Quatro Estações escrita por Bruninhazinha


Capítulo 4
Primavera




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/714620/chapter/4

Era um dia como outro qualquer em Konoha. O centro da cidadela encontrava-se relativamente bem movimentado e o comércio estava a mil por conta das futuras festividades de primavera organizadas pelo atual Hokage. O clima de euforia tomou conta do vilarejo, nem mesmo o céu estava calmo – estava acinzentado, mostrando que não tardaria o inicio de uma tempestade. 

Em um pequeno apartamento não muito longe do Ichiraku's, Naruto andava de um lado a outro, afundado no próprio desespero. Lançava olhares de cinco em cinco minutos para o relógio na parede e analisava a sala de estar em busca de indícios de sujeira.  

Nunca entendia o porquê de todo o alvoroço sentimental antes de qualquer encontro com a Hyuuga. Por mais que eles se beijassem o tempo inteiro – ao menos, sempre que alguém não estava olhando – e até mesmo trocassem carícias, não conseguia controlar a sequência de sentimentos que vinham a tona na hora de reencontrá-la; as mãos suavam, surgia aquele estranho frio no estômago e a sensação de que o coração sairia pela boca.  

Respirou fundo, olhando os arredores. No dia anterior buscou empenhar-se bastante na limpeza da casa já que conhecia Hinata bem o suficiente para saber que ela, ao contrário dele, é uma pessoa excessivamente organizada. Nunca se esqueceu da vergonha que passou quando foi visitá-la no clã. A mansão tipicamente japonesa era tão limpa e arejada que se sentiu constrangido por todas as vezes que Hina fora a sua casa fazer alguma visita. Sempre tinha algo pelo chão, pratos sujos na pia e roupas por todos os cantos.  

Foi tirado dos devaneios ao escutar batidas ecoarem. Abriu a porta e não pôde evitar um sorriso.  

Hina ofegava por conta da corrida que fez até o apartamento do namorado e, mesmo cansada, sorria meigamente. O cabelo estava um pouco desgrenhado, usava um vestido branco e uma rasteirinha de madeira. Cada mão segurava três sacolas grandes; o loiro fez questão de se oferecer para ajudá-la.  

— Obrigada. — agradeceu, entregando três das sacolas ao rapaz. O loiro beijou o rosto da jovem rapidamente e deu passagem para que ela entrasse. — Desculpa pela demora, Naruto-kun. 

— Sem problemas, Hina. 

— Tive uns problemas com a Hana. — colocou as sacolas em cima da mesa, começando a retirar os suprimentos. Naruto fez o mesmo. — Ela fugiu do clã de novo com aquele Konohamaru. 

Naruto segurou uma gargalhada.  

— Parece que vocês, Hyuuga, realmente tem esse hábito peculiar de fugir de casa. — alfinetou e as bochechas da morena coraram devido o constrangimento. Ela deu um tapa leve no braço definidido do rapaz, que riu daquela atitude boba e infantil. — Você trouxe muita coisa, em. — assobiou, olhando para a quantidade de compras espalhadas pela pequena e redonda mesa de madeira. — Parece que vamos fazer comida para a semana toda, não um almoço. 

— Não seja exagerado. — riu. — É porque não está acostumado a cozinhar, Naruto-kun. — levou o olhar para o chão, fitando as sacolas espalhadas pelo piso frio. — Será que teria como guardar tudo isso enquanto eu organizo a cozinha? 

— Claro. 

Naruto recolheu as sacolas rapidamente, guardando-as, em seguida, no armário situado próximo a despensa. Sentou-se à mesa, observando a namorada, que já cozinhava.  

— Precisa de ajuda? — indagou, sentindo-se inútil por ela fazer todo o trabalho duro, mas no fundo queria que a resposta fosse não. Não estivesse indisposto a ajudar; o fato é que Naruto sempre foi – e provavelmente continuaria sendo – um total desastre com trabalhos domésticos. A única pessoa pior que ele quando se tratava de habilidades culinárias era, com toda convicção, Sakura. 

Hinata virou-se, parando de cortar a carne de porco, sustentando um sorriso compreensivo como se lesse cada um de seus pensamentos. Respondeu calma:  

— Não precisa, Naruto-kun, está tudo bem. A receita é bem fácil, não vou demorar. 

Vendo que não tinha nada a fazer, deitou a cabeça sobre a mesa, ainda atento aos movimentos da amada. Ela parecia saber bem o que fazia, cortando tudo com muita agilidade e organizando os ingredientes em pequenos pratos; o óleo esquentava ao fogo. No momento certo, despejou toda a carne dentro da panela fervente. Logo o cômodo foi tomado por um delicioso aroma de temperos.  

A visão de Hinata tão concentrada era realmente incrível. O cabelo enegrecido balançava com a brisa que atravessava a janela da cozinha. Sempre achou extraordinário como ela dava tudo de si até mesmo em coisas tão simples como cozinhar. Nunca entendeu o porquê de Hiashi demorar tanto para se dar conta do potencial da filha.  

