Damned escrita por IS Maria


Capítulo 8
Encontro




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Diante a tudo, escolher ir até aquele lugar era uma decisão imatura. Kate sabia muito bem que não estava preparada e ir mesmo assim, era uma atitude irresponsável e mal pensada. Mas, ela não tinha memória de já ter tido a oportunidade de ser irresponsável uma vez na vida. Eram sempre assuntos sérios, eram sempre dores de cabeça, notícias ruins e um drama eterno do qual ela jamais pensou em se ver livre.

Quando criança, ela não pode correr livremente, os corredores de hospitais possuíam limitações horrorosas.

Quando adolescente, não viveu nem metade das impulsividades que chegava a pensar.

E agora, ela sentia que seu imenso senso de responsabilidade e proteção de si mesma, a acompanhavam em sua nova condição. Porém, ela não queria ser controlada da mesma maneira.

Eram os seus impulsos incontroláveis contra a sua incrível habilidade de depreciar a si mesma em uma tentativa de se colocar sob rédeas duras. Sempre como se devesse algo a alguém, sempre como se seu tempo fosse acabar.

Mas tinha de admitir que Renesmee estava pensando ainda menos na situação toda do que ela. Aquilo poderia acabar muito mal.

“E se não acabar mal?” Kate não pode deixar de sorrir ao pensar. E se…

Tinha que dar uma chance a si mesma.

E no espelho, viu seus olhos vermelhos no reflexo. Se ela jamais conseguisse se alimentar de animais, ela teria de se acostumar a ser daquela maneira. Diferente de todos os vampiros que ela conhece. Ela tentou as lentes de contato, são como uma tortura, a sensação era a de se ter areia nos olhos e o veneno as derretia em minutos.

Precisava de lentes de contato para a festa. Óculos escuros de noite chamariam atenção demais.

— Jacob ligou. — Renesmee surgiu à porta.

— Deixa eu adivinhar, Seth? — Kare voltou-se para Renesmee, sentindo seu estômago se revirar apenas pela menção do nome de Seth.

— Aconteceu alguma coisa que eu deveria saber? — Renesmee se sentou ao sofá do quarto de Kate.

— Só que, aparentemente, Lobos não são muito diferentes de garotos adolescentes que não levam nada a sério. — Kate fechou os olhos por alguns segundos. — Nada que eu queira dar muita atenção.

— Eu não sei o que aconteceu, mas sei que ele se importa com você.

— O que eu digo, é que Seth pode gostar de mim mas, o que ele sente por Jacob.... — Kate olhou para Renesmee com um sorriso furtivo. — Eu sugiro que mantenha seus olhos bem abertos.

— Kate…

— Vou dar uma olhada nos livros que Carlisle trouxe, já dei mais tempo aos lobos do que eles mereciam. — E para fugir do assunto, levando três segundos e doze avos, Kate foi para o andar de baixo. Ela não era exatamente rancorosa, mas tinha de admitir não conseguir esquecer facilmente.

Carlisle sabia que ela amava história e por isso, ela era grata. Vinha ficando sem opções de leitura e não fazia a menor ideia de como passaria a noite. Não dormir ainda era algo que a deixava desconfortável, ainda que não fosse mais uma novidade.

Duas caixas de livros.

História geral...local...e da arte.

Era impressionante a quantidade de conhecimento que ela poderia extrair daquelas leituras. Não podia dizer se era uma coisa de vampiro, mas sua mente havia melhorado extraordinariamente e não apenas se lembrava de quase tudo, mas vivia o que lia com tanta intensidade que conseguia ter uma visão clara do que estava descrito. Ainda mais clara do que costumava ter.

Tentou se manter concentrada no que estudava. No entanto, seus olhos continuavam a ir de sua leitura à janela, encontrando a imensidão verde à sua frente. Por alguma razão, ainda que não visse nada, podia jurar que era como se algo continuasse a capturar sua atenção.

Talvez só estivesse entediada. O tempo passava de maneira diferente agora. Viu algumas folhas se mexerem. Sentiu a adrenalina. Foi quase como se seu coração batesse.

Não havia nada mais excitante.

Afastou a sensação e tentou se entregar mais uma vez ao livro que lia. Era uma batalha constante entre si e seus instintos, entre o que queria fazer e o que seu corpo desejava que fizesse. Ao menos, às vezes, concordavam.

Tentou mais uma...duas...três páginas.

