Nuvens escrita por Calpúrnia


Capítulo 1
"[...] essas tempestades querem apenas lava-lo."


Notas iniciais do capítulo

Olá, olá! Como vocês estão? Depois dessa maratona Enem (que eu imagino que muitos fizeram), devem estar exaustos. Eu sei, eu entendo. Mas eu vim aqui, postar essa one-shot, porque é importantíssima. Vamos ao pontos: sabemos que nosso Naru-chan é um moço muito forte e dedicado, nunca se deixa abater, mas quando ele vai para "casa" no final do dia, sempre acaba mal, chorando, com aquela dor horrível de solidão. Por que não falamos sobre a depressão que ele teve? E as consequências dela? Pois então. Hoje, acordei me sentindo solitária e comecei a pensar no Naru. E acabou acontecendo isso que vocês lerão. Espero que isso gere um pouco de reflexão, porque refletir é muito bom.

Boa leitura!



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“NUVENS”

Capítulo Único

Escrito por G. de Oliveira

 

"Vazio" 

adj. [figurado]: falto, privado, carente destituído.

s.m. [figurado]: sentimento angustiante produzido por saudade, privação ou ausência. 

 

"Lar"

s.m.: casa, família. 

 

A maioria de seus amigos havia ido embora, sobrou apenas ele, Sakura e Sai. Ele continuava falando sobre qualquer coisa, um assunto qualquer seria o suficiente para que o tempo ali se estendesse e ele não precisasse ir também. Portanto, era exatamente isso que não queria: sair dali e voltar ao frio de seu apartamento bagunçado.

— O que você acha, Sakura-chan?

 — Acho que devemos todos ir para casa. — fez uma pausa. — Ao contrário de vocês, eu trabalho.

Naruto olhou para a amiga com certa aflição, o que claramente foi ignorado por ela. Claro que Sakura trabalhava e tinha que descansar, mas pela primeira vez estava sendo um egoísta ridículo e medroso. Já estava tarde e a noite trazia ruas vazias em Konoha, o que lhe dava uma sensação ainda pior de solidão.

Antes que pudesse contestar, tanto Sakura como Sai já haviam partido. Suspirando, não encontrou alternativa se não ir para casa — mesmo que ele não considerasse aquele apartamento como um lar. Não conhecia a realidade de um, no entanto, sabia dentro de si que era diferente de quando chegava a seu apartamento em noites como aquelas. Talvez fosse por isso que preferia fazer milhares de missões e se cansar; era melhor do que sentir e pensar na solidão.

O Uzumaki fez os passos até o apartamento, lentamente, evitando a todo custo chegar lá. Para não pensar nisso, desviou seus pensamentos para outras coisas. O fato de estar de volta à Konoha, enfrentado Pain e a Akatsuki e a reconstrução da vila acontecendo aos poucos, porém com sucesso. E, inevitavelmente, na senhorita Hyuuga que havia se arriscado demais por alguém como ele.

Fechou os olhos, tentando afastar todos aqueles sentimentos de medo, dor e ódio, porque eram coisas ruins que ele não estava disposto a enfrentar naquele momento. Ao abri-los, olhou para suas mãos. Agora, eram mãos grandes, a pele ainda bronzeada como sempre foi, porém com mais calos do que antes. Suas mãos eram grosseiras, mãos de quem tentava a todo custo afastar um passado tenebroso de suas costas. Queria muito poder dizer que estava obtendo sucesso em seu objetivo.

Parou de andar quando percebeu que havia chegado a seu destino. Olhou para o prédio simples e desajeitado no meio da vila, despontando para aquela Lua enorme e linda, sorrindo para Naruto como se ele fosse realmente importante. Não se sentia assim, não sentia que valia a pena — e por isso queria muito dar uma bronca na Hyuuga por ter se arriscado tanto por ele.

Com o aperto em sua garganta, Naruto subiu para chegar ao apartamento. Retirou a chave de seu bolso e com a cabeça baixa, abriu a porta, entrando logo em seguida. Em geral, era fácil fazer aquele processo, no entanto havia dias que era impossível. Havia dias nos quais era doloroso demais entrar e não enxergar nada nem ninguém além da escuridão e do silêncio.

E mais uma vez, foi exatamente o vazio que encontrou. Seu coração deveria se sentir assim também, vazio, mas ele se sentia desesperado. Era como uma ferida que, quando começava a cicatrizar, se abria novamente e sangrava muito. Doía muito e ele não podia fazer nada além de se encolher na cama e esperar que o Sol voltasse e ele pudesse passar por mais um dia bem longe daquele lugar que chamava de casa.

Em vários momentos se pegou pensando se, algum dia, teria um lar de verdade.  Será que alguém, algum dia, estaria esperando-o na volta para casa? Será que ele abriria a porta e alguém sorriria com doçura e amor enquanto o abraçaria? Naruto quase sentia isso, era como uma brisa fria num dia de calor extremo, algo que o relaxava e o dava a ideia de que tudo seria melhor no dia seguinte. No entanto, era uma brisa veloz, e a realidade o tragava de volta. O aperto voltava, a ferida sangrava mais e a dor ia aumentando, torturando-o sem dó.

