Batman - Alvorecer escrita por Cavaleiro das Palavras


Capítulo 3
Capítulo Três - Quando tudo se perder




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A Máscara do Zorro. Um de meus filmes preferidos. Nem sequer acredito que esteja novamente passando, já saíra de cartaz há tanto tempo.

Sou todo sorrisos quando saímos do cinema. Sinto-me empanturrado pelas pipocas. Fico tão empolgado com o filme que sigo pela rua executando atrapalhados golpes com uma espada imaginária que corta o ar mais veloz que qualquer coisa.

As ruas estão vazias. Acredito que seja tarde. A calçada está molhada e algumas poças podem ser vistas aqui e ali, resultados de uma chuva recente talvez. As luzes do letreiro do cinema com sua letras em vermelho neon geram certa energia enquanto os postes pela via ou estão apagados ou falhando. Há diversas sacolas de lixo jogadas pelos cantos, alguns cachorros as vasculham. Vejo um senhor de idade dormindo perto a um latão de lixo.

Ando um pouco mais devagar e meus pais alcançam-me. Mamãe acaricia minha cabeça e bagunça meus cabelos. Seu rosto é radiante, seu sorriso enche meu peito. Ao pescoço o colar de pérolas com o coração de gesso. Sempre tão gentil, sempre tão amável. Viro-me para papai e ele igualmente me sorri. Dou as mãos a eles e seguimos pela rua.

Um morcego passa planando pelo céu.

Repentinamente o aperto de papai em minha mão se intensifica. Olho para ele, sua expressão é tensa, mamãe segue o mesmo padrão. Volto-me para frente. Um homem caminha em nossa direção. Seu rosto era jovem, contudo aparentava ter muito mais idade do que realmente teria em razão de sua expressão cansada. Sua barba loira estava por fazer. Seu cabelo loiro e cacheado escapava por debaixo da touca que usava. No entanto, seus olhos me invocaram a atenção, amedrontados. Ele parece tirar algo do bolso.

O homem saca uma arma e aponta a nós. Papai coloca-se a frente de mamãe e eu. Sua mão força-me para trás dele, para proteger-me. Ele faz o mesmo com mamãe.

— Di-di-dinheiro, joias. – o homem gagueja. A mão com a qual segura a arma treme.

— Fiquem atrás de mim. – sussurra papai para nós – Calma, você não precisa fazer isso. – Diz ele para o homem tentando manter a voz calma. Todavia, sinto-a mais dura. Ele forçou-nos a dar alguns passos ao lado. Estamos agora de costas para um beco.

— P-po-por favor... Dinheiro, joias. – o homem ainda treme, mas sacode a arma e a ergue mais, distanciando-a do corpo.

Sinto o punho de papai fechar-se firmemente. Sua expressão enrubesce, seus dentes serram. Ele joga-se contra o homem.

Vejo-o cair baleado a minha frente.

A arma fumegante na mão do homem volta-se para mim. Mamãe o empurra e segura sua arma para longe. Repentinamente ela fica na mira do revólver.

As pérolas caem e vejo o coração de gesso espalhar-se em diversos pedaços com o impacto no chão.

Vejo apenas medo e pânico nos olhos do homem. Ele me fita amedrontado e corre.

Minhas pernas fraquejam. Caio de joelhos sobre o pavimento. Meus olhos afogam-se em lágrimas. Minhas mãos encontram o frio chão, mas se aquecem ao entrar em contato com o sangue. O sangue de meus pais.

...

Estou sentado nas escadarias de uma residência próxima ao beco do crime. Tremo, meus dentes batem. Sinto frio, frio que nem o mais quente agasalho ameniza. Vejo dois policiais conversando onde tudo ocorreu. Um deles é gordo, em dado momento quando retira seu quepe noto o enorme buraco de calvície no topo de sua cabeça. Tem a voz grossa, mas falhada. O outro é magro e curvado. Possui um tom muito mais fino.