Fechou o livro e se sentou sobre a mesa, mantendo seus olhos fixos na janela, rendeu-se. Não havia nada ali diferente do que via todos os dias, mas seus pensamentos continuavam a encontrar o que estava lá fora.

“Muito bem, tem toda a minha atenção agora.” Pensou para si. E então, foi como se a floresta a olhasse de volta. Pode sentir sua presença crescer.

— O que está olhando? — E então, Alice estava ao seu lado.

— Nada...— Kate finalmente deixou que seus olhos encontrassem algo distinto.

— Eu não duvido que isso seja muito importante. — Alice sorriu. —  No entanto, gostaria que me ajudasse com algo.

— Eu não estou realmente preocupada com o que vou usar hoje à noite. — Kate sorriu em resposta. Ela já esperava.

— Boooom….eu estou. — E ali, Kate soube se tratar de uma discussão que ela provavelmente não venceria. Deixou-se levar.

 

***

 

Ela não estava mais na janela, ainda sim, ele manteve-se onde estava. Tinha certeza de que ela não havia o encontrado, mas, podia jurar que foi como se os olhos dela o procurassem.

Ela poderia ter sentido? Ainda que Raziel o camuflasse?

Caius sabia que sua presença poderia ser notada por vampiros que controlassem bem a sua atenção, porém, ela não pareceu ter qualquer dificuldade.

No entanto, ele não podia ter certeza se ela havia notado sua presença ou não. Era o que ele presumia pela maneira como ela parecia não conseguir manter seus olhos longe da janela.

Caius esperava que ela não tivesse ideia, caso o contrário, ele se encontraria em uma posição delicada.

Ele não havia encontrado muito para confirmar suas suspeitas, mas não conseguia deixar aquilo de lado. Em todos os séculos que viveu, não se lembrava de já ter se enganado quando seus instintos lhe alertavam sobre algo e agora, ele simplesmente sentia que não poderia ir...ainda.

— Peço permissão para ir caçar, senhor. — Raziel, que sempre se mantinha dois passos atrás de Caius, ousou perguntar.

— Se não for tão descuidado desta vez. — Caius mal lhe dirigiu a atenção. — Encontre-me na casa depois.

Ele tinha passado muito tempo a observando de longe, porém, não o tempo todo. Os Volturi tinham seus informantes e Caius não tinha ido sozinho. Raziel era competente, mas não o suficiente. Aro tinha sido firme quanto a quem poderia o acompanhar. A guarda não deveria sofrer desfalques.

Não eram os prodígios, mas eram competentes e Caius escolheu um por um a dedo. Aquilo era mais importante para ele do que deixava transparecer.

O jogo mais fascinante.

Mas, ele não poderia ficar por perto sempre. Suas decisões poderiam estar sendo observadas e o dom de Raziel poderia falhar o deixando vulnerável.

Portland ficava a uma distância de quatro horas e poucos minutos, não era do lado, mas era seguro e Caius era rápido. Tinham um carro, mas ele dispensava as formalidades.

Mais uma diferença entre ele e os Cullen.

Viajar, ainda mais sem os outros, não era um costume. Não daquela maneira, particularmente. No entanto, ele gostava da sensação de não ter os outros por perto.

— Aiden, prepare o carro. — Caius disse ao entrar na casa.

Foi como se todos os outros sentissem a sua presença.

— Para esta noite? — Aiden foi pego de surpresa. Caius não tinha dado muitas ordens ou dito muita coisa, desde que haviam chegado.

— Temos uma festa para ir. — E os olhos de Caius, imediatamente, encontraram os de Elijah.

Ao todo, eles eram sete.

Santiago, um guarda significante para o clã, fisicamente impressionante, ainda que suas habilidades não viessem a se comparar às de Felix.

Celeste, organizada e eficiente o bastante para conseguir à Caius, o que ele não conseguiria sozinho.

Aiden, que deveria servir de guarda junto à Santiago. Fisicamente, ele não impressionante, mas seu conhecimento em lutas o tornavam...interessante para dizer o menos.

Elijah que, possuía o dom de antecipar qualquer movimento de seu oponente, era o guarda pessoal de Caius e um dos mais próximos a ele.

E, além de Caius e Raziel, havia Nora. Nora tinha sido secretária dos Volturi por um bom tempo e eles não a odiaram o suficiente. Ela não havia se tornado uma vampira em nada especial e era de se esperar que Aro se cansasse dela a qualquer momento.

