Hugo escrita por Rossetti


Capítulo 14
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

Mds, esse é mesmo o fim! Eu nem posso acreditar que depois de um ano eu realmente consegui!
Queria me desculpar pela demora. Meu word ficou maluco e meu kms parou de funcionar, foi meio complicado pra eu descobrir COMO ABRIR O ARQUIVO. Eu queria explodir a caralha toda, não conseguia escrever, nem copiar, nem salvar... Dor e sofrimento.
Mas enfim, sigo sem word, porém utilizando agora de outros meios.
Espero que aproveitem o fim. Eu não sei criar clima de fim, mas... É isto.



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Parte 1

 

Hugo estava parado, olhando lá fora pela janela. Essa era uma posição que pertencia a seu pai ou a Gregório, até porque o mais novo era, em geral, agitado demais para fazer isso. Mas a apatia que tomava conta do rapaz permitia que ele pudesse ficar horas parado, sem olhar para nada em particular, com uma expressão ilegível.

Sonia vinha uma vez por dia, naquele tempo que parece ter durado muito mais do que realmente durou. Ele afagava o cabelo de Hugo e perguntava se ele não queria ir para casa. A resposta era sempre a mesma.

— No que você está pensando? – Ela perguntava baixinho. Estava decidida a não deixar mais que seus filhos permanecessem em silêncio demais. Sonia estava convencida que isso era culpa inteiramente sua. E apesar de Hugo sempre ter sido mais acessível, agora ele permanecia calado. Isso era assustador. Durante muito tempo ela tinha observado a falta de Hugo desestabilizar Gregório e agora o inverso estava acontecendo. – Hugo?

Ele encarou a mãe com aqueles olhos esverdeados. Estava irritado, como se a censurasse por estar preocupada com o filho errado. E provavelmente não tinha superado o pequeno desentendimento do outro dia. Ele então se mudou para a cadeira perto da cama.

Sonia não podia culpá-lo, nem mesmo se impedir de ficar ainda mais triste. Ela só queria que todos ficassem bem. Estava com medo e deprimida, não era como se existisse um manual de instruções para lidar com essa situação. No entanto Hugo estava passando por algo ainda mais difícil, então ela não precisava aborrecê-lo por isso.

— Você quer que eu traga alguma coisa para você? – Ela perguntou.

Mais uma vez Hugo não respondeu. Então ela resolveu deixá-los sozinhos. Sonia não estava bem com isso, mas... Não era com se alguém de sua família estivesse bem.

— Mais tarde seu pai disse que vem para ficar um pouco com ele. Você devia ir para casa, descansar um pouco. – Ela disse, antes de ir embora.

Hugo sentiu raiva. Raiva dela, de seu pai. Do universo inteiro.

Às vezes ele sentia vontade de poder quebrar tudo, acabar com toda a existência, todos os conceitos, desmontar o mundo com pura violência, porque somente assim todo o rancor de todas as pequenas coisas ruins que guardava dentro de si seria compensado. E quando o mundo estivesse em pedaços, o remontaria sob o comando de Greg, e juntos fariam um lugar no qual onde pudessem viver.

Mas isso era só uma fantasia que mantinha em sua cabeça desde garoto. E que agora não seria possível. Como remontaria o mundo sem Greg? Ele ficaria perdido, desorientado. O mundo não teria gentileza, não teria charme, não teria ternura.

Desmontado ou não, o mundo não era nada sem Gregório Guerreiro.

O rapaz passou as pontas dos dedos suavemente pelo rosto do irmão. Greg precisava acordar, precisava voltar para ele, nem que fosse para serem apenas irmãos pelo resto da vida. Se esse era o preço para tê-lo de volta, que seja. Dois meses atrás Hugo teria dito que a pior coisa que poderia acontecer era ter de viver ao lado de Greg sem nunca estar com ele de fato, mas agora vendo-o na cama, nem morto ou realmente vivo, se sentindo pagando caro demais pelos seus pensamentos.

Hugo estava cansado. Gostaria de deitar na cama e esconder o rosto no peito do irmão, se sentir protegido de tudo que machucava. Mas sendo impossível, apenas apoiou o queixo na beirada da cama, pertinho de Greg, onde podia sentir seu calor. E adormeceu.

 

—-

 

Quando Hugo acordou, seu pai estava no quarto.

— Vá pra casa, Hugo. Durma uma noite numa cama confortável, amanhã você volta. – Ele disse, se aproximando um pouco do filho.

