Moon Lovers: The Second Chance escrita por Van Vet, Andye


Capítulo 19
De Volta ao Lar


Notas iniciais do capítulo

Olá, galera!

Mais um domingo de postagem e estamos muito felizes com todo o feedback do capítulo passado… Orgulho das tias ;)

Em breve nos encaminharemos para mais conflitos familiares e momentos únicos entre nosso casal principal. Enquanto isso, Shin começa a se adaptar ao seu antigo lar e seus moradores…

Devido as respostas positivas de vocês, criamos um grupo da fanfic lá no face para podermos interagir melhor. Quem estiver a fim de passar por lá o link é esse --> https://www.facebook.com/groups/264304404024130/

Vai ser muito legal a presença de vocês!

Bora ler! :*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/715437/chapter/19

Com um suspiro profundo, Ha Jin já se sentia resignada sobre todo aquele dia. Não conseguira falar com Eujin em nenhum momento, havia sido enxotada por aquela versão mal educada de So e, como se tudo aquilo já não fosse mais que suficiente, estava agora com dor de cabeça. Contornando o jardim no crepúsculo, caminhou para a cozinha a fim de despedir-se da governanta e esperar, mesmo que frustrada, rever o rosto que não deixara de amar antes de ir para casa.

Na cozinha, uma cena estranha lhe chamou a atenção e, por mais que soubesse que a governanta Nyeo não gostava de comentar sobre nada relacionado à família Wang, estranhou que ela estivesse montando uma bandeja com os mais variados pratos preparados para serem servidos no jantar daquela noite.

— Governanta, já estou de saída — pronunciou, chamando a atenção da mulher que sequer lhe deu um olhar, concentrada nos afazeres.

— Ah… Tudo bem, Ha Jin. Obrigada pela ajuda — a outra respondeu lhe entregando um discreto sorriso.

— Precisará de mim para mais alguma coisa? — a curiosidade pinicando dentro dela. A governanta não parava de adicionar itens no tabuleiro, e o fazia com afinco.

— Não… Acredito que não. Pode ir tranquila. Descanse.

— E… Essa bandeja? — soltou finalmente, não mais resistindo.

— Ah… É para o senhor Shin — Nyeo respondeu simplesmente.

— Ele não vai comer à mesa com os demais? — continuou.

— Não… Ele nunca faz isso — a mais velha comentou e parou de preparar a bandeja, encarando a mais nova pela primeira vez, um ar pensativo — Ou o fez pouquíssimas vezes, ainda na infância.

— Por que? — tentou prolongar a conversa.

— Ele não se sente bem…

Nenhuma das governantas continuou a falar e aquele pequeno diálogo se perdeu no silêncio que divagava entre o ofício de Nyeo e os pensamentos de Ha Jin. A mais nova lembrou e comparou o quarto príncipe, e como ele se empenhava a não participar das refeições do palácio ou o que quer que fosse relacionado à família como essa sua reencarnação, o herdeiro que não gostava de se aproximar dos seus.

Recordou também da Concubina Oh preparando cestas para ele, a mando do rei Taejo, a fim de saciá-lo e mantê-lo em sua fortaleza. “Como ele pode continuar tendo esses pensamentos de exclusão e alimentar os mesmos sentimentos depois de mil anos?” Se questionou irritada, querendo descobrir os segredos que rondavam a atual família Wang enquanto observava a mais velha saindo da cozinha, a bandeja repleta de alimentos sobre um carrinho.

De olhos fechados, relaxado e meditativo, Shin usufruía da confortável poltrona de seu quarto, as costas apoiadas sobre o espaldar macio, completamente inclinado para trás. Já havia retirado da mochila todos os poucos pertences que trouxera para a mansão e agora traçava em sua mente dezenas de possibilidades de como sua vida seria dali para frente, no meio de tantas pessoas que desejavam ardentemente o seu sumiço.

Tinha convicção do quanto era malquisto naquela família, a exceção de uns poucos membros que conseguiam manter o bom senso diante de tanta inveja e disputa por poder. Rememorava agora as palavras ditas pelo pai em resposta a Taeyang, pouco antes de sair da sala de reuniões com o rosto inflamado diante do comentário de Gun.

