Hugo escrita por Rossetti


Capítulo 4
Quatro


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo demorou muito menos e tem muito mais palavras, hihi
Agradeçam o(a?) Taylor por fazer chantagem emocional com piscadas fofas por isso.
Alias, antes de começar o capítulo, queria agradecer a todos os amorzinhos que comentaram (na moral agradeço até os ghosts que leram e não comentaram, vocês são pica também), aos lindos que favoritaram e os divos que estão acompanhando. Se você fez as tres coisas, você é tipo top10 melhores pessoas do universo, coisa assim, tenho certeza. E agradecer principalmente a Ravena, essa linda, mds gente, ela RECOMENDOU a historia, eu quase morri. Sério, se eu pudesse abraçar essa mina, eu ia esmagar de tanto apertar e aí ia ser presa por esmagar uma pessoa e eu iria pra um presidio chorando de emoção e tudo mais. Obrigada SUA LINDA!
Eu agradeço bastante né? Mas é... É.
Mais uma vez, queria pedir, me avisem se tiver algum erro, pq eu sou lesadinha, reviso, reviso e ainda deixo coisa passar. Desculpa.
Bom, taí o capítulo, espero que aproveitem!



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A vida na escola era um inferno, naturalmente. André nunca mais me deu paz, depois do dia que eu quis socar sua cara. Mas tudo ficou definitivamente melhor depois que Dressa e Paulo começaram a namorar de verdade. Menos briga, mais amorzinho. Em contrapeso, o sentimento de estar segurando vela voltou.

— Você sabe que tá solteiro porque quer, né? – Adassa comentou comigo, num dia que eu estava inclinado para frente, fazendo cara de nojo propositalmente, aparecendo no fundo da foto de casalzinho que Dressa e Paulo. – Tem um monte de meninas que querem ficar com você.

— Todo mundo diz isso. – Resmunguei, me afastando um pouco do pessoal. Adassa me seguiu de perto. – Mas na pratica, nenhuma vem falar comigo.

— É claro. Você nunca tá sozinho, tem sempre um chiclete colado em você. – Não era verdade; Hugo não estava ali naquele momento e eu nem sabia para onde tinha ido. Varri o pátio com os olhos, procurando, já que ela tinha tocado no assunto. – Além disso, a maioria das meninas daqui acham que você é gay.

Olhei depressa para Adassa.

— Quem disse isso pra elas?

— Ninguém, Gregório. Mas elas acham. – Ela deu de ombros. – E tem aquela história do beijo que o Diogo...

— O Diogo me agarrou. Era uma festa, ele estava bêbado e me beijou. Só porque eu não fiz um escândalo, não quer dizer que eu tenha gostado. – Retruquei, sentindo o rosto arder por contar uma mentira tão ridícula. Voltei a procurar Hugo, sem coragem de continuar encarando minha irmã.

— Não é essa a questão. – Ela suspirou. – Porque você não só...

— Quem é aquela? – Perguntei, interrompendo Adassa. Ela olhou na mesma direção que eu, confusa.

Hugo estava sentado do lado de uma menina da idade dele. Os dois riam e se cutucavam.

— Não sei, acho que é da sala dele.  – Adassa me encarou. – Greg, estamos tendo uma conversa séria aqui.

— Tá, eu só... – Suspirei. – ‘Dassa, não to afim de falar disso.

— É, mas se fosse o Hugo, você falaria.

Acho que ela falou isso sem pensar, porque me olhou com uma cara muito estranha. Parecia aborrecida consigo mesma.

Fiquei um instante sem reação, então passei um braço pelo ombro dela.

— Eu não falo dessas coisas com ele, Adassa. Não falo com ninguém. O problema não é você, só não é fácil falar sobre isso. – Confessei, em voz baixa.

— Por que não? – Ele diminuiu o tom de voz. – Você sabe que nenhum de nós te julgaria. Você sabe disso. O que é que tem demais?

— Eu não sei. – Respondi. E essa pegou até eu mesmo de surpresa. Falei tão espontaneamente que só naquele momento me toquei que não entendia o que estava fazendo. – Talvez tenha algo de errado comigo. Eu só não consigo tocar em certos assuntos, mesmo que seja sobre coisas sobre mim. Não vai, parece que nasci com uma trava.

— Não tem nada de errado com você, Greg. – Ela passou a mão em meu cabelo e fechei os olhos. Pensei em como era diferente quando ela e Hugo me tocavam. Os dois eram meus irmãos, mas a sensação era bem diferente. Eu não entendia aquilo também.

