Moon Lovers: The Second Chance escrita por Van Vet, Andye


Capítulo 16
O Gosto Amargo da Desconsideração


Notas iniciais do capítulo

Olá belezuras, olha quem chegou por aqui para comemorar o fim do horário de verão! o/

Antes de tudo, muito obrigada por cada um dos comentários no capítulo anterior. Fazemos o nosso melhor para que se emocionem e se divirtam conosco. É um prazer enorme ter cada um/uma de vocês aqui conosco.

MUITO OBRIGADA!

Em segundo lugar, aviso que estamos escrevendo a todo vapor novamente... Às vezes dá aquele surto e a gente se pega escrevendo cinco, seis mil palavras de uma única vez kkkk
Temos alguns capítulos já prontos e aviso que as coisas estão ficando boas... Tem animação e drama na medida certa... mas talvez o drama se sobressaia um pouco hehehe

Enfim, voltamos a colocar o glossário para consulta e ajuda em relação aos nomes que decidimos mudar. Também coloco a imagem da árvore genealógica de novo pra dar aquele auxílio na caracterização dos nossos lindos.

Sem mais delongas, boa leitura.

Fighting!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/715437/chapter/16

Voltar para a mansão depois de tudo o que ocorrera no sábado passado durante aquele jantar infernal não era a primeira opção na vida de Ha Jin. Ela cogitou - desde que melhorara da choradeira após ser deixada em casa por Eujin, constatando que não era nada para So além de uma louca desastrada que não percebe sequer um caminhão em ponto de atropelá-la - não voltar mais para aquele lugar.

Recebeu, no domingo, a visita de Mi Ok que a ajudou com sua decepção, apenas trabalhista, pois não falaria para a amiga sobre o herdeiro que transpassava séculos, e lhe fez companhia durante todo o dia, opinando sobre a sua visão diante daquela situação.

E fora a visão da amiga, em conjunto com o desejo íntimo e profundo em rever So, ou Shin, que a fizeram tomar o coletivo rumo à Mansão da Lua naquela terrível e massiva manhã de segunda-feira.

Agora, caminhando para os armários da área externa, pensava se aquela fora realmente a melhor decisão. Ainda acreditava que o melhor a ser feito era pedir suas contas e sair daquele lugar em definitivo, mas lembrou novamente da conversa que tivera com a amiga no dia anterior.

~~ 

— Não acredito que abandonar o barco no meio do oceano seja a melhor opção — Mi Ok falou após mais um acesso de raiva e choro da amiga — Existem outras possibilidades e você tem que procurar o que é melhor para você no momento.

— O melhor para mim, no momento, não é estar no meio daquelas pessoas... Todos estão interessados apenas em alimentar seu próprio ego — ralhou enraivecida enquanto enxugava os olhos com o dorso da mão com brutalidade.

— Todos? E quanto aos rapazes? Você fala tão bem deles...

— Exceções.

— Então não são por completo perdidos…

— Não — o olhar de Ha Jin focava Mi Ok com cautela e irritação. Ela sabia onde a amiga estava tentando chegar. Convencê-la a não abandonar o emprego lhe mostrando pontos positivos.

— Será então que os rapazes não poderiam te incentivar, de alguma forma, a voltar?

— Não. Eles podem ser legais, mas não são nada mais do que meus patrões. Não vou voltar para aquele lugar apenas por eles.

— Então... Por que você não tenta voltar para...

— Não! — Ha Jin a cortou — Não vou voltar para a mansão. Desista!

— Ha Jin... — Mi Ok foi cautelosa antes de prosseguir — Não quero te pressionar, mas se a amizade dos rapazes não é um bom motivo, acredito que se lembrar que ainda tem doze taças de cristal para pagar possa ser...

— Ah... Que raiva!

