Jung Hoseok não achou que veria aquele rosto de novo, mas o reconheceu imediatamente. 

Ele estaca ainda na porta do hotel, fitando aqueles olhos escuros e brilhantes, os cabelos em um coque frouxo, o corpo metido em roupas de dança. 

Ela está ainda mais linda, com um ar claramente mais confiante que há alguns anos, quando os dois dançaram juntos. Ele se pergunta se os lábios dela sempre foram tão rosados, se suas curvas sempre foram tão bem definidas, se seu sorriso sempre foi tão lindo... E por alguns segundos está congelado na entrada do hotel, seu raciocínio lentamente voltando a funcionar.

Sun Hee, não é? Sim, esse era o seu nome. Hobi lembra de ter ouvido Jungkook fazer menção a uma "Sun Hee Seonsaeng" algumas vezes, referindo-se à sua coreógrafa que mora na América, mas nunca associou o nome à garota tímida e dançarina incrível que certa vez encontrara.

— Wow. - deixa escapar.

Nesse momento, a garota fixa os olhos nele, e os mesmos se arregalam à medida que ela abre um sorriso e começa a caminhar a passos suaves em sua direção. Hoseok trata de verificar se não está com a boca aberta de surpresa, mas para o seu alívio, ele está sorrindo sinceramente. Por que? Não tem ideia. Ou acha que não.

— Jung Hoseok? - a voz dela o alcança, sem nem um único resquício do tremor ou insegurança que costumava ter no passado.

— Sun Hee? - ele devolve, também indo em direção a ela.

A garota ri, um som delicado.

— Eu mesma. - exclama, e então se curva - Faz bastante tempo desde a última vez, não?

Ele corresponde o cumprimento.

— Nossa, então você é a coreógrafa do Kookie? - pergunta, expressando sua surpresa - Quem diria que nos encontraríamos de novo dessa forma? 

Ela abaixa a cabeça com um sorriso, fazendo uma mecha cair sobre o rosto.

— Realmente, quem diria, não é? - repete, colocando a mecha atrás da orelha de novo.

Os dois se encaram, talvez relembrando o único momento que dividiram juntos, mas que marcou ambos tão fortemente, o suficiente para guardarem as feições um do outro em suas mentes. Não sabem como continuar, afinal, a maior parte do tempo que dividiram foi preenchido por uma conversa não de palavras, mas de movimentos e passos tão fluidos e naturais, que qualquer um que os visse, teria dito que eram íntimos. Mas, ali, quando precisam falar com palavras e não com a dança, cada um se cala, e limitam-se a fitar um ao outro, sem desconforto algum. 

Até que, com um sobressalto, J-Hope lembra sobre o que fora fazer ali. 

— Ah! - exclama e vê Sun Hee se inclinar para frente, erguendo as sobrancelhas, provavelmente imitando a posição que ele mesmo faz - Sun Hee, onde estão Yoora e Kookie?

Ela se supreende.

— Ah, na verdade eu os estava esperando. - responde - Mas há pouco Jungkook ligou e disse que eles tiveram uma emergência e se atrasarão. Você está à procura deles?

Hobi assente. 

— Será que posso esperar aqui? 

— Claro! - ela retruca com naturalidade, mas ele nota suas faces ficarem mais rosadas - Venha, vamos à sala de ensaio. Eles provavelmente seguirão direto para lá.

— Então você vai voltar para a América ainda hoje? - Hobi sente uma pontinha de desapontamento quando vê Sun Hee confirmar.

— Vou passar quinze dias lá, para comemorar o aniversário do meu pai e o feriado. - ela diz - Depois volto, com mudança e tudo.

— Ah, entendo. - seu sentimento passa para um alívio sincero ao cogitar a possibilidade de vê-la novamente - Você se acostumou bem às coisas lá?

A garota abre um sorriso e desvia os olhos para as mãos. Os dois se encontram sentados no chão da sala, as pernas cruzadas e as costas contra os espelhos em uma das paredes.

— Foi mais difícil do que eu esperava. - confessa - De início, mesmo tendo conseguido dançar com você, eu não podia fazer o mesmo com outras pessoas. Cheguei a tentar e paralisei várias vezes diante da turma. Mas as palavras de um certo garoto não me deixaram desistir.

Sun Hee lança a ele um sorriso pequeno, seu rosto sendo tomado por um tom rosado. Hobi exibe os dentes de um jeito que a leva a pensar que ele tem o tipo de sorriso que deveria ser colocado em cartazes por toda a cidade. Assim, sempre que houvesse alguém triste, olharia para aquele peadicinho de Sol na Terra e acabaria sorrindo também. Sem querer ficar ainda mais vermelha, ela desvia o olhar.