No entanto, ela nutria certa devoção e admiração por Caius o que para ele, era quase um entretenimento. Ele sabia que ela seria capaz de se oferecer para ser seu escudo vivo se ele precisasse.

Se ele tinha escutado direito, o que não havia dúvidas, era a ocasião perfeita para que algo desse errado e ele tivesse o que precisava.

Seu quarto era ao fim do corredor, o único no andar de cima. Caius foi acompanhado por Elijah,  como de costume.

— Pode dizer. — Caius o conhecia o suficiente para saber que ele guardava algo.

— Ontem foi o meu dia de manter guarda no alvo. — Elijah começou. Os olhos vermelhos, escuros e leitosos de Caius, encontraram os seus.

— ...E?

— Ela é...diferente. — Os olhos de Elijah vaciliaram, como se visitassem a memória passada. — Um diferente interessante.

— Com certeza, tem algo nela… — Caius se empolgou ao ver suas próprias suspeitas serem confirmadas por outro.

— A energia dela...não é algo que eu já tenha visto. — Elijah não era um vampiro velho e não conhecia muitos outros além da guarda, mas aquilo já era significante.

“Não é só a energia.” — Caius sussurrou, mais para si do que para Elijah.

Ele não esperava que os outros pudessem ver o que ele via. Nenhum dos outros era tão velho quanto ele ou já tinham presenciado tanto quanto ele tinha. Porém, ele faria com que vessem. Desta vez, tinha certeza de que os Cullen haviam sido pegos em algo grande do qual não poderiam fugir.

 

***

 

— Outro corpo foi encontrado? — Bella questionou Carlisle assim que ele entrou na casa.

— Perto da reserva. — Carlisle estava visivelmente preocupado. — E quem quer que seja, é muito bom para cobrir seus rastros...tivemos dificuldade em reconhecer o cheiro.

— Tivemos?

— Emmett, Jasper e eu. — Carlisle se sentou ao sofá. — Precisamos avisar aos lobos que, não somos mais os únicos no território.

— Acho que já sabem. — Renesmee disse. Trazia Jacob e Seth, consigo.

— Estamos procurando. Não acho que seja alguém que conhecemos, mas quem for, é esperto o bastante para não caçar na cidade e para não ficar o suficiente na floresta para ser notado. — Jacob não teve qualquer preocupação em esconder o quanto aquilo o irritava.

— Não são da cidade? — Bella se mostrou ansiosa. A vida vinha sendo tranquila demais, por tempo demais.

— Não… Seth e Leah estavam olhando, mas não encontraram nada sobre as vítimas. — Jacob trouxe Renesmee para perto em um abraço protetor.

— Eles sabem caçar. — Carlisle fechou os olhos por alguns segundos. — São pessoas que ninguém daria falta.

— Só não são tão bons em esconder a bagunça. — Seth sorriu.

— Ou eles não querem esconder. — A voz de Alice ressoou do alto da escada.

Kate, que tinha passado a última hora a discutir com Alice sobre a escolha ousada de roupas, agora mal podia se lembrar do que vestia.

Escondida atrás da irmã/tia, seus pensamentos buscaram a memória do corpo que haviam encontrado no outro dia. E se o culpado ainda estivesse na floresta?

— Se o vampiro estava na floresta no outro dia, ele não deve estar muito longe. — Kate desceu as escadas e procurou Carlisle.

Ela não se esqueceria da presença que sentiu. Era forte e marcante. Ela a sentiu com facilidade e depois, não pode sentir mais. Se perguntava se havia sido a única a sentir.

— Sinceramente, não sabemos com quem estamos lidando. — Carlisle procurou disfarçar sua preocupação. Era a maneira como sempre agia perto de Kate. Não se mostrar tão preocupado, tentar não a preocupar também.  — Deve ser algum recém-criado desavisado. — Carlisle tentou disfarçar o assunto.

— Digam-me se Kate não está incrível. — E Kate pode sentir os braços de Alice envolta de si. Foi então que teve consciência, do que havia lutado para não vestir e do que teve de vestir mesmo assim.

Era um vestido vermelho, justo e curto e ela se sentia exposta, além das lentes de contato que a fazia desejar arrancar os próprios os olhos.

— É curto. — Carlisle não escondeu seu breve descontentamento.

— É, ela definitivamente parece humana. — Jacob não fez nem questão de esconder seu sarcasmo.

