Mudanças Confusões da Mente escrita por Nathy Oliveira


Capítulo 19
Capítulo 19 - A Nova Era Hyuuga




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Horas se passaram até que Sakura e Hinata conseguissem diminuir o veneno ao ponto de Hiashi ficar semi-consciente. As duas já estavam exaustas e parte dos demais shinobis dormia há muito tempo. Isuzu, ninguém faz ideia de como, mantinha-se desperta, parecendo que não havia doado nem um pouquinho de chakra. Naruto dormia, mas por pura preguiça.

Quando os primeiros raios de sol iluminaram Konoha, Tsunade entrou no clã Hyuuga, acompanhada por outros dois medinin.

Sem nem ao menos dizer “bom-dia”, os medinins prenderam Hiashi a uma maca e o levaram às pressas para o Hospital. Tsunade, indiferente à quantidade de jovens caídos no chão, desviou dos “empecilhos” adormecidos, sentou-se ao lado de Hinata e a abraçou. A jovem estava pálida, exausta e preocupada. Seu corpo não tinha forças sequer para retribuir o abraço da Hokage. Sua mente vagava sem rumo, por labirintos escuros onde no final, ela encontraria seu pai a salvo. O problema é que o labirinto estava enfeitiçado por um genjutsu que a fazia imaginar que nunca saía do lugar. Ela rodava por todos os lados, mas tudo parecia sempre tão igual! Ela ouvia os gemidos de seu pai, mas não era capaz de dizer de qual lado os sons vinham. Ela sentia que alguém a observava e não era capaz de dizer quem... Os ruídos aumentaram e deixaram de ser apenas os gemidos de Hiashi. De um minuto para outro, vozes se misturaram àqueles estranhos ruídos. Vozes que chamavam por ela. Vozes desesperadas que chamavam por Hinata, vindas de lugar nenhum. Ela não conseguia reconhecer as vozes, mas sabia que lhe eram familiares.

Hinata não sabia precisar quanto tempo passou perdida ali, mas uma voz a tirou de sua perdição. A voz com que sonhara tantas vezes, a voz que a acalmara em tantos momentos difíceis agora estava ali, tentando trazê-la de volta à realidade.

Era a voz de Neji que a chamava.

- Hinata-sama, acorde... Não pode me deixar agora... Por favor... Eu preciso de você, preciso mesmo...

- Ela está despertando, olhem.

- Ne-Neji...

- Ele está aqui, Hinata. Ele está aqui. Agora, você deve descansar, você gastou muito chakra.

- Mas, Tsunade-sama...

- Sem discussões Neji. Vocês estão todos exaustos, precisam de uma boa noite de sono. Não há nada que possam fazer agora para ajudar. Leve-a para o quarto e acomode-a o mais confortável possível. De tarde eu converso com vocês.

- O que será feito com os demais shinobis, Godaime-sama?

- Acorde quem puder e mande-os para casa, Isuzu. E por favor, nem tente acordar o Naruto, essa é uma missão impossível.

- Tsunade-sama, se me permite opinar, não há problema algum deixá-los aqui. Há camas suficientes e, não creio que eles consigam voltar para suas casas. Eu mesmo estou muito cansado, apesar de não aparentar tanto. Tenho certeza de que Isuzu-san também está quase em seu limite. Será melhor deixá-los aqui até tudo se resolva, de qualquer forma.

- Você tem razão... – Tsunade coçou a cabeça, pensativamente – Eu voltarei ao hospital para avaliar a situação de Hiashi e mandarei alguns anbus vigiarem vocês. Tenham cuidado.

- Hai.

Enquanto Tsunade se retirava, Neji e Isuzu tentavam em vão acordar os shinobis. Eles apenas resmungavam coisas inaudíveis e voltavam a dormir. Depois de muito tentar, acharam melhor deixá-los ali mesmo, levando apenas algumas cobertas e colchonetes para que eles, sozinhos, se ajeitassem com o tempo. Kin fora dispensada, depois de muito relutar, visto que também estava muito cansada. A jovem serviçal retirou-se prometendo não gastar a tarde toda descansando, já que aquela horda de ninjas sentiria fome ao acordar. Neji não tentou dissuadir a jovem do contrário porque ela estava mesmo obstinada a acordar antes de todos. Sua lealdade para com as Hyuugas herdeiras e seu progenitor era tão natural, que alguém que não conhecesse o sistema de clã dos Hyuugas certamente diria que Kin era parente próxima deles.

Percebendo que Hanabi não desgrudaria de Kiba para ir dormir em seu quarto, Neji explicou para Isuzu como chegar até lá para que ela descansasse adequadamente.

Hinata ainda estava sonolenta, tanto que não percebeu quando Neji a pegou no colo. Ela gastou muito chakra tentando salvar seu pai e junto com a pressão psicológica sofrida, levou seu corpo ao limite, desmaiando consequentemente.

Neji ajeitou-a na cama, da forma mais confortável possível. Ela provavelmente estava tendo pesadelos, porque seu rosto sempre delicado e com expressões suaves estava contraído, como se algo a incomodasse.

Vendo que ela não se acalmava de jeito algum, ele deitou ao lado da garota e a abraçou. O contato aliviou parcialmente a tensão no corpo de Hinata, mas não foi o suficiente para que ela relaxasse. Neji começou a cantarolar uma música que ambos gostavam quando crianças e, pouco a pouco, os dois adormeceram.

Hinata corria por um campo florido, muito bonito. Ela corria sorridente, como se não houvesse nada mais divertido a se fazer, além de curtir a brisa. Seus cabelos, mais compridos que antes, estavam presos num rabo-de-cavalo alto e frouxo, permitindo que aquelas longas madeixas azuladas balançassem ao som do vento. Ela corria seguindo um som agradável, som de risos de criança. Quanto mais corria, mais a criança ria e mais perto ficava. Minutos se passaram até Hinata ficar ao lado da criança e ver seu rostinho branco e sorridente. O pequeno garoto corria de olhos fechados, como se conhecesse o caminho. De repente, Hinata reparou que algo estava errado, muito errado. À sua frente não havia caminho nenhum. Não havia nada. Parecia que ali o mundo acabava e tudo que tentasse passar dali cairia em uma enorme fenda interminável. Hinata olhou novamente para a criança, que agora abrira os olhos. Seus olhos eram tão brilhantes quanto os dela, e tão assustadores quanto os de Neji. O garoto olhava para frente e franzia testa, como se fizesse força. Quando o fim do caminho estava próximo o suficiente tornando inevitável escapar da queda, ele pulou.

- NÃOOOOOOOOOOOOOOO!

Hinata acordou assustada. Que sonho estranho havia sido aquele?