Ha Jin se levantou com ímpeto, jogando a almofada que tinha sobre o colo vigorosamente no chão, bufando de raiva. Caminhou a passos pesadamente irritados até a parede oposta e a chutou de cheio, reclamando da dor em seguida, olhando para a amiga com ares de quem estava perdida. Os olhos lacrimejando novamente, dessa vez, em resposta ao ato impensado contra o imóvel.

— Quanto custa uma coisa daquela? — perguntou encostando o corpo contra a parede, massageando o dedo recém machucado.

— ¹Não sei... Mas deve ser caro.

— Vou ter que trabalhar por uns dez anos pra pagar aquelas taças — choramingou soltando o pé e batendo levemente a testa na parede — Estou perdida. Nunca vou conseguir dinheiro suficiente...

— Faça o seguinte: volte e mantenha o salário enquanto procura algo melhor para você. É melhor ter como manter sua morada do que ser despejada e ainda dever as taças...

— Você é ótima, Mi Ok. Sempre me trazendo à tona o quão ferrada é a minha realidade.

— Sou sua amiga… — em um sorriso sem graça com dentes à mostra — Estou aqui pra isso…

~~

— Ah, Mi Ok... Se isso der errado, eu vou matar você

Ela ameaçava a amiga enquanto caminhava pelos jardins da mansão. Logo a frente, porém, se deparou com uma cena incomum, afinal era plena segunda-feira de manhã.

Eujin, Jung e Sun estavam juntos e conversavam aos risos e vozes empolgadas, o tom dos dois mais jovens levemente alterado, enquanto que o primeiro parecia não se interessar completamente pelo assunto.

Eles estavam na piscina, os três de sunga, os cabelos levemente molhados, Jung e Sun gesticulando agitados, sentados, um de frente para o outro, nas espreguiçadeiras.

Eujin estava deitado em outro móvel e usava óculos escuros. Tinha os braços atrás da cabeça enquanto tomava sol. Falava de tempos em tempos em resposta aos comentários dos irmãos.

Ha Jin se aproximou com cautela; ainda se lembrava da péssima experiência que tivera ao adentrar na sauna sem ser convidada e, encontrando alguns arbustos estratégicos, se escondeu marotamente, mordiscando o lábio inferior enquanto esticava o pescoço para conseguir ouvir melhor sobre o que eles conversavam com tanta eloquência.

— Cara, ele não vai — Sun falou confiante, como se já tivesse dito aquela frase algumas muitas vezes.

— Claro que vai — Jung rebateu e Ha Jin percebeu se tratar de uma espécie de disputa.

— Você não ouviu o que a sua mãe disse? Quem vai fazer alguma coisa depois de ouvir aquilo? — Sun justificou — Aliás, qual o problema dela para falar assim com ele? Pegou pesado...

— Eu sei... E não tenho nenhum orgulho disso — Jung, que estava de costas para ela, pareceu pensativo por um instante — Não faço ideia do porquê dela ter falado aquilo, mas é justamente esse um dos principais motivos para eu achar que ele vai. O que você acha, Eujin?

— Já disse que não quero me meter nessa conversa de vocês — o outro foi categórico. Não moveu um músculo sequer para responder aos irmãos, a voz carregada de mau-humor — Faço muito gosto que Shin tenha voltado. Se ele quiser entrar nessa disputa idiota, terá meu apoio, assim como o apoiarei se não quiser. A única coisa que realmente me interessa é que ele fique por aqui o máximo de tempo possível.

— Aposto que ele não vai — Sun reforçou com ousadia para o outro, ignorando a fala do irmão mais velho.

— Pois eu aposto que ele vai — Jung rebateu categórico.

— Não vai!

— Vai!

— Não acredito que estou ouvindo isso — Eujin balançou a cabeça negativamente, ²blasé — Vocês estão na mesma classe do maternal?

— Se ele for, você tem que chamar a Doh Hea para sair — Jung rebateu, ignorando por completo as palavras do outro que, pela primeira vez, pareceu dar atenção aos dois mais novos.