Encolhido na cama, ele chorava. Os soluços eram o único som que se ouvia naquele apartamento. Ninguém sabia, é claro, mas ele sim. Sabia e sentia, e só queria que tudo passasse, parasse antes que seu único pingo de sanidade se esvaísse e ele não tivesse mais volta.

{...}

Acordou sobressaltado. O suor escorria pelo pescoço e nuca fazendo sua camisa ficar encharcada. Era mais uma, a quarta naquela semana. Tentou respirar fundo para afastar a dor e o aperto, mas não conseguia. Parecia-lhe que quanto mais tentava ficar longe daquelas sensações, mais difícil se tornava.

— Naruto-kun? Pesadelos de novo? — perguntou Hinata preocupada enquanto o abraçava.

O rapaz apenas assentiu, afundando a cabeça no pescoço da esposa. Era estranho ter esses tipos de sonhos, porque as coisas haviam mudado completamente. Ele era casado com a mulher que amava, ela sempre o recebia em casa, fazia com que sua companhia e seus abraços fossem um lar para ele. Aquele sorriso singelo e doce que o fazia se sentir tão amado e seguro. Ele tinha tudo isso, bem ali, ao seu lado, em suas mãos. Então, por que ainda tinha esses pesadelos ridículos?

— Não tem problema se sentir assim, Naruto-kun. — ela disse, enquanto afagava os cabelos louros. — Você foi sozinho por tanto tempo, e agora não é mais. É claro que sua mente vai sentir o impacto dessa mudança. Só, por favor, não se afunde nisso, tudo bem? Eu estarei aqui.

Apertando-a ainda mais em seus braços, permitiu-se chorar. Hinata sempre o dizia que chorar não resolveria os problemas, mas ajudava muito a clarear a mente, já que o ato de derramar lágrimas eliminava a tensão e outros sentimentos que nublavam a sanidade. Portanto, ele se deixou chorar, deixou que as lágrimas de desespero rolassem por seu rosto, como se ainda fosse aquela criança que passava as noites rezando para que tudo passasse e que o dia viesse logo.

Hinata apenas abraçava Naruto, afagando seus cabelos e costas, tocando sua pele para mostrar que ela era real e estava bem ali. Naruto sempre foi sozinho, e o vazio era a única sensação que ele conhecia até ter amigos e viver com Jiraya. Durante todo esse tempo, ele viveu uma profunda depressão, algo que nem ele mesmo sabia. Ela sabia, porque havia vivido isso por um longo tempo também. E mesmo que Naruto tivesse a ajudado a enfrentar seus medos, ela sabia que por trás daquele sorriso enorme e corajoso, estava apenas uma criança implorando por ajuda, por uma companhia, um abraço que fosse. Às vezes, ela mesma se repreendia por não tê-lo procurado antes, por não ter tentado se aproximar.

Algum tempo se passou até que Naruto se acalmou e soltou-se um pouco de Hinata. Ela o ajudou a enxugar as lágrimas e pegou outra camisa para ele. Com uma toalha úmida, limpou o suor que ainda estava impregnado em sua pele. Deu um copo de água a ele e voltou a se deitar a seu lado. Trouxe-o para perto e deitou sua cabeça em seus seios. Hinata sabia que não poderia fazer muito por ele além de estar ali, mas acreditava que, por hora, seria suficiente.

— Hina, isso vai passar, não é? — ele perguntou ainda assustado.

— Claro que sim, Naruto-kun. — ela respondeu tentando se mostrar animada. — É claro que vai passar. Você é forte, não só como ninja. Eu vou te ajudar sempre, assim como seus amigos e todos ao seu redor. Estamos aqui para isso. Esse vazio vai deixar de existir, ele vai ser preenchido.

Ele apenas assentiu e voltou a ficar em silêncio. Hinata o afagava e beijava sua testa vez ou outra. Aos poucos, ele foi sentindo que o medo se afastava, como uma nuvem pesada em dias de chuva, dando espaço ao Sol e ao arco-íris. Era uma sensação boa, a de pertencer a algum lugar, a de ser amado e cuidado. Puxou-a mais, apertando-a em seus braços.

— Você já se sentiu assim?

Houve mais silêncio por alguns minutos até que ela respondesse.

— Sim. Eu sempre me sentia assim, especialmente quando estava perto do otou-san. Ele me olhava como se pedisse desculpa, mas se mostrava enojado com apenas um piscar de olhos. Cada vez que eu chegava perto dele, meu coração doía, como uma ferida que não para de sangrar. Mesmo com Neji-nii-san. Quando ele me odiava, eu me sentia tão vazia e quebrada. Você sabe que, antes, éramos próximos até que Hizashi-ji-san morrer. Aquele olhar que me dava, um olhar de ódio e rancor, me deixava ainda pior. Eu me sentia presa, sozinha e humilhada. Não conseguia me livrar daquilo, por isso colocava meu melhor sorriso no rosto e fingia que estava tudo bem. Kō-san era a única pessoa que ainda se preocupava em me ajudar, a me dizer palavras de consolo e segurança. Ele até me abraçava de vez em quando. Ele foi meu único amigo durante por muito tempo, e ainda é muito especial. Então, eu conheci Kurenai-sensei e Kiba-kun e Shino-kun. Eu também pude me aproximar de você, Naruto-kun, e as coisas começaram a melhorar. Até o dia que otou-san me renegou de vez. Ele disse coisas horríveis e eu escutei tudo. Gosto da ideia de que ele fez isso para me fortalecer, mas doeu muito.

