Batman - Alvorecer escrita por Cavaleiro das Palavras


Capítulo 8
Capítulo Oito - Quando uma gata cruza seu caminho




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/714346/chapter/8

Os treinos se iniciam na manhã seguinte. Trajo todo o equipamento de segurança por pedido de Alfred. Theodore inicia com o básico pedindo-me para golpear um saco de pancadas. Ponho força em cada golpe, ele me repreende.

— Mantenha a calma e golpeie com força parcial o saco de pancadas, assim poderá treinar por mais tempo. Mantenha sua base firme e golpeie com velocidade. Lembre-se técnica e velocidade, muitas vezes se saem melhor do que força e brutalidade. Você precisará de fôlego para treinar com qualidade. Mantenha seus golpes em efeito chicote. – ele demonstra – Em uma luta é importante que o oponente saiba o quão forte você é, mas mais importante ainda, é derrubá-lo.

Cada lição. Cada movimento. Faço questão de guardar em minha mente. Momentaneamente ele interrompe o que faço para demonstrar a forma certa. É impressionante como o homem, apesar da idade que aparenta ter, apresentar um condicionamento físico tão impecável.

Após os treinos pratico o que aprendi com meu Alfred. Ele repete parte dos ensinamentos comigo e demonstra igualmente o que aprendeu nas Forças Especiais. A cada dia ele mostra mais confiança em mim, assim como Grant. Contudo, momentaneamente relembro o real motivo de estar ali. Talvez não ligue para o que esteja empreendendo, ele quer unicamente me proteger. De alguma forma, ele parece se culpar por algo.

Dia após dia treino. Fixo na memória cada uma de suas palavras.

— Gire seu corpo todo durante o golpe. Golpeie na mesma velocidade em que gira seu corpo, assim você não perderá em força. Outra vez, golpeie com o corpo todo ao invés de apenas com os braços. – ele demonstra-me a correta movimentação. A academia está vazia, é muito cedo, treinamos no ringue.

A cada acerto noto sua empolgação. Cada vez mais dias passam. O treinamento se intensifica a cada um deles. Sinto as mudanças, mesmo que eu prefira acreditar que ainda não são o suficiente. Preciso de mais. Preciso ser mais.

— Você não precisa de sequências muito grandes de golpes. De três a cinco está de muito bom tamanho. Muitos golpes o cansam e abrem aberturas para contra-ataques. Respire e sempre olhe no seu alvo quando executar os golpes. – ele nota que em certos momentos minha respiração é rápida demais e meus olhos se fecham momentaneamente - Não prenda a respiração e ou contemple o solo. Aprenda a manter seus olhos abertos durante os combates! Não fique esperando seu oponente atingi-lo todo o tempo. Lance golpes mesmo que não acerte. Assuste-o. Faça-o pensar, hesitar.

Mantenho o foco. Cada palavra, em minha memória.

...

— Algo de especial hoje Theodore? – indago meu treinador enquanto ajeito o equipamento de proteção em meu corpo.

— Hoje quero que treine em dupla com outro aluno. Mais especificamente... Selina! – responde Theodore conduzindo-me ao ringue.

A garota que ao chegar fiquei tanto a admirar sobe ao ringue. Depois das semanas que passei treinando aqui, diversas vezes peguei-me parado admirando-a. Algo nela, me evocava a atenção. Contudo, não tive coragem para fazer uma aproximação, e no fundo, sabia que não deveria focar nisto. Não estava ali por amizades, mas por preparo para algo. Algo maior que eu.

— Bruce Wayne, em? Te vi treinando. Você não é tão ruim. – ela diz enquanto sorri e sobe ao ringue. Theodore mantém-se de fora do mesmo nos observando e passando as últimas orientações.

— Hoje, Selina irá te auxiliar nos exercícios de autodefesa. É simples, ela vai te atacar e preciso que se defenda o melhor possível. Lembre-se das bases que antes lhe passei. Sem ataque, apenas defesa. Certo?

— Certo. – em seguida torna-se complicado falar pelo fato de colocar meu protetor bucal. Selina faz o mesmo. Observo Alfred um pouco mais atrás de Grant. Ele parece conversar com o homem que semanas antes considerei ser o pai de minha atual companheira de treino.

— Não se preocupe Bruce. Eu pego leve com você. – diz Selina. O treinamento se inicia.

— Mantenha a calma. Respire. Respire. O pânico é o que você deve evitar. – Theodore mantém-se lecionando.

Movimento-me. Selina por enquanto não atacou. Seus olhos, como duas esmeraldas cintilando, mantêm-se fixos em mim. Abaixo a guarda momentaneamente. Ela ataca.