— Eu não vou deixá-lo. – O rapaz resmungou, esfregando o rosto.

O homem suspirou, mesmo que já esperasse aquela resposta.

— Eu vou estar aqui com ele, okay? Greg não vai ficar sozinho.

Hugo pensou sobre isso. Seu pai era o único que nem por um momento duvidava. Talvez fosse por causa da culpa, mas ainda assim era o mais presente. Não que o resto da família estivesse fazendo algo de errado, mas depois Hugo podia ver a dúvida em seus olhos, assim como o medo de estar prolongando algo que não tinha jeito.

— Você vai conversar com ele? – Perguntou, de forma infantil. Mas não se sentiu envergonhado. – Eu estava atualizando ele sobre os seriados que vemos juntos.

— Vou contar para ele todas as notícias atuais. – O homem garantiu. – E lembrar as histórias antigas. Aposto como ele vai adorar lembrar de quando você ficou entalado no penico ou coisas assim.

Hugo sorriu, seu pai também, ambos exaustos demais de sentir apenas tristeza. Então ficaram se olhando, calados, um dando apoio ao outro em silêncio. Ambos já tinham tomado atitudes desaprovadas pelo outro, mas ainda eram uma família e se amavam. Sabiam que a prioridade era esperar pelo momento que Gregório acordasse do coma e que manter a paz era o melhor para Greg naquele momento.

Talvez por estar pensando no assunto, o mais velho disse:

— Sonia me contou que você está ressentido com ela.

— Eu não estou ressentido. – Hugo se levantou e colocou sua jaqueta. – Só irritado. Eu sei que ela... Vai passar, pai.

— Eu sei. Mas não seja tão exigente com ela. – Suspirou.

— Não tenho o direito de sentir raiva? – O rapaz alcançou a mão de Greg, sem tirar os olhos do pai. – É uma bobagem que me tirou do sério. Ela não devia fazer drama. Eu... Estou cansado.

— Eu sei, filho.

— E quando Greg acordar vamos ficar bem. Eu não vou guardar rancor por nada.

— Eu sei disso também.

— Pare de dizer que sabe das coisas.

— Me desculpa. – O homem colocou uma mão no ombro do filho. – Quando tudo isso acabar, vamos estar bem. Mas enquanto estamos no meio da tempestade, vamos buscar nos manter juntos. Se nós dois podemos ficar em paz, depois de tudo, podemos lidar com qualquer um dos nossos.

Hugo fechou os olhos e suspirou.

— Tudo bem. – O rapaz esfregou o rosto com a mão livre. Sua outra mão ainda segurava a de Greg, com os dedos suavemente entrelaçados, embora o rapaz sentisse quase como se o irmão apertasse de volta.

Ele se virou para beijar a testa de Hugo, como despedida.

E arfou profundamente quando encontrou os olhos de Gregório abertos.

— Deus...! – Seu pai exclamou, correndo para chamar uma enfermeira.

Hugo não se mexeu a princípio, em choque. Então se inclinou na direção de seu irmão, o amor da sua vida, já chorando pela alegria de saber que ele estava voltando.

 

—-

 

Parte 2

 

Eles não tinham falado do assunto até ali. Hugo estava presente no quarto de Greg quase todo o tempo durante sua recuperação, mas eles ainda permanecia preso na garganta do irmão mais jovem. Talvez nem houvesse o que falar, Gregório tinha sido muito claro naquela noite.

— Eu preciso de comida de verdade. – Greg reclamou, num jantar, depois que o irmão o ajudou a tomar a sopa rala do hospital.

— Eu prometo que assim que você puder comer à vontade, vou comprar uma pizza inteira para você. – Hugo sorriu como se pedisse desculpas.

— Isso é cruel. – O rapaz fechou os olhos e virou o rosto. Hugo entendeu como um sinal de que o irmão não comeria mais. – Eu estou cansado.

— Eu sei... Greg. – O mais novo respirou fundo. Por um momento não chamou o irmão de amor. Em seu cabeça era sempre assim, mas na realidade estava em um lugar desconhecido no relacionamento dos dois.

Um longo momento se estendeu, no qual Hugo podia jurar que o outro dormiu. Não era tão incomum, estava sempre num estado sonolento.