— Mas que idiotice... Cla-claro que não vou chamar ninguém… — Sun gaguejou, o rubor vindo visitar suas maçãs.  

— Está perdendo a confiança, irmãozinho? — Jung incitou debochado.

— Claro que não. Tu-tudo bem. Eu chamo — Sun falou sem muita confiança, levantando-se em seguida, apontando para o outro com autoridade, levemente desesperado — Mas se eu ganhar, você vai fazer meus trabalhos da faculdade até o final do período.

— Tá louco? — Jung se exasperou, arregalando os olhos, levantando-se também em sua aflição.

— É pegar ou largar — Sun estendeu a mão para o irmão que, instantes depois de refletir, a apertou selando o acordo.

— Vocês são dois idiotas... — Eujin voltou a se concentrar no sol.

Por trás do arbusto, a governanta havia se irritado com a última parte da conversa. Como poderiam estar apostando sobre a vida do próprio irmão? Se lembrou dos acionistas durante a festa, a alegria com as apostas e, revoltada, desacreditada sobre o que acabara de presenciar, começou a caminhar de volta à lavanderia.

— Quer participar da aposta, governanta? — ouviu a voz de Sun e congelou os passos, fechando os olhos em aflição. Fora descoberta — Ou veio apenas ficar observando nossos corpos belos e definidos novamente?

Quando se virou, percebeu que os três estavam olhando para ela, Eujin até tirara o óculos. Sentiu o rosto esquentar brevemente pela vergonha de ter sido pega em flagrante, contudo, diante da indignação de estar sendo acusada de pervertida, decidiu se aproximar de uma vez e o fez com passos duros.

— Não estava observando os corpos de vocês, senhor Sun. Só consigo enxergar alguns garotos… Cadê os corpos definidos? —  comentou desinteressada; as sobrancelhas levemente erguidas demonstravam curiosidade enquanto olhava para os lados, procurando os tais corpos.

—  Como assim? —  Jung apalpou os bíceps bastante preocupado.

— Insolente… —  Sun fez uma careta contrariado e Eujin sorriu —  Você é muito insolente, mas vou perdoar seu desrespeito contanto que contrabandeie mais doces numa próxima reunião.

—  Pare de me acusar sobre coisas que não fiz — ralhou com o herdeiro mais novo — E parem de pensar essas coisas sobre Shin — continuou em seu tom autoritário, agora para os dois — Muito menos que quero participar de uma coisa como essa. Não gosto de apostas.

— Shin? — o herdeiro de Min-joo perguntou com um leve estranhamento —  Por que está se referindo informalmente ao meu irmão?

Ha Jin fingiu um acesso de tosse para disfarçar aquela gafe e o rapaz mais novo a ajudou no encobrimento, ainda que sem conhecimento do seu ato, com o comentário seguinte.

— E por que não apostar em cima dele? — Sun perguntou com um ar pueril.

— Porque isso é uma situação muito séria e não deveriam tratar o seu irmão dessa forma — ela falou com firmeza, desviando o foco das palavras anteriores.

— Mas não estamos desrespeitando o nosso irmão — Jung começou, aproximando-se dela de forma exibida: mãos na cintura e tórax elevado — Estamos apenas debatendo.

— Isso não é debate, é uma atitude infantil e mesquinha.

— Não fale com a gente assim, governanta — Sun ralhou, cruzando os braços.

— E ela está errada, por acaso? — Eujin, que agora estava sentado sobre a espreguiçadeira e observava a conversa com atenção, apoiou a amiga.

— Acho que vocês deveriam se envergonhar de uma atitude como essa — ela recomeçou após identificar o apoio de Eujin — O irmão de vocês foi embora e passou cinco anos fora... Ao invés de apostarem sobre a sua vida, deveriam ir até ele e tentar saber como foi a viagem, se ele está bem ou se precisa de algo.

