Hugo escrita por Rossetti


Capítulo 3
Três


Notas iniciais do capítulo

Oi gente!!
Então... Demorou o capitulo, justo depois de eu prometer que não demoraria, porque eu sou uma pessoa falha. /drama
mas a real é que o trabalho ta me consumindo, eu to doente, tendo insonia e escrevendo milhares de coisas ao mesmo tempo, as vezes me sinto um robozinho pifando.
Mas ta aqui o capitulo e vou tentar arranjar alguém pra me ameaçar de morte pra que eu não atrase de novo. ;-;



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/715287/chapter/3

Eu me sentia uma babá aos sábados. Tati e Adassa davam um jeito de sair, sempre davam. Então eu ficava olhando Nina e Daniel, meu priminho de poucos meses. Hugo me ajudava (se é que dava para chamar de ajuda ele ficar tentando assustar Nina).

Não era exatamente ruim, mas as vezes eu tinha vontade de fazer coisas de adolescente e não tinha muitas opções. Dressa e Paulo saíam juntos e ficava aquele climão, onde eu estava claramente sobrando, mesmo que eles não estivessem namorando de verdade. Então eu não tinha ninguém da minha idade com quem sair.

Às vezes eu abria o celular (lembram dos celulares de flip? Eu tinha um prata, me sentia tão descolado abrindo e fechando aquilo) e olhava os números dos meus colegas. Talvez eu devesse ligar para algum deles. Certamente Fabio ou Vanessa sairiam comigo. Ou Nicolas. Não, eu não podia chamar Nick, ele era meu crush (embora na época eu não usasse essa gíria) e eu ainda estava tentando a coisa de não ser gay.

— O que você tá fazendo?

Hugo tinha chegado de repente e me pegado no meio de um devaneio. Fechei o celular depressa e enfiei no bolso de trás da calça.

— Olhando o Daniel. – Falei, apontando o berço.

— O Daniel tá no seu celular? – Hugo deu um sorrisinho malandro.

— Sai fora, Hugo. – Peguei a colher e roubei um pouco do seu sorvete.

— Então me diz o que você tá fazendo. – Ele tentou pegar o celular do meu bolso, mas desviei. – Estou curioso!

— Eu estava pensando em ligar pra alguém. Caramba, Hugo! – Falei a verdade, para que ele desistisse logo.

— Alguém? Você tá de namoro? É alguém da sua sala?

— De que importa quem é? E eu não tô de namoro, eu sou um fracasso amoroso, todo mundo sabe disso. – Declarei, pensando em como eu aceitava passivamente as rasteiras que a vida me dava. Passei uns segundos me afogando na minha autopiedade de adolescente inseguro, até que lembrei que Hugo ainda estava ali. Ele me olhava com aqueles olhões esverdeados, como se nada do que eu tinha acabado de falar fizesse sentido.

— Você sabe que... Tem um monte de meninas que te acham bonito, né? – Ele perguntou com a colher na boca, assim que meu pequeno surto passou. – Da nossa série, umas mais novas, até uma menina do terceiro, aquela de cabelo vermelho.

Foi minha vez de ficar confuso.

— Que meninas? Por que você acha isso?

— Greg, elas vem perguntar para mim se você está solteiro, fofocam sobre isso toda hora.

Eu estava meio em choque com essa informação.

— Como você... Tem certeza? Talvez estejam me confundindo com...

— Greg. – Ele tirou a colher da boca. – Você não acha realmente que é feio ou desagradável, né? – Hugo me perguntou, muito sério. Como não respondi, ele enfiou mais um monte de sorvete na boca e olhou para o lado, com uma expressão indefinível, só voltou a falar quando conseguiu engolir todo o sorvete. – Greg, não tô falando porque você é meu irmão, só que você é o menino mais bonito que já vi. E olha que tem um monte de meninos bonitos na nossa escola. Aquele seu amigo, Nicolas...

Acho que fiz uma expressão muito estranha, porque Hugo parou de falar.

Foi estranho começando pelo fato de que Hugo conseguia apenas comentar livremente sobre garotos serem bonitos, enquanto outros meninos da idade dele faziam total questão de afirmar que jamais achariam outro homem bonito. E ficou pior por ele ter mencionado Nick. Todo mundo sabia que Nick era lindo, mas... Why, God?

