jeito naquilo.

Gun, que era só carinhos e sorrisos para Na Na, não passava o mínimo de verdade aos seus olhos. Mesmo que ele aparentasse estar um pouco melhor nessa vida, Ha Jin não conseguia lhe atribuir confiança e testemunhar a forma como Taeyang, em discretos espaços de tempo, os observava a deixava angustiada.

Os funcionários responsáveis por servir a família e seus respectivos convidados marcharam eretos, carregando bandejas e mais bandejas, diretamente da cozinha para a mesa.

Movimentos treinados, todos alinhados nos espaços vagos entre as cadeiras, iam depositando o menu da noite e aguçando a curiosidade dos beneficiados que esperavam para avaliar a origem e o aspecto do jantar.

Aos olhos da jovem governanta, os pratos se apresentavam tão bem elaborados como todos os outros dias.

A governanta Nyeo foi a última a surgir, trazendo uma bandeja. Uma vistosa lagosta, assada magistralmente e mergulhada em molho ainda borbulhante, vinha de suas mãos direto para o centro do buffet.

Jung assoviou empolgado agarrando os talheres no momento que Nyeo recuava, desejando uma boa refeição a todos, se postando ao lado de Ha Jin no aguardo de ser solicitada por algum integrante da refeição.   

— Mais um prato, por favor — aquela voz solicitou ao fundo, antes que alguém tivesse tempo de angariar uma colherada de qualquer comida para seus próprios pratos.

Ha Jin, que entrara no modo apática na ocasião de ter de aguardar algum patrão reclamar do tempero ou pedir um guardanapo a mais, voltou a si subitamente e buscou pelo dono da exigência.

Shin saiu das sombras do corredor e encaminhou-se para uma cadeira vaga, o mais distante possível dos demais, ainda parecendo relutante em decidir se sentaria ou não.

— Era só o que me faltava… — Gun deixou os talheres tombarem pesadamente ao lado do prato e cruzou os braços, prepotente  — É isso mesmo que meus olhos estão vendo?

A governanta Nyeo alertou apenas com movimentos ríspidos no olhar para que Park Seung Bin, a empregada responsável pela reposição da louça, se deslocasse o mais ligeiramente possível até a cozinha para atender ao pedido do recluso herdeiro.

— O cheiro do jantar que chegou ao meu quarto me parecia melhor do que a gororoba que me serviram há pouco por lá… — ele justificou-se mirando a jovem governanta de relance enquanto evitava responder a provocação do irmão.

— Demorou! — Sun exclamou sincero — Vamos comer!

— Concordo — Eujin apoiou animado — Sente-se logo, Shin, e experimente essa lagosta que acabou de sair do forno. Vamos lá.

Park Seung Bin se materializou numa velocidade impressionante ao lado do patrão, trazendo mais um prato e talheres para o espaço onde ele acabara de escolher para se sentar.

Ha Jin permanecia em estado de confusão: Seria devido às palavras atrevidas dela que ele resolvera sair do quarto ou a comida - que era a mesma da dos demais - como o próprio mencionara, fora servida em uma qualidade inferior? Seja lá o motivo, Yun Mi não perdeu tempo em raciocinar maleficamente.

— Também faço gosto de tê-lo entre nós, irmão, mas me diga o nome da pessoa que tratou do seu jantar privado com tamanho descuido e eu a punirei de forma exemplar — ela sabia que era Ha Jin.

Aquela cobra sabia de tudo.

— Obrigado pela consideração, Yun Mi, contudo devo informar que sua memória anda curtíssima, afinal não é a primeira, ou a segunda, sequer a terceira vez que lhe digo para não se intrometer na minha vida — objetou esboçando uma atitude despreocupada e apontando para Jung passar a bandeja de arroz para ele.

— Você é muito arrogante, completamente sem educação, garoto! Como pode pertencer a essa família? — Ah Ra esbravejou retirando seu guardanapo do colo e jogando-o sobre a mesa. Ao seu lado, a filha tentava controlar o rubor ensandecido que dominou suas faces em resposta à represália do irmão, bebendo abruptamente seu copo d’água em grandes goladas.

Novamente, Shin fingiu não escutar o desaforo, se dedicando a encher o prato com o que lhe agradava do menu. Exceto os três irmãos mais novos, que não viam nada demais nele estar naquele jantar, todos os outros se portavam com desconforto. Até os convidados de Sun, as duas moças e o rapaz, ao levarem a comida à boca, mastigavam produzindo o mínimo de ruído para não se destacarem naquele ambiente carregado.

Taeyang, fazendo sua refeição em silêncio desde o início, era, para Ha Jin, uma incógnita em relação aos sentimentos pelo irmão excluído, mas um livro aberto dedicando olhares tão significativos para Gun. Ele visivelmente detestava o outro e parecia cada vez mais incomodado com as inserções desagradáveis deste.