— Shin não gosta de ninguém perto dele — Jung falou cheio de certeza apoiando-se em uma pilastra, cruzando os braços enquanto estufava o peito já bem eminente. Um pavão seguramente corria o risco de ser mais discreto que ele.

— Nem gosta que fiquem falando com ele, perguntando da vida dele — Sun ajudou o irmão, os braços também cruzados, mas por irritação em ser repreendido.

— Todo mundo sabe que ele foi embora porque não gosta da nossa família — Jung completou convicto — E provavelmente só voltou porque papai chamou.

— E também nunca tive muita proximidade com ele aqui na mansão — Sun continuou — Lembro que ele parecia bem decidido quando disse que ia embora. Sook pediu que ele ficasse, Eujin também, mesmo assim ele foi embora... Ele não está nem aí...

— E essa é a única lembrança que tem dele? — Ha Jin o interrompeu. Os três herdeiros olharam para ela com interesse — Todas essas coisas que estão falando são conclusões em que vocês mesmos chegaram ou reproduções daquilo que já ouviram alguém falar? Pelo silêncio, acredito que a segunda opção, ou estou enganada? — percebendo que nenhum deles respondeu, ela continuou lembrando-se de So e continuou — Já tentaram, uma vez que fosse, se aproximar dele e conversar?

"Tentaram estreitar o relacionamento de vocês e saber se o que falam é realmente verdade ou apenas uma ideia geral recriada erroneamente? Já pararam para pensar que, talvez, ele seja apenas uma pessoa que tem seus problemas como cada um de nós?

"Passou pela cabeça de vocês que talvez ele seja uma pessoa que cresceu solitária e não se acostumou ao carinho ou que se preocupassem com ele porque nunca chegou a receber esses sentimentos de fato? Que talvez ele tenha tido motivos bem maiores para ir embora do que aqueles que vocês ouviram e que se essa for a verdade, o que estão fazendo aqui, com essa aposta, é algo realmente injusto e digno de vergonha?

"Me desculpem, sei que são os patrões e eu uma simples governanta, mas não posso passar por cima dos meus princípios e aceitar essa situação como certa."

— Sua sabedoria muito me espanta, Ha Jin — Eujin disse comovido, cheio de admiração, e os outros dois a analisavam perplexos — E não se preocupe, tudo o que falou é a mais pura verdade.  

A governanta fez uma mesura para o amigo e se preparou novamente para sair, dessa vez sentindo-se aliviada, mas permaneceu ao perceber que Eujin continuaria a falar.

— As lembranças que tenho de Shin são as melhores possíveis — o rapaz sorria como se tivesse várias recordações felizes — Lembro que nunca lhe faltava um tempo para mim... Nunca me dizia "não"... Ele sempre encontrava uma brincadeira nova, um passatempo diferente... Me protegia de tudo como podia e foi um dos poucos que me apoiou quando decidi falar ao papai que queria estudar música.

Os outros três, em pé, olhavam para Eujin com atenção. Ele levantou os olhos e encontrou os dos irmãos antes de continuar. O tom era firme e a expressão se mantinha séria.

— Tenho certeza que você se lembra de quantas vezes ele te incentivou depois das suas aulas de luta... Era com ele que você encontrava alguém para praticar e mostrar os novos golpes... — Jung baixou a cabeça, pensativo. Referiu-se para Sun em seguida — E se não me engano, o seu primeiro videogame foi Shin quem deu. Lembra como ele discutiu com papai por não querer te deixar jogar? Que não era justo que papai te impedisse de fazer o que gostava? — Sun também assumiu um ar pensativo, levemente envergonhado — Se ele vive da forma como vive, vocês bem sabem que ele tem seus motivos.

— Tudo bem… Vocês podem ter razão — era Sun o primeiro a dar o braço a torcer. Parecia exaltado — Mas não vou desistir da aposta. Sou um homem de palavra e ela já foi selada.