— ...Nem ele é tão bonito. – Hugo completou a frase, mas parecia fora do ar. – Eu vou ver o que Nina tá fazendo. – Ele se virou. Eu nunca tinha me sentindo tão fora de sintonia com Hugo, até aquele momento. Eu não fazia ideia do que se passava em sua cabeça. Senti vontade de segurar ele ali e perguntar, mas perguntar o que?

Passei a mão no rosto. Tinha algo errado. Era como se uma pequena semente tivesse sido plantada em meu peito e eu não soubesse o que nasceria dali, apenas que era estranho e deslocado.

Naquela noite, antes de dormir, depois de repensar em tudo isso muitas vezes, decidi que ignorar aquele peso estranho era o melhor remédio. Não que ignorar estivesse dando certo, vejam minha homossexualidade mal varrida para debaixo do tapete.

Mas funcionou. Eu esqueci essa sensação estranha por meses.

Com quinze anos, beijei um cara.

Eu nem sabia o nome dele. Foi numa festa e foi só um beijo roubado, mas foi incrível. Foi quando comecei a pensar em sexo para valer.

É claro, antes disso eu já tinha me divertido com umas revistas no banheiro, quando estava sozinho em casa. Mas depois de beijar outro cara, eu queria fazer de verdade, saber como era estar com outra pessoa, se era mesmo tão bom quanto diziam.

Ficou ainda mais difícil esconder da minha família que era gay. Aliás, eu já não tinha certeza do porquê não contava para ninguém. A insegurança já não era um problema tão grande. E não era como se fossem arrancar minha cabeça (eu esperava). Provavelmente as meninas já desconfiavam. E Hugo... Não sei. Era estranho pensar nisso e em Hugo, como se eu ser gay e irmão de Hugo não pudessem coexistir. Não quero ser uma decepção, expliquei para mim mesmo, cada vez que percebi que aquilo era ridículo e incoerente.

Mas mesmo assim, planejei falar para eles todos no dia da verdade.

Ah, sim. Não mencionei o dia da verdade até aqui. É uma tradição de família, dessas que não se sabe exatamente como começou e não se tem intenção de acabar. Todo ano, no mesmo dia, fazíamos um jantar espetacular e sentávamos para comermos juntos. Então um a um contávamos uma verdade pessoal, algo que guardamos dentro de nós. Sinceridade com a família é importante para continuarmos unidos, minha vó sempre disse. Às vezes vinham verdades bombásticas que geravam debates e até, ocasionalmente, brigas. Mas o mais comum era apenas aceitar e lidar com isso ou, pelo menos, guardar sua opinião para o dia seguinte.

Mas ainda haviam alguns meses até lá e eu tinha outras preocupações na cabeça: Já estava no ensino médio e não fazia a menor ideia do que fazer quando acabasse a escola. A maioria dos meus colegas já tinham certeza, faziam simulados, se aprofundavam nos assuntos, enquanto eu só... Vegetava. E a preocupação só aumentou depois que tivemos uma palestra sobre quais carreiras seguir. Eu ainda tinha mais de um ano para decidir, mas o tempo estava passando rápido demais.

Cada pessoa da minha família tinha uma opinião sobre isso e nenhuma delas parecia boa para mim. Aos poucos isso estava me incomodando mais e mais.

— Você não tem que ficar o tempo todo preocupado com isso. – Hugo entrou no quarto comento um pedaço de maçã. Era quase meia noite e eu estava sentado na minha cama, pensando, há vários minutos.

— E como você sabe o que estou pensando? – Perguntei, sorrindo um pouco e passando o braço por seu ombro. Era engraçado, Hugo estava alto e com os ombros mais largos, um homenzinho fofo. Nos últimos dois anos parecia que ele tinha comido fermento. Mais um pouco e ele ficaria do meu tamanho.

— Eu sempre sei no que você tá pensando, Greg. – Seu cabelo fez cocegas no meu pescoço de um jeito bom. Ele estava cheirando shampoo.

— Mentira.

— Verdade. – Ele insistiu. – E acho que um dia você vai saber tudo o que penso, também.

Eu ri disso e beijei seu cabelo. Hugo enfiou o que sobrou da maçã na minha boca e voltou a falar.

— Não se preocupe tanto com a faculdade. Você pode achar um emprego, quando sair da escola. Se ficar nervoso assim, vai acabar se matando antes de chegar o ano de vestibular.

Engoli e maçã e espirei fundo.