- Hinata-sama, está bem?

- Nii-san... Estou com medo... – Ela ofegava e estava visivelmente assustada. Seu rosto, sempre rosado, agora estava pálido. E sua pele, sempre tão quente, estava gélida.

- Shhh... Não se preocupe, eu estou aqui, okay? – Ele a abraçou e passou a niná-la, como se faz com bebês.

- Foi... Tão real... Ele era tão pequeno... Tinha olhos tão... tão... vivos.

- Quem, Hinata-sama? Explique-me melhor.

- Hãn? Nada não, nii-san... Foi só um pesadelo, eu acho.

- Tudo bem, já passou. Agora, deixe-me ver que horas são... – ele virou o pescoço para trás, para olhar o relógio que Hinata mantinha ao lado de sua cama – Kami-sama, nós dormimos demais! Melhor irmos acordar os outros.

- Nii-san, espere... – pediu Hinata, enquanto Neji a soltava para poder sair da cama – Onde está meu pai? O que aconteceu? Eu não consigo me lembrar...

- Mais tarde eu conto, meu amor. Agora é melhor você tomar um banho bem relaxante, porque teremos muito para enfrentar ainda hoje.

Neji despediu-se com um rápido beijo e correu para seu quarto, onde tomou um banho e correu para o corredor onde seus amigos ficaram adormecidos.

Encontrou Ino e Hanabi já acordadas, embora ainda muito sonolentas. Ajudou-as a se levantar, e sair do meio daquele monte de corpos. Hanabi guiou Ino para o seu quarto. Menos de um minuto depois Isuzu surgiu no corredor, com outra roupa e uma enorme mochila nas costas.

- Isuzu-san...?

- Perdoe-me. Eu acordei há muito tempo e achei que seria melhor se vocês descansassem mais um pouco. Aproveitei esse tempo para ir na casa de cada um buscar alguns artigos pessoais que eles certamente precisarão. – ela olhou para os corpos largados no chão de forma indiferente – Onde está Ino-chan?

- No quarto com Hanabi, elas acabaram de levantar.

- Certo... Levarei as coisas dela e já voltarei para te ajudar. – Isuzu mal terminou de falar e já havia desaparecido, deixando um pequeno rastro de fumaça.

Lee e Shino começavam a ficar inquietos, já deviam estar prestes a despertar. No instante em que Shino abriu os olhos, Isuzu reapareceu. Para Neji, pareceu que eles combinaram tudo aquilo.

Sem dizer uma palavra sequer, Isuzu seguiu até Shino, movendo-se de forma precisa e ao mesmo tempo delicada (o que parecia impossível para aquela garota que se mostrara tão dura tantas vezes). Um sorriso de felicidade passou pelo rosto dos dois e ela, como um gatinho manhoso, enroscou-se nos braços do garoto Aburame.

Neji sentiu-se sozinho e para evitar correr até Hinata, ocupou-se de acordar os outros. Lee nem precisou de estímulo; Neji nem havia encostado nele e o rapaz já pulava feito louco.

- Onde estão os inimigos? Apareçam, vocês não terão chance contra o gênio do trabalho duro, Rock Lee! – gritou ele, fazendo pose de Nice Guy.

No meio da gritaria Kiba levantou chutando Lee, que acabou caindo em cima de Tenten. A ninja de coques acordou nervosa e jogou um travesseiro que estava ao seu lado na cabeça de Kiba, que desviou e quem acabou sendo pego pelo travesseiro assassino foi Sakura, que ao se defender, rasgara o travesseiro de penas, deixando uma nuvem de penachinhos brancos em volta de todos. Neji não resistiu e começou a rir de tudo aquilo, sendo acompanhado pelos demais.

Hanabi e Ino retornaram, arrumadas e prontas para qualquer coisa.

Isuzu separou-se de Shino e passou a distribuir os pertences de cada um, que aos poucos seguiram aos locais que Neji e Hanabi indicavam para se arrumar.

Mesmo com a demora dos shinobis, Hinata ainda não havia aparecido. Neji começava a preocupar-se, embora algo fosse ainda mais preocupante que a demora dela. Naruto, mesmo com toda a bagunça que tinham feito no corredor, não acordou de jeito nenhum. Todos já tinham tentado de tudo, desde inventar promoções de rámen e ataques da Akatsuki, até fazer Sakura implorar em seu ouvido para que acordasse.

Eles estavam sentados em volta de Naruto, ouvindo Neji ameaçar acordar o jinchuuriki com um soco, quando um monte de água caiu em cima deles. Olharam em volta e nada viram.

Hanabi, por instinto, ativou seu Byakugan, olhou para o final do corredor e começou a rir. Ninguém além dela entendia.

Neji já estava se levantando para ver o que era, mas parou ao ver Hinata caminhando em sua direção, usando um belo vestido preto e rodado que destacava suas curvas, e segurando um balde com a mão direita. Ela sorria de fora travessa, dando a entender de que havia aprontado algo.

Ela parou na frente de Neji, abraçou-o forte, largando o balde, e beijando-o como nunca havia feito antes.

Os outros ninjas já planejavam disfarçar, quando Naruto abriu os olhos e criou a desculpa perfeita.

- Dattebayo, quem foi que trouxe uma cachoeira pra dentro de casa?

Hinata aproximou-se dele, rindo.

- Hina nee-san, como fez isso?

- O que?  Manipular a água?

- É, se é que foi isso que você fez...

- Haha... Imaginei que seria o nii-san a descobrir. É só uma coisinha que eu descobri que sei fazer... Acho que de tanto ficar na cachoeira, acabei aprendendo a manipular a água.

- Podia ter encontrado forma melhor pra acordar os outros... Ou pelo menos ter molhado só o Naruto. – resmungou Lee.

- Ahh vá... Vai dizer que você não achou engraçado ver a cara de todos nós quando esse monte de água surgiu? – brincou Tenten.

- Foi engraçado até a água encostar em mim... – Lee fez um muxoxo, e acabou por ganhar um beijo e alguns empurrões de brincadeira.

- É, legal, todo mundo se molhou... Mas, eu tô com fome, dattebayo!

- Eu também, Naruto-kun. Por isso já preparei nosso lanche. Já está tudo na sala de jantar.

- Por isso demorou tanto, Hinata-sama?

- Uhun. Não queria acordar Kin pra isso e, de qualquer forma, eu gosto de cozinhar e preciso me acostumar para quando nos casarmos.

As pessoas podem não reparar às vezes mas, pequenos e inocentes comentários podem mudar o dia de alguém. Ninguém notou o pequeno sorriso que não abandonou o rosto de Neji, depois que ele ouviu os planos de Hinata para o futuro deles.