— Até que um dia consegui realizar três curtos passos. - ela continua, soltando um risinho - A turma toda aplaudiu. Acho que chegou um momento em que eles passaram a perceber minha timidez. E, apesar de eu não conseguir entender muito do que diziam, comecei a pensar que estavam me dando apoio. Depois disso, foi uma vitória após a outra, até acabar virando coreógrafa. 

Hoseok ergue as sobrancelhas.

— Assim tão rápido? - exclama.

Ela ri e dá de ombros.

— Meus professores disseram que tenho talento. 

Ele a acompanha, assentindo.

— Tem mesmo! Poucas pessoas dançam tão bem quanto você. Eu lembro que fiquei surpreso naquele dia. E foi uma das melhores danças de improviso que já vi na vida! - ele faz uma pausa, e fita o teto, ponderando - Provavelmente porque você tem um jeito... Delicadamente animador de incentivar as pessoas a dançar com você. Só precisava descobrir isso.

Sun Hee abre um sorriso constrangido, as faces vermelhinhas.

— Ah! - Hobi exclama, cutucando sua bochecha sem pensar - Olha só, ainda tem vergonha!

Ele sente a pele dela esquentar ainda mais sob seu toque, e de repente nota que está indo um pouco além do que a intimidade entre eles permitiria. 

— Hm, desculpe. - murmura, recolhendo a mão.

A moça balança a cabeça de um lado para o outro, enfática, e solta um risinho.

— Hoseok Sumbae-nim é... Gentil de mais. - diz, com os lábios apertados em um sorriso fofo que deixa suas bochechas rosadas infladas - Foi você que me revelou o que eu tinha aqui dentro, e desde então sempre quis agradecer. 

Ela fica sobre os joelhos e se curva.

— Obrigada, Sumbae-nim. 

Hoseok arregala os olhos e por alguns segundos não sabe como reagir. Não fez nada daquilo em busca que algum tipo de gratidão. Fez porque sempre achou que cada pessoa precisa deixar o mundo conhecer seus talentos. Todos devem brilhar como estrelas no céu, para só assim existir uma noite iluminada. Era um desperdício deixar que Sun Hee permanecesse trancada dentro de si. Além do mais, ele só deu um empurrão, mas ela foi aquela a ir atrás, encontrando coragem para lhe pedir ajuda e depois enfrentando a vergonha na frente de todos.

— Primeiramente, nada de "sumbae-nim", sem formalidades.

Ele a ver assentir e prossegue:

— Além disso, não precisa me agradecer, Sun Hee. - diz, segurando seus ombros e erguendo sua cabeça. Seus olhos estão fixos uns aos outros, perdidos em algo que só os dois podem ver ali dentro - Você é a protagonista da sua própria história, é alguém que lutou por si só. Eu só fui um coadjuvante. 

Sun Hee pondera por alguns instantes, tentando desviar os pensamentos das mãos masculinas que tocam sua pele. Ela não pode deixar que ele continue sem saber o quão importante foi aquele dia. Aqueles poucos minutos, aquelas curtas palavras, aquela breve dança... Aquele único momento foi o que mudou toda a sua vida, e só foi possível graças a Jung Hoseok, o J-Hope que ela aprendeu a admirar mais a cada dia. Para ser sincera, nutre um sonho - distante e bem escondido no coração - de poder conviver com ele, e aprender a ser mais parecida com aquele garoto extrovertido, que conquista o ambiente onde está, que coloca sorrisos nas pessoas, que espalha a dança de um jeito maravilhoso e que consegue falar sem palavras. De certa forma, ela reconhece que, embora seja de fato a protagonista de sua própria vida, J-Hope é, incontestavelmente, um dos mais importantes personagens. Mesmo que seja daqueles que está só de passagem.

— Mas os protagonistas não chegariam a lugar algum sem os coadjuvantes. - ela replica - E por isso quero expressar minha gratidão. Por favor, diga-me como posso retribuir.

— Mas... - ele se prepara para negar mais uma vez.

— Por favor! - repete, enfática.

J-Hope leva a mão ao cabelo e o bagunça, um pouco desconfortável por não ter ideia de como reagir. Só de ver a intensidade da fala dela e a forma como suas faces estão vermelhas, dá pra perceber que ela está se esforçando muito ao pedir aquilo. O que deve significar que não é algo que ela abriria mão. Hobi pensa em algo que ela poderia fazer por ele, alguma coisa que não seria constrangedor pedir... A conclusão é mais fácil do que pensava.

— Nee. - assente - Então dance comigo mais uma vez.