Damned escrita por IS Maria


Capítulo 9
A conversa


Notas iniciais do capítulo

Eu trouxe de volta essa história, depois de muito tempo.
Eu não faço ideia se estou me saindo bem, ou se a história está interessante, porém, fico feliz em ver certa agitação por aqui.
Fazia tempo que eu não me sentia dessa maneira.
Ps: Nos livros, Caius tem 40 anos, nos filmes ele tem 20 e poucos então eu o coloquei aqui como o meio termo dos dois (20-30 anos).
I.S MARIA



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Olhou para suas mãos, ainda sujas de sangue e para o estranho que se escondia nas sombras. Seu corpo doía como não doía a muito tempo. Parecia estar passando pela dor da transformação novamente.

“Não deixe que te controle.” A voz dele ecoou. Ia e vinha junto ao vento, como em um sussurro alto. Era como se ele estivesse longe e então, não tão longe.

Ela não soube de onde veio, não sabia mais onde ele estava.

“Não é maior do que você.” Ouviu-o mais uma vez.

Será que ele sequer sabia do que falava? Será que ele já havia sentido o que ela sentia? Estava sendo devorada vida. De dentro para fora.

Kate se abaixou, escondendo o rosto entre as mãos. Era como se todas as forças da gravidade desejassem a arrastar de volta. Afundou os dedos nos lábios. O sangue já estava seco, mas o sabor ainda estava ali.

Se ela pudesse ter apenas um pouco mais…

Gritou. Mas seu grito foi abafado por ele que, saindo de onde quer que estivesse escondido, cobriu sua boca com a mão. O corpo de Kate se contorcia, mas, ele a manteve quieta.

Ela não tinha ideia do quanto, de fato, era forte.

— Quem você é? — A voz dele era tão diferente.  Seu corpo parou ao ouvi-lo contra seu ouvido. Kate não soube o porquê, mas seu corpo o obedeceu.

Como se despertasse, tomou consciência de quem era e do que pretendia fazer. Os pensamentos que tinha, a vontade que crescia, nada daquilo fazia parte de quem ela era, de quem ela queria ser. Ela tinha conhecimento da parte de si que tinha sede, no entanto, nunca havia a silenciado daquela maneira. Nunca tinha sido mais forte.

— Quem sou eu? — Kate respondeu. Sua voz soou arrastada, como quem nadou por horas e perdeu o fôlego. — Acredito que sou eu quem deveria estar perguntando isso.

O cheiro dele era diferente. Nada que conhecesse, nada que já houvesse sentido. Um diferente bom, um diferente suficiente para a fazer esquecer, por segundos, contra o que lutava a pouco.

— Eu sou aquele que a impediu de matar alguém esta noite. — Ele a soltou. Jogando-a contra uma das árvores, quase como se a jogasse fora.

Não tinha o que argumentar. Ela teria matado o garoto. Se ele não tivesse aparecido, ela não teria pensado antes de o matar.

Kate se virou, procurando por um rosto. Ele havia sumido novamente. No entanto, ela sabia que ele ainda estava por perto, ela podia sentir sua presença, tão forte e intensa que não poderia ser ignorada.

— Corajoso para alguém que não quer mostrar o próprio rosto. — Kate não fazia questão de medir suas palavras. Era uma provocação e ela sabia disso.

— Corajosa para alguém que não sabe o que vai encontrar. — E ela não sabia. Mas tinha uma ideia.

— É você quem está caçando, não é? Matando aquelas pessoas. — Ela foi tomada em ansiedade.

— Não. — A resposta que veio dele, soou como se ele se divertisse. Ela podia o sentir na pele.

— Você é o único vampiro que não é daqui. Tem que ser você. — Mas ela não tinha certeza.

— E se eu não for o único? — Ele veio e ela o viu. E então desapareceu.

Ele era rápido, mas os olhos dela não o deixavam. O corpo de Kate parou e o veneno encheu sua boca. Ele se movia feito sombra, por entre as árvores, cercando-a por completo. Ela podia o sentir em suas costas, ao seu lado e à sua frente. O cheiro dele variava, tornando-se mais próximo e distanciando-se.

Kate fechou os olhos por alguns segundos, esperando ser o suficiente para manter o foco.

Ele era hipnotizante.

