Batman - Alvorecer escrita por Cavaleiro das Palavras


Capítulo 7
Capítulo Sete - Um caminho melhor




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DING-DONG

A campainha toca em seguida James Gordon adentra a Mansão e cumprimenta Alfred. Indaga-o porquê apenas o encontra quando vem ao local. Meu amigo o explica de como foi obrigado a demitir os outros funcionários por estarem vendendo pertences da casa. Aparentemente, qualquer coisa relacionada aos Waynes agora valia um alto preço.

— Senhor Wayne! – Gordon me cumprimenta enquanto deixo de lado o livro sobre medicina ao qual lia.

— Detetive Gordon. Acredito que já saiba o que o trouxe aqui. Li os jornais. – digo enquanto aponto para um exemplar deixado sobre uma escrivaninha ao canto do estúdio de papai.

— Ah sim, é exatamente por isso que estou aqui. – ele se senta no sofá a minha frente – O responsável pelo... Ocorrido. Entregou-se hoje pela manhã. Confessou tudo o que fez. Acreditamos que ele venha a ficar de dez a vinte anos preso.

Assento demonstrando que compreendo. O detetive nota meu gesto e parece adivinhar o que se passa por minha cabeça.

— Bruce, sei que isto não mudará o que ocorreu. Mas talvez possa ser uma chance, de recomeçar. Não é fácil, mas talvez, agora... Você possa seguir em frente.

...

“Seguir em frente”. Quanto tempo faz agora? Dois meses? Quanto tempo será necessário para que pare de doer, ou que pelo menos amenize? Reflito sobre enquanto encontro-me novamente ajoelhado contemplando suas lápides. Revivendo bons momentos e devaneando sobre todos os que ainda poderiam ter ocorrer. O que eu não daria para que estivessem aqui,

Na noite de seus sepultamentos fiz uma promessa de vinga-los. De retirar deste mundo o homem que os havia tirado de mim. Estive tão perto, e não pude fazê-lo. Não fui capaz. Mas não era o certo, não era o que... Vocês iriam querer.

O carvalho cria uma boa sombra sobre a colina. Observo ao longe Gotham brilhar a luz do entardecer, a Mansão antes tão viva, agora parece um mausoléu. Todo o mundo que um dia era tão belo, agora não passa de cinzas.

Queria que estivessem aqui. Para me confortar, para me guiar, para me dizer o que fazer. Para onde ir, como seguir. Mas não podem, pelo mal. O mal ao qual o senhor me alertara pai. O mal que corrompe esta cidade e criou o homem que ceifou suas vidas. Agora eu entendo. Vocês tinham sonhos, para mim, para este lugar, doaram suas vidas pelo bem de Gotham, pelo meu bem. Não vou deixar que se esvaiam, não posso, não devo.

Neste momento Alfred sobe a colina e se posiciona um pouco distante, ele acredita que preciso de privacidade. Mais cedo Gordon nos visitara, dissera que Joe Chill havia se entregado pela manhã. Como havia pedido, a esposa e filha do mesmo seriam auxiliadas. Tenho toda uma vida pela frente, uma que não me pertence, uma que não quero.

— O que pretende fazer agora, Mestre Bruce? – Alfred se aproxima, mantendo-se ainda um pouco distante. Ele cruza as mãos a frente de seu corpo.

— Meus pais tinham noção do mal que atormentava Gotham. E de como ele crescia dia após dia. Sabiam que a cidade precisaria de alguém que olhasse por ela, que estivesse aqui por ela. – respondo enquanto passo minha mão pelo nome de papai entalhado em seu túmulo – Não há quase ninguém Alfred. Ninguém que permaneça firme por este lugar. Gotham precisa de todos os que puder para não afundar em sua própria imundice. Precisa de alguém que a auxilie em sua guerra sem fim, que a segure pela mão e não a deixe cair no precipício.

— Mestre Bruce, não pode estar achando em sã consciência que o deixarei fazer isto. O senhor, apesar de tudo, é uma criança. Seus pais jamais desejariam que o senhor deixasse de lado sua vida, sua felicidade por esta cidade. – meu amigo agora está segurando meu ombro.

— É meu lar, Alfred.

— Lar é onde há pessoas que o amam. Que estarão lá para quando precisar, que o receberão de braços abertos quando chegar, e rezarão para sua volta em segurança. Não precisa ser aqui.