Os shinobis foram até a sala de jantar, alegres, tentando ignorar a atmosfera pesada que circulava pela casa.

Sempre brincando e sorrindo eles se alimentaram e elogiaram a comida que Hinata havia feito.

Um a um eles se despediram, prometendo voltar para ver como as coisas estavam.

Sabendo que Hanabi não seria útil no clã naquele momento e, que a presença dela poderia até mesmo ser um problema, Hinata mandou-a passear junto com Kiba, para distrair-se.

Como prometido, no meio da tarde Tsunade aparecera. Atrás dela vinha Hiashi, carregado por uma maca, mas desta vez consciente.

Levaram Hiashi para seu quarto, onde ele pediu para ficar a sós com Hinata, Neji e Tsunade. Os medinins que o carregaram saíram, com a missão de encontrar Kin, a pedido de Hinata.

- Minha filha, quero te agradecer pelo que fez ontem. Tsunade me contou que, se não fosse por você e pela garota Haruno, eu não estaria aqui agora. O veneno era de um tipo raro e agia muito rápido... Vocês duas, literalmente, salvaram minha vida. Infelizmente, essa brincadeira que Raido aprontou me custou caro, apesar de tudo. Serei obrigado a repousar quase o tempo todo e tomar remédios com frequência. Por causa disso, não poderei mais ficar à frente do clã... A liderança é sua por direito, não obstante, você não tem idade para assumir o clã. Pelas regras, um tutor é eleito, ou o Conselho comanda... Estou de mãos atadas, e cansado.

Se Hiashi esperava que Hinata entrasse em desespero, chorasse ou algo assim, ficou na vontade. O olhar dela era determinado, e sua postura firme. Ela já havia tomado sua decisão antes mesmo de ver seu pai.

- Pela sua expressão, imagino que já tenha um plano.

- Sim, tou-san. Se aquele velho decrépito acredita que vai roubar o clã das minhas mãos, está enganado. Ele vai aprender uma lição importante, muito importante: Jamais enfurecer Hyuuga Hinata. Tsunade-sama, preciso que me acompanhe. Nii-san, fique aqui com o tou-san, para evitar encrencas e também para que eu não me distraia.

- O que você es...

- Não se preocupe, nii-san... Eu sei o que estou fazendo.  – ela sorriu e foi até Hiashi – Descanse, papai. Eu cuidarei de tudo e provarei para aqueles velhos porque eu sou a primogênita. – ela beijou a testa de seu pai e virou-se para sair. Sorriu para Neji e, ao mesmo tempo em que seguia para a porta, a mesma era aberta. Kin estava lá, com Teruiya.

- Hinata, anjinho... Kin me disse que Hiashi voltou, eu...

- Ele está bem, Teruiya-san, não precisa se preocupar. Ele está descansando agora. Se puder reunir os conselheiros agora, eu agradeceria.

- Mas, anjinho, você sabe que não posso fazer isso por você.

- Não só pode como deve. Reúna todos eles, sem exceções, e me espere. Está na hora da nova era Hyuuga iniciar. A era Hinata.

- Se assim deseja, meu anjinho...

Teruiya seguiu, falando consigo mesmo algo sobre crianças que crescem rápido demais.

- Hinata-sama, a senhorita pediu para que me chamassem?

- Sim... Meu pai infelizmente não sairá da cama por um bom tempo e, não há mais ninguém no clã em que eu possa confiar para cuidar dele, além de você. Você está, a partir de agora, responsável pelos cuidados dele, entendeu? Só deverá seguir as minhas ordens, as da Godaime Hokage e aos pedidos de meu pai, que não entrarem em conflito com outras ordens.

Os olhos de Kin encheram-se e lágrimas, mas ela acenava a cabeça afirmativamente.

- Hai, Hinata-sama. Será um prazer cuidar de seu pai... Ele sempre foi tão atencioso... Será uma honra poder retribuir.

- Fico feliz por poder contar com você, Kin. Não sabe como me acalmo em saber que meu pai estará em boas mãos. Ele está descansando, e Neji está com ele. Prepare uma sopa, e traga no quarto. Quando acordar, é provável que ele sinta fome.

- Hai.

Kin fez reverência e seguiu, quase flutuando.

Hinata iniciou sua caminhada até a sala de reuniões, com passos rápidos, cadenciados e quase militares. Sua postura era dura, como a de um líder prestes a tomar uma séria e difícil decisão. Seu olhar era frio, calculista e muito parecido com o de Neji durante o Chuunin Shiken.

- Hinata, o que está planejando? – perguntou Tsunade, tentando acompanhar o passo rápido da Hyuuga.

- Você verá, Tsunade-sama. Só peço que me ajude.

- Como poderei te ajudar sem saber o que está planejando?

- Você descobrirá na hora certa...

Ao chegar na frente da sala de reuniões, Hinata abriu as duas portas que trancavam seu destino e o do resto do clã de uma só vez.

Pelos olhares espantados dirigidos à Hinata, Tsunade deduziu que Teruiya não havia contado quem havia convocado aquela reunião extraordinária.

Todas as cadeiras estavam ocupadas e, com exceção de Kai que ameaçou levantar para dar lugar à Hinata, sendo cruelmente impedido por seu pai, nenhum dos Hyuugas ali presentes moveu um músculo para ceder um lugar para Hinata ou Tsunade.

Teruiya encarava Hinata de maneira inquiridora, o que não o diferenciava dos outros. Raido olhava de maneira quase homicida, seu rosto roxo de raiva.

- Pode nos contar por que convocou esta reunião, Hyuuga Hinata, mesmo sabendo que não possui este direito por ainda não ter assumido a liderança deste clã? – perguntou um velho Hyuuga de aparência engraçada, cujo nome Hinata nunca lembrava.

- Embora não tenham sido informados ainda, tenho sim este direito. – Enquanto falava, Hinata caminhava lentamente, procurando o melhor lugar para ficar parada, de forma que todos pudessem olhá-la. – Creio que os senhores não foram informados ainda mas, meu pai, líder deste clã, sofreu um atentado na noite passada. A pessoa que fez isso, provavelmente, imaginou que ele não escaparia vivo, logo, não imaginava que fosse ser delatado.

A cada palavra dita por Hinata, o sangue de Raido gelava ainda mais. Ela sabia que fora ele, e não deixaria isso passar despercebido. Ele precisava fazer algo.

- Como ele poderia ter sido atacado, se ontem mesmo ele estava em reunião conosco, nesta mesma sala?! – gritou Raido, exasperado, pondo-se de pé e tremendo.