— Claro que não...nenhum humano ficaria tão bem assim. — Nessie sorriu. — Vermelho é definitivamente a sua cor.

— Alice...— Kate revirou os olhos.

— Qualquer coisa ficaria bem em você Kate, não precisa me agradecer. — Alice a cortou.

— Eu não...— Kate tentou continuar.

— Eu faço questão. — Alice a impediu de dizer novamente. — Não faz mal nenhum ser “sobrenaturalmente,” bonita.

Alice mal tinha a deixado se olhar no espelho. Kate mal tinha se vestido e já queria tirar. Era uma péssima ideia e estava escrito por toda parte. Quando se precisa ser discreta, não se deve se camuflar em neon...não parece certo.

No entanto, olhar para Seth, fez com que Kate não tivesse certeza, por alguns segundos, quanto ao que sentia. Ele parecia prestes a perder os próprios olhos e ela tinha de admitir que isso não era tão desagradável.

Seth tinha certeza de que ela não fazia a menor ideia de como ela era aos olhos dos outros. Quando viu Kate pela primeira vez, seus instintos de lobo o colocaram a prova.

Ele sentia em seu sangue que ela era a raça inimiga, mas, primeiro viu-se atraído e então, completamente vulnerável.

No começo foi complicado. Ainda que ele cheirasse diferente, ele ainda tinha sangue e um coração que batia, mas, isso não o impediu de se aproximar.

Entretanto, ele ainda não tinha a visto de vermelho e se perguntava como tinha vivido até aquele momento sem ter uma visão clara daquilo.

E de seus enormes olhos, que agora traziam um tom de castanho-avermelhado.

Não fazia a menor ideia de como ela tinha sido quando humana, mas duvidava que ela já não fosse tão linda quanto era agora.

— Bom… a festa não vai esperar por nós. — Renesmee quebrou a tensão que começava a se formar entre Kate e Seth.

— Kate...se algo acontecer. — Carlisle disse antes que eles pudessem sair.

— Eu vou tentar. — Ela sorriu, sendo tão sincera quanto pôde.

Aquilo a deixava nervosa. Ansiedade era um problema. Mas, ela sabia que se deixasse tomar conta, seria ainda mais difícil manter controle de si. Precisava se acalmar.

Não era muito fácil se distrair, mas fechar os olhos ajudava. Procurou bloquear o que havia ao redor e não se importou de ignorar Seth por alguns segundos enquanto estavam no carro.

Kate nem tinha perguntado onde era.

Francamente, estava surpresa por terem a deixado ir sem um dos outros Cullen para a vigiar. Ela realmente esperava que não fosse necessário.

E então, o cheiro dele foi tudo o que pode sentir. O odor intenso de lobo, misturado ao aroma que ele sempre trazia junto de madeira, cravos e colônia...deixando-a confusa, sem saber se gostava ou odiava completamente.

E então tinha o coração dele que batia e a pulsação intensa...o aroma do sangue camuflado.

Ela não sabia no que se concentrar. Seth tinha sorte que ela ainda não tinha perdido a cabeça e feito dele, o jantar.

— É muito mais fácil me concentrar em algo que não seja a minha sede...quando você não está tão perto. — Kate abriu os olhos. Seth mantia seu olhar preso a ela. — Você tem sorte de cheirar desse jeito. — Ela o provocou.

Ele não disse nada! Permaneceu em silêncio. Seus olhos presos nela, a respiração a pesar.

Kate pode sentir o coração dele bater de longe.

Fechou os olhos, deixando que o ritmo dele tomasse conta dela.

Sentiu a mão dele procurar pela sua e deixou que seus dedos se juntassem aos dedos. De repente, não estava mais tão brava.

Ele era tão quente.

E ela se sentiu mal por ser tão gelada.

E então, não era somente a batida do coração dele….ou a de Jacob...ou a de Nessie...mas tantas outras.

Kate abriu seus olhos, eles ardiam com intensidade. Sua garganta queimou novamente e cada pequeno pedaço de seu corpo acordou.

Seth sentiu a mudança em seu comportamento e a trouxe para perto. Seu cheiro era forte o suficiente para camuflar os outros, mas não a ajudava a ignorar tudo o que parecia acontecer. Ela não tinha sentido algo tão vivo.

— Prenda a respiração Kate. — Nessie a olhava pelo retrovisor.

Kate apertou a mão de Seth ainda mais contra a sua e pode o ver resistir de dor.