— Afinal, quê que eles estavam fazendo numa rua dessas nesse horário? É pedir pra tomar um tiro! – diz o gordo.

— Esses dois são familiares. Chega aqui, dá uma olhada. Lembram-te alguém? – ele retira parte do pano que os cobria para olhar seus rostos.

— Droga! Esses são... ! Se afasta, cobre isso de novo!

Os policiais chegaram pouco depois. Antes havia apenas dois, agora, quantos haveria? Um deles aproxima-se, no entanto não traja o uniforme dos outros. Leva o distintivo na cintura. Utiliza um sobretudo preto. Segura um copo em suas mãos.

— Ei, toma... – ele oferece-me um copo – É chocolate quente. Você vai gostar.

Aceito o copo, mas não bebo.

Ele se senta ao meu lado e põe seu casaco sobre meus ombros.

— Qual o seu nome? – ele pergunta casualmente.

— Br-Bruce Wayne.

— Sou o Detetive James Gordon. Mas pode me chamar de Jim.

Fito-o por um instante. É jovem, mas demonstra sinais de cansaço. Como se não dormisse bem há certo tempo. Seu cabelo é praticamente raspado. Talvez não quisesse conservar cabelo, ou fora acostumado a usá-lo de tal modo. É ruivo. Ele procura sorrir, uma forma de tentar me fazer sentir melhor. Sem sucesso.

— Bruce... Se importa se eu te chamar de Bruce? – Gordon mantém a voz calma. Digo que não com a cabeça – Você tem o telefone de algum responsável ao qual possamos ligar para te buscar?

Respondo que sim e lhe digo o telefone da Mansão. Ele liga e parece conversar com alguém. Ao terminar senta-se novamente ao meu lado.

— Vai ficar tudo bem Bruce, falei com um senhor, Alfred Pennyworth, ele está a caminho. – diz o Detetive. Faço que sim com a cabeça para demonstrar que compreendi.

— Olha, eu sei que é difícil, e que você está com medo, mas se lembra de alguma coisa? Lembra-se de quem fez isso? – ele pergunta.

Mantenho silêncio. Gordon franze o cenho e se mantém ali, ao meu lado. Ele diz que esperará ali até que Alfred chegue.

— Escute Bruce, nós vamos achá-lo. Vamos achar quem fez isso. E você vai ficar bem, ok?

Tomo um gole do chocolate. Sei que ele quer me acalmar. Sei que quer ajudar.

Vejo do outro lado da rua um carro parar. Dele Alfred desce. Ele atravessa a rua e vem até mim ajoelhando-se ao chegar. Ele repousa a mão sobre meu ombro. Abraço-o com toda a força. Ouço seu coração bater. Ele acaricia minha cabeça e diz que tudo vai ficar bem. Irrompo em lágrimas novamente.

Alfred me dirige até o carro. Abre a porta e entro. Ele fica ao lado de fora para falar com Gordon.

— Sr. Pennyworth? – pergunta-o o policial.

— Sim.

— Alguns aqui estão achando que foi um assalto, mas a carteira e joias ainda estavam com as vítimas. Ainda não descartamos a possibilidade de uma execução. Que possa ter sido algo mandado. O jovem não pôde nos dizer muito e compreendo perfeitamente. Tentaremos encontrar o máximo possível de pistas. Em breve estaremos convocando-o para a delegacia. Precisaremos falar novamente com Bru... Com o Senhor Wayne. Talvez se lembre de algo.

— Tudo bem. Precisa de um telefone, endereço?

— Sim, o endereço. Não estou familiarizado com a cidade ainda.

Alfred entrega-o o endereço da mansão. Eles se cumprimentam e ele entra no carro. Gordon me fita. Sua expressão é de condescendência. Gotas de chuva caem. Partimos e ainda observo o mesmo ao longe, distanciar-se. Mantenho em minhas mãos parte do coração de gesso.


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Notas finais do capítulo

James Gordon
Primeira Aparição – Detective Comics #27 (1939)

Personagem presente nas publicações da Editora DC Comics;



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