Tê-la em casa todos os dias seria como um sonho. Todos os dias a beijaria de manhã ao acordar e, durante a noite, a observaria dormir.  

Pensou em suas noites cheias de paixão, amor e êxtase. Imaginou qual seria a sensação de chegar em casa recebendo um abraço carinhoso seguido de um okaeri. Tê-la em casa todos os dias, tardes e noites.  

Espantou-se com os próprios pensamentos. Por tantos anos ter uma família foi um sonho distante, até impossível. Entretanto, agora seu sonho estava bem ali, diante de seus olhos, cozinhando e cantarolando uma canção doce.  

Mal percebeu quando se movera; em um momento estava sentado à mesa, agora estava em pé logo atrás da garota. Precisava de cinco segundos de coragem; bastava só cinco segundos e sua vida mudaria para sempre.  

Apesar de estar atenta, sentiu a presença dele atrás de si.  

— Hina. — ótimo, estava começando a ficar nervoso.  

— Sim, Naruto-kun? – respondeu, ainda picando habilmente um pimentão vermelho. 

— Case comigo. 

Naruto esperava qualquer resposta. Um não, ainda não estou preparada para tomar esse passo ou um sim, Naruto-kunesperei por isso minha vida inteira, até mesmo um desmaio seria melhor que aquilo.  

Hinata gritou só que não de alegria nem de tristeza. Foi algo semelhante a uma mistura de dor alucinante com angústia mortal, como se alguém arrancasse um membro de seu corpo.  

O que ele demorou para perceber é que foi quase isso. Surpresa com o pedido repentino, a Hyuuga enfiou a faca com tudo no próprio dedo.  

— Que merda. Merda, merda, merda. — era a primeira vez que a via praguejar tão abertamente, o que só o deixou desesperado. A situação não melhorou quando ela se virou com o dedo jorrando sangue.  

— Ai meu Deus. – sentiu a garganta travar e arregalou os olhos. – Você está bem? – foi uma pergunta idiota; era óbvio que nada estava bem. Céus, será que não pararia de falar estupidez nem em um momento como esse?   

— Estou. — mentiu com os olhos marejados tamanha a dor. Tudo bem que se machucava muito mais em missões, já chegou à beira da morte algumas vezes, porém em todas as situações citadas estava sob o efeito da adrenalina, o que não era o caso no momento.  

Naruto respirou fundo na inútil tentativa de se acalmar. Pegou Hinata no colo que, surpresa, não protestou e levou-a até o banheiro. Colocou-a sentada na pia, ligou a torneira e, cuidadosamente, pegou a mão machucada, levando-a até a água fria. O sangue escorreu até o ralo por longos e tortuosos minutos. 

Finalmente, pôde analisar a profundidade do corte.  

A faca cortou fundo, mas não o suficiente para precisar de pontos. Os dois suspiraram, aliviados, simultaneamente.  

— Espere aqui, já volto. – avisou antes de sair. Hinata esperou. Ele retornou segurando um quite primeiros socorros e enfiou-se entre as pernas dela para cuidar melhor do machucado. Felizmente, Sakura havia lhe ensinado alguns truques quando estavam de bobeira há algumas semanas.  

— Obrigada. - agradeceu, fitando o curativo com o rosto levemente avermelhado. 

O silêncio constrangedor reinou, deixando-os desconfortáveis. Naruto, segurando o resto de dignidade que sobrara, fitou-a no fundo dos olhos de uma forma tão intensa que a deixou sem ar.  

Segurou a cintura fina, mergulhou o nariz no pescoço alvo e beijou a região, subindo os lábios até o rosto. Hinata, mesmo embriagada pelas carícias, foi forte o bastante para não se entregar ao momento. Segurou-o pelos ombros e o afastou de forma com que pudessem se encarar.  

— Você tem certeza? 

— Certeza de que? 

— De que quer casar comigo. 

Naruto mirou-a longamente.  

— Nunca tive tanta certeza. Quero passar todos os dias da minha vida ao seu lado. 

Hinata o puxou para perto, roubando-lhe um beijo. Seus lábios eram vorazes, tomando tudo o que ele tinha a oferecer e exigindo ainda mais. Ele não soube o que era aquilo — uma chama ardente que queimava seu interior a medida que os corpos se aproximavam.  

— Eu me caso com você. – sussurrou entre o beijo, que foi aprofundado ainda mais.  

Naruto desceu as mãos até a lombar dela, puxando-a para perto e fazendo-a enlaçar a cintura dele com as coxas torneadas. 

O casal nunca tinha chegado àquele ponto. O máximo que já fizeram foi dar um amasso bem longo no sofá da sala de estar do Clã Hyuuga. Naruto tinha que admitir que nunca sentiu tanto medo quanto nesse dia; preferia a morte a ser pego por Hiashi agarrando sua tão amada herdeira.  

Quando a morena o acariciou em seu ponto mais fraco – a nuca - não conseguiu se controlar. Desceu os beijos pelo pescoço, acariciando o corpo esbelto enlaçado ao seu.  

