A nova Ordem escrita por Ana Letícia


Capítulo 5
Nunca contrarie as ordens de um deus. Os resultados podem ser insatisfatórios.




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Quando cheguei perto mesmo da casa de James fui perdendo a coragem. Apolo dissera que eu não ia gostar nada do que ia encontrar lá. E ele é meu irmão, não é? Por que mentiria para mim?

Eu sabia que não podia ficar ali perdendo tempo porque Zeus já avisara que eu tinha que ir direto aos outros semideuses, mas eu estava tão perto agora, algumas horas não fariam mal.

Mas eu sabia que seriam muitas horas, porque quando me dei conta eu já estava dentro de um super mercado que ficava lá perto. Não foi fácil entrar, os donos conseguiram fechar bem o lugar, mas provavelmente deixaram uma brechinha para eles mesmos entrarem para pegar comida.

Entrei e comecei a andar pelos corredores em alerta, com a lança pronta pro ataque, mas não tinha nenhum zumbi lá dentro. Quando passei pelo corredor dos salgadinhos, lembrei o quanto eu gostava de comer cada um deles. Mesmo não estando com fome agarrei um saco e comecei a comer devagar. Mais adiante na parte de doces peguei barras de chocolate e me empanturrei de Nutella. Eu estava de barriga cheia, e isso me deu sono, fui para a ala de cama, mesa e banho, e me deitei numa grande cama confortável, peguei no sono pensando nas conseqüências do que eu tinha acabado de fazer.

***

Quando acordei da minha soneca, não fazia idéia de que horas eram, sai correndo para tentar ver o céu, percebi com horror que o sol estava se pondo, eu dormi por horas. Se eu tivesse ouvido Apolo e obedecido Zeus, provavelmente agora estaria bem perto do acampamento dos semideuses.

Gritei de frustração. Eu nem tinha ido atrás de James e nem tinha seguido viagem, ótimo, Zeus ia me matar se não precisasse de mim para a maldita profecia.

Ouvi um barulho dentro do super mercado, e isso fez eu me arrepender amargamente de ter gritado momentos atrás. Com a lança nas mãos corri para a fonte do barulho.

Era um zumbi, ele estava de costas. Mas como ele conseguiu entrar lá?

Aproximei-me devagar e estava prestes a enfiar a lança em sua cabeça, mas no ultimo segundo parei, porque ele estava pegando algo na prateleira.

— Largue isso. – sibilei.

O garoto levantou as mãos e se virou devagar.

Quando vi seu rosto deixei a lança cair, e não consegui esconder meu estado de choque.

O garoto era o Leo.

***

Tá, mas... quem é Leo?

Ah, Leo é só um garoto que estudava comigo.

Mentira, a quem estou enganando? Pela minha reação dava pra notar bem que ele não era só um garoto.

Ok. Sentem-se, crianças, a titia Zyra vai contar uma historia pra vocês.

A parte que Leo estudava comigo é verdade, ele era da minha turma. Estudamos juntos por dois anos, mas nós nunca conversamos de verdade. Éramos de grupos de amigos diferentes, e nunca surgiu uma oportunidade até alguns dias atrás. Um dia antes do apocalipse zumbi acontecer.

Eu acordei na madrugada, e não consegui mais dormir, peguei meu celular e me conectei ao facebook. Dei uma olhada em quem estava online, e por coincidência, Leo estava online. Pensei por uns instantes e tomei a decisão de falar com ele.

Acho que qualquer pessoa sabendo o que eu sabia que sentia por ele não teria falado com ele nunca, mas eu falei mesmo assim.

Antes de contar sobre a conversa vou contar o que eu realmente sentia por Leo. A verdade é que eu achava ele bonito, atraente, engraçado e bem sexy as vezes, ele se tornou para mim uma espécie de paixão platônica, afinal eu nunca quis nada com ele de verdade, até a madrugada em que conversamos pela primeira vez.