— Você tá certo. – Admiti, apesar de ainda me sentir pressionado. – Obrigado.

— Eu sempre tô certo. – Hugo lambeu os dedos. – Eu te amo.

Fui pego de surpresa. Não era tão comum assim, ele falar de amor, embora não chegasse a ser totalmente incomum. Eu só não esperava por essa, naquele momento. Acabei falando um “aawwn” e o torturando com cocegas. Quando acabamos de rolar pela cama feito uns loucos, Hugo me abraçou da forma que gostava e parou para recuperar o folego. Fiquei passando a mão em seu cabelo macio e apreciando como era confortável estar ali. Eu não gostaria de estar em mais nenhum lugar no mundo que não fosse ali, abraçando meu não-mais-pequeno Hugo.

— Ei. – Abri os olhos e percebi que Sonia tinha entrado no quarto. Ela estava com as sobrancelhas levantadas, sem saber se sorria ou não. – Vocês dois, dois homens feitos, ainda dormindo agarrados. Não acredito que ainda não perderam essa mania!

— Não estamos dormindo. – Justifiquei, rindo. Apesar disso, realmente dormíamos juntos toda noite. Eu não tinha reparado se mais alguém além de nós sabia que ainda fazíamos, porque, bom, não era nenhuma segredo. Não tinha porque ser.

— Aham, aham. – Sonia grudou Hugo por debaixo do braço e ficou surpresa por não conseguir levanta-lo. Segurei para não rir alto. – Chispa pra sua cama, Hugo!

Meu irmão levantou resmungando e foi até a própria cama. Sorri e o segui com os olhos. E quando olhei para Sonia, pensei ter visto uma expressão carregada em seu rosto. Mas logo ela estava de volta ao seu humor brava/divertida.

— Vou apagar a luz porque já tá tarde e não quero ninguém indo para a escola amassado amanhã.

Quando acordei na manhã seguinte, Hugo tinha voltado para minha cama. E babado em mim.

 

 

Nas férias do meio desse ano baixou alguma coisa estranha em mim e resolvi ir passar alguns dias na casa da minha mãe. Mesmo anos depois, eu não sabia o que me fez resolver ir lá.

Hugo foi comigo. Adassa se recusou. Achei engraçado, já que ela era louca pela minha mãe, quando criança.

Foram algumas horas viajando. Ela morava numa fazenda com a nova família dela. E fiquei meio surpreso por ela ter nos recebido bem lá, depois de ter nos deixado com tanta facilidade.

Minha mãe era meio branca. Não a branca mais branca do mundo, mas bem... Ela tinha os olhos castanho-esverdeados, como Hugo. Ou Hugo tinha os olhos como ela. Era estranho associar uma coisa à outra, porque Hugo era tão importante para mim e ela era minha mãe, mas... Rolava um sentimento meio vazio ali.

E o marido dela, Gerson, era definitivamente branco. Loiro e tal. Ele tinha uma filha, a Adelaide. Achei eu ela seria um pé no saco, mas gostei dela. Acabamos passando boa parte das férias na piscina e subindo em arvores.

Apesar de toda a coisa estranha com minha mãe, valeu a pena.

No último dia em que eu ficaria na casa deles, Gerson me pediu ajuda com o site dele. Eu não fazia ideia do que estava fazendo, na verdade, mas me diverti. Eu nunca tinha gostado muito das aulas de informática, sempre tendo que fazer exatamente o que o professor queria, e nem era o tipo de cara que ficava na frente do pc direto, mas me passou brevemente pela cabeça que não seria ruim trabalhar com isso.

Quando voltei para casa, pesquisei mais sobre o assunto.

E quando chegou o dia da verdade, estava planejando como falar com minha família sobre o lance gay, mas no último segundo abri minha boca e:

— Estou pensando que trabalhar com computação deve ser bem legal. Talvez eu faça algo assim.

Todos olharam para mim. E então começaram a falar sem parar sobre achar bom ou ruim. Tati achou que eu mudaria de ideia logo e Adassa comentou que computação era um tédio e combinava comigo porque eu era um chato esquisito. Busquei o olhar de Hugo e ele sorria, com o polegar levantado, num sinal de okay. Encolhi os ombros e sorri depois.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gente, comentem por favor. Comentários são lindos e felizes. Sei que estou merecendo ser chutada por não saber cumprir a porra de um prazo, mas sejam bonzinhos comigo, pldds. ;-;