Eu acabei não tocando mais no assunto com Adassa. E ela também tinha a própria vida para cuidar. Se não me engano essa foi a época que ela e Tati estavam gostando do mesmo carinha. Era meio trágico e engraçado.

Meu aniversário de dezesseis anos caiu num ponto facultativo, então pensei em chamar uma galera para ir lá em casa, fazer tipo uma festinha. Mas Hugo disse que queria passar o dia comigo, então fomos para o shopping, só nós dois. Ficamos horas fazendo coisas aleatórias, como sentar na livraria e ler até um funcionário aparecer e dizer que só poderíamos ler se comprássemos os livros. Depois jogamos, comemos, vemos filme. Foi um dia incrível.

Eu estava exausto e foi bom chegar em casa, tomar banho e já deitar para dormir. Uns minutos depois Hugo invadiu minha cama e me abraçou, daquele jeito confortável de sempre.

— Feliz aniversário, Greg. – Ele sussurrou. E beijou meu rosto.

Dei uma risada sonolenta e beijei seu cabelo.

O cheiro de Hugo já não era igual quando ele era criança. Era melhor ainda. Eu amava.

Do nada Hugo tinha uma amiguinha, a menina que eu tinha visto de risadinhas com ele uma vez. Era a amiga mais próxima dele. Não sei como ou quando eles ficaram tão próximos, mas eles passavam muito tempo juntos. E todos diziam que eles formavam um casal fofinho, que acabariam namorando.

Eu estava mal.

Me lembro de um domingo em particular, quando Hugo saiu com ela e eu não conseguia me lembrar o que fazia para me divertir nos domingos, porque Hugo sempre esteve lá. Então fiquei na minha cama, olhando para o teto, com o celular na mão. Queria mandar uma mensagem para Nick ou algum outro cara e sair fazer coisas de caras, mas de repente eu era um menino, de volta à terceira série, e não sabia do que meninos brincavam e achava meninas sem graça.

— Oi, Greg. – Adassa estava sentada na minha cama, tão de repente que me assustei. Olhei para ela, sobressaltado. Ela tinha um sorriso tão adorável. – Muito tédio?

— Hum. – O que se responde para isso?— Acho que sim. Domingos são um porre.

— Acho que o pai vai fazer um churrasco lá no gramado. Quer ajudar? Aposto que a gente consegue fazer aquele velho do segundo andar vir gritar com a gente por causa da fumaça.

— Não sei. – Fechei os olhos. – Minha cabeça ta doendo, ‘Dassa. Quero ficar sozinho.

Ela ficou quieta, mas também não saiu. Permanecemos em silencio por vários minutos e eu só consegui sentir falta de permanecer em silencio junto com Hugo. Entendam, eu estava grato por Adassa estar ali e não me deixar sozinho, mas era diferente.

— Posso fazer uma pergunta, Gregório? – Ela questionou, com a voz tão baixinha que tive que me esforçar um pouco para entender o que dizia.

Mas ela nunca chegou a perguntar, porque naquele momento o furacão Nina-Tati-Sonia-Vani-Daniel invadiram meu quarto e me tiraram da cama, querendo eu ou não.

O churrasco no gramado rolou e eu até me diverti um pouco. Sim, existia vida sem o Hugo, vejam só. Mas a presença dele era o que dava o tom, como se um dia longe do Hugo fosse um filme em preto e branco e quando ele chegasse trouxesse consigo todas as cores.

No fim da tarde, quando ele voltou, foi tão bom. Ele me abraçou como sempre, tinha o cheiro de sempre e o sorriso de sempre.

— O que você fez hoje? – Ele me perguntou, mordendo um espetinho.

— Eu... – Como não sabia o que responder, dei de ombros. Ele riu. – E você?

— Nada demais. Só comi umas porcarias por aí, dei um role.

— Você parece um legitimo adolescente.

­– Eu sou um adolescente, Greg. – O jeito que ele falou me convenceu.

Meu Hugo não era mais criança. Parece que a vontade dele de crescer logo estava se realizando.

Baguncei o cabelo dele e fui pegar mais carne.

Hugo namorou a menina por umas semanas. Não me lembro do nome dela. Talvez minha mente tenha apagado de propósito. Eu odiava tanto aquela pirralha que rezava todos os dias para que ela não aparecesse em casa, porque bastava ver sua cara aguada na escola.

Mas é claro que eu não deixei ninguém perceber. Meu peito doía sempre que o assunto surgia em meus pensamentos, então não tentei entender o que nela me causava tanta repulsa. Felizmente, terminaram logo e eu pude deixar tudo isso de lado.

Pouco depois disso, eu fiquei com um cara mais velho e não contei para absolutamente ninguém.