Hinata sorriu com o canto dos lábios, o que fez com que a cor de Raido mudasse do vermelho para o transparente em segundos. Ele não via mais escolhas. Aquela garota, que ele julgara tão boba, era uma raposa esperta... Tão esperta quanto seu pai. Como Hiashi se salvara daquele veneno mortal, ele ainda não descobrira, e nem fazia questão. Logo Hinata despejaria a verdade sobre aquela mesa, como quem joga uma carta na mesa esperando o adversário pegá-la e cair num blefe.

- O senhor é que deveria me responder. Eu estava com minhas amigas em meu quarto quando meu pai foi encontrado desmaiado. – O olhar espantado de Kai fez Hinata pensar que talvez ele não soubesse do crime de seu pai – Sabe, Raido-sama, quando Kin gritou e eu encontrei meu pai caído, imaginei que ele estivesse morto. Por sorte não estava, e por sorte maior ainda Sakura estava aqui. Mas, o curioso mesmo é que quando Tsunade-sama veio com os medinins buscar meu pai, ele murmurava palavras desconexas. Naquele momento, eu não sabia o que ele queria dizer. Mas hoje, quando acordei e me dei conta do que tinha acontecido, descobri o que ele queria dizer. Ele estava tentando avisar a alguém quem era o culpado. E, o senhor não imagina minha surpresa quando ele me contou, agora a pouco, quem era o responsável pela tentativa de assassinato que ele sofreu.

Raido foi sentando-se aos poucos, como se estivesse ficando fraco. Kai o olhava com incredulidade. Os demais conselheiros olhavam Hinata, esperando que ela terminasse de contar os fatos.

- Mas, Hinata-san... A senhorita não tem como provar que meu pai tentou atacar Hiashi-sama! Meu pai seguiu daqui direto para nossa biblioteca, eu estava junto com ele!

- Sim, eu posso provar. Meu pai não foi atacado fisicamente, Kai. Imagino eu que vocês tenham ingerido alguma coisa durante a reunião, certo?

- Correto, Hinata. Como de costume, nós tomamos uma dose de sakê durante a reunião.

- Então eu posso supor, Teruiya-sama, que quem trouxe o sakê foi Raido-sama?

- Aonde você pretende chegar com essa história?

Apesar do desespero óbvio do rapaz, Hinata não conseguia sentir pena de Kai. Ele havia feito coisas horríveis e ela não conseguia perdoá-lo, mesmo se tentasse muito. Todavia, não desejava ser muito ríspida com ele, afinal, ele só havia obedecido seu pai. Procurando algum tipo de apoio, ela olhou para Tsunade, que ainda estava encostada na porta.

Entendendo o que Hinata queria, Tsunade deu um passo à frente e começou a explicar detalhadamente o que Sakura e Hinata haviam feito, explicou qual veneno havia sido usado e como ele reagia ao corpo, a atual situação de Hiashi e sua incapacidade de continuar à frente do clã.

- Isso significa que Hiashi será afastado de suas obrigações? – perguntou Raido, voltando a sua coloração normal e quase sorrindo.

- Obviamente, Raido-san. – disse Tsunade, sem saber se era aquilo que Hinata planejava.

Todos os olhares voltaram-se novamente para Hinata, que continuava com um sorriso triunfal enfeitando-lhe as doces e obstinadas feições.

- Posso perguntar por que está feliz com o afastamento de seu pai, Hinata?

Mais uma vez o conselheiro de feições engraçadas falava algo. A reunião tomava o rumo que Hinata desejava. Como tinha sido fácil manipular a situação a seu favor! Ela sentia-se orgulhosa de si mesma. Finalmente havia aprendido a ser autoconfiante e agora, mais do que nunca, sentia-se capaz de cuidar de seu pai e do clã.

- Não estou feliz com o afastamento de meu pai... Só estou considerando a situação deveras irônica.

- Você fala como aquele bunke nojento.

Os olhos de Hinata acenderam-se como chamas, e ela demorou alguns segundos apenas até localizar o dono do comentário.

- Meça suas palavras a respeito de meu noivo. Se não deseja viver como um bunke para o resto de sua vida, trate-o com o devido respeito!

- E porque eu o faria? – o conselheiro que falava não aparentava ser muito velho, apenas maltratado pelo tempo. Seus olhos eram estreitos como olhos de águia, o que lhe conferia uma aparência pouco confiável. – Ele é só um bunkezinho com mania de grandeza, e você também não representa nada para o clã! Seu pai está afastado, portanto, o controle é nosso!

- Você está enganado, Natsue.

- E eu posso saber o porquê, Teruiya?

- Primeiro: Dirija-se a mim de forma educada, sem cinismo. Segundo: Se não conhece as regras do clã ao qual pertence, tem menos direito de estar nesta sala do que Hinata. Ela sim, com toda a certeza, conhece as regras.

- Humpf... Conhece tão bem que pretende casar com um bunke!

- O que eles farão de suas vidas não interessa a nós.

- Podemos entender então, que você é a favor da extinção do conselho? – perguntou o conselheiro de ar engraçado, incrédulo.

- Entenda como quiser, Maki. E caso não se lembre, com o afastamento de Hiashi, duas regras entram em vigor. Primeira regra: O herdeiro assume o clã. Se o herdeiro não tiver atingido a maioridade, pode escolher um tutor para liderar o clã até ter idade para poder ocupar seu cargo, por direito. Caso o herdeiro não escolha um tutor, ou não tenha capacidade para tal, o conselho assume o clã.

- Isso quer dizer que...

- Sim, Kai. Eu escolherei um tutor.

- ELA NÃO PODE!!!

Tsunade olhava de um lado para outro, sem entender mais nada. Aquela era mesmo a Hyuuga Hinata de sempre? Ela havia amadurecido tanto, e em tão pouco tempo!

- E porque ela não pode?

Todos os conselheiros olharam para a Hokage, que falara sem perceber.

- Por que... Por que... Por que... – Raido não encontrava um motivo para incapacitar Hinata. Ela havia provado ser mais do que capaz de liderar aquele clã. Ele olhou para seu filho, exasperado, buscando algum tipo de ajuda. Kai limitou-se a levantar de seu lugar, fazer reverência para Hinata e dizer que desejava que ela fosse sábia em sua escolha, mas que confiava na capacidade de julgamento dela.

Como se aquilo fosse um sinal, Raido se calou e encolheu-se em sua cadeira.

- Então, Hinata, já tem um tutor em mente?

- Sim, Teruiya-sama... O senhor.

Todos assentiram, aprovando a decisão dela. Alguns de má vontade, mas mesmo assim concordando.

- Tem certeza?

