Batman - Alvorecer escrita por Cavaleiro das Palavras


Capítulo 9
Capítulo Nove - Nem sempre caem de pé




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Nas semanas seguintes, continuo a praticar com Selina. Tanto dentro quanto fora da academia. Por estar na cidade a mais tempo que eu, a sigo por passeios. Passo a ela algumas das coisas que Alfred ensinara-me, e ela me concede a sabedoria de seu pai. Correndo e saltando por tantos lugares, duvidava fortemente que meu amigo ficaria satisfeito com aquilo. Não poderia evitar, a garota se tornava a cada dia uma companhia mais agradável.

Em meio a um dia quando treinávamos na academia, observei Theodore passar e momentaneamente fazer pausas para praticar golpes em sacos de pancadas. Ele o fazia muito. Certo dia quando todos já haviam ido, Grant executara golpes impressionantes pensando que ninguém o via. Repentinamente vem-me a mente os arquivos que Alfred havia cedido a mim para treino. Lembro-me da ficha de meu treinador, sobre sua persona.

— Você está distraído e tenho certeza de que não é o meu sorriso. – brinca Selina após conseguir acertar-me uma sequência perfeita.

— Desculpe, estive pensando sobre algo. – conto a ela em voz baixa sobre Ted.

— O quê?! – ela se surpreende com a declaração. Repreendo-a com os olhos e observo rapidamente enquanto Grant parece nem sequer notar – Como sabe disso?

— Eu tenho... Meios.

— Belos meios. Mas... Não faz sentido. Papai e Ted são amigos. Meu velho saberia. Além do mais, Ted jamais abandonou uma luta durante toda a sua carreira. Algo assim... Não faz sentido que ele simplesmente deixe de lado.

— Verdade. Estive pensando em fazer uma investigação...

— Hummm... Bisbilhotar nas coisas dele... Que coisa feia. Estou dentro!

— O quê...?

— Ei, sou tão curiosa quanto uma gata. Conte comigo! – seu sorriso aumentou e seus olhos brilharam mais.

— À noite então. Entraremos no escritório dele. Se estiver certo, encontraremos algo lá.

...

— Você é rápida! Como faz isso? – pergunto admirando-me com a velocidade com que Selina foi capaz de abrir a porta do escritório de Theodore com dois clipes de cabelo.

— Papai me ensinou.

— Por que ele precisaria te ensinar isso?

— Não faça perguntas sobre coisas que você não quer as respostas.

Não esperava por esta resposta. Próximo da hora de fechar da academia nós fingimos sair e aguardamos no armário de equipamentos. Sendo grande o suficiente ele evitara uma possível situação constrangedora entre Selina e eu.

— Theodore já deve estar em seu apartamento agora. Todavia sugiro que façamos silêncio. – digo sussurrando enquanto entramos no recinto. Grant havia construído a academia abaixo de seu apartamento no segundo piso.

— Sem problema.

Assim que entramos vou diretamente ao armário. O mesmo evocara minha atenção a primeira vez que conversei com Grant. Selina se prepara para abri-lo, no entanto, lhe peço uma oportunidade de tentar. Ela me oferece uma caixa onde leva diversos outros grampos de cabelo. Indago-me por que ela precisaria de tantos grampos já que não há nenhum em seu cabelo. Uma hipótese passa por minha cabeça, mas deixo-a de lado e procuro esquecer isto em questão.

Tento uma, duas, três vezes e falho. Ela me diz que preciso executar o movimento rotacional na tranca até o ponto em que sinto a vibração, neste momento estarei no caminho certo para abri-la. Escuto-a. Mantenho a calma e executo o movimento lentamente. Quando o atrito se faz mais forte, retorno ao ponto central. Leva alguns minutos, mas finalmente consigo.

— Não estabeleceu um recorde mundial, mas pelo menos abriu. – ela diz.

Ao abrirmos o armário, não há nada mais do que algumas pastas, objetos para treino e cabides vazios. Retiramos cada um dos pertences com calma, todavia, não há nada lá.

— Então, essa era sua melhor pista? – Selina cruza os braços e parece tão desapontada quanto eu estou. Neste instante, noto que há um desnivelamento na parede do armário. Forço-a e consigo desencaixa-la. A retiramos do local e agradeço por confiar em meus instintos. Empoeirado e devidamente remendado está um traje remetendo há uma pantera gigante. Uma máscara contendo um focinho falso do felino, luvas sem dedos, botas e diversos conjuntos de cordas completam o equipamento.

— Não deveriam estar mexendo nisto.

Viramo-nos como que de um pulo para ver Theodore Grant atrás de nós com olhar fixo em seu antigo uniforme de Wildcat. Apesar de seu estado em parte atônito, há brilho em seus olhos.

— Ted! – exclama minha amiga.

— Desculpe-nos Theodore, mas nós... Só precisávamos... – tento explicar.

— Ver para crer. Como souberam disso? Na verdade, deixa pra lá... – ele desvia o olhar do uniforme e nos observa. Talvez já estivesse esperando que algo do tipo viesse a acontecer cedo ou tarde. Não há real raiva ou descontentamento em sua face. Em verdade, não sou capaz de ver o que sente.

— Desculpe-nos Theodore, mas ouvimos rumores e queríamos saber se... – começo.

— Se eram verdade. Sim, eles são. Satisfeitos? – por mais que ele devesse estar bravo, não há raiva em sua voz.

— Por que você parou? – indaga Selina.

— A chama se extinguiu.

— Só isso? – minha amiga mantém os braços cruzados e tornando seu descontentamento muito mais visível que o meu.

— Escutem, há certas lutas, que por mais glorificadoras que sejam... Não valem a pena. E essa em específico, jamais teria um fim. A única coisa que obtive por praticá-la foi dor e sofrimento.

— E todos aqueles que você salvou? Os malfeitores que levou a justiça? – tento fazê-lo lembrar de seus bons tempos. Passam por minha mente as histórias que papai contara-me sobre o Wildcat, indo de cidade em cidade combatendo o mal. Sobre tudo o que de bom fora atribuído ao mesmo nos arquivos que Alfred entregara.

— Em comparação com todos os que não pude salvar ou que se foram por minha culpa? Não valia a pena.

— Eu não acredito! Você... – Selina parecia quase explodir.

Theodore nos encara.

— Deviam ir agora. É tarde.

— Mas Ted...! – minha amiga protesta.

— Vão. É tarde. Precisam de forças para treinar amanhã. – ele se mostra mais firme.

Concordamos com relutância e deixamos a academia. Olho por sobre meu ombro e fito Grant ainda encarando o armário. Lembrando os bons tempos talvez? Ou pensando por que a chama se extinguiu?

— Não podemos deixar isto. Seja lá o que for que o quebrou, o fez pra valer. – resmunga minha amiga enquanto caminhamos pela rua hora ou outra retornando nosso olhar para o andar superior da academia que apaga suas luzes.

— Ele se quebrou...


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