— Ei. – Gregório sussurrou de repente. – Eu sei que vocês disseram que agora, depois do que houve... Eu vou ter que fazer terapia de qualquer jeito. Mas eu queria te falar... – O rapaz abriu um pouquinho os olhos. – Eu faria se fosse opção, sabe, depois que eu quase...

— Greg... – Hugo colocou uma mão no rosto dele, suavemente. – Você não precisa pensar nessas coisas agora. Tudo o que você passou... Não se cobre, sabe?

— Eu preciso falar disso. – Greg se arrumou de forma que pudesse ver melhor o irmão. – Eu não vou mais perder para o medo, Hugo. Eu juro.

— Tudo bem, Greg.

— Não, isso é sério. Eu falei coisas horríveis. Eu até te disse pra ir embora. Que estupidez. Eu tentei terminar com você. Então, se você puder me perdoar... Eu me sinto tão idiota, Hugo.

Aquilo foi um alívio para Hugo. Então ele tomou a mão do irmão entre as suas e beijou seus dedos suavemente.

— Como se eu fosse desistir fácil assim. – Hugo sussurrou, conseguindo tirar um sorrisinho de Greg. – E você não é um idiota. De qualquer forma, quem tem que se desculpar sou eu. Eu não fiz nada... Eu não consegui fazer nada.

— Você foi o melhor que pôde.

— E o melhor que eu pude não foi o bastante. – O rapaz passou o polegar nas costas da mão do irmão. – Então agora eu juro fazer mais do que o melhor que eu puder.

Greg sorriu e fechou os olhos.

— Podemos recomeçar em algumas coisas então. É nossa segunda chance.

— Sim. – Hugo encarou Gregório com adoração. – Vamos com tudo agora.

 

—-

Parte 3

 

 

— Eu não vou mais andar? – Gregório perguntou, exausto.

Tudo era cansativo, a recuperação, a coisa envolvendo os agressores, os médicos indo e vindo, estar fora de casa. E agora essa notícia. Não que Greg tivesse grandes esperanças quanto ao movimento de suas pernas, percebeu muito logo que havia algo de errado, mas ainda as sentia e não conseguir andar nunca mais era muito pior do que previu. Mas estava tão cansado que mal podia ficar triste.

— As chances são pequenas. – O médico poderia ter ao menos fingido que se importava mais.

— Então ele pode conseguir? – Sonia perguntou.

— As chances são pequenas. – O senhor apenas repetiu.

Gregório estava feliz que fosse um dos poucos momentos em que Hugo não estava presente. Provavelmente o irmão mais novo teria se irritado com o médico.

— Bom, se existe uma chance... – Gregório fechou os olhos. Não era como se estivesse otimista, mas não tentar não era exatamente uma opção.

— Você vai conseguir. – Sonia completou o pensamento, afagando o cabelo do rapaz. Ele não se sentia nem um pouco mais confiante, mas concordou com a mãe mesmo assim.

 

—-

 

Parte 4

 

Gregório estava cansado, frustrado e não aguentava mais as terapias, fosse qual fossem. Havia dias em que se recusava a falar com todos, até mesmo com Hugo. Não era proposital, só estava estressado e precisava de espaço, mas de repente todas as pessoas se recusavam em deixá-lo sozinho um segundo que fossem e, por favor, que exagero. Ele estava grato e puto com toda a sua família.

— Você precisa de amigos. Que não sejam de seu ambiente familiar. – Um dia o psiquiatra dizia.

Mas já não era tão íntimo de Dressa e Paulo, seus únicos amigos além de... Bem, havia dias que pensava em Melissa. Provavelmente nunca mais a veria. Quando Greg acordou obviamente o número dela havia sido lavado de sua mão e ele nunca teve a chance de entrar em contato. Era uma pena, ele realmente queria ter amigos dessa vez. Tinha se imaginado, ele não sabia se num momento de consciência ou inconsciência, indo com a turma de Nick e Melissa a um bar, com Hugo a seu lado. E, bem, iriam de carro, em grupo, de forma a não ter perigo nenhum.

Sempre que seus pensamentos rondavam o acontecido, Gregório imediatamente focava em outra coisa. Se necessário, não encararia o que aconteceu jamais, embora seu psiquiatra não aprovasse esse tipo de fuga.

 

De qualquer forma, numa tarde de volta à sua casa, Greg estava sentado no sofá, desconfortável por estar a muito tempo na mesma posição. Mas essa era sua vida agora, aparentemente. Mesmo a Netflix, quando se fica o dia todo sentado ou deitado, sem opção, é entediante.