- Sim. Entretanto, quero deixar algumas coisas bem claras. Assim que for anunciado para os demais Hyuugas que Teruiya-sama será meu tutor e que ele cuidará do clã até eu completar dezoito anos, eu irei viajar com o Neji nii-san. Enquanto eu estiver fora, toda e qualquer decisão deverá passar pela minha aprovação antes de ser oficializada. Ninguém entrará na minha parte da mansão, além do Teruiya-san, para visitar meu pai. Nada de mudarem regras enquanto eu estiver fora. Eu quero Raido-sama fora do conselho e Kai também. Raido-sama será levado pelos anbus, sob a acusação de tentativa de homicídio. Kai deverá ficar sob os cuidados de sua mãe apenas. Deixem-no em paz, para que ele possa amadurecer um pouco. E, o principal: Qualquer atentado contra a minha vida ou à vida daqueles que me são importantes terá retaliação. Certo?

Todos assentiram, assustando-se com a forma fria de Hinata ao falar.

- E onde a senhorita estará? Como entraremos em contato? – perguntou Natsue, tentando se conformar com sua atual situação.

- Eu transmitirei o recado a ela. – disse Tsunade, aliviada pelo final feliz daquela reunião.

- Agora, se me dão licença, eu tenho coisas para arrumar e devo descansar porque pretendo viajar amanhã. Oficializem minha tutela hoje, para não que haja mais espera.

Ela se virou e, sendo seguida por Tsunade, deixou a sala de reuniões deixando todos ali dentro pasmos com sua atitude. Alguns conselheiros podiam até ser contra mas, todos tinham que admitir: ela era uma ótima líder.

Hinata caminhava lentamente, aliviada por ter conseguido o que queria. Finalmente seu pai poderia descansar, sem se preocupar com o futuro do clã. Os Hyuugas estariam em boas mãos até que Hinata pudesse assumir o clã. Infelizmente, para isso, ainda faltava muito chão.

- Você estava com essa história toda na cabeça desde o início, não é?

A voz de Tsunade despertou Hinata de seus pensamentos, trazendo-a de volta à realidade.

- Sim... Eu sabia que deveria fazer algo. Ontem, quando decidi que salvaria meu pai mesmo que só houvesse 1% de chance de sucesso, imaginei que existiriam complicações. E, enquanto estava desmaiada, lembrei de quando era jovem e meu pai tentava me treinar... Ele certa vez citou essa regra, tentando fazer com que eu me dedicasse mais. Então eu decidi que, se meu pai não estivesse no poder, eu daria um jeito de colocar alguém de minha confiança até que eu pudesse assumir.

Apesar da seriedade da situação, Hinata sorria com serenidade, como se nada a afetasse. Tsunade estava feliz com a evolução dela, e esperava que ela conseguisse mesmo liderar o clã. Não haveria ninguém melhor que ela.

Quando entraram no quarto de Hiashi, notaram quanto tempo demoraram na reunião. Já havia anoitecido e Neji já cochilava sentado em uma poltrona, ao lado da cama. Tsunade despediu-se silenciosamente, prometendo ficar de olhos bem abertos no clã, já que Hinata pretendia viajar antes do amanhecer.

Enquanto Tsunade se retirava, Hinata caminhou lentamente até Neji, acordando-o com um suave beijo. Ele abriu os olhos e sorriu. Ameaçou falar, mas Hinata o impediu, colocando um dedo em seus lábios. Fez sinal para que ele a seguisse. Só quando estavam no corredor que ela permitiu que Neji falasse.

- Hinata-sama, o que aconteceu? Eu fiquei tão preocupado! Vocês demoraram tanto e...

- Acalme-se, nii-san. Não há mais com o que se preocupar. Deu tudo certo... Eu nem acredito que consegui!

- Conseguiu o que, Hinata-sama?

E então Hinata foi contando tudo, enquanto caminhava ao lado de Neji. Nenhum dos dois percebeu para onde seguiam e, quando perceberam, já estavam entrando no quarto dele.

Neji olhou para Hinata, esperando que ela fosse relutar, ir para seu próprio quarto ou algo assim. Mas não, ela não fez nada disso. Sorriu para ele, segurou sua mão e com a mão livre abriu a porta do quarto.

Uma leve brisa soprou no rosto dos dois, e Neji esqueceu tudo o que o preocupava. Levou sua prima para dentro do quarto e parou ao lado da janela, abraçando Hinata desejando nunca mais soltá-la.

- Hoje é a última noite de lua cheia, sabia?

- Mesmo? – perguntou Neji, em tom de brincadeira.

- Mesmo. Quando era pequena, minha hahaue me ensinou muitas coisas sobre as fases da lua. Ela sempre admirou a lua cheia e a lua minguante.

- Isso é interessante... E o que você aprendeu sobre essas duas fases?

- Elas interferem no destino e no pensamento das pessoas... São as duas fases mais fortes. Não se deve jamais desprezar o poder contido nelas, principalmente durante o primeiro e o último dia.

- Okay, não vamos desprezar então.

- Ahh, nii-san bobo! Acha que estou fazendo piada é? – brincou Hinata, soltando-se de Neji e dando um tapa leve no ombro dele.

- É... Bem... – Neji coçou a cabeça, procurando as palavras certas – Eu não fui criado para acreditar nesse tipo de coisa, sabe... Sempre fui mais lógico do que místico...

Hinata fingiu-se de ofendida, fazendo um enorme bico. Distanciou-se de Neji, caminhando até a cama dele e sentando na ponta dela.

- Sabe nii-san... Você devia aprender a admirar um pouco mais o lado místico das coisas... Assim você poderá ver o mundo de forma mais... fantástica.

Ela sorriu com simplicidade, tirou as sapatilhas que usava no pé e deitou-se na cama de Neji. Puxou para si o fino edredom, cobrindo-se até a cintura.

Neji olhava aquela cena abismado. Se aquela história de lua mudar as pessoas era real, Hinata certamente estava sendo influenciada pela lua cheia.

Mesmo tendo cochilado por algum tempo, Neji ainda se sentia muito cansado. Não dormira quase nada na noite anterior preocupado com Hinata, e durante a manhã seu sono era sempre interrompido pelos movimentos bruscos dela. Ele caminhou lentamente até sua cama, deitou ao lado de Hinata e cobriu-se também. Deu-lhe um leve beijo no pescoço e fechou os olhos.

Não muito tempo depois, um som estranho fez com que Neji despertasse. Já devia ser madrugada, dada a pouca luz vinda da janela. Seu quarto, diferente do resto da casa, estava bem iluminado. Algumas poucas velas tinham sido colocadas nos cantos do quarto, criando um clima meio sombrio. Ele procurou por Hinata ao seu lado, mas ela não estava lá. Onde raios ela estava?

- Aqui.