Shin estará responsabilizado pela linha de produção, trabalhando ao lado do atual gerente, Han Jae Suk.

— Por que o senhor me colocaria à frente de uma linha de produção inteira? De uma linha de carros que promete alavancar ainda mais os cofres da empresa?

Perguntou para o vácuo a sua frente, e a pergunta ecoou na solidão do aposento, trazendo mais dúvidas do que compreensão como resposta, até que uma memória infantil vivenciada com o seu pai lhe retirou um sorriso discreto enquanto se desenhava detalhadamente na cabeça do homem adulto .

— O que está fazendo, Shin? — era Hansol que observava o menino com vários dos seus carrinhos, aparentemente quebrados, a sua frente.

— Estou montando os carros, papai — o menino que completaria seu sexto aniversário dali dois meses respondeu — Preciso saber como eles funcionam pra poder montar de volta.

— Mas já estavam montados quando eu te dei…

— Eu sei… Mas quando eu for grande, vou precisar saber montar todos os carros da fábrica, não é?

— É sim — o mais velho sorriu e sentou-se com o filho, no chão, falando e ocupando as mãos em ajudar o pequeno na árdua tarefa de montar os brinquedos — Essa é a parte de produção dos carros. Onde eles serão montados. Chamamos de “linha de produção” e é uma parte muito importante da nossa empresa.

— Pois quando eu for grande, é nessa linha de produção que quero trabalhar. Tudo bem se for assim, papai? — o pequeno perguntou, os olhos brilhando de ansiedade e entusiasmo.

— Está tudo muito bem, Shin — o mais velho aprovou, igualmente entusiasmado — Prometo que não esquecerei dessa nossa conversa.

Uma batida suave na porta o trouxe de volta para o amargo futuro daquele garotinho sonhador. Ele não morava mais sozinho, portanto deveria se acostumar com as constantes interrupções, mas não significava que não pudesse atender a porta de má vontade por estar sendo interrompido da sua privacidade preciosa. Se levantou da poltrona impaciente e girou a chave na fechadura de modo brusco. A jovem senhora, empurrando um carrinho de rodas, lhe sorriu amavelmente do corredor e desarmou sua pose ranzinza no mesmo instante.

— Como vai, senhor Shin? — a governanta perguntou, o sorriso era largo e verdadeiro, movendo o objeto com a bandeja — Trouxe seu jantar… Imaginei que não se reuniria com sua família…

Feliz em ver a senhora que administrava com maestria a Mansão da Lua há anos, o rapaz deu um passo para o lado a fim de que ela pudesse entrar no quarto.

— Como sempre, está certa, Hin Hee. Mas pare de me chamar de senhor… Você sabe o que acho sobre essas formalidades estúpidas que meu pai insiste em manter — ele a relembrou usando um tom de voz carinhoso e informal. A seguir se sentou na poltrona novamente e aguardou a governanta instalar a bandeja na sua frente — Por favor, se sente.

— Eu sei… Eu sei — ainda sorrindo e olhando para o jovem, sentou-se em prumo elegante na beirada da cama  — Está bem magro se comparado com o que lembro de você.

— Faz muitos anos…

— Não o suficiente para me fazer esquecer de como saiu daqui… — ela sustentava o olhar dele carinhosamente.

— A verdade é que nunca encontrei nada que lembrasse, nem que fosse de longe, o tempero magnífico da governanta Nyeo Hin Hee pelos lugares que passei.

— Não é para tanto, Shin. Tenho certeza que esteve bem onde estava… Mal lembrou de mandar notícias…

— Desculpe — respondeu pegando os hashis e misturando a comida — Não queria mesmo era que soubessem onde eu estava, mas papai sempre deu um jeito de me encontrar.   

— Eu sei… Não é sua culpa que tenha desejado ir embora e eu o compreendo bem. Mas me diga, como está se sentindo?

— Estou bem…  

— Sabe o teor da minha pergunta, Shin… — observou o rapaz enchendo a boca de carne, seu sabor predileto — Quero saber como está se sentindo…

— Estranho… Mas sobrevivo — ele comentou evasivo, comendo com um pouco mais de entusiasmo — Quanta saudade senti desse tempero… — elogiou, a boca cheia.