— Garotos... — Ha Jin falou resignada, balançando a cabeça enquanto soltava o ar cansado pelo nariz — Tudo bem… Mas da próxima vez, pensem muito bem antes de fazerem o que quer que seja. Pessoas têm sentimentos, e magoá-los é muito fácil… porém as mágoas são difíceis de serem esquecidas… às vezes podem nunca serem superadas. Lembrem-se que estão envolvendo duas pessoas inocentes nessa aposta desnecessária e espero que tenham cuidado para não magoá-las. Com licença.

A governanta fez novamente a vênia, dessa vez bem mais angulada, e se afastou dos três herdeiros. Ela sabia que havia sido impertinente demais, mas tinha convicção de que criara em Jung e Sun uma provável centelha de perspectiva sobre o irmão mais velho.  

***

Na Na entrou na mansão, apressada, com o celular na orelha. Ela estava tentando ligar para Gun desde a hora do almoço, preocupada porque o rapaz parecera muito aborrecido no restante do fim de semana, iniciando a segunda-feira sem dar qualquer notícia. Ele, que normalmente passava uma imagem de controle para seu par, apresentou um lado um tanto instável desde o evento de sábado.

Naquela manhã Na Na assumiu algumas ocupações da empresa delegadas por Hansol que a afastou do edifício da Wang S.A. Como Gun não retornava sua ligação, chamando incessantemente até cair na caixa postal, a mulher acreditou que ele estivesse em seu quarto, se preparando para a reunião do fim da tarde com o pai e os irmãos.

Ela venceu os passos da sala e do corredor, que a separavam do quarto dele, não encontrando nenhum funcionário ou morador pelo caminho. Diante da porta do rapaz, bateu levemente com os nós dos dedos na madeira, apenas para alertar sua entrada, e tocou na maçaneta. Um cômodo vazio a recebeu silenciosamente.

O quarto espartano, desprovido de enfeites sem utilidade e decorado em paletas frias era, de todo modo, a cara dele. Além da cama, dos móveis para roupas e sapatos e de uma televisão acoplada na parede, apenas uma estante repleta de livros técnicos de engenharia mecânica e elétrica davam alguma identidade à Gun. Ele possuía empenho em seu patrimônio empresarial, isso ninguém poderia negar.

Na cômoda, junto aos frascos de perfumes, havia mais um pequeno sinal de personalidade. A moça pegou o porta retrato do móvel e encarou, contrariada, o rosto detestável de Min-joo abraçada ao filho, de beca e canudo, na ocasião da sua formação no curso de engenharia anos atrás.

Ele, certamente, se sentia mais orgulhoso daquele retrato do que do outro bem atrás dos perfumes: uma fotografia de Na Na ajeitando o cabelo atrás da orelha e sorrindo timidamente para a lente.

Passos ecoaram em algum lugar fazendo ela deixar os retratos nos seus respectivos lugares e sair do quarto acreditando ser Gun próximo dali. Ao voltar para a área comum, porém, deparou-se com Taeyang diante do grande espelho que ficava na parede do corredor, vestido nas roupas que costumava trajar na empresa e ajeitando a gravata para o seu reflexo. Ele a viu no mesmo instante que ela e deitou seu olhar mais meigo para a cunhada.

—  Não esperava te ver hoje, aqui —  comentou, retornando a atenção para o nó na gravata — Como estão indo as coisas na empresa?

— Também não apareci por lá ainda —  ela informou, de repente se sentindo acanhada, cruzando os braços e se aproximando dele. Um perfume inebriante desprendia-se do corpo do rapaz — Tive de mediar uma pauta urgente entre os engenheiros da fábrica.

—  O trabalho pesado sempre sobra pra você… —  ele suspirou resignado e finalmente se virou para ela —  Que olheiras são essas?

—  Ah… Nada… Só estou preocupada com seu irmão. Gun anda um pouco fora do normal desde sábado a noite.

