Batman - Alvorecer escrita por Cavaleiro das Palavras


Capítulo 25
Capítulo Vinte e Cinco - A Filha do Demônio




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Sigo ao lado dos outros residentes do Monastério para a Vila. Apesar de no local terem posse de armas de fogo, munem-se apenas de arcos, flechas e espadas. Como não há tempo, deixo as explicações para depois.

Levo comigo o mesmo material que mais cedo utilizei em meus treinos. Bombas de fumaça, shurikens e uma corda com gancho. Espero que sejam o suficiente para deter seja o que for que assola a Vila.

Em minha chegada, havia notado a tensão no ar pela qual os moradores passavam. As marcas de possíveis embates já passados. Residências queimadas, flechas cravadas em estruturas, o medo nos rostos das crianças.

Ao alcançarmos a Vila, noto o caos que se instalava. Os indivíduos que a atacavam, não pareciam ligar para saques ou qualquer coisa relacionada. Seus únicos propósitos eram a carnificina e destruição. Ateavam fogo a casas, agrediam aldeões ou tentavam executá-los.

Ao notar que um destes indivíduos erguia sua espada para assassinar um dos aldeões, saquei um shuriken e mirei em seu braço. Naquele instante, torci ao máximo para que pelo menos uma vez, minha mira fosse precisa. Lanço o objeto e o mesmo acerta em cheio a mão do agressor que sua espada solta. Seu grito, mesmo que em meio a tantos, chama a atenção de seus companheiros que notam nossa presença. Eles já não mais assolam a Vila, apenas rumam em nossa direção.

Os grupos se chocam, socos, chutes, flechas e golpes de espadas são trocados. Jamais havia participado deste tipo de embate. A movimentação de todos ao meu redor confundia-me. Era incapaz de julgar quem era o inimigo ou aliado, exceto pelos trajes, que eram mais vultos do que formas físicas. Qualquer um que se aproximava o suficiente, fazia questão de nocautear.

Em minhas provações havia me contido para não aplicar golpes que causassem ferimentos ao qual o prazo de cura era longo. Aqui, não me impunha restrições. Ao aproximar-se, imobilizei o braço de um oponente que tentara acertar golpes de espada. Quebrei a lâmina e entortei seu braço de forma que agora posicionava-se em um ângulo estranho. Do próximo, lancei seu corpo à parede de uma casa. Pressionei sua perna com um chute contra uma coluna, quebrando-a.

Em relação a meus irmãos, nossos atacantes não possuíam tanta habilidade, e por isso, logo começaram a perder em números. O que os fazia voltar a massacrar aldeões. Tornei proteger os moradores uma prioridade maior do que apenas abater meus opositores.

Um senhor de idade tentava a todo custo proteger duas crianças do ataque de um inimigo. No último instante sou capaz de repelir seu ataque de espada com meu bracelete e com um soco leva-lo ao chão. Dei as costas para conduzir a um local seguro o senhor e suas crianças.

Inesperadamente, um corte atinge minhas costas, atravessando a armadura de couro que utilizava em meu torso. Vou ao chão e de imediato o sangue começa a escorrer. Viro-me a tempo de repelir outro ataque e chutar seu joelho, quebrando sua perna. Outros três aproximam-se. Um deles acerta meu rosto com uma tocha. O que incendeia minha máscara, forçando-me a tirá-la e atordoando-me. No estado em que fico, sou unicamente capaz de aparar ataques. Falta-me coordenação o suficiente para contra-atacar.

Forçam-me para dentro de uma residência com um chute. Atravesso a porta quando sou jogado. Meus ouvidos zumbem e o mundo gira. Busco levantar, unicamente para ser chutado uma vez mais. Aproveito-me da avidez de meus oponentes para matar-me, e ao aplicarem outro golpe de espada, giro fazendo que a arma ficasse presa na madeira. Utilizo toda minha força para quebrar o membro de meu inimigo, com sucesso. Distraído, atingem meu rosto. Apoio-me na parede. Noto uma viga de madeira solta. Espero até que meu agressor aplique outro ataque, desviando bato com a viga em sua cabeça. Ele ainda está consciente quando uma vez mais bato em suas costas.

O último de meus oponentes observava a cena estarrecido. Sem dúvidas, contei com a sorte no fato de que o mesmo não investira contra mim. Quando finalmente se decide e ergue os dois braços empunhando a espada, ele para momentaneamente e soluça. É assim que noto a ponta da lâmina atravessando seu peito e o sangue fazendo escorrer. Nos seus olhos há apenas pânico. Quando seu corpo tomba, me é dada a oportunidade de contemplar quem dera-lhe o golpe final.