Pôde o sentir tão perto que, não parecia haver mais nada. Kate temeu abrir seus olhos mais uma vez, mas a curiosidade a venceu. Ele estava bem ali, tão perto que ela poderia o tocar.

Os olhos dele a prendiam e o corpo dela foi tomado em eletricidade.

O rosto dele era incrivelmente familiar. Era impossível que ela o conhecesse, podia se lembrar de cada um dos rostos que já tinha visto, vividamente, e ele não era um deles. No entanto, era como se tivesse visto seu rosto em algum lugar.

Sua pele era tão branca que Kate podia jurar ser translúcida, semelhante à pele da cebola, fazendo com que suas veias trouxessem um mosaico interessante ao seu rosto. Seus olhos eram vermelhos, porém, eram escuros, nebulosos e leitosos, diferentes dos dela. Os cabelos dele eram sedosos e claros, tanto que refletiam a luz da lua e caíam, graciosamente, na altura de seus ombros.

Ele era bem mais velho, talvez em seus longos vinte para trinta anos e bem mais alto do que ela. Sua graciosidade não parava em seus cabelos, ela podia sentir a elegância em sua essência. Ele era intimidante e imponente.

— Olá. — Ele sorriu.

As pupilas de Kate se dilataram e ela correu a língua contra seu lábio inferior, deixando-o úmido. Será que ele esperava que ela dissesse alguma coisa? Ela havia se esquecido completamente do que pretendia falar.

— Eu...deveria voltar. — Ela se sentiu confusa, mas parte de si dizia-a para sair dali, ainda que o resto desejasse ficar. Ela foi para longe, rapidamente, mas ele era tão rápido quanto. Ele se movia de maneira que parecia flutuar, sem tocar o chão.

— E você conseguiria voltar? Tem certeza de que não vai machucar aquele garoto? — Ele parou a sua frente, bloqueando o caminho.

— Eu não…

— Você não sabe. — Ele a interrompeu.

— E você sabe mais do que eu?

— Eu tenho vinte e cinco séculos de experiência. — Ela sentiu seu estômago pesar. Ele era mais velho do que Carlisle? Do que Edward? Talvez ela tivesse entendido errado, ou talvez ele não falasse sério.

— Ainda sim eu teria que voltar. — Ela o deu as costas mais uma vez.

— E se eu soubesse como a ajudar a controlar a sua sede? — Desta vez ele não se moveu, não voltou a bloquear o caminho.

— Eu não teria como saber se está falando a verdade. — Ele poderia fazer isso?

— Só haveria uma maneira de descobrir. — Ela o podia sentir sorrir apenas por ouvir sua voz.

Então ele foi embora. Ele esperava que ela fosse atrás dele e ela sabia disso.

Kate não demorou para retornar. Estava longe de casa, mas não tão longe. Ela se sentia melhor, a dor agora era uma lembrança distante, no entanto, não quis retornar para a festa e procurar pelos outros. Não se sentia confiante o bastante.

Ao chegar em casa, não demorou para notar o carro de Jacob estacionado à frente da casa. Kate engoliu o veneno garganta a baixo. Não queria ter de passar por isso agora, queria ficar sozinha e pensar com cuidado em tudo aquilo.

Mas, eles estavam todos reunidos na sala do piano e ela soube que não poderia dizer nada para os fazer mudar de ideia. Podia sentir as perguntas que viriam e ela não queria ter de as responder, eles não faziam ideia do quão envergonhada ela se sentia.

— Kate. — Nessie foi a primeira a notar sua presença, correndo em sua direção e a envolvendo em um abraço. Kate não sentia que deveria ser amparada. Não havia sido ela quem quase tinha morrido. — Nós não fazíamos a menor ideia de onde estava, quando ouvimos a confusão e percebemos o que estava acontecendo...você já não estava mais em lugar algum. — Renesmee dispejou contra seu ouvido, mal respirando por entre as palavras.

— Eu estou bem. — Kate, aos poucos, se desfez do abraço e lhe dirigiu um sorriso.

— O que aconteceu? — Jacob trouxe Renesmee para si. Kate pode sentir que ele estava sendo cauteloso.

— Eu não vou machucar Renesmee. — E ela não podia acreditar que ele pudesse pensar que ela seria capaz.