— Acredito que sim — ela lhe doou mais um sorriso e ele retribuiu, as bochechas cheias, lembrando à mulher a criança carinhosa e brincalhona que fora em um passado não tão distante — Coma tudo.

— Mas como você está? — Shin perguntou em seguida, após engolir tudo em sua boca com demasiada satisfação — Aquela esquisita disse que você foi ao médico.

— Esquisita? — a governanta franziu o cenho, confusa.

— Sim… a outra tal governanta…— ele explicou, levemente impaciente. Quem mais de esquisita havia naquela mansão, afinal?

— Sim… ela me contou. Era apenas um pouco de dor de cabeça, a velha enxaqueca atacando com tudo. Fui ao médico pegar uma receita para remédios. Já estou bem, não há com o que se preocupar.

— Fico feliz por isso… Mas me diz, Hin Hee, como aquela desmiolada trabalha nessa casa? Como ela conseguiu o cargo, ainda mais de governanta? Quem indicou? Porque isso não é normal. Ela parece avariada.

— Avariada? — Nyeo repetiu, achando singular os adjetivos que o herdeiro escolhia para a garota.

— É… parece que faltam uns parafusos ali — ele endossou sem se aprofundar.

Não havia porque contar para Hin Hee sobre a primeira vez que se encontraram. Para Shin ainda haviam dúvidas se a tal estava ou não tentando finalizar a própria vida, andando sorumbaticamente para a frente do caminhão. Contar sobre o ocorrido poderia trazer problemas para a criatura e ele preferiu não se envolver.

— Go Ha Jin é uma ótima garota, Shin, não implique com ela.

— Não estou implicando… Só acho que ela não tem tanto talento… nem tem o perfil dessa mansão. Ela é meio… desorientada.

— Acredito que teve uma má impressão dela. Embora tenha sido indicada pela senhorita Kim Na Na e eu tenha de admitir que realmente desconfiei de suas habilidades no início, hoje percebo que o seu trabalho é excelente e, mesmo sendo bem jovem para a função, ela tem bastante empenho e experiência em tudo o que faz. A área externa da mansão melhorou consideravelmente depois que ela veio para cá, senti que os funcionários estão menos agressivos uns com os outros e ela sempre me auxilia quando preciso de reforço aqui na mansão.

— Hmmm… Acho que essa desmiolada deve ter algo de bom, no fim das contas, pra ter conquistado o seu coração… — ele brincou com a governanta, apoiando os talheres e tomando um pouco de suco.

— Está dizendo que tenho o coração de pedra? — ela perguntou falsamente ofendida.

— Apenas que conheço bem a governanta Nyeo e sei que só os bons são merecedores de uma defesa tão enfática — piscou o olho para ela, divertindo-se — Essa comida está maravilhosa!

— Por que não foi jantar com seus irmãos, à mesa?

— Já vi a cara daquele pessoal demais por hoje. Preciso de descanso pra poder desintoxicar. Amanhã terei uma nova leva de exposição tóxica na empresa…

— Shin… Isso não é brincadeira — ela falou com seriedade — Não esqueça que você é tão filho e herdeiro como os demais. Precisa reivindicar o seu lugar nessa casa. Foram cinco anos fora, e eu bem conheço os motivos que te fizeram ir embora… Fará tudo de novo agora que voltou? Continuará deixando que digam o que você deve fazer e onde deve estar?

— Vou para a empresa… Acho que isso está de bom tamanho. Acredito que minha mãe e meus irmãos já estão bem chateados com isso…

— Você está parecendo um menino birrento se comportando dessa forma, e sabe bem disso. Não vou incomodá-lo quanto a esse assunto, mas espero que pense melhor sobre ele. Você não precisa se esconder de ninguém. Essa casa também é sua.

— Eu sei — ele respondeu com um ar descontraído, quebrando a seriedade imposta pela mulher — Seu tempero é a coisa mais gratificante desta casa!

— Obrigada! — ela respondeu levantando-se, percebendo que ele acabara e aceitando que também encerrara o delicado assunto — Vou levar tudo agora e, embora goste muito de conversar com você, espero que não precise trazer essa bandeja ao seu quarto muitas vezes. Seria uma alegria te ver em seu lugar, à mesa, ao lado de seu pai e de seus irmãos.