— Mas tem de ser. Por meus pais. Não posso deixar que tudo o que eles almejaram se esvaia. Não posso deixar que o mal enterre com eles todo o bem que seriam capazes de trazer. Onde estaria a justiça nisso?

— O mundo não é um lugar justo. Nunca foi.

— E jamais será se não houverem pessoas para lutar por isto. - sinto o calor aumentar em meu peito. O aperto de Alfred se torna mais forte em meu ombro. Ele sabe o que pretendo. Ao que isso pode trazer e o quanto pode custar-me – Prometi que os vingaria, contudo, a vingança não seria o suficiente. Preciso fazer mais. Preciso dar um fim a isto. A tudo o que Chill representou. Para que o que ocorreu comigo, jamais ocorra novamente.

— Não, por favor Bruce... Não!

— Você tem razão meu amigo. Sou uma criança. Não posso lutar esta guerra desta forma. Preciso de mais, preciso ser mais. Não sou o suficiente, mas posso encontrar aqueles que me tornarão quem preciso ser.

— Não. O senhor não fará isto. Sou responsável pelo senhor, por sua segurança...

— Então permaneça comigo. Não me deixe só. Mas não me impeça. Deixe-me tomar minhas próprias decisões. Deixe-me seguir meu caminho.

— Este não é o caminho.

— É o meu.

Naquele momento prometi, por meus pais, que jamais descansaria até que Gotham se tornasse a cidade que almejaram. Até que o mal que criara Joe Chill, que os tirara de mim e que afundava meu lar em medo e caos fosse detido.

...

Por enquanto, não poderia fazer por Gotham o que era necessário, então acreditei que seria preciso primeiramente tornar-me algo mais para começar. Utilizando velhos contatos de Alfred na Inteligência Britânica entre outros serviços do Governo, fomos capazes de localizar ao todo seis indivíduos em especial.

— Theodore Grant, Henri Ducard, Kirigi, Giovanni Zatara, Harvey Harris e Willi Doggett. Todos possuem fichas impressionantes. Seus contatos se superaram meu amigo. – sorrio a Alfred enquanto entrego-lhe a pasta com os nomes obtidos.

— É bom que realmente sejam Mestre Bruce. Cobrei praticamente todos os favores que possuía para obter estes nomes. – ele folheia os arquivos e os pões sobre a mesa para voltar a beber sua água.

Aprecio o esforço que ele faz para me auxiliar nisto. Por mais que seja contra a maior parte do que esteja fazendo, ele permanece lá, ao meu lado. Não poderia pedir por mais do que isso.

— Patrão Bruce, gostaria de fazer uma sugestão. Destes nomes, há um em específico que reconheço. Willi Doggett. Caso não me falha a memória, já tive a oportunidade de trabalhar com o mesmo. Bom homem. Talvez seja melhor começarmos com ele ao invés deste Theodore Grant. – sugere Alfred enquanto guarda os arquivos.

— Agradeço a sugestão, mas acredito que no momento Grant seja capaz de ensinar-me algo que possa ser mais que necessário. – determino.

— Como quiser senhor.

Contemplo o mundo lá fora. No momento, sobrevoamos uma região entre Gotham e Louisiana, nosso primeiro destino. Em breve estará anoitecendo. Ao pousarmos, nos dirigimos a um endereço no qual uma casa fora aprontada a pedido das Empresas Wayne.

Quanto ao homem que pretendemos encontrar, Theodore “Ted” Grant, atualmente um lutador de boxe aposentado da classe peso-pesado que dirige uma academia para treinamento em autodefesa. Até onde os arquivos foram precisos, Ted escolheu esta vida por ser um órfão, tendo recebido treinamento de “Luvas” Smith, seu mentor, que foi assassinado por uma luva de boxe envenenada. Tendo sido o ato descoberto através da confissão dos culpados, Flint e Skinner. A papelada ainda possui registros sobre quem teria levado os malfeitores à justiça, um homem que ficou conhecido como Wildcat, o próprio Theodore Grant.

...

Estamos em Nova Orleans, em Louisiana do Sul, perto ao porto às portas da academia de Grant. É manhã. Nosso voo chegara na noite anterior. A movimentação no porto é grande. Observo através da rua pessoas caminhando para irem a seus trabalhos, pegando bondes ou ônibus. As ruas são estreitas em determinados pontos e me fazem recordar sobre os filmes da década de 20 que havia assistido sobre o local.