Como se tivesse adivinhado seus pensamentos, ela falou e então Neji descobriu onde ela estava. Pode parecer estranho, mas ela estava do outro lado da cama. Parece mentira, eu sei... O fato é que as habilidades ninjas dela evoluíram muito e... Bem, homens apaixonados, sendo ninjas ou não, tendem a ficar um pouquinho desatentos...

- Como foi que você...?

- Quando é necessário se esconder do inimigo, você aprende alguns truques.

- E que truques...

Neji olhou Hinata e percebeu que ela havia ido ao seu quarto mudar de roupa. O vestido preto de antes fora substituído por uma quase transparente camisola preta, que ressaltava ainda mais as curvas de Hinata e conferia à garota um ar sedutor.

Os olhos de Hinata brilhavam como pérolas e hipnotizavam Neji. Se ela fosse um inimigo, ele certamente diria que ela estava usando um genjutsu. Só que ela não era um inimigo. Era sua namorada, noiva, mulher. Sua, apenas sua. De uma forma ou outra, ela o escolhera para dividir o resto de sua vida. Fora ele, Neji, o bunke rejeitado, o escolhido dela, a herdeira. Ele sabia que, daquele dia em diante, nada mais os impediria de ficar juntos.

Sorrindo, ele puxou levemente o rosto dela para junto do seu, beijando-a a princípio com delicadeza, depois com voracidade. Como se tentasse, literalmente, não se separar de dela nunca mais.

Hinata sabia o que aquilo significava. Não que já tivesse sentido algo assim mas... Os livros que já havia lido, e os tantos sonhos que terminavam de forma parecida davam a ela uma ideia do que era aquela sensação. Não importava quão mínima fosse a distância entre seu corpo e o de Neji, algo os impelia a ficar ainda mais juntos, ainda mais colados. Hinata mal respirava, mas não se importava tampouco. Para ela, não havia nada mais prazeroso do que beijar seu primo. Aos poucos as barreiras pré-impostas a todos os seres foram quebradas, e jogadas no chão, junto com a roupa dos dois. Hinata sentia-se assustada, e um pouco relutante também. Mas havia algo nela, algo em Neji, bem, ela não sabia bem o que era mas, enfim... Havia algo naquele momento que a fazia confiar plenamente em seus instintos e em seu primo. Ela o amava, e mais nada no mundo importava. Não importava que ela não conseguisse falar a Neji que o amava, porque isso já não mais importava... Seus sussurros eram doce e carinhosamente calados por beijos apaixonados. Não importavam as marcas que suas unhas deixavam nas costas de Neji, ela curaria todas elas com remédios e, quando estes não mais funcionassem, com beijos. Não importava aquela dor incomensurável que sentira instantes antes e que acreditava que não fosse suportar. De alguma forma ela fora substituída pelo prazer de enfim pertencer à Neji e poder amá-lo sem inibições, sem riscos, sem nada temer. Para os dois, não importava se o mundo acabasse no dia seguinte. Daquele momento em diante eles pertenciam um ao outro, e estariam unidos para sempre.

O sol ameaçava tomar o lugar da tão especial lua no céu quando Neji acordou. Ele moveu-se lentamente, evitando acordar Hinata, que dormia como um anjo. Bom, ele sabia que de anjo ela nada tinha além do rosto, como se isso importasse... Anjo ou não, ele amava Hinata, a sua Hinata. Aquela que se mostrara tão impetuosa quando ele, tão ávida por prender-se a ele para sempre. Ele nunca mais duvidaria do poder que a lua exercia sobre os outros. Seja lá o que ela tenha feito, fez com que ele tivesse tido a melhor e mais importante (e literalmente falando a mais inesquecível) noite de sua vida. Sem emitir som algum, vestiu-se, foi até o quarto de Hinata, onde arrumou a mala dela e lá tomou um banho. Voltou para seu quarto usando um roupão que tinha encontrado no quarto dela. Tirou o roupão jogando-o em um banquinho que tinha no canto do quarto, ficando apenas com uma toalha enrolada na cintura. Abriu o guarda-roupa e passou a decidir o que levaria, e o que não levaria para a viagem.

Hinata despertou e, para seu completo êxtase, a primeira coisa que viu foi Neji, com aqueles belos e bem definidos músculos à mostra, de costas para ela. Diferente do que imaginava, não se sentia constrangida por estar nua, coberta apenas por um lençol (já que o edredom fora jogado longe em algum momento da noite). Ela estava feliz, porque, mais do que nunca, nada poderia separá-la de Neji agora. Ela era dele, e ele dela. Nunca mais sentiria vergonha perto dele. Ela deixara de ser uma criança e tornara-se uma mulher. A mulher de Hyuuga Neji. E ela era, sem sombra de dúvida, a mulher mais feliz do mundo.

Ela se perguntou se sua mãe havia se sentido da mesma forma, mas nem deu tempo de seu cérebro responder. Levantou-se da cama e, tendo o lençol sobre os ombros, caminhou na ponta dos pés até Neji. Envolveu seu primo pela cintura, colando seu tórax às costas dele. Neji não estava preparado para aquele contato e, quando a pele quente de Hinata tocou suas costas, seu corpo arrepiou-se. Ela soltou levemente sua cintura, permitindo que ele virasse para ela.

Ele imaginava que ela estivesse com uma expressão mais tímida, ou algo um pouco mais constrangido. Não esperava vê-la sorrindo, irradiando felicidade. Ele próprio sentia-se daquele jeito. Abraçou-a com delicadeza, esquecendo o lençol que a cobria e a toalha em sua cintura, e beijou-a com todo o amor que tinha em si, misturando naquele simples gesto docilidade, paixão, desejo e, principalmente, felicidade.

Demoraram um pouco até distanciar, alguns centímetros apenas, seus rostos. Neji segurava carinhosamente o rosto de sua prima, que sorria.

- Eu te amo.

Simples, curto, básico. Mas, concorde ou não, quando ditas com sentimento, essas três palavras mudam a vida das pessoas.

- Eu também te amo, Neji. Zutto.

A felicidade de Neji não tinha tamanho. Hinata lhe pertencia, ele a amava mais que tudo. E, para completar, ela ainda o chamara apenas de Neji. Ele se lembrava muito que, depois do incidente no chuunin shiken ela o chamou assim por muito tempo. O que não combinava com a lembrança era o tom de voz. Você sabe, o tom de voz pode mudar uma palavra, mesmo que ela seja a mesma. Na época do chuunin shiken o tom era frio, agora era apaixonado, delirante... Era um tom de quase adoração.

- Pelo visto já está se preparando para viajarmos... Tenho que fazer o mesmo... – disse Hinata, fazendo bico ante a ideia de ficar longe de Neji.