— Hmmm… Vou pensar… — ele respondeu enquanto observava a governanta devolver o tabuleiro repleto de cumbucas vazias para as prateleiras do carrinho e se encaminhar para a porta.

— Tenha uma boa noite, Shin — ela desejou com um breve aceno de cabeça.

— Farei o meu melhor… — falou acompanhando-a até a saída, e  aproximando-se de Nyeo, lhe dando um saudoso abraço — Obrigado por continuar cuidando de mim, governanta. Nunca vou esquecer de seu carinho, paciência e preocupação.

— Não agradeça — ela respondeu dando um breve tapinha sobre o braço do rapaz — Você que é um ótimo menino, o melhor de todos, e nunca deu trabalho algum.

***

O corpo de Shin estava desacostumado aos lençóis de seda e ao colchão de alta qualidade que a Mansão da Lua oferecia aos seus moradores. Durante os cincos anos que passou fora - dois deles no exército e os outros três vagando pela América - se recusou a viver usufruindo com o sustento do pai, desviando-se de todos os mensageiros que lhe enviava, e assim não sobrava muitos recursos para dormir como um príncipe todas as noites.

Trabalhou em vários lugares, nas mais variadas funções, durante aquele período e viu e vivenciou experiências que jamais teria conhecimento se permanecesse enclausurado naquela mansão. Passou um longo tempo economizando os diversos salários que recebia para adquirir sua atual moto e, na realidade, não se importava se estava rodeado de luxo ou não. Ele nasceu em berço de ouro, mas não se sentia dependente daquela riqueza.

Foi com muito custo que o sono o alcançou na sua primeira noite debaixo do mesmo teto que os irmãos, os músculos tensos e a cabeça a mil. Quando a manhã penetrou pelas janelas, horas depois, ele ainda permanecia embalado no sono, alheio as obrigações do dia. Despertou, assustado, com alguém batendo à porta, gentil, mas insistentemente. Zonzo, os olhos embaçados e os cabelos espetados, abriu a porta com brusquidão e viu um empregado qualquer dizendo, após efusivas desculpas:

— Senhor, mil perdões pelo incômodo, mas o senhor Taeyang pediu para acordá-lo. Ele pede para que o senhor se apronte, faça o desjejum e o encontre no escritório da mansão em meia hora.

— Taeyang? — perguntou com a voz rouca, confuso. O empregado ficou olhando-o ansiosamente, sem responder, de certo temendo alguma retaliação já que estavam tão adaptados às grosserias de Yun Mi — Tudo bem — disse e fechou a porta na cara do homem.

Meia hora mais tarde, dentro das costumeiras vestes despojadas - Shin possuía uma meia dúzia de roupas na mochila, nada social - ele caminhou para o cômodo que estivera com o restante da família no sábado. Não havia ninguém discutindo sobre desfavorecimento na herança, objetos sendo arremessados ou a presença da mãe para lhe dizer o quão dispensável ele era para ela. Ao invés disso, encontrou a figura solitária daquele irmão que sempre lhe fora distante.

Taeyang estava sentado no sofá, a perna cruzada e um livro robusto apoiado na coxa, folheando as páginas atentamente. Ao perceber a presença do outro, fechou o exemplar, cuidadoso, e o depositou em cima da mesinha de centro. Shin dispensou uma olhadela rápida para o título “As bases do marketing industrial” e aproximando-se, perguntou:

— Posso saber o motivo dessa convocação ilustre?

— Teve uma boa noite de sono?

— Não precisamos desse teatro — o rapaz objetou sombriamente indo apoiar-se na escrivaninha e cruzando os braços.

— É, não precisamos. E eu sei que você teve uma boa noite, afinal já passa das oito faz tempo e deveria estar na empresa às sete em ponto — informou-o deliberadamente, consultando o seu elegante relógio de pulso .

— E você não foi pra lá ainda por quê? Ficou somente pra me dar uma advertência no meu primeiro dia? Queria ficar na frente de Gun quanto à isso?

— Meu trabalho nessa manhã envolve você — Taeyang devolveu com frieza — E, por favor, vamos parar com essas provocações juvenis, principalmente envolvendo essa pessoa desagradável. Somos adultos aqui.