Naruto escutava tudo atentamente, e a única coisa que conseguia pensar era como era possível alguém machucar tanto uma criatura tão doce e inocente como Hinata. Também não sabia das dores que ela passou, dores essas tão parecidas com as dele. Os motivos eram diferentes, no entanto sofriam da mesma forma.

— Otou-san me pediu perdão anos mais tarde. Eu o perdoei, porque o amo muito, e eu sei que tudo aquilo foi consequência das insanidades dos conselheiros do Clã. Eles queriam uma líder imponente e eu não era o que eles queriam e acabaram forçando meu otou-san àquela situação. — fez uma pausa para virar-se e ficar cara a cara com Naruto. — Eu o entendo, Naruto-kun, e conheço essa dor. É uma nuvem negra que nos persegue e nos alcança muitas vezes apenas para chover dor e sangue. Eu fugi disso durante muito tempo, mas busquei forças em mim. Nunca tive nada, mas os sentimentos que você despertou em mim, numa pessoa tão vazia, me deram força para me erguer e seguir em frente. Eu me agarrei a isso e consegui transformar a nuvem negra em uma nuvem branquinha, acompanhada de um Sol grande, quente e bonito, e um céu azul. Azul como os seus olhos. Espero poder fazer o mesmo por você.

Hinata terminou de falar e ficou quieta, com um sorriso pequeno, porém sincero em seus lábios. Naruto apenas a observava, abismado com a declaração. Como sempre, ela o surpreendeu com sua sinceridade e força. No final das contas, ele não era uma fortaleza, o mundo ninja não precisava dele, e sim dela. Uzumaki Hinata era a força que o mundo precisava, especialmente ele.

— Eu sei que muitos dos seus sorrisos eram falsos. Eu sei que você passava muitas das suas noites chorando e rezando para que um novo dia chegasse logo. Sei disso, porque eu sentia sua dor cada vez que nos olhávamos. Você sempre teve garra, força e vontade, mas no fundo, tudo que você sempre quis era um pouco de amor e segurança. — ela disse, colocando sua mão pequena e pálida sobre o peito do marido, fazendo o mesmo com ele. — Eu sempre soube e sentia e me condeno por não ter me aproximado e cuidado de você antes. Nunca vou poder suprimir a ausência dos seus pais ou de Jiraya-san, mas eu sei que nós dois, juntos, podemos transformar essa nuvem negra em algo bom.

Dessa vez, ele sorriu e assentiu, sentindo o coração de Hinata disparar, forte e vivo. Ele gostava de ouvir e sentir os batimentos dela, era a prova mais viva de que ela estava ali, com ele. Era aquela sensação que ele procurava por toda sua vida, a de segurança e amor. Sabia que, sim, sua nuvem se transformaria em uma branquinha e cheia de vida.

Abraçou-a com força enquanto sentia todo o calor daquele corpo pequeno comparado ao seu. Sentiu seu cheiro de canela e a suavidade de sua pele. O cheiro em seus cabelos negro-azulados que o fazia pensar em chocolate quente e rosas vermelhas. Ela tinha cheiro de lar, e, para ele, era exatamente isso.

— Você é minha nuvem branquinha, Hina-chan.


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Notas finais do capítulo

Eu gostei tanto de escrever essa one. Acho que finalmente pude escrever o por quê de me conectar tanto com o Naru e a Hina. Eu adoro as outras personagens, adoro todos, de verdade, mas apenas esses dois mexem tanto comigo. Acho que existe um grande entendimento de sentimentos: solidão, dor, vazio, medo, impotência. Por isso gosto de me aprofundar tanto neles; ao mesmo tempo, posso me aprofundar em mim mesma.

Eu tenho certeza de que o Naru teve depressão. E, posso dizer por experiência própria, como isso é pesado e doloroso. É um inferno, na verdade, no pior sentido da palavra. Existe essa criatura horrenda que te persegue, é algo sem forma, sem qualquer indício de humanidade. A única coisa que você poder é fugir, tentar se esconder em algum lugar que mantenha essa criatura bem longe. Eu acredito que ter pessoas que te amam e te apoiam por perto pode, sim, te ajudar. Não curar, mas melhorar e te fazer ter vontade de superar isso, de viver. E foi isso que eu mostrei nessa one. Acredito que a Hina seja um pilar na vida do Naru. Sim, ela tem suas cicatrizes, e até algumas dores, mas ela conseguiu superar e se fortalecer e agora quer fazer isso por ele.

Bom, espero que tenham gostado. Muito obrigada a todos que leram. Espero vê-los em outras histórias!

Até mais! ♥ ♥ ♥



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