—  E Gun lá é um motivo bom para perder o sono? —  Taeyang objetou olhando-a com bastante intensidade. Tanta que Na Na pensou que aquele fitar iria transpassá-la e chegar nos seus sentimentos mais genuínos e ocultos, inclusive dela mesma.

—  Somos praticamente noivos e, em breve, casados… É inevitável…

—  Eu sei, eu sei… —  ele a interrompeu impaciente, quebrando o olhar ao balançar a cabeça para o lado.

— Aliás, você o viu hoje? Ele está aqui?

— Foi para a empresa muito cedo. Veio procurá-lo? — então avistou brevemente a porta do quarto do irmão entreaberta — Gun não te disse nada? — perguntou numa nota de irritação.

—  Não. Não tem problema. E você, como está com tudo isso? —  a moça resolveu parar de focar a conversa no irmão, afinal esse assunto tinha o poder imediato de quebrar o clima agradável entre os dois.

—  Estou indo —  retornou a olhá-la — É muita coisa para digerir? É. A possibilidade de me tornar um CEO na empresa, a disputa com meus outros irmãos, a volta de Shin… É muita coisa mesmo.

— Não sabia da existência desse seu irmão, aliás. E ele é filho da senhora Min-joo ainda por cima.

—  Confesso que me lembrava muito pouco dele para ser honesto. Ninguém nunca falava dele. De toda forma, ele pode estar mais perto de nós, na empresa, se aceitar a oferta do papai —  Taeyang relembrou, cauteloso —  Portanto, evite-o se puder. Eu não sei quais os motivos pessoais de Shin para voltar a se infiltrar entre nós, mas prefiro acionar todas as minhas desconfianças por enquanto.  

Na Na acatou aos conselhos do cunhado afirmando com a cabeça e brincou discretamente:

—  Os Wang… Que família…

—  E você está bem no meio dela, moça —  ele sorriu, apontando o indicador na sua direção e semicerrando os olhos auspiciosamente. Depois deu atenção ao seu relógio de pulso e constatou que a hora avançava —  Tenho de ir, te vejo por lá… Amanhã ou mais tarde.

Taeyang ia virando-se para partir quando ela lembrou-se de desejar:

—  Boa sorte hoje, Taeyang, nessa reunião. Você vai se sair muito bem, seja lá o que houver.

Ele refez os passos que o aproximavam dela e, inesperadamente, tocou-a no braço, diretamente na sua pele, apertando-a carinhosamente, a ponta dos dedos quente. Um sorriso gentil e a expressão carinhosa:

—  Muito obrigado, Na Na. Ouvir isso de você vai fazer diferença no meu dia, pode acreditar.

***

Gun não conseguiu ser produtivo durante todo o dia na empresa. As pessoas vinham resolver questões e dialogar com ele, mas o herdeiro respondia a quem ousasse se aproximar rispidamente e se fechava no seu escritório, no seu pequeno mundo dentro da Wang S.A.

O telefone celular vibrava incessantemente sobre a mesa de vidro, tremendo feito uma enguia elétrica. Ele dedicava apenas um olhar exasperado ao aparelho por o tirar, constantemente, das suas reflexões frustradas.

As ligações se revezavam entre as duas mulheres da sua vida: ora Na Na, ora sua mãe. A primeira preocupada com o estado psicológico dele e a segunda cobrando para que o filho se tornasse o melhor naquela reunião.

Cobranças… Gun estava ficando farto delas. Agarrando o relatório que deveria ler sobre o balanço financeiro da última semana nos projetos de marketing, imprimido atenciosamente por um dos estagiários do andar, ele amassava o papel lentamente, cada vez mais irado ao ruminar os fatos desdobrados nos últimos dias.

Onde foi parar a consideração pela sua dedicação àquele império? O único filho que acompanhava as reuniões do pai, ainda adolescente. O aluno mais graduado da universidade de engenharia automotiva. O herdeiro mais engajado, moldando sua carreira inteira para se tornar um prolongamento da figura paterna nos negócios.