O tempo passou meio rápido, eu estava concentrado em estudar para o vestibular (que se aproximava feito uma condenação à forca). E quando eu passei numa faculdade perto de casa foi incrível demais.

Me lembro da minha formatura do ensino médio, quando peguei o canudo e olhei para os presentes. Hugo estava lá me aplaudindo, com o cabelo penteado para trás, camisa social branca, mais lindo do que nunca. Seus olhos brilhavam e ele parecia tão orgulhoso de mim. Senti meu coração bater tão rápido que parecia que ia sair pela boca.

O resto da minha família também foi na formatura. Meu pai sorria e olhava em volta, como se buscasse dizer para o maior número possível de pessoas olha lá, é meu filho mais velho.

Tati se formou no ensino médio também. Ela passou no vestibular também e estava radiante.

Foi um dia feliz e impecável. Na festa, dancei até o fim. E olha que só acabou perto do nascer do sol. Houve até um momento da madrugada em que Hugo segurou minha mão e começou a dançar comigo. Eu apenas ri e deixei que ele conduzisse a dança, sem me importar se achariam estranho. O encarei de perto e mais uma vez pensei em como ele estava lindo aquela noite, em como ele dançava bem e no seu hálito de trident verde. E sua mão estava na base das minhas costas, como se eu fosse uma garota. Eu amei cada segundo.

Fazer faculdade não era nada fácil. Consumia muito meu tempo e minha vontade de viver. Eu chegava em casa tarde, Hugo já estava dormindo. Ele saía cedo, quietinho para não me acordar. Quando ele chegava da aula, eu estava saindo. A gente só de via para valer nos fins de semana. Estava foda.

— Greg. – Ele acordou um dia, quando cheguei da aula. Como sempre, estava na minha cama, mesmo que eu não estivesse lá.

— Oi, Hugo. – Sussurrei, enquanto deixava a mochila na cama dele e tirava os sapatos com os próprios pés. – Desculpa, não queria te acordar.

Ele estendeu os braços para mim, sem abrir os olhos.

— Ainda tenho que tomar banho, Hugo.

Mas ele me olhou daquele jeito sonolento, meio enterrado no cobertor, com o cabelo no rosto e... Como eu poderia resistir? Deitei do seu lado e ele me abraçou. Colocou o rosto em meu peito, como gostava, e respirou fundo.

Apenas fiquei parado, esperando o sono chegar.

Com o tempo, acostumamos a dormir menos. Eu acordava mais cedo para tomar café com Hugo, ele dormia mais tarde para me esperar chegar. E aproveitávamos o fim de semana para cochilar à vontade.

Foi quando surgiu nosso habito de deitar no gramado do prédio. Deitávamos lá, debaixo da sombra da mesma arvore, um do lado do outro. Às vezes ouvindo música, outras com um cobertor... O objetivo era descansar e cochilar um pouco, fora da vista das crianças. Porém haviam dias que nenhum de nós dormia, então ficávamos olhando para as folhas acima de nós, balançando com o vento. Rapidamente virou mais uma tradição de nós dois.

Às vezes, quando Hugo dormia, se virava e me abraçava ou jogava um braço ou uma perna por cima de mim. No começo eu não liguei, mas com o tempo comecei a pensar no que achariam, se nos vissem assim. Não tinham porque achar algo, naturalmente, mas... Bom, eu sabia que outros irmãos provavelmente não dormiam assim. Só isso.

 

Meu presente de dezoito anos foi ganhar a carteira de motorista e a permissão de emprestar o carro do meu pai. Assim que tive permissão para dirigir, sequestrei Hugo e as meninas e fomos todos dar um role. Depois elas perto de casa e continuei dirigindo por aí, com Hugo do meu lado, de óculos escuros e o cabelo balançando pelo vento que entrava pela janela aberto. Quase enfiei o carro num canteiro, depois de me distrair com seu sorriso.

Nas férias, resolvi dirigir até a casa da nossa mãe e passar uns dias lá. Hugo iria comigo, é claro. O interessante é que Adassa também resolveu ir junto. E como estava absolutamente constrangida sobre tudo, arrastou Tati conosco. Nina ficou emburrada por horas quando soube que estávamos indo viajar sem ela.

A chácara continuava agradável e tivemos bons momentos lá. Adelaide estava passando as férias com o pai de novo e ficou amiga de Tati e Adassa numa velocidade impressionante. As vezes as três apenas ficavam sentadas juntas, na beira da piscina, fofocando sobre coisas que provavelmente, nem se eu quisesse, conseguiria entender.

Foi numa dessas ocasiões que eu resolvi ignorar um pouco a existência das três e boiar sem rumo pela piscina. Hugo tinha ido fazer alguma coisa para minha mãe, então eu estava sozinho por enquanto.