- Não será necessário, meu amor. Eu já arrumei suas coisas. Você só precisa tomar um banho e se vestir.

Ela concordou e foi até o banheiro. Na noite anterior, quando levantara para trocar de roupa, deixara propositalmente no banheiro de Neji um belo vestido lilás, que ganhara de Hanabi há um bom tempo, mas que nunca usara por ser grande na época. De alguma forma, Hanabi parecia prever o futuro. Ela tomou um banho quente e rápido, sabia que eles não podiam demorar muito mais. Quando saiu do banheiro encontrou Neji já vestido, mais lindo do que o normal, se isso for possível de imaginar.

As malas dele já estavam prontas, e as dela ao lado. Ela foi até ele e, quando mostrou que tencionava levar suas malas, Neji a impediu. Segurou a mão dela e fez sinal para que ela esperasse.

- Kage Bunshin no Jutsu!

Seis Nejis apareceram no quarto, deixando Hinata pasma. A única pessoa que ela conhecia que usava o Kage Bunshin era o Naruto!

- Antes que pergunte, eu também andei aprendendo uns truques. – disse Neji, rindo.

Os bunshins recolheram as malas e saíram do quarto carregando-as. Neji e Hinata saíram do quarto de mãos dadas e, no instante em que iriam começar a descer as escadas, Hinata parou como uma estátua.

- Nii-san, espere... Tenho que me despedir de meu pai antes.

Ele concordou e deu meia-volta, seguindo para o quarto de Hiashi, no final do corredor.

Ao entrarem no quarto, encontraram-no vazio, mas com a cama bagunçada. Hinata deduziu que seu pai estaria na porta esperando pelos dois. Saiu do quarto, sendo seguida por Neji.

Caminhavam tão rápido que em pouco tempo chegaram aos portões da mansão. Não encontraram ninguém lá, além dos bunshins de Neji.

- Onde será que foram todos? Eu imaginei que pelo menos a nee-chan estaria aqui pra se despedir...

- Não faço a menor ideia. O estranho é que nem o Hayato está aqui.

- Isso é realmente estranho... De qualquer forma, é melhor nos apressarmos. Não podemos perder tempo.

Eles recomeçaram a caminhada, com os seis bunshins ao lado. Hinata esperava encontrar seus amigos e familiares no portão de saída da vila, mas quando notou que não havia ninguém lá, seu semblante mudou. Uma parte da felicidade extrema que sentia até então sumiu. Como podiam ter esquecido que ela e Neji viajariam naquele dia?

- Nii-san, como chegaremos na casa da hahaue? É longe e não podemos caminhar o tempo todo.

- E vocês não irão caminhando.

Os dois viraram-se na direção da voz, e viram Hiashi, em uma cadeira de rodas guiada por Hanabi. Ao lado dele estavam Tsunade, Kiba, Isuzu, Naruto e Lee.

- Tou-san! – o sorriso de antes voltou a iluminar o rosto de Hinata – Pensei que não poderia me despedir...

- Você achou que eu deixaria mesmo minha filha mais velha viajar para tão longe sem me despedir? Hahahahaha... Você não me conhece, Hyuuga Hinata. Não conhece a mim, e à seus amigos.

- Nós pretendíamos fazer uma festa e tanto aqui no portão, mas a Godaime-sama não quis deixar. – disse Kiba, fazendo bico.

- Tenho certeza de que só de ver vocês aqui, Hinata já está radiante de felicidade. E eu não queria acordar todos os moradores da vila só porque você gosta de barulho, Kiba.

- Vocês não fazem ideia do quanto estamos felizes. Onde estão os outros?

- Nem todos puderam vir, Neji-san. Nós conversamos ontem e decidimos que alguns de nós viriam como representantes, para evitar chamar a atenção da vila inteira.

- Por Kami-sama! Do jeito que você fala, Isuzu-chan, parece mais que vamos a uma missão super secreta do que viajar por diversão.

- Não deixa de ser uma missão super secreta só porque vocês vão se divertir, nee-san. Ei, agora que você vai ficar fora, posso usar seu quarto?

- E pra quê você iria querer o quarto dela, Hanabi-chan?

- E isso te interessa desde quando, sobrancelhudo?

- Ei, ei! Sem brigas aqui! Não quero que minha lembrança de despedida de Konoha seja Hanabi matando alguém. Seria divertido, mas traumatizaria Hinata.

Por alguns instantes todos ficaram em silêncio, como se não houvesse nada mais a ser dito. Ninguém se movia, como se todos desejassem parar o tempo ali, impedir uma despedida. Não vendo outra escolha, Hinata desvencilhou-se de Neji e caminhou até Hiashi, abaixando-se para conseguir abraçá-lo. Ele retribuiu o abraço com carinho, prolongando o momento.

- Eu voltarei, tou-san. – disse Hinata, começando a chorar. Não eram lágrimas de tristeza, porque ela estava feliz. Eram lágrimas de quem sabia que sentiria saudades.

- Não se preocupe minha filha, divirta-se. Curta cada segundo dessa viagem. Você cresceu, virou uma linda e inteligente garota. Eu me orgulho de tê-la como filha. – Hiashi respirou fundo, como se tentasse evitar as lágrimas – Não importa o que vocês dois façam de agora em diante, ambos têm a minha bênção.

- Arigato... Nós dois sentirem saudades.

- Nós todos também sentiremos saudades de vocês, Neji.

- Eu não sinto saudade de homem, dattebayo!

- Então não sinta, Naruto-kun. – disse Hinata, rindo e secando as lágrimas que insistentemente caíam.

Todos estavam visivelmente emocionados, mas alguns sabiam se controlar. Kiba estava com o rosto contorcido, fazendo uma força sobre-humana para não chorar. Quando Hinata o abraçou, seu esforço desceu pelo ralo. Ele a abraçou forte, e ambos choravam como se aquele fosse um adeus permanente. Não disseram nada um para outro, mas também não havia sido necessário.

Neji simplesmente olhou para Kiba e sorriu, fazendo com que o Inuzuka sorrisse também.

- Cuide de Hanabi. Ela ficará muito sozinha quando formos. – sussurrou Neji.

- Eu cuidarei, prometo. E você, cuide bem da Hina-chan. Acho que não preciso nem dizer que todos sentiremos saudades.

- Não, não precisa dizer... Eu cuidarei dela, como se fosse minha própria vida.

Hinata e Hanabi ainda estavam abraçadas quando Neji terminou de se despedir dos demais. Hanabi chorava, mas sorria também. Ela sabia que aquela viagem era necessária e que sua irmã estaria segura. Entristecia-se por saber que não veria Hinata por um bom tempo, mas, no fim das contas, era por um bom motivo.