— Nós sabemos que não vai. — Carlisle estava ao seu lado, trazendo Kate para perto. Kate sabia que ele também estava sendo cauteloso.

Jasper e Emmett estavam a frente do resto e nem sequer Seth estava por perto. Era uma posição de defesa. O que esperavam? Que ela sozinha conseguisse passar por cima de todos eles? A mágoa começou a lhe roer por dentro.

— Eu estava dançando, o garoto colocou as mãos em mim e meus reflexos foram rápidos demais para que eu controlasse...eu o arranhei, eu acho e quando percebi o que tinha feito...— Ela deveria contar? Eles entenderiam! Não entenderiam?

Não sabia mentir.

Nunca tinha mentido antes.

Nunca foi necessário e ela não queria que jamais fosse.

— Você...— Carlisle começou e a insinuação a machucou.

— Não! Eu não o machuquei, eu...— Ela não precisava mentir, não para ele. — Eu saí! Como eu disse que faria se perdesse o controle. — Mas, mentiu mesmo assim. Olhou para os outros. Olhou-os até que ela mesmo já não podia mais se suportar. — Vou trocar de roupa. — O vestido agora lhe parecia muito mais apertado e ela se sentiu muito mais exposta, prestes a sufocar, ainda que não fosse possível.

A sensação estava ali, cravada em sua pele.

Kate queria ficar sozinha e bem longe dali. Não demorou mais do que uma fração de segundos para trocar o vestido por uma blusa de alças e jeans escuros. Em seguida, sem ter para onde ir, jogou-se mais uma vez na floresta, correndo para longe da casa e longe da reserva.

A clareira onde jogavam beisebol era o melhor lugar para uma noite como aquela.

Ela sabia que ainda não tinha controle e que não era confiável sozinha, ela tinha tido prova disso, mas, parte dela esperava que os outros confiassem mais do que ela confiava em si mesma. Tudo o que ela tinha feito, desde que abriu os olhos para a vida de vampira, tinha sido lutar contra a sede. Parecia ser tão fácil para todo mundo, enquanto ela lutava e lutava cada vez mais.

A dor...eles não tinham ideia do que era sentir aquela dor rapidamente, todos os dias, o tempo todo.

Sabia que, bem ali perto, tinha exatamente o que ela precisava, exatamente o que a livraria daquela tortura. Mas, ela tinha escolhido a dor à solução rápida.

Kate não queria uma estrelinha na testa, mas queria um voto de confiança.

Se odiava ainda mais, por saber não merecer. Vivia uma guerra contra si mesma todos os dias, combatendo seus instintos e silenciando suas necessidades e vinha perdendo para si mesma, sempre.

Estava cansada de perder.

Kate queria que os Cullen se sentissem seguros com ela por perto. Ela queria que Jacob não se tornasse superprotetor sempre que ela e Nessie estivessem juntas na mesma sala, que Jasper e Emmett não tivessem que proteger os outros ou...que Seth se sentisse seguro para se aproximar.

Machucava-a saber que, ainda que ela desesperadamente desejasse estar bem e estar começando a se encaixar, eles estavam certos.

Teria matado aquele garoto. Ela tinha certeza. A vontade ainda existia até o momento.

Se não fosse por ele, ela teria matado pela primeira vez naquela noite.

Ainda tinha mentido.

Não sabia porquê não tinha dito. Talvez por querer mostrar que estava bem ou por não querer parecer ainda mais fraca, mas não pode dizer aos outros sobre o outro vampiro. Kate sabia haver a possibilidade de ele ter mentido e de ser ele quem estava matando todas aquelas pessoas, mas não conseguiu contar.

Nem sequer tinha perguntado o nome dele.

Não podia deixar de pensar se ele seria tão velho quando dizia ser ou se saberia tanto quanto disse saber. Ele realmente pareceu não ser dali e seus olhos lhe pareceram antigos, mas ela não acreditaria tão fácil.

Ele não a conhecia e ela não o conhecia e mentir seria fácil, mas não havia porquê mentir. A não ser que ele fosse um mentiroso patológico, no entanto, como ele mesmo havia insinuado, só haveria uma maneira de descobrir.

Contudo, não sabia se estava disposta a descobrir.

 

***

 

— Você o que? — Elijah estava incrédulo. Em todas as décadas que passaram juntos, Elijah nunca tinha olhado para o seu superior daquela maneira.