Relaxei por vários minutos, até a risada de Hugo indicar que ele tinha voltado. Levantei e acenei para ele, chamando para vir pra agua.

— Vocês não me esperaram! – Ele disse, falsamente indignado. Tirou a roupa de qualquer jeito e parou perto de mim. – A agua tá boa?

— Melhor impossível.

Hugo sorriu e pulou na piscina, espirrando agua para todo lado. Adassa soltou uma leva de palavrões, por ter seu cabelo molhado e eu simplesmente ri.

As horas passaram depressa e logo todo mundo estava cansado e tostado (exceto Adelaide, que havia se tornado uma espécie e camarão hipervermelho) .

Hugo sentou na beira da piscina e olhou na direção do sol, que já estava quase se pondo. E eu olhei para Hugo.

Vou deixar claro aqui, eu olhei para ele.

Hugo não era mais um menino, já era praticamente um homem. Quase tão alto quanto eu, mas certamente tinha ombros, braços e pernas mais notáveis, mesmo sento mais novo. Pura sorte genética, provavelmente, já que era tão sedentário quanto eu.

E mais do que isso, ele era um homem bonito. Eu sabia que ele era bonito, sabia que eu o achava bonito e que nos últimos tempos eu vinha percebendo cada vez mais. Mas dessa vez eu olhei para ele e reparei em pequenos detalhes que não tinha me dado conta. A forma como ele semicerrava os olhos poderia ser descrita como sensual. Os lábios entreabertos, mostrando os dentes da frente, como se esperassem para serem tocados por outros lábios. Quando ele virava o rosto daquela forma, dava para ver seu pomo-de-adão e o começo de barba que nascia em seu rosto, e eram lindos. Seu peito tinha alguns pelos ralos, mas conforme iam descendo, se afinavam e formavam uma trilha de pelos que levava a... Aquela maldita sunga preta molhada e ridiculamente justa, que ele deveria ter trocado há pelo menos dois anos.

O que eu estou fazendo? 

Respirei fundo e percebi que estava quente demais. Eu estava quente demais.

Senti vontade de chorar e sumir dali, de afundar e me afogar.

Felizmente ninguém estava olhando para mim. Consegui escapar e ir para um banheiro tomar um banho frio. E no banho, me deixei chorar, chorar para valer. Eu me sentia tão sujo e indigno de confiança de meu irmão e minha família. Como eu pude me permitir chegar àquilo? Como eu podia pensar numa coisa dessas com meu irmãozinho?

Demorei tanto para sair do banho que todos estavam preocupados.

— Greg, o que aconteceu? – Ele perguntou, colocando a mão em meu rosto, provavelmente para olhar para meus olhos inchados. Senti mais vontade ainda de chorar quando ele me tocou. Queria impedir Hugo de encostar em alguém errado como eu. Mas não chorei, nem me afastei.

— Eu passei mal. – Respondi, rouco. – Desculpa, não era pra vocês ficarem preocupados.

— Passou mal?

— Quer ir no hospital?

— O que você ta sentindo?

Foi claramente uma má ideia achar que eles relaxariam. Então desviei de todas as perguntas, resmungando coisas como “só preciso deitar um pouco” e fui para meu quarto.

De fato, eu deitei. Com a cara virada para parede, sem ter o que fazer com as coisas que rondavam minha consciência. Me lembrei de um dia, que parecia milhares de anos atrás, que foi como se a semente de algo tivesse sido plantada em mim. E então finalmente a semente estava germinando.

Talvez eu precisasse de tratamento psicológico. Eu deveria estar com alguma doença dessas na cabeça, que somente um bom psiquiatra curaria.

— Estou preocupado, Greg. Você não é de passar mal. – Hugo falou, me deixando levemente sobressaltado. Eu estava com a cara na parede e não tinha o ouvido entrar. – Quero que você melhore logo. – Ele colocou a mão em meu ombro. – De qualquer jeito, acho que vou dormir com você.

Ele ficou lá, esperando. Eu deveria me virar, para ele se aninhar no meu peito, como sempre. Mas continuei com a cara na parede, apavorado em fazer qualquer coisa além de respirar. De certa forma, cada segundo que fiquei de costas para Hugo doeu.

Mas ele era o Hugo, o meu Hugo, e é claro que não iria apenas se conformar. Então deitou e me abraçou assim mesmo, com o rosto em minhas costas, a mão na minha cintura e as pernas encaixadas nas minhas. Acho que deixei uma lagrima cair.