— Eu sinto muito. — Ela voltou sua atenção completamente a ele.

— Vamos lá, você consegue. — Ele não olhava para nada que não fosse ela.

Mas, era como se ela pudesse se partir ao meio. Era sempre assim. Como se aquilo fosse maior do que ela.

Como se de repente, não houvesse mais nada.

Seu único objetivo era acabar com aquela dor.

A pior dor que já havia sentido.

Pior do que ter todos os seus ossos quebrados, ou a sua pele arrancada.

A cada vez que seu pulmão se enchia de ar, era como se o ar fosse brasa. O veneno ia se acumulando em seus lábios e o engolir era como engolir lava quente. Tudo era fogo.

Seth a beijou. Ele sentiu que não podia fazer nada além disso.

Pega de surpresa, Kate prendeu a respiração. Não conseguia respirar ao perceber que Seth tinha acabado de a beijar em frente a Jacob.

— Funcionou? — Ele sussurrou, perto o suficiente para que os lábios dele escontanssem nos dela.

Ela balançou a cabeça em um sim.

— Então… — Nessie, que pareceu pensar no mesmo que Kate, deixou transparecer seu nervosismo. — Pronta para ir?

— Não...mas, acho que não ficarei melhor do que isso. — Os olhos de Kate foram de Nessie para Jacob.

Jacob não pareceu deixar transparecer muito.

Ele e Nessie foram na frente e os dois o seguiram atrás, com alguns passos de distância, não que importasse, já que cada um ali ouvia muito bem.

— Ei...— Kate segurou a mão de Seth por mais alguns segundos. — Vai ficar tudo bem entre você e Jacob?

— Não é como se ele não soubesse. — Seth sorriu, mas Kate pode ver certa preocupação. — O problema não é realmente o Jacob.

E Kate não quis perguntar o que realmente era o problema, pelo menos não ali e não naquele momento. Ela estava lutando para se manter dentro de si e estava feliz por ter Seth ao seu lado.

Queria se contentar um pouco sem ter algo mais para se importar.

— Não tem uma só pessoa que não esteja olhando para você. — Seth a trouxe mais para perto. E Kate não soube se ele queria a proteger ou a impedir de machucar alguém.

Talvez os dois.

Ela pode sentir a tensão se formar sobre ela. Seus instintos a alertavam que ela havia sido notada, porém, fez o melhor que pode para fingir não perceber. Não olhou ninguém nos olhos, não deixou que notassem que ela percebia tudo e que podia escutar muito bem o que diziam.

Na verdade, se pudesse ter se enfiado na curva do pescoço de Seth, era o que teria feito.

A música era alta e havia muito o que chamava a sua atenção. Era difícil manter-se concentrada em apenas uma coisa quando tudo parecia tão barulhento e colorido.

Mas a experiência teria de valer a pena.

 

***

 

Caius não entendia como as pessoas podiam gostar de lugares como aqueles. Os Volturi davam festas, ocasionalmente, mas nunca nada tão barulhento ou bagunçado.

Tinha os seguido até ali. Com ele havia vindo Elijah e Raziel.

O lugar fazia com que a garota parecesse uma peça de xadrez em um jogo de damas. Mudar a cor dos olhos não seria o suficiente, não havia nada nela que parecesse remotamente humano.

E o lobo ao seu lado, o que aquilo representava? Algum tipo de relacionamento? Era quase uma blasfêmia.

Ele não podia dizer o que lhe parecia ser mais errado.

— A imortalidade caiu muito bem nela. — Elijah parecia a observar tanto quanto Caius a observava, mas eles não seriam os únicos. O vermelho parecia gritar ao longe e ela nem sequer precisava dele para que chamasse atenção. — Não acho que tenhamos ninguém parecido em Volterra.

— Aro não se importa tanto com a aparência quanto se importa com a utilidade. — Raziel dirigiu-se a Elijah.

— Acho que já tivemos prova de que a recém-criada não é apenas “bonita.”  — Elijah retrucou. Os dois tinham suas desavenças.

— Temos Heidi — Caius mediou a conversa. — A habilidade de atração física dela basta e não é como se estivessemos aqui para recrutar alguém.

— E por quê estamos aqui? — Elijah era o único que atrevia questionar Caius de tal maneira.

Caius o ignorou, como se a pergunta não fosse consistente o bastante para ser respondida.

E a festa pareceu se estender por horas.