Shin achou a franqueza do outro realmente válida e concordou na sintonia impessoal do interlocutor.

— Certo, acho ótimo. Qual a sua relação comigo no dia de hoje?

— Nosso pai pediu para eu situá-lo na dinâmica geral da empresa, apresentar os setores e os funcionários principais, e depois irmos para a nova fábrica; não tão nova assim, já que tem uns três anos. Fica ao norte da cidade. Prometo que finalizamos tudo antes das duas da tarde — e se levantou agilmente indo na direção da porta  — Você vai com essa roupa?

— É a única que tenho — deu de ombros, sem se importar com o jeans surrado e a camiseta desbotada.

Lá fora, no caminho para a garagem seguindo o irmão, o herdeiro rebelde viu a governanta desastrada portando uma mangueira e, como sempre, parecendo com a cabeça nas nuvens enquanto regava uma carreira de flores além da conta. Outro funcionário, aparentemente responsável pela jardinagem, correu de encontro à garota e pediu para que ela parasse de afogar as plantas, uma expressão de agonia no rosto.

Shin achou engraçado, e igualmente curioso, a natureza desatenta daquela criatura que acabou se distraindo, como ela, criando suposições de como havia conseguido logo o posto de governanta na residência. Nyeo Hin Hee havia falado muito bem dela na noite anterior, mas seus atos em nada justificavam a defesa da verdadeira governanta daquela mansão. Nadando nessa reflexão, percebeu Taeyang parando sua caminhada e virando-se para ele a fim de perguntar:

— Estou perguntando se vai querer ir comigo no meu carro? — não era a primeira vez que lhe chamava à atenção durante aquele trajeto.

— Não — ele desistiu de buscar entender a maluca e prosseguiu  — Te seguirei na minha moto.

A parada inicial aconteceu no escritório, o majestoso edifício reluzente no centro da cidade. Os irmãos estacionaram na garagem do prédio, pegaram o elevador e apenas trocaram algumas palavras quando o herdeiro responsável pelo marketing e setor comercial se pôs a apresentar as equipes do seu departamento, do RH, do financeiro, contábil, entre outros subsetores dentro da imensa companhia. Rostos e nomes que ele deveria se habituar a reconhecer diariamente, e desconfiar, uma vez que Hansol informara sobre olheiros em toda a parte avaliando a eficiência dos filhos.   

Hansol e Gun estavam com os acionistas no departamento administrativo, de portas fechadas, na sala de reuniões. O irmão gesticulava e falava eloquente enquanto apresentava algum gráfico no retroprojetor aos senhores. Ao passar pela janela, no encalço de Taeyang, Shin cruzou seu olhar com o de Gun, que o fuzilou enraivecido.

Numa sala próxima, a bela noiva de Gun - a infeliz noiva seria o termo mais correto para a pobre garota - dialogava em tom de negociata em outro idioma, pela sonoridade, francês, com alguém ao telefone. Taeyang pareceu hesitar por breves instantes, a soleira da porta, então mudou de opinião e pediu para Shin continuar lhe seguindo.

Eles finalizaram o tour na Wang S.A. justamente na área da gerência, onde ele fora designado pelo pai para trabalhar. O cargo tinha jeito de ser monótono e sem maiores desafios, mas o jovem não guardava nenhuma expectativa positiva para o tipo de recreação que encontraria por lá.

De um jeito deturpado, no seu eterno sentimento de se provar para a família, e principalmente para a mãe, ele almejava o cargo de CEO, não porque gostaria de controlar o patrimônio; sequer pensou em como administraria aquilo tudo se ganhasse. Seu real desejo era ser um incômodo eterno na vida daqueles que o rejeitaram.  Ele não precisava estar lá, ele não sentia alegria nisso, mas não conseguia mais fugir do seu orgulho.

Sair da empresa para guiar a moto pela autoestrada, em direção à fábrica, foi o ponto alto do turismo de Shin. Taeyang dirigiu por muitos minutos, entre acessos viários menores e paisagem campestre, para se depararem com uma imensa construção, beirando o porto, do tamanho de um parque industrial, completo de uma cidade de menor porte.