Foi  uma conversa normal, mas Leo meio que deixou a entender que tinha um interesse em mim, e eu fiquei sem saber o que fazer, afinal eu namorava James e gostava muito dele, eu não podia dar esperanças à Leo, mas também não podia dizer que não gostaria de ficar com ele. Acabou que a conversa ficou por isso mesmo, o apocalipse zumbi aconteceu, e nós nunca mais nos falamos, eu nem sequer tinha pensado nele até agora.

Eu ainda estava parada na frente de Leo, com a boca meio aberta, provavelmente parecendo uma idiota. Ele se abaixou devagar e apanhou minha lança e me entregou, isso fez com que eu me movesse.

— Oi, Zyra. – ele disse com aquela voz sensual.

— Oi, Leo. Que bom te ver. – eu disse.

— Por acaso você estava dormindo?

— Hã? Como...

— Seu cabelo. – ele interrompeu. – Está bagunçado.

— Ah, claro.

Ele começou a rir. As covinhas apareceram em suas bochechas.

Respirei fundo.

— O que está fazendo aqui? - perguntei a ele.

— Procurando comida, senhora óbvia. – ele disse e começou a pegar coisas nas prateleiras. – Estamos num super mercado. – ele balançou um pacote de cheetos.

— Pois é. Que burra eu sou.

— E você, por que está tão longe de casa? - ele perguntou enquanto enfiava coisas na mochila.

Eu não podia dizer a ele que estava numa missão para meu pai, que era Zeus, para salvar o mundo, e que estava à caminho de um acampamento de semideuses.

Antes que eu respondesse ele mesmo falou.

— Procurando James, claro. Ele mora aqui perto, certo? - ele ergueu uma sobrancelha em busca de confirmação.

Apenas balancei a cabeça.

— Se eu estou certo sobre a rua que ele mora, ela está bloqueada. Muitos cabeças de vento, não dá pra passar.

— Cabeças de vento?

— Sim. Como você os chama?

— Zumbis. – respondi.

— Meio óbvio, não? - ele deu uma risadinha, e percebi que foi uma tentativa de fazer uma piada.

Pelos deuses! Eu estava há tantos dias sozinha que não conseguia nem diferenciar uma observação de uma piada.

— Ér, desculpe, Leo, estou há muito tempo andando sozinha por aí. Já tinha me esquecido de como é ter alguém por perto.

— Está bem. Eu estava procurando um lugar para acampar essa noite. Vou ficar aqui se não se importa.

Olhei para os lados sem saber o que falar.

— Ok. – me peguei dizendo.

Ele me acompanhou até a cama onde eu estava, joguei a lança em cima dela e ele escolheu uma cama que estava um pouco distante da minha.

— Há dias não durmo em uma cama. – ele disse.

— Eu também.

— Bom, o que você gostaria de jantar?

— Vamos apenas nos empanturrar de besteiras. – eu disse.

— O que acha de coca cola quente?

Eu ri.

— Dispenso. – respondi.

***

Como combinado, Leo e eu comemos um monte de besteiras, biscoitos, salgadinhos, barras de chocolates, eu bebi suco de caixinha, e Leo bebeu refrigerante quente, eca.

Comemos em silêncio, eu estava com receio de puxar conversa e acabar contando sobre minha missão e ele me chamar de louca, ou pior ainda, retomar a conversa que tivemos pelo facebook.

Quando acabamos de comer, comecei a procurar o banheiro do super mercado. Encontrei alguns minutos depois, ele estava limpinho, com água nos chuveiros.

Corri para pegar shampoos e sabonete nas prateleiras, umas toalhas de banho e umas roupas.

Era meu primeiro banho de verdade desde que saí de casa, quando acabei fiquei tão aliviada, nunca tinha percebido essa necessidade urgente que eu tinha em tomar banho.

Quando sai do banheiro Leo assoviou.

— Tem chuveiro mesmo? - ele perguntou.

— Tem sim.

— Acho que vou morar aqui agora. – ele brincou.

Eu ri.

— Eu pensei sério nisso, Zyra... morar aqui...

— Bem, aqui tem muita comida, tem camas, banheiro. Mas é muito perigoso, não é tão difícil de entrar aqui, qualquer um com um pouquinho de coragem seria capaz de invadir esse lugar. E pode ter certeza de que muitas pessoas virão aqui, não tem como fechar o lugar sem chamar atenção.