E com razão.

Nem Caius podia acreditar no que tinha feito.

— Nem sempre as minhas escolhas serão as melhores. — Caius não era, nem de longe, tão prepotente com Elijah como era com os outros. Podia dizer serem quase...próximos.

— Era a chance perfeita para condenar a garota e seu criador! Ela teria matado um humano na frente de toda aquela gente, o segredo teria sido exposto e pronto. Não é o que quer?

— E se houver algo mais? E se houver algo na garota que pode condenar todos eles? — Caius sabia a maneira como soava.

Elijah não disse nada, mas, era evidente que estava tendo cuidado.

— O que é? — Caius se mostrou impaciente.

— Não é nada, senhor. — Elijah o reverenciou e se preparou para sair. — Só espero que não se desaponte, caso não encontre nada.

Não havia possibilidade nisso. Ele estava convicto. Tinha a visto de perto naquela hoje e sentia ter colocado as mãos em algo grande. Ainda sim, não era de seu feitio ajudar ou se intrometer e, por mais que odiasse, era exatamente isso o que tinha feito naquela noite. Ele tinha a ajudado.

E oferecido a sua ajuda.

Suas intenções, porém, eram outras. Ela iria até ele e ele verificaria de perto se estaria deixando sua fixação o cegar ou se seus instintos estavam certos, mais uma vez.

A garota tinha dentro de si, tudo o que um recém-criado tem. O desespero, o medo e a dor estavam ali, em seus olhos, gritando ao vermelho e transformando todo o seu rosto.

Era uma bomba relógio embalada em uma embalagem bonita.

Ela tinha toda a intensidade do descontrole e exalava o pavor. Caius percebeu que ela ainda não fazia ideia da criatura que tinha se tornado e sabia que, se dependesse dos Cullen, ela jamais teria ideia.

Mas isso não era parte de suas preocupações.

Ele tinha um objetivo e ela era uma maneira de o alcançar.

O evento da noite havia sido uma alteração inesperada à seus planos, mas, ele usaria à seu favor.

 

***

 

— As aulas começam em uma semana. — Esme estava alarmada. Talvez tanto quanto qualquer um dos outros.

— Eu não acho que seja uma boa ideia. — Jasper se mostrou inquieto. — Foi difícil para mim e eu já tinha mais controle do que Kate.

— Ela não vai ficar feliz. — Esme continuou. — Mas talvez seja o melhor.

— Não acho que podemos decidir por ela. — Carlisle colocou um ponto final na discussão.

Carlisle sabia que Kate deveria estar assustada e a maneira como eles haviam reagido não tinha sido a melhor. Tinham errado com ela e ele pretendia não o fazer novamente.

— Carlisle, são pessoas...de quem estamos falando. Adolescentes que não vão pensar duas vezes antes de se aproximar dela sem terem ideia do que ela é. — Bella não deixou-se calar.

— O que nós somos. — Rosalie colocou-se em frente a ela. — Se ela foi capaz de ter sangue nas mãos e sair, eu confio nela.

— Eu concordo com Rosalie. — Alice levantou a mão. — Kate não é um monstro e não deve ser tratada como um. — Ela segurou o pulso de Jasper. — Eu confiei em você quando você era daquela maneira.

— E eu vou estar com ela. — Para o desgosto de Jacob, Nessie não pretendeu ficar longe. — Posso ser metade humana, mas, consigo segurar Kate por alguns... segundos.

— Alice podia manter um olho sobre o futuro de Kate….saber o que ela pretende em seguida. — Jasper mostrou-se convencido.

— Eu...— Alice heistou por alguns segundos. — Não consigo ter certeza quando se trata do futuro de Kate, na maioria das vezes não consigo ver mais do que borrões e imagens sem sentido.

Carlisle escutava com atenção. O futuro de Kate não podia ser visto com clareza por Alice, Kate não conseguia se alimentar de sangue de animais e não brilhava ao sol. As inconsistências aumentavam e ele não fazia a menor ideia do que fazer.

Lembrava-se de como havia sido ver Renesmee crescer por meses, sem ter ideia do que ela se tornaria ou de quanto tempo poderiam ter ao lado dela. Lembrava-se da angústia contida na incerteza e agora, parecia trilhar o mesmo caminho, mais uma vez.


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