— Essa comida azedou de repente — Gun reclamou.

— Gun… — Na Na tocou no braço dele e pediu com os olhos para que ele desse uma trégua. Como resposta, ela recebeu não mais do que um breve desprezo gestual.

— Concordo com você… — Ah Ra anuiu, ainda remoendo as dores de sua cria, Yun Mi — Como em poucas vezes, concordo com você, rapaz.

— Não me conformo, todos os dias, quando lembro que ele está por aqui, que terei de ver seu rosto — o companheiro de Na Na emendou.

Shin levou a primeira porção à boca, mastigando de um modo nada espontâneo, como se estivesse engolindo punhados de lava pura.

— … Sinto por você, Gun, de coração. Ter um irmão legítimo como ele não deve ser de todo fácil...

— Calem a boca, suas víboras — Eujin atropelou a fala da senhora da casa, apontando-lhe o dedo ameaçadoramente.

Em resposta a discussão que se avolumava no recinto, os funcionários que assistiam ao jantar se empertigaram tensamente em suas posições. A governanta Nyeo, quase na ponta dos pés, dando a impressão à segunda governanta de estar buscando uma forma de apagar a labareda.

— Não aponte o dedo para mim — Ah Ra trincou os dentes, ofendidíssima pela postura súbita de Eujin.

— Não precisa me defender. Está tudo bem, irmão.

Shin intercalou no embate da mulher de Hansol com o herdeiro justiceiro, sorrindo bondosamente para o segundo, desejoso que este não comprasse as provocações. Seu sorriso, contudo, em nenhum momento trazia alegria e, entristecendo-se ao observar isto, Ha Jin notou o desespero flamejar por detrás da aparente calma.

Certamente ele nem se dava conta, mas sua boca alinhava-se num inexorável plano horizontal a cada represália. Mentalmente, ela torcia para ver a reencarnação de So vencer a chuva de negativas e manter-se de cabeça erguida. E ele estava tentando, era real, ela concluía.

— Por que eles estão falando assim do tio Shin, mamãe? — Ha Na perguntou à mãe, na sua inocência perfeita de criança, o que provocou uma atitude a qual Sun Hee já deveria estar pensando há algum tempo.

— Estou vendo que não está com fome… Vamos fazer assim, mais tarde, quando seu pai voltar do trabalho, retornamos nós três para jantar e fazer companhia a ele, que tal? — a mãe atalhou, agarrando a menina pelo braço e se retirando da mesa, após executar uma breve mesura ao demais, sequer dando tempo da filha rebater a sugestão.

Shin revolveu o arroz no prato, crispando os lábios com mais força.

"Não, elas não saíram da mesa por sua causa!", a governanta mais nova teve vontade de gritar no seu ouvido.

— Dá um tempo… Nem minha sobrinha pode mais comer em paz por aqui. Deixou minha cunhada transtornada — Gun, laboriosamente, puxou o gancho para a pior interpretação — Por que você voltou, hein? — virou-se diretamente para o irmão excluído — A convivência nessa mansão e na empresa era ótima antes de nós sermos obrigados a descobrir a que horas teremos de esbarrar com você em algum lugar. Não se parece com nenhum de nós…

— FIQUE QUIETO! — Eujin gritava, tentando sufocar a voz de Gun.

— ... Nem físico ou intelectualmente. É só uma escória que nasceu para fazer minha mãe sofrer… Meu pai se envergonhar…

— Meus amigos não tem de assistir a isso — Sun resmungou, um pouco envergonhado, um pouco penalizado. Ha Jin cruzou os dedos para que o garoto não saísse dali também.

— … Eu te imagino como um cão de rua… Ninguém quer, de verdade, por ser sarnento, asqueroso e cheio de manias impróprias, mas alguns acabam se penalizando porque você sente pena de si como ninguém. Mas aqui…

— CHEGA, GUN! — Eujin finalmente se levantou batendo as duas mãos na madeira.

— … Aqui todo mundo ou te odeia ou tem pena! — ele conseguiu terminar e riu, certamente se divertindo duplamente com seu discurso odioso e com o desespero do irmão defensor.

Ha Jin viu o previsível acontecer. Shin se levantou do seu lugar, como um trovão, fazendo a cadeira tombar, encaminhando-se a passadas decididas para longe dali, na direção dos quartos outra vez.

Enquanto Eujin voltava-se contra Gun, os irmãos se atracando num bate-boca fervoroso pelo que acabara de acontecer, e Na Na testemunhando a troca de farpas em choque, Taeyang pareceu perder a fome e também abandonou seu jantar quase intocado.