O império Wang era colossal, o herdeiro recordou e conforme os irmãos iam penetrando as etapas da montagem automobilística, mais havia para se impressionar e descobrir. Eles continuavam se tratando como dois icebergs em pleno mar antártico, contudo Taeyang abandonou um pouco de sua pose glacial para narrar apaixonadamente os passos da confecção e exportação dos automóveis. Era impressionante, olhando para trás, dar-se conta que tudo aquilo viera do trabalho do avô e do pai.

As obrigações de Taeyang para com o irmão mais velho encerraram muito próximo das duas, como ele previu. Shin subiu na sua moto e colocou o capacete, prestes a dar partida e arrancar estrada a fora.  O outro, entretanto caminhou de encontro a ele erguendo um objeto retangular entre os dedos.

— O cartão está em seu nome, papai me pediu para entregar. Use o resto do dia para criar um guarda-roupa condizente ao seu cargo na companhia… Considere o dinheiro como um salário adiantado.

Shin  guardou o cartão no bolso da jaqueta e saiu, o motor roncando alto, sentindo que era ali o local onde deveria ficar.

***

Na Na passou a noite em claro pensando nas coisas que ouviu sobre Gun pela boca de Taeyang. Suas lembranças retrocederam anos antes, para tentar criar algum embasamento para as acusações, se recordando dos primeiros meses na Wang S.A. Ela era uma garota ansiosa e vibrante, praticando seu estágio dos sonhos no último período da universidade. Durante o curso preparatório, Wang Hansol e a história da sua companhia se destacavam entre os grandes exemplos de administração a serem estudados.

Assim que pisou na empresa teve contato com a magnitude de uma corporação de proporção mundial, sua dinâmica intensa e, claro, com os filhos Wang, que se dedicavam intensamente pela herança. Ela conheceu Taeyang antes de qualquer um. Antes de Gun, que estava passando o mês  em uma viagem de negócios, em nome da empresa, na Europa.

Taeyang e Na Na se fitaram por quase um  minuto antes de articularem algumas frases de cumprimento. Aquele tempo ínfimo fora para ela a centelha de uma breve certeza: ela havia encontrado uma pessoa especial e os dias seguintes caminhavam para aumentar essas expectativas; Olhares prolongados, gentilezas exageradas, desejo de estarem perto um do outro pela maior quantidade de ocasiões possíveis. Nenhuma palavra era externada, mas estava explícito no modo como agiam.

Então Gun retornou da sua viagem e, subitamente, eles começaram a se desentender. Em determinado ponto, Taeyang acusou Na Na de ter sido pouco criteriosa na entrega de documentos importantes, que acabaram por prejudicá-lo na finalização de um projeto que há muito ansiava. O curioso, além de injusto, era que a moça era reconhecida por ser extremamente minuciosa no seu ofício e se recordava nitidamente de ter dado um destino seguro para os tais documentos. Logo, algo a prejudicou… Quem? E por que ela estava pensando nessa história antiga, sobre sua paixão momentânea pelo cunhado e, pior ainda, relacionando a coisa toda com o seu noivo? Apertando os olhos, fez grande esforço para abandonar essas ideias confusas e dormir.

Na manhã seguinte, o humor de Gun em nada evoluiu. Ela se sentou ao lado dele no escritório, séria e taciturna, ainda aborrecida com a grosseria anterior, e espalhou a pauta digitada que ele havia lhe pedido há alguns dias. O rapaz pegou as folhas com brusquidão e disse, após analisá-las:

— Detesto esse espaçamento que coloca entre as linhas — implicou sem nem dar um bom dia à ela.

— Assim você não corre o risco de se perder quando for se guiar pelo texto — Na Na justificou-se, o peito oprimido pela ingratidão.

— Pois eu odeio...

— Taeyang aprecia muito quando formato os textos dessa forma. Ele concorda comigo e reconhece a qualidade das pautas — respondeu com dignidade, não podendo se conter.

Ele ergueu os olhos das folhas e a encarou com sua expressão sombria, que vinha cultivando desde o resultado do jantar do fim de semana. Ela poderia escolher baixar a cabeça submissamente ou manter-se firme. Escolheu sustentar a frieza no rosto dele.

— Qual o motivo de você estar falando desse idiota para mim?