- Me promete uma coisa, nee-chan?

- O que? – disse Hanabi, entre soluços.

- Enquanto eu estiver fora, você vai cuidar das coisas por mim. Não deixe o Kiba-kun dominar tudo, e nem o Naruto fazer idiotices. Fique de olhos abertos no Lee-kun, para ele não exagerar nos treinos. Não deixe Tsunade-sama fugir do trabalho e, principalmente, cuide do tou-san.

- Hai.

- E mais uma coisa.... Cuide de si mesma. Quando voltar, quero vê-la bonita e sorridente.

Hanabi pretendia dizer algo mas recomeçou a chorar e não conseguiu. Para compensar, abraçou Hinata e deu-lhe um beijo no rosto, sorrindo logo em seguida. Sorriu da forma que Hinata mais adorava ver. Sorriu o famoso “sorriso maroto” de Hyuuga Hanabi. Elas se soltaram, e só então Neji e Hinata notaram que havia um veículo para levá-los.

- Eu e Tsunade mexemos uns pauzinhos há um tempo e, conseguimos esse veículo para levá-los. Ele não é muito rápido, mas aguenta todas as malas. Chegarão na casa em três ou quatro dias.

- Domo arigato, Hiashi-sama.

- Não precisa mais me chamar assim, Neji. A partir de agora sou seu tio, não um superior.

Neji sorriu. Durante toda a sua vida esperou ouvir isso.

- Agora, vocês dois, vão! Não quero ver a cara de vocês pelo menos nos próximos seis meses!

- Pode deixar, Tsunade-sama! – disse Hinata, recompondo-se e sorrindo como um anjo. – Não voltaremos, a menos que seja realmente necessário. E, enquanto estivermos fora, lembrem-se: Nós dois amamos muito vocês.

Hinata virou-se e seguiu para o veículo, junto com Neji.

Apesar da choradeira, todos estavam felizes. Finalmente a história deles seria feliz.

Três dias e meio se passaram até que Neji e Hinata chegassem a casa. Era final de tarde, então tudo o que puderam fazer foi descarregar as malas, tomar um banho e ver o que era cada cômodo. Hinata preparou o jantar, que foi servido à luz de velas.

Não muito tempo depois, eles já estavam no quarto, inaugurando a nova cama.

Pelo resto da semana, a rotina deles era sair, conhecer o lugar, treinar... Depois jantar e ir dormir. Algumas vezes as noites eram movimentadas. Eles haviam decidido não se apressar demais, afinal, teriam no mínimo seis meses para aproveitar a companhia exclusiva um do outro. Teriam seis meses para amarem-se sem interrupções.

Um mês se passou, e a rotina deles não havia mudado em nada. Hinata não sonhava mais desde o pesadelo com o garotinho do penhasco. Não sonhava, até a noite em que completaram um mês de viagem.

“Hinata estava na cozinha, preparando a comida, quando ouviu uma criança chorar. Parou de cortar os legumes e seguiu o som do choro. Encontrou um pequeno garoto, sentado no chão do quintal, com o joelho todo ralado. Ele tinha cabelos castanhos, lisos e bagunçados. Não eram longos, e alguns fios eram arrepiados. Ele parou de chorar e olhou para Hinata. Ela sorriu para ele, e ele piscou algumas vezes. Seu rostinho branco estava lavado pelas lágrimas mas, mesmo assim, ele era tão lindo!

Ele esticou os pequenos bracinhos para ela, pedindo colo. Sem hesitar, Hinata foi até o garoto e pegou-o no colo, dando-lhe um beijo na testa.

- O que acha de quebrar as regras e comer um doce antes do almoço? – disse ela, tentando acalmar a criança.

O pequeno garoto parou de chorar e abriu um largo sorriso, que de tão grande fechava seus olhos. Eles seguiram para a cozinha, onde Hinata sentou o garoto em uma cadeira especial para crianças e deu-lhe um doce. Vendo que ele estava feliz, Hinata voltou a cortar os legumes. Ela sabia que logo Neji estaria de volta, e ele chegaria faminto. Ela adorava quando ele chegava, era a melhor parte do dia. Ele sempre voltava sorridente, e sempre dizia que nada o alegrava mais do que chegar em casa e encontrar sua mulher e seu filho ali, esperando por ele.

Ela parou por um instante. Filho? Eles tinham um filho?

A realidade misturava-se com o sonho, e Hinata distraía-se demais. Distraía-se o suficiente para que a faca não fatiasse os legumes, e sim seus dedos.”

- Aiii!

Sem que percebesse, Hinata havia acordado assustada. E com o salto que deu na cama, acordou Neji junto.

- Hinata, está tudo bem? – perguntou Neji, preocupado. Sua prima havia pulado da cama, com o indicador na boca, como se houvesse um corte ali.

- Hun? Está sim, nii-san... Foi só um susto. Kami-sama, eu estou faminta!

- Eu farei o café da manhã hoje. Espere aqui. - disse ele, sorrindo e beijando suavemente a testa de Hinata.

Neji levantou-se e foi até a cozinha. Preparou um chá calmante e pegou algumas torradas. Colocou em uma bandeja, junto com o açucareiro, colheres e um potinho de geléia de morango. Levou para o quarto, deixando a bandeja ao lado de Hinata, em uma mesinha de cabeceira.

- Uau nii-san! Até que para um bunke mimado você sabe preparar uma bandeja de café da manhã! – falou Hinata, rindo.

- Bem... Eu tinha que me virar sozinho... – Neji corava levemente. Estava com Hinata ali há um mês, e mesmo assim ainda sentia-se constrangido em algumas situações.

- Eu sei, seu bobo. Estava só brincando. Do que é essa geléia?

- Morango, por quê?

- O cheiro... Está meio estranho... Será que não está estragado? – Hinata fazia caretas enquanto falava, e massageava o estômago.

- Não, Hinata, é impossível que esteja estragado. Eu comprei ontem... E o cheiro me parece normal.

- Eu não sei... Essa geléia está estranha, ela...

- Hinata? O que está acontecendo? – Neji ficou preocupado. Hinata parara de falar sem motivo aparente, tapando a boca com a mão direita. Ele aproximou-se dela, fazendo menção de abraçá-la. – Quer algu...

A frase dele foi interrompida pelo vômito de Hinata, que sujou uma parte de sua roupa e metade da cama.

- Hinata, o que você está sentindo? Venha, vou levá-la para um banho, e depois para o médico do vilarejo.

Neji pegou Hinata no colo e seguiu lentamente para o banheiro. Se ela estava doente, eles logo descobririam e imediatamente retornariam à Konoha. 


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