Hinata estava presa um profundo êxtase. Abriu os olhos; vendo que o rapaz aproximava o rosto do dela, voltou a fechá-los, esperando ansiosamente por mais um beijo apaixonado. 

Um beijo apaixonado que não aconteceu.  

Abriu as pálpebras; Naruto fitava a porta com o cenho franzido.  

— Está sentindo esse cheiro? 

A princípio não sentiu já que estava zonza pelos recentes acontecimentos, mas isso durou por pouco tempo. O aroma era estranho, forte e ruim como... carne queimada.  

— Droga!— vociferou; empurrou o namorado e correu para a cozinha. Havia esquecido o maldito fogão ligado. 

Naruto parou na entrada do corredor, gargalhando ao ver Hinata desesperada, tentando a todo custo se aproximar da panela que respingava óleo para todos os cantos; ela ficou rubra de raiva.  

— Ao invés de rir será que dá para vir me ajudar? 

Ele o fez, segurando a risada. Rapidamente desligou o fogão, o óleo continuou respingando até parar.  

A garota, pesarosa, aproximou-se da panela. 

— Parece que não vamos almoçar hoje, Naruto-kun.  

— Não tem problema, Hina. – a abraçou pelo ombro, olhando-a de esguelha; parecia realmente triste. Pelo visto esse lance de cozinhar era mesmo coisa séria. – Podemos ir em um restaurante aqui perto, não se preocupe. 

— Gomen. 

— Não precisa se desculpar, a culpa também é minha. – desceu o olhar, segurando o dedo enfaixado. – Se eu não te pegasse de surpresa isso não teria acontecido. 

— Tudo bem. – abriu um sorriso gentil. Ela fez uma pausa, ainda incrédula. — Meu Deus.... Nós vamos nos casar.  

— Eu também não estou acreditando. Parece que foi ontem que começamos a namorar. 

Ela assentiu com um brilho diferente nos dois globos perolados.  

— Teremos filhos? 

O Uzumaki sorriu com a pergunta. 

— É claro que sim, dattebayo. E eu quero muitos filhos, pelo menos uns quinze. 

Hinata arregalou os olhos, horrorizada. Pensou até em questionar se era alguma pegadinha, entretanto, a determinação na face dele mostrava o total oposto. Engoliu o seco.  

— N-Naruto-kun... quinze é muita coisa. 

— Que nada, amor. Quero uma família grande. 

— Não posso ter quinze filhos, já tenho quase vinte anos.  

— Então teremos dez. 

— Um.  

— Está louca? Um é pouco. Cinco.  

— No máximo três e sem implicância. – frisou as últimas duas palavras, querendo encerrar a discussão boba.  

Ele fez um biquinho com um daqueles olhares de cachorro pidão, todavia, ela decidiu que não cairia mais na lábia dele. Ao menos, não dessa vez.  

— Ok, até três filhos. 

— Que bom que entramos em um consenso. – abriu um sorriso grande, feliz por tirar a insanidade da cabeça do rapaz. Se fosse ter quinze filhos passaria o resto da vida parindo

O loiro emudeceu, fitando Hinata de cima a baixo. Ela não soube o que ele pretendia com aquele olhar galante, mas tinha noção de que não era coisa boa. Arqueou uma sobrancelha negra, sustentando o olhar, esperando que ele dissesse algo.  

Porém, nada disse. Permaneceu quieto, se aproximou e tocou o rosto da noiva com a ponta dos dedos, descendo-os até o pescoço, iniciando uma carícia íntima. A Hyuuga petrificou ao vê-lo abrir um sorriso sacana de orelha a orelha.  

— O que acha de começarmos a fazer nossos filhos agora? 

Se ela já tinha o rosto rubro, o que veio em seguida foi um roxo quase azul. Era óbvio que Naruto tentava provocá-la e, sabendo disso, socou o peitoral do rapaz que, para variar, disparou a gargalhar.  

— Palhaço. — esbravejou, sentindo o sangue ferver. Não conseguia nem mirá-lo tamanho o constrangimento.  

Como sempre, o Uzumaki reverteu a situação. Tentou abraça-la. Em um primeiro momento Hinata reagiu, empurrando-o para afastá-lo, ainda brava, mas ele era alto e forte demais para conseguir fazer qualquer coisa. Cansada de resistir, permitiu que o rapaz a envolvesse em um abraço terno.  

— Eu te amo. – sussurrou baixinho no ouvido dela. 

— Também te amo.  

O loiro sorriu contra a bochecha de Hinata, tornando a sussurrar contra sua orelha. – Tem certeza de que não quer começar a fazer um de nossos filhos agora?  

— Imbecil. — murmurou; segurar a risada naquelas condições era impossível. 

— Sou um imbecil exclusivamente seu e dessa vez para sempre. Então acho melhor você, futura senhora Uzumaki, se acostumar.  

Hinata sorriu não só por conta dessa frase. Sorriu por perceber que não importava quantas primaveras passassem, se estivesse ao lado dele seria a mulher mais feliz do mundo. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Quatro Estações" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.