— Não, não Bruce. Mantenha a guarda alta o tempo todo. Cotovelos, próximos ao corpo, a cabeça, movendo. Não seja um alvo fácil.

Faço o que ele pede. Mantenho minha guarda forçando a concentração. Não posso me distrair. Ela ataca mais frequentemente. Todavia, utilizo muito do espaço ao redor e perco território. Meu instrutor condena a atitude.

— Olhos no oponente. Defina seu espaço e contra-ataque. – Recita Grant e por um instante me distraio, Selina executa uma sequência de cinco golpes. Dois me acertam, dos outros três sou capaz de esquivar – Não aguarde seu oponente acabar de golpear para atacar. Haverá um momento em que não conseguirá barra-lo e você vai cair.

Movimentamo-nos pelo ringue. Meus olhos fixos no dela tornam-se algo recíproco. Parecemos dançar à medida que nos movemos. Ela sorri, parece achar tudo aquilo muito divertido. Ela ataca uma vez mais, desta vez estou preparado. Desvio de seu golpe de direita e sou capaz de imobilizar seu braço aplicando um contragolpe que a derruba no chão com o mínimo de contato possível. Não era boxe o que utilizara, fora das regras. No entanto, a manobra ensinada por Alfred passara por minha cabeça.

Todavia, o movimento não causa muito impacto da forma que o apliquei. Uma vez mais seus olhos me evocam atenção e perco a linha de raciocínio. Ela se aproveita e executando um rolamento coloca-me abaixo. Quem agora se estira no chão sou eu.

— Bem jogado. – ela mantém seu sorriso embora ofegante. Por dado instante tornei-me alheio ao mundo ao redor o que me causa surpresa quando ouço a voz de Grant que aplaude juntamente a meu mordomo e o possível pai de minha companheira de treino.

— Muito bem! Esse foi um bom treino! Excelente!

 Selina me auxilia a levantar.

— Bruce Wayne. – apresento-me.

— Selina Kyle.

...

Próximo ao término dos treinos quando estava prestes a guardar meu equipamento, luvas de foco são jogadas a mim. Ao retirar meu olhar de minha mochila noto quem as jogara.

— Topa treinar um pouco mais? – Selina pergunta pondo as mãos na cintura e sorrindo.

— Na verdade, eu já estava de saída. – explico pondo as luvas de foco de lado e fechando a mochila.

— Com medo de perder de novo?

Ela tocou em um ponto importante e sabe disso. Aceito seu desafio e subimos ao ringue para treinar. É próximo do entardecer e a luz do sol ilumina o local. Partículas de poeira flutuam e nela se tornam visíveis.

— Então, de onde você vem? – inicio a conversa enquanto utilizo as luvas de foco para parar os golpes dela.

— Gotham, que nem vocês. Afinal, quem é que não sabe de onde é Bruce Wayne. – Selina responde aplicando uma sequência nas luvas. Mantenho a postura firme.

— Há quanto tempo estão por aqui, sabe, em Louisiana?

— Uns dois meses. Meu velho e eu estamos morando em um apartamento não muito longe daqui.

— Ah... Aquele homem que te acompanha, ele é seu pai?

— Sim. O seu amigo, é o seu mordomo, certo?

— Bem... Ele é praticamente da família. Não sei se cabe a ele bem este título.

— Juro já tê-lo visto em algum lugar. Em um filme acho... Meio antigo.

— É ele foi ator durante um tempo.

Trocamos os papéis. Selina agora barra meus golpes.

— O golpe que você usou... – ela começa – Não foi Ted que te ensinou. Onde aprendeu?

— Alfred, ele me ensinou. Sabe de algumas coisas. – não sou totalmente sincero. Em grande parte pelo fato de que mal a conheço e um mordomo que já fez parte das Forças Especiais Britânicas não é algo comum.

— O seu também não foi aprendido aqui, foi?

— Ah, não. Meu velho me ensinou algumas coisas há certo tempo. Sendo Gotham aquele buraco, bem, ele achou que fosse necessário. Estou aqui por isso. Ele insiste que preciso saber me virar.

— Estar pronto nunca é demais. – comento quando ela subitamente me chuta. O golpe está longe de ser forte ou de causar qualquer incômodo.

— Você que o diga!

Caímos no riso e o treino prossegue. Dentro de tanto tempo em meio a toda a dor e tristeza, fazia um belo período no qual não me divertia assim. Selina era diferente. Livre. Algo que não conhecia.

— Então, te vejo amanhã? – pergunto como quem não quer nada.

— Pode contar com isso.

 

 

 

Selina Kyle

Primeira Aparição – Batman #1 (1940)

Personagem presente nas publicações da Editora DC Comics;


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Batman - Alvorecer" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.