— Eu sei, eu sei. De qualquer forma eu não poderia ficar, tenho que encontrar os meus irmãos...

Ok, disso eu não sabia.

— Não sabia que você tinha irmãos.

Leo pareceu desconfortável.

— Eu tenho uns irmãos, eles estão esperando por mim. – ele disse e não falou mais nada.

— Entendo. – respondi.

— Você vai na casa do James amanhã? - ele mudou de assunto.

— Eu não sei, você disse que a rua tava bloqueada.

— Talvez tenham ido embora.

— É, eu vou tentar, já estou aqui mesmo.

— Eu não vou com você. – ele disse devagar.

— Eu não ia pedir. – eu disse.

— Tudo bem, eu vou ficar por aqui, sinto muito. É só que, se o pior tiver acontecido com o James, eu não quero ver você... você sabe, chorando.

— Ok, Leo, eu vim preparada, eu acho.

— Certo, vá dormir um pouco, você precisa descansar.

Leo  foi para o banheiro, e eu fui para a cama, tentando entender o que se passava na cabeça dele.

***

Acordei varias vezes durante a noite, tive diversos pesadelos. Em um deles Zeus estava tão furioso comigo que o céu trovejava os trovões faziam imensos estrondos, e a voz dele ecoava:

— Você falhou, Zyra, me desobedeceu e a humanidade pagou por isso. Tenho vergonha de que seja minha filha.

O sonho mudou, Apolo estava com uma coroa de flores na cabeça e uma cesta de pétalas de rosas nas mãos, ele saltitava e jogava as pétalas para o alto, pulando em círculos e cantando:

— Zyra e Leo estavam se beijando, bem na frente das portas da morte, o desejo perdido foi para os ares, e isso acabou com a humanidade.

O sonho mudou novamente, o rosto de Sam apareceu em minha frente. E ele disse:

— Por que você me deixou morrer, Zyra?

Acordei com lagrimas nos olhos e gosto de ferro na boca. Levantei da cama e procurei água para beber, Leo estava apagado na cama dele. Fui andando para a brecha de entrada a fim de ver se já era de manhã. O sol já estava lá, deviam ser umas 6 horas da manhã.

Cutuquei Leo para ele acordar.

— O que foi? - disse ele.

— Eu tô saindo, ok? Só não queria que se preocupasse quando não me encontrasse.

— Ah sim, você vai voltar não é?

— Sim.

— Tudo bem, boa sorte.

Ele deitou na cama e apagou novamente.

Eu não sabia o que havia de errado com o Leo, mas eu não o forçaria a ir comigo.

Arrumei coragem e sai do super mercado, tive que matar alguns zumbis pelo caminho, mas finalmente cheguei à rua da casa de James.

E era verdade, estava apinhada de zumbis, não tinha como passar sem ser notada, e a casa dele ainda estava longe, não tinha como saber se tinha alguém lá dentro.

Mas eu não ia me perdoar se não checasse.

Comecei a matar os zumbis, quase trinta no total. Eu já estava cansada, fedendo e toda suja quando cheguei na porta da casa dele, não hesitei em bater na porta, afinal eu não tinha matado todos os zumbis da rua à toa.

Bati na porta e esperei. Bati de novo e esperei mais um pouco, quando eu ia bater pela terceira vez a porta se abriu. Meu coração parou por um segundo, mas não foi James quem abriu a porta, foi o pai dele.

Os olhos do senhor Ford se arregalaram quando ele me viu.

Ele abriu o portão rapidamente e me puxou pra dentro da casa.

— Que bom que você está bem, Zyra. – ele disse. – Está sozinha?

— Estou. O James...? – perguntei com medo da resposta.

— Ele tá bem.

Uma onda de alivio tomou conta do meu corpo, respirei fundo.

— Como conseguiu chegar até aqui sozinha, Zyra?

— Eu, hã, tive ajuda no caminho.

— Você foi mordida?

— Não fui mordida, desculpe, senhor Ford, mas eu quero ver o James.

— Vou acordá-lo.

Ele me deixou na sala e sumiu no corredor.

 


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