— Estou simplesmente comentando que recebo bons elogios e sou reconhecida por outras pessoas dessa empresa. E não o chame de idiota, ele é seu irmão, como os outros.

Gun deixou o semblante pender de incredulidade. Ela nunca havia falado nesse tom tão incisivo para ele, e a própria não acreditava no que acabara de fazer.

— O que está acontecendo com você? — ele enfim perguntou, parecendo dispor de um esforço sobre humano para controlar a ira — Você está aqui por minha causa, apenas isso. Antes de fazer parte da gerência de patrimônio, eu me lembro de uma estagiária sem perspectivas passando o dia inteiro servindo café e imprimindo documentos para nós, inclusive Taeyang. E agora você vem jogar esse tipo de coisa na minha cara? — terminou seu discurso desaforado quase gritando.

Ela segurou o choro na garganta, chocada por saber que, no fim das contas, ele a enxergava dessa forma. Esse tipo de acusação não vinha dele normalmente, mas, de certa forma, combinava com Gun.

— E para de me olhar desse jeito, estou farto de todos! — ele exclamou jogando a papelada no chão.

— Acho que também estou farta de você… — e deixou o escritório para que ele não a visse lacrimejar.

***

 Enquanto penteava os longos cabelos negros em frente ao espelho arredondado da penteadeira em seu quarto, Yun Mi pensava nos últimos acontecimentos presenciados em sua família. Desde o jantar oferecido pelo pai para falar a respeito da sucessão da Wang S.A. que as coisas estavam levemente desconcertadas, e tudo isso girava em torno da volta de seu irmão mais velho, Wang Shin.

Lembrava-se da frequente tendência para protetor dos indefesos que o irmão tinha. Shin sempre estivera disposto a assumir o papel de defensor quando era necessário. Muitas vezes, na escola, por ser mais velho, ele a defendia quando coleguinhas tentavam aprontar contra ela ou humilhá-la.

De uma forma estranha, e que ela mesma não compreendia, Yun Mi admirava o irmão mais velho bem mais que aos demais. Sua rebeldia e ânsia pelo desconhecido tinham o poder de provocar na jovem o desejo de liberdade que ela nunca tivera ao manter-se sempre sob os olhares da mãe e focada em seus objetivos.

Agora que o irmão voltara, e em apenas três dias de leve convívio, sua agonia oculta por aventura estava novamente emergindo das profundezas que ela a jogara pouco depois de vê-lo partir daquela mansão cinco anos atrás. Tinha convicção de que o irmão também a admirava, mas que sua rebeldia e a necessidade de manter-se bad boy lhe instigavam a maltratá-la como com aos demais.

Sorriu para seu reflexo após passar uma pequena quantidade de gloss em seus lábios. Levantou-se da penteadeira e colocou o roupão de seda por cima da camisola, longa e com detalhes de renda, sem fechá-lo por completo, deixando à mostra o contraste do tecido preto, fino e sutilmente brilhante, com a pele de seu colo, alva e sem imperfeições.

— O que está fazendo aqui, Yun Mi?

Shin havia acabado de sair do banho e encontrara, no meio do seu quarto, a figura estranha da irmã sorrindo para ele. O rapaz, descamisado e trajando apenas um calção enquanto enxugava os cabelos em uma toalha branca e felpuda, passou por ela sem lhe dar a devida atenção esperada ou sem se acanhar pela situação que era obrigado a vivenciar.

— Vim saber como está — o sorriso de sempre estampava o rosto da bela garota.

— Estou bem. Já pode ir agora — ele foi categórico em sua resposta, soltando a toalha molhada sobre a poltrona e deitando-se na cama.

— Por que não foi jantar conosco? — a pergunta tinha uma nota carinhosa, ou simplesmente interessada — Pensamos que participaria de mais momentos conosco.

— Você bem sabe que não sou querido por aqui. Também poderia fazer um favor a si mesma se desfazendo desse sorriso e parando de encenar qualquer tipo de preocupação comigo.

— Não estou encenando — se desfez do sorriso — Apenas me preocupei…

— Estou ciente que nenhum de vocês sequer notou que estou aqui, quanto mais que não fui jantar, então, por favor, me poupe dessa conversa sem sentido, Yun Mi.