— É impressionante como eles possuem tanta energia. — Elijah desistiu de ficar de pé e se sentou sobre o gramado.

Eles observaram de longe, sobre uma pequena ondulação. Escuro o suficiente para que não fossem vistos por qualquer outro.

Mas Caius não estava entediado. Ele a viu dançar e seus olhos a observavam como se a qualquer segundo ela finalmente viesse a se revelar.

Ele não sabia o que esperar, mas sabia estar ali.

Não havia outra explicação. O corpo dele sentia e o avisava, por isso, ele não podia tirar os olhos dela, nem por sequer um segundo.

Nunca se sentiu tão certo em toda uma eternidade.

Ela teve de trocar as lentes de contato pelo menos três vezes. Ele não gostava. Acreditava que os olhos vermelhos lhe caíam melhor.

O vestido era muito curto e ela nem era tão bonita assim. Ele com certeza já havia visto mulheres mais bonitas ao longo de sua vida.

Talvez se a observasse mais de perto…

 

***

 

Kate não podia acreditar em tudo o que já havia alcançado nas poucas horas que tinha ficado ali.

Não era tão agradável quanto ela esperava, era doloroso e desconfortável, mas ela podia se sentir se tornar mais forte a cada segundo a mais que resistia.

Porém, ela não sabia se repetiria tão cedo.

Tinha dado trabalho para sequer se soltar de Seth e ficar um pouco sozinha. Ela precisava testar a si mesma e ele não facilitava. Quando tivesse que ir para a escola, ele não estaria por perto e não haveria uma música tão alta ou o cheiro de mil e quinhentas outras coisas, tão fortes que são de arder o olfato, para mascarar o aroma do sangue de centenas de alunos.

Ela estaria sozinha.

Ficar parada no meio de tanta gente, era uma maneira de chamar ainda mais atenção.

Dançar também não era a melhor escolha, mas torceu para que a maioria estivesse tão perdida que nem perceberia. Ela só teria que se mexer no ritmo da música.

Fechar os olhos e se lembrar se manter a respiração presa.

Mas o seu corpo não adormecia.

E quando ela sentiu mãos em seus quadris, não teve tempo de pensar antes de agir, não era assim que o seu corpo funcionava.

Alguém tinha a tocado e o seu instinto era se proteger. Ela não estava acostumada a ter de se defender de humanos, ela não tinha noção do que era a sua força comparada à de um humano. Ela não sabia o que os seus reflexos poderiam causar.

Talvez ela nunca tenha acreditado na dimensão de sua força.

 

“HEY FICOU MALUCA?”

Ela soube que tinha estragado tudo.

Ela não pode ver quem dizia, tudo aos poucos foi se distanciando e seus sentidos, procuravam um único foco.

A música se tornou abafada.

A sensação em suas mãos era quente.

Todos os cheiros foram cobertos.

Suas mãos pulsavam diante a seus olhos.

Não havia mais nada que pudesse ver, além do carmesim que se formava sob suas unhas.

E ela soube...que haveria mais.

Tudo perdeu sua cor.

Não havia mais nada que pudesse ver.

Ela não soube se pior seria, se afogar em toda a sua dor ou, morrer de sede.

Olhou para a frente. O garoto que teve seu braço arranhado segurava-o enquanto uma pequena multidão se formava ao seu redor. O corte tinha sido profundo. Ela podia sentir.

Ele mão conseguia conter todo o líquido.

E ela podia sentir seu calor emanar à distância.

Sua consciência, aos poucos, foi se fechando… ela viu-se escurecer...se consumir...por uma parte dela que, simplesmente, era forte demais.

Sentiu as lentes derreterem em seus olhos.

O veneno em seu corpo, borbulhava.

Ela o drenaria até a última gota.

Um chiado animalesco deixou sua garganta, porém, ela não conseguiu se mover. Seu corpo avançava com o que podia, mas ela estava presa.

Não demorou muito para que percebesse não podia ver mais.

E suas narinas estavam obstruídas por um outro cheiro. Cheiro que ela nunca havia sentido antes.

E então, foi como se ela estivesse longe. Não havia mais música, não havia outro cheiro que não fosse aquele. Sua curiosidade era persistente. Estava envolta em um abraço. Seus olhos, nariz e boca, estavam cobertos e as mãos se mantinham firmes em sua cintura.

Foi solta. Estava na floresta. Mas, ela não sabia em que parte da floresta.

E quem era ele?


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