E agora isso… Ele ia ter de disputar a mais importante vaga na hierarquia da empresa com três rapazes imaturos, uma esnobe mimada, um invejoso traiçoeiro e, o pior, o que realmente o revoltava, o imprestável do irmão mais velho.

Shin, que sequer esteve presente nos últimos cinco anos seria colocado como igual naquela disputa sem sentido. Tudo era descabível. Praticamente um sonho ruim do qual Gun não conseguia despertar.

A tarde descia serena sobre Busan pintando o céu de matizes alaranjadas. Um clima tão diferente do que ocorria dentro do âmago do herdeiro.

Um raio de sol cruzou as janelas do seu escritório e, por alguns minutos, ele pôde se ver refletido nelas. Seus olhos flamejavam em cólera. Os sentimentos negativos remexendo com seu fisiológico, causando enjoos biliares e queimação esofágica.

O celular voltou a trepidar contra a mesa. Estava muito perto de arremessar o aparelho longe, quando notou que uma pessoa diferente ligava. Era Yoseob, o acionista principal, quem queria contatá-lo. Ele atendeu ao quinto toque para descobrir que a maioria dos irmãos haviam chegado e já aguardavam na sala de reuniões.  

Ajeitando o terno e fechando as expressões, Gun saiu dali e caminhou com ares de despreocupação para o andar superior. Chegando na sala, encontrou o pai sentado à cabeceira da mesa retangular e Yoseob ao lado direito dele, como de costume e dedicou um olhar de desprezo para cada um dos irmãos. Exceto Taeyang e Yun Mi, os outros três estavam entediados ou irritados por estarem ali, e foi se sentar à esquerda do Sr. Wang.

— Já começaram? — perguntou olhando ironicamente para Hansol.

— Não, seu irmão mais velho não chegou — Yoseob informou, finalizando a frase com seu famoso molhar de lábios. Uma mania que Gun achava nojenta e detestável.

— É claro que aquele marginal ia embaçar com a nossa cara… Isso é um desrespeito, papai. Se eu fosse o senhor, começávamos imediatamente. Se ele está atrasando agora, imagine quando tiver de assumir algum compromisso real no nome da Wang S.A….  

— Que coisa mais feia falar mal do seu irmão pelas costas — a voz de Shin perfurou a sala junto do próprio, surgindo com os mesmo trajes mulambentos de sábado e indo se sentar na cabeceira oposta ao pai. Um local que sabidamente ninguém ocupava quando o Sr. Wang estava na mesa.    

O famigerado ainda foi mais desaforado, levantando as pernas, apoiando as botinas sobre a madeira, dizendo em seguida:

— Vamos lá, papai. Comecemos com esse circo de uma vez.

Gun apertou os lábios com força, segurando seus insultos para outro momento, mas jurando intimamente que daria o seu melhor para destruir Shin e os demais irmãos.

~~

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

¹Um conjunto com 6 taças de cristal para champanhe custa, em média, R$1059,00 ²blasé (blɑ'ze/): que exprime completa indiferença pela novidade.
...

Glossário:

Go Ha Jin - Hae Soo
Khan Mi-Ok - amiga de Ha Jin (OC)
Kim Na Na - Lady Hae
Nyeo Hin Hee - Concubina Oh
Sung Ryung - empregada/amiga de Ha Jin (OC)
Woo Ah Ra - Imperatriz Hwangbo
Wang Eujin - Wang Baek Ah
Wang Gun - Wang Yo
Wang Hansol - Taejo
Wang Jung - Wang Jung
Wang Shin - Wang So
Wang Sook - Wang Moo
Wang Sun - Wang Eun
Wang Taeyang - Wang Wook
Wang Yun Mi - Hwangbo Yeon-hwa
Yoon Min-joo - Imperatriz Yoo



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Moon Lovers: The Second Chance" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.