Nyeo estava estarrecida ao lado dela, sem ação nem para ajeitar a cadeira caída próximo ao seus pés, ao passo que Ah Ra sorria para o vazio e continuava a se alimentar como se uma orquestra relaxante estivesse tocando em seus ouvidos.   

Yun Mi continuava muito deslocada, de certo absorvendo os dizeres anteriores do irmão e, no outro extremo, Sun fazia sinais para que ele e os amigos deixassem o local imediatamente, porém recebia negativas de cabeça em troca, os universitários receosos de ver a briga respingar sobre eles caso a saída abrupta da mesa fosse interpretada como genuína falta de educação.

Jung, via de regra, era o mais perdido dos Wang. Ser irmão legítimo dos dois oponentes não lhe permitia fazer uma escolha; embora não concordasse com o posicionamento de Gun, não conhecia Shin tão bem e, por receio de ofender um deles, permanecia confuso sem escolher do lado de qual irmão se posicionar.

Naquele ínterim, Ha Jin soube que tinha de sair da inércia e agir. O tumulto era culpa sua originalmente e ela deveria - bem de verdade, queria - continuar sendo peça fundamental da mudança.

Aproveitando a distração das pessoas na sala de jantar, se esgueirou o mais discretamente que pode para o corredor, andando apressada até a porta do quarto de Shin. O que a garota guardava em mente teria de acontecer de imediato, ou não surtiria o efeito almejado.

— Senhor Shin, estou entrando — anunciou-se impaciente, invadindo o espaço dele sem ouvir seu convite para entrar. Ela poderia perder o emprego por aquilo, entrementes, repetiria se fosse preciso.   

— SAIA DAQUI! — foi recepcionada por um berro feroz.

Ele havia jogado todas as suas apostilas, ordenadas cuidadosamente para o estudo em cima do colchão, no chão. Pisoteando nos papéis, agora ia para a estante ao lado da escrivaninha e lançava as dezenas de livros técnicos contra a parede, um a um. Outra repetição de Goryeo, ela recordou com certa irritação. Queria vê-lo nessa vida mais forte, mais confiante...

— Senhor Shin, pare com isso — aproximou-se do rapaz, tentando fazê-lo parar de destruir seu material de leitura.

Ele virou-se para ver quem ousava tocar em seu braço e somente então percebeu que quem acabara de entrar fora justamente a causadora daquele rebuliço todo.

— Sua… Sua intrometida! Eu não deveria ter lhe dado ouvidos. Quem pensa que é para opinar sobre minha vida e como devo levá-la? — atacou puxando o braço para longe do toque dela.

— Eu quis apenas ajudar! — Ha Jin devolveu com um berro, descarrilhando dos trilhos da prudência.  

— Não sei quais são suas verdadeiras intenções, mas não me engana. Há algo em você, garota. Algo em que não confio... — retrucou, os olhos flamejando de ódio.

Ora, não era para ela que ele deveria direcionar esses sentimentos, pensou revoltada, alisando o avental num tique nervoso. Shin abandonou a ideia de destruir sua biblioteca particular e achou bem mais interessante descarregar mais frases inúteis, de mágoa e solidão, sobre a governanta:

— Já sou humilhado demais nessa casa sem fazer qualquer esforço… Então vem você e sibila coisas erradas para mim — ele gesticulava ameaçadoramente na direção da jovem — Responde a quem, afinal? Ao meu pai ou faz parte de alguma tática da minha mãe para tentar me destruir de vez? Isso é bem o jeito…

— Pare de se comportar como um bebê! — Ha Jin o cortou categórica e inflamada, ele a olhou com espanto — O senhor Gun está certíssimo em um dos seus argumentos: essa coisa de ter pena de si mesmo é irritante. É ela que faz você caminhar para trás, retornar para essa toca de cabeça baixa, como se fosse o nada que ele, a esposa do seu pai ou quem mais se sinta ameaçado por você, gosta de proclamar. Eles têm força na fala porque você os alimenta com essa ideia. Eles sentem seu ponto fraco e acertam muitas vezes, certeiramente, e à vontade, porque você permite que eles façam. Seja o homem que gostaria de ser, não o que eles esperam que você seja. Volte lá.

— Não vou voltar lá. Não quero ser humilhado novamente — respondeu a contragosto, recuando para longe dela, virando-lhe as costas e cerrando os punhos sobre o tampo da escrivaninha.

A governanta fechou os olhos e respirou fundo para não falar o que não devia, o que reacenderia sua fama de louca novamente. Dentro de si, a impotência queimava soberana; nem a sabedoria de uma vida passada era suficiente para fazer uma cabeça tão dura não cometer os familiares erros de outrora.

Seria insuportável retornar para a sala de jantar somente para rever o sorriso triunfante no rosto de Wang Gun, mas que escolha tinha uma serviçal

Pela segunda vez na noite, Ha Jin recuou para fora daquele aposento, e, como na primeira ocasião, ainda conseguiu encaixar mais uma frase no ar.