Naquela manhã Hugo tinha saído, para piorar. Greg já gostaria que o irmão voltasse logo. Ao menos para sentir seu cheiro ou deitarem juntos, abraçados, com a respiração fazendo cócegas no outro.

Felizmente o mais novo voltou antes que Gregório virasse uma múmia de tédio.

— Ei, Greg. – Ele disse assim que passou pela porta. Então se aproximou por trás e beijou o cabelo do irmão. Greg fechou os olhos, definitivamente mais animado. – Um amigo antigo seu me mandou mensagens falando que tentou entrar em contato com você, mas você não respondeu.

Gregório olhou em volta. Seu celular deveria estar perdido entre as almofadas do sofá, provavelmente sem carga.

— Eu não tenho amigos antigos. – Greg falou baixinho, resistindo à tentação só de dizer que não tinha amigos.

— Que pena. – Hugo suspirou e olhou para a porta, uma direção que estava fora do campo de vista de Greg. – Então vou ter que mandar esses caras embora?

Gregório precisou se virar no sentido contrário para ver. E seu queixo caiu.

Parados na porta estavam Nick e Melissa. A garota tinha o maior sorriso do mundo.

Parecia que Greg tinha feito amigos, sim.

 

—--

Parte final

 

 

Três anos se passaram rápido demais, olhando para trás. Mas Gregório se lembrava de todos os dias que levaram uma eternidade para terminar e estava grato por finalmente ter saído da tempestade.

— Estamos oficialmente mudados. – Hugo declarou, com um orgulho obvio, após entrar com as últimas caixas no apartamento. Greg veio atrás, com sua bengala.

Não podia andar normalmente, não havia qualquer chance de correr sem acabar caindo. Não havia solução para isso. Mas estava andando. Para quem presenciou um bom tanto de ceticismo sobre conseguir voltar a caminhar, era uma vitória e tanto.

Gregório trancou a porta atrás de si. Mesmo durante o dia, mesmo que o prédio fosse seguro, sempre trancava a porta. Sempre. O mundo era perigoso, as pessoas machucavam umas às outras.

Mas não era momento para se prender a isso. Agora sua vida seria: Ele, Hugo e seu lar doce caos de caixas de mudança.

— Bem-vindo à nossa casa, Gregório. – O mais novo disse, solenemente, colocando as coisas que carregava numa pilha.

— Você não me carregou pela porta, estou decepcionado. – Greg brincou, cutucando uma caixa com a bengala.

Hugo deu uma risada gostosa e se aproximou, como um gato cercando sua presa, os olhos esverdeados cheios de maldade.

— Posso te carregar até o quarto.

— Nossa cama ta desmontada. – O mais velho lamentou, colocando uma mão na cintura do irmão.

— Ainda temos o colchão, não? – Hugo perguntou, já colando os lábios nos de Greg.

Gregório não tinha argumentos para retrucar com o irmão (e mesmo se tivesse, não os usaria).

Eles se beijaram e a bengala caiu no chão quando Hugo ergueu Greg para leva-lo para o quarto.

 

 

✧ ✦ FIM ✦ ✧

 

 


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Notas finais do capítulo

Eu queria agradecer, pela milésima vez, a todos que me acompanharam até aqui. E que, principalmente, acompanharam a vida de Greg e Hugo. Foi uma coisa tão importante, ah ♥
Sem vocês, leitores, eu teria desistido. Voces sabem, houveram momentos em que a motivação estava a zero e eu passava tanto tempo sem nem ter coragem de encarar esse texto no word, mas um comentário, um pedido, um pouco de interesse... Sla, a força de escrever vem disso muitas vezes. Nunca subestimem o poder de um comentário. Vocês são puro amor. Eu espero que continuem comigo, que acompanhem o que mais eu postar... Estou torcendo para isso. ♥

E para quem chegou até aqui, gostaria de fazer duas perguntas.
Bem, eu queria escrever um especial com o Hugo narrando em primeira pessoa algum momento ou outro da história. O ponto de vista dele. E queria saber se é uma boa ideia, sla. O que vocês acham?
E, se caso tiverem interesse, se acham que seria melhor um capitulo a mais ou que seja postada como uma one.

Eu to muito feliz de ter chegado até aqui. E só tenho a dizer agora: Um abreijo para todos. ♥

Rossetti,
03/10/2017