— Por que é sempre tão rude comigo? — a expressão estava magoada, e ela caminhou em passos suaves até a cama, sendo acompanhada pelo olhar sagaz do rapaz.

— Porque não acredito em suas palavras e muito menos em suas boas intenções. Se tem interesse em conseguir algo comigo, sabe que está sendo tola e perderá o seu precioso tempo tentando.

— Não estou tentando nada — finalmente pareceu ser franca no que dizia, sentando-se à beira da cama, olhando para as mãos em uma tentativa frustrada, aos olhos de Shin, de parecer dócil e inocente.

— O que quer aqui, então? — ele foi complacente, permitindo que ela prolongasse sua fala.

— Realmente quis saber como está se sentindo. Sei que não é fácil estar aqui conosco… Você nunca foi dado às riquezas e ao luxo que essa mansão sempre nos ofereceu. Sei também que há um desentendimento entre nossos irmãos e você e isso é um pouco triste… Somos uma família, afinal. Deveríamos nos apoiar.

— Estou verdadeiramente impressionado com suas palavras — ele falou e ela sorriu, sentindo-se orgulhosa — É uma pena que não acredite na veracidade delas.

— Shin… Você me ofende falando dessa forma — colocando a mão sobre o braço do irmão — Não pense que sou como os outros. Não tenho absolutamente nada contra você…

— Acredito — retirou o braço do contato dela sem muita gentileza.

— Quero que você viva da melhor forma em nossa casa e se sinta bem — falou enquanto passava os dedos pelos cabelos, os lábios em um sorriso arqueado, evidenciando as delicadas covinhas — E espero que confie e conte comigo para o que precisar. Tenha consciência que sempre estarei disposta a te ajudar com o que precisar…

— Sei… — ele segurou o riso para não gargalhar — Lembro bem de como você sempre gostou de ajudar os outros e consegui ver o quanto sua bondade evoluiu ontem mesmo, quando soube que a governanta Nyeo estava doente e precisou ir ao médico. Fico me perguntando se, em sua infinita generosidade, apenas a advertiu ou também descontou de seu salário o tempo em que passou fora, cuidando da saúde.

— Você é um grosso — falou irritada levantando-se da cama, olhando o irmão de cima.

— E você, uma mentirosa — concluiu sem se mover sobre seus lençóis — Não perca seu tempo tentando me mostrar ser uma pessoa que sei que não é. Te conheço bem, sei onde estão fincados os seus interesses e eles em nada tem a ver com os meus, portanto, evite me obrigar a relembrá-la o quanto não temos nada em comum além do sangue que corre em nossas veias. Agora, se puder, e peço, por favor, se retire do meu quarto e feche a porta quando passar. Preciso dormir para amanhã.

A garota respirou fundo ouvindo as palavras do irmão. O ar preso nos pulmões evitava que ela desmoronasse. Caminhou até a porta do quarto e a abriu com ferocidade, parando um instante quando o irmão pronunciou suas últimas palavras:

— Fico sempre impressionado com a sua delicadeza, querida irmã — o tom era debochado — Espero que tenha uma ótima noite de sono.

~~


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Glossário:

Concubina Oh - Nyeo Hin Hee
Hae Soo - Go Ha Jin
Hwangbo Yeon-hwa - Wang Yun Mi
Imperatriz Hwangbo - Woo Ah Ra
Ji Eun Tak (OC) - 4ª esposa de Wang Hansol
Khan Mi-Ok (OC)- amiga de Ha Jin
Lady Hae - Kim Na Na
Li Chang Ru (OC) - 1ª esposa de Wang Hansol
Park Soon-duk - Doh Hea
Park Soo-kyung - Doh Yoseob
Park Sun Hee (OC) - Esposa de Sook
Sung Ryung (OC) - empregada/amiga de Ha Jin
Taejo - Wang Hansol
Wang Baek Ah - Wang Eujin
Wang Eun - Wang Sun
Wang Yo - Wang Gun
Wang Ha Na - filha de Wang Sook
Wang Jung - Wang Jung
Wang Mu - Wang Sook
Wang So - Wang Shin
Wang Wook - Wang Taeyang
Yoon Min-joo - Imperatriz Yoo



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Moon Lovers: The Second Chance" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.