— Então o seu irmão ganhou — e saiu sorrateiramente para o corredor, fechando a porta.

De volta ao jantar, assumiu seu posto de antes. Direcionando sua atenção para ver quem permanecia na mesa, a governanta mais nova não se deu conta que a mais velha havia reparado em sua ausência e de onde voltara.

Ela estava concentrada em focar a mesa e notara que Eujin, Yun Mi e Taeyang se ausentaram permanentemente, uma vontade que também parecia estampada no rosto da prima. Gun e Ah Ra degustavam numa paz cínica suas refeições e os outros comiam apenas para se verem longe dali o mais breve que conseguissem.  

Chateada, a garota pegou uma bandeja livre e passou recolhendo as comidas inacabadas dos fugitivos. Estava prestes a pegar os restos esquecidos por Shin quando o próprio surgiu envolvendo de forma delicada, mas firmemente, os dedos ao redor do seu pulso.

— Eu não terminei ainda, Go Ha Jin — alertou-a.

Boquiaberta, o peito saltitante, ela percorreu-o com os olhos, da mão para o rosto, e deu de frente com aquele sorriso renovado, esperançoso. O herdeiro sequer parecia magoado ao fitá-la em retorno.

— Sim, senhor — a governanta recuou assim que recordou de seu lugar, escutando-o agradecê-la educadamente e vendo-o retornar à cadeira.   

— Volte para seu lugar — Gun voltou a espezinhar, desta vez, mais impaciente.

— Este é o meu lugar! — Shin devolveu terminante — Você disse que eu sou um cão de rua, não é? Gosto da analogia… eles nunca largam o osso.

— Eu já disse que aqui só tem ódio ou pena para você… É desse jeito que gosta de estar?

— É desse jeito que vivi ao longo dos meus vinte e nove anos, irmão. Nada de novo front — brincou acrescentando a lagosta ao molho em cima do arroz — Que tal conversarmos sobre assuntos mais interessantes como, por exemplo, por que papai ignorou todos esses anos em que você se dedicou à empresa e te igualou a um cão de rua?

Roxo de ira, Gun se levantou da cadeira e partiu numa torrente de energia negativa. Na Na, deslocada na posição que lhe restara, partiu ao encalço do futuro esposo. Ah Ra permaneceu em silêncio. A comida parecia descer em bolos incômodos por sua garganta.

— Jung? — Shin estalou os dedos para ter a atenção do mais novo, que o olhou abobalhado — Passe a jarra de suco.

A governanta Nyeo exprimiu um pequeno sorriso para Ha Jin, ligando dois mais dois e, como antes, a garota não se atentou para isso, atenta ao examinar a mão de Shin tremer quase imperceptivelmente ao pegar a jarra.

Ela queria, de todo o coração, abraçá-lo e elogiá-lo por ele ter se saído tão bem, mas sua posição naquela casa lhe permitia apenas exultar a batalha vencida internamente.

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Notas finais do capítulo

Glossário:

¹ Teoria Clássica da Administração é uma escultura de pensamento administrativo idealizada pelo engenheiro francês Henri Fayol. Foi ele quem desenvolveu os 14 princípios básicos da administração.

² Henry Ford foi um empreendedor estadunidense, fundador da Ford Motor Company. O primeiro empresário a aplicar linha de montagem em série para produzir automóveis em massa em menos tempo com um menor custo.

³ Japchae é um prato coreano feito com macarrão de batata doce, frito em óleo de gergelim com uma variedade de carnes e vegetais. É um prato tradicional servido em ocasiões especiais, como festas e reuniões.

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Personagens:

Concubina Oh - Nyeo Hin Hee
Hae Soo - Go Ha Jin
Hwangbo Yeon-hwa - Wang Yun Mi
Imperatriz Hwangbo - Woo Ah Ra
Ji Eun Tak (OC) - 4ª esposa de Wang Hansol
Khan Mi-Ok (OC)- amiga de Ha Jin
Lady Hae - Kim Na Na
Li Chang Ru (OC) - 1ª esposa de Wang Hansol
Park Soon-duk - Doh Hea
Park Soo-kyung - Doh Yoseob
Park Sun Hee (OC) - Esposa de Sook
Sung Ryung (OC) - empregada/amiga de Ha Jin
Taejo - Wang Hansol
Wang Baek Ah - Wang Eujin
Wang Eun - Wang Sun
Wang Yo - Wang Gun
Wang Ha Na - filha de Wang Sook
Wang Jung - Wang Jung
Wang Mu - Wang Sook
Wang So - Wang Shin
Wang Wook - Wang Taeyang
Yoon Min-joo - Imperatriz Yoo

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