— Quando o senhor desejar Mestre Bruce. – diz Alfred retornando-me a realidade.

Adentramos o recinto. Logo ao centro noto um ringue não muito grande. Nele dois alunos treinam. Utilizam todo o equipamento que acredito necessário para o boxe, capacete, caneleiras, ataduras, luvas. Tanta proteção e pouco se tocam, apenas circulam pelo ringue sem jamais desviar o olhar um do outro. Ao redor da locação observo outros praticando em duplas, com teto-solo, pêras, sacos de pancadas. O piso do local é de madeira, e escorrega um pouco, a luz da manhã ele brilha e revela sua gastura. Colunas revestidas com gesso distribuíssem mantendo firmes as bases do local e de seu andar superior.

Fitando o local noto alguém que atrai minha atenção. É uma jovem, deve ter minha idade. Ela utiliza para sua prática unicamente as luvas em relação ao material de proteção e soca com calma o saco de pancadas. Seu cabelo é negro e curto, recai-lhe sobre o pescoço. Seus olhos verdes remetem-me a esmeraldas e demonstram intensidade, ela mantém total foco sobre o que executa. A seu lado há um homem adulto que compartilha seus cabelos negros e os olhos. Deduzo que seja seu pai. Contudo, toda a minha atenção reside sobre ela. Sua calma contrasta com a velocidade de seus movimentos, seu corpo deve auxiliá-los, uma vez que é magro e ágil.

Uma voz retira-me da contemplação. Viro-me e encontro Theodore Grant a caminho de cumprimentar-nos. Pela imagem dos arquivos e os detalhes, já tinha noção de seu tamanho, no entanto, pessoalmente o homem era uma montanha. Deveria ter por volta de seus quarenta anos, mas poderia ter muito menos graças a sua forma física. Seu cabelo escuro assemelhava-se aos olhos que por breves momentos pareciam ser de um gato. Haviam diversas cicatrizes em sua face. Trajava uma camiseta surrada azul-marinho e calças de ginástica. Em um colar ao pescoço havia um dente canino que presumo ser de um grande animal.

— Bom dia, sejam bem-vindos a Academia Grant. Como posso ajuda-los? – pergunta-nos ao nos cumprimentar.

— É um prazer conhece-lo Senhor Grant. Sou Alfred Pennyworth. O jovem que me acompanha é Bruce Wayne. Ouvimos falar da boa reputação de sua academia e acreditamos que o senhor possa nos auxiliar em algo. – explica Alfred. Grant mantém interesse no que meu mordomo diz.

— Podemos conversar em particular? – pergunto-lhe.

— Claro. Acompanhem-me.

Theodore dirigi-nos a uma sala onde encontram-se apenas uma pequena janela próxima ao teto. Ao lado esquerdo do cômodo a um grande armário fechado a cadeado. Ao centro uma mesa. Esgueirando-se por trás dela Grant se senta e pede para que nos acomodemos nas outras duas cadeiras a sua frente.

— Muito bem. Como posso ser útil? – inicia.

— Senhor Grant temos consciência de suas habilidades específicas em relação a condicionamento físico. Caso não se importe, fizemos uma pequena lista e o que descobrimos foi extremamente impressionante. Preciso de sua ajuda para executar algo em especial. Algo que não posso fazer desta forma. Como sou. Preciso que o senhor me treine. Mas não como os outros. – jogo figurativamente as cartas sobre a mesa.

— Acredito que saiba sobre minha extensa carreira como lutador e deseje algo mais específico, algo mais direto. – ele parece acompanhar meu raciocínio.

— Exato.

Ele mantém o olhar fixo sobre mim. Durante certo tempo parece vagar para longe daquela situação. Para longe de nossa presença ali. E finalmente:

— Se é algo especial o que procura Senhor Wayne, então aqui é o lugar certo.

 

 

 

 

Theodore Grant

Primeira Aparição – Sensation Comics #1 (1942)

 

Henri Ducard

Primeira Aparição – Detective Comics #599 (1989)

 

Mestre Kirigi

Primeira Aparição – Batman #431 (1989)

 

Giovanni Zatara

Primeira Aparição – Action Comics #1 (1938)

 

Harvey Harris

Primeira Aparição – Detective Comics #226 (1955)

 

Willi Doggett

Primeira Aparição – The Man Who Falls (1989)


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