Eu me olhava no espelho do banheiro da faculdade com frequência. Estava sempre com um pouco de olheiras e parecendo acabado. Era bom poder usar minha expressão de morto-vivo livremente ali, já que em casa eu me esforçava para agir normalmente.

Faziam três meses desde o ocorrido na piscina e eu estava começando a admitir para mim mesmo, colocar em palavras, na minha própria cabeça: Eu sinto atração por ele.

Tentei levar as coisas normalmente, apesar do meu pequeno surto aquele dia. Disse para mim mesmo que ia ficar tudo bem, porque atração é uma coisa que acontece, inevitável, e dá se manter uma relação saudável mesmo assim. Um exemplo, amizade verdadeira entre homem e mulher heteros. Se isso existia, eu ainda podia ser um bom irmão, independente do que sentia.

Continuei minha rotina cansativa e meus fins de semana deitado na grama, ela lado dele.

Foi numa tarde de gramado que o celular de Hugo tocou. Ele pareceu feliz quando atendeu, até sentou para falar. Ouvi uma voz feminina do outro lado.

Imaginei se era alguma namoradinha e isso me fez ficar com raiva. Nenhuma namorada poderia ser mais importante do que nosso tempo de descanso. Mas Hugo falou com ela, e falou, e falou, e falou...

Eu sabia que não tinha sentido, que Hugo não era só meu, mas não podia evitar.

E, lentamente, a compreensão veio até mim.

Eu não me incomodava que Hugo tivesse amigos ou que desse atenção para o resto da nossa família. Me incomodava que ele arranjasse uma namorada. Eu não queria que ele ficasse com mais ninguém porque eu queria ficar com ele.

Respirei profundamente enquanto eu percebia uma coisa que já deveria ter visto há muito tempo. O que eu sentia. Aquilo não era uma simples atração, como se eu estivesse tendo uma paixonite repentina por ele. Era consequência de uma coisa que já existia, de nossa relação. Tínhamos misturado tudo, nos tornado algo perdido entre e a relação de irmãos e... Algo mais. Não envolvia só eu mesmo. Hugo também esteve lá comigo, o tempo todo. Dormindo ao meu lado, me priorizando, agindo muito como se eu só precisasse dele para viver.

E toda minha dificuldade em falar sobre mim mesmo, sobre o que eu sentia e o que gostava, tudo parecia vir daí. Talvez se eu admitisse que gostava de garotos, estaria mais perto de ter que admitir que em algum momento eu olharia para meu irmão e sentiria desejo por ele, já que eu me sentia... Apaixonado.

Eu fui estupido por não perceber ou não me deixei perceber?

Não me tranquilizou, notar isso. Pelo contrário, me angustiou mais. Porque eu era o mais velho, eu tinha arrastado Hugo para aquilo, eu era a influência ali. E ele teria que escolher entre dois caminhos, continuar com essa relação perturbadora, sem futuro nenhum, ou acordar para o que estava acontecendo e se afastar. Talvez, em consequência da segunda opção, em algum momento do futuro ele viesse a sentir nojo ou raiva de mim. E eu nem culparia ele por isso.

— Você anda pensativo demais. – Não tinha percebido que Hugo já tinha desligado o telefone, até falar comigo. Ele estava sentado, olhando para mim. – Faz um tempo. Estou ficando preocupado.

— Ando? – Me virei de lado para encarar ele.

— Mais do que o normal. – Hugo passou a mão no meu rosto e eu fechei os olhos. – E olha que você sempre foi bem quieto.

— Desculpa por isso.

— Nunca se desculpe por quem você é, Gregório. – Ele disse baixinho, voltando a deitar do meu lado, sem tirar a mão do meu rosto. – Nem pelo que você faz, se não for nada de errado, claro.

Fiquei pensando nisso um pouco. Queria colocar minha mão em seu rosto também, mas preferi limitar o contato.

— E se eu não gostar de quem eu sou, faço o que? – Perguntei.

— Você não pode não gostar de quem você é, Greg, porque você é o cara mais incrível que existe. – Eu estava de olhos fechados, mas tinha certeza que ele sorria. – Eu gosto muito de você, então... Por favor, seja você sempre.

Eu ri disso e ele ficou um pouco mais animado.

Notei que eu tinha sorte dele ser meu irmão. Porque mesmo quando as coisas desandassem, e as coisas iriam desandar em algum momento, a gente ainda seria família.


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Notas finais do capítulo

Comentem, comentem, comentem! Nem que seja um "não para de postar, porra"
Quem comentar vai ganhar um webbeijo na testa, hein!
~casos de familia, caso de hoje: vendo beijo na testa por comentário na internet

É sério, gente. Valeu por lerem. Um abreijo para todos!



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