Era uma mulher, jovem, devia ter a mesma idade que eu. Possuía longos cabelos castanhos que ultrapassavam seus ombros. Seus olhos eram verdes, e naquele instante, demonstravam ferocidade. Seu nariz era fino e sua boca, vermelho sangue. Apresentava leves traços orientais em sua fisionomia. Trajava uma armadura semelhante a minha, exceto pelo fato de que parecia ser mais leve, possibilitando movimentos mais rápidos, além de carregar em seu torso o mesmo símbolo que o pátio do Monastério ostentava.

— Erga-se, eles ainda vivem! – ela ordena-me deixando a casa e retornando ao embate que lá fora já encontrava seu fim.

Nossos opositores sumiam em meio à neblina e neve da montanha, deixando para trás unicamente morte e cinzas.

...

Após receber os devidos cuidados, provo auxílio aos irmãos feridos em combate. Apesar do grande número que partira no encalço de nossos inimigos, poucos haviam sido levados desta vida. A maior parte tinha leves ferimentos. Outros apresentavam queimaduras que oscilavam entre graus mais baixos a altos. Alguns ainda demonstravam mutilações, na maioria esmagadora, apenas de dedos.

Papai costumava vez ou outra atender os que necessitavam de cuidados médicos na Mansão quando não podia fazê-lo no hospital. Aprendera muito apenas observando-o trabalhar. Era como ver a mágica acontecendo. Em meus anos de treino através do mundo, Alfred ensinara-me o suficiente para virar-me só. Ambos os casos agora auxiliavam-me com o tratamento de meus irmãos.

Ao perguntar, descubro a razão pela qual, apesar de possuírem armamentos avançados, não os utilizam para defender a Vila. Aparentemente, este embate faz de uma tradição antiga que se aplica aos desertores de uma determinada ordem. Como os antigos guerreiros, eles devem lutar. Caso fujam das tradições, a honra do conflito é perdida, assim como a de seus praticantes. Não questiono mais.

Finalizado ali meu trabalho, parto para encontrar Kirigi que encontrava-se em uma tensa conversação com a jovem que salvara-me. Ela possuía uma postura e modo de falar que demonstravam que ela era superior, hierarquicamente, a meu Mestre. Não falava o Chinês Tradicional como os outros, e não apresentava sotaque ao recitar o inglês. Como se desde o início este fosse seu idioma. Paro a porta do cômodo que se encontram e ouço o que dizem.

— O Cabeça de Demônio enviara-me para saber como o senhor estava lidando com os ataques dos desertores e o treinamento dos novos Sombras. Se não me engano, reportara a ele que este era um assunto quase concluído. O que vi, não era nem perto disto. – dizia a jovem.

— O ataque de hoje foi inesperado minha senhora, mas não de toda forma. Acreditávamos que eles em breve fariam uma investida, mas não desta forma. Ao que tudo indica eles estão ficando desesperados em assumir controle deste Monastério. – responde-lhe Kirigi com seu tom calmo usual.

— Monastério que é um ponto crucial para a Liga das Sombras. Monastério o qual o senhor é o responsável por proteger. Assim como seus arredores. O senhor tem demonstrado competência durante décadas ao cumprir os mandamentos de meu pai. Mas caso ele saiba que já não mais qualifica-se para isto...

— Ra’s Al Ghul não será desapontado, minha Senhora.

— É o que esperamos. Permanecerei aqui até que o Cabeça de Demônio requeira minha presença a seu lado uma vez mais. Até lá, avaliarei seu progresso.

— Como queria minha Senhora.

Ao notar que aproximam-se da porta, afasto-me, fugindo de sua visão. Ao saírem, noto que a mesma estava acompanhada de seis protetores. No caso, protetoras. Eram mulheres que trajavam o mesmo que os residentes do Monastério. Contudo, carregavam consigo um brasão especial em suas espadas, além de proteção extra em seus trajes. Espero até que se afastem para abordar Kirigi.

— Soube que se saiu bem nesta... Atividade. Tanto em combate quanto cuidando de nossos feridos. – diz-me o Mestre assim que aproximo-me.

— Em dado momento contei com a sorte. Mais precisamente, com a ajuda da nova convidada. – respondo-lhe.

— Ah, está é Talia Al Ghul. Filha de Ra’s Al Ghul, o Cabeça de Demônio. Líder, da Liga das Sombras e Senhor dos Sombras. Este Monastério é uma das diversas bases desta organização.

— Isto estava fora de meus arquivos. – sussurro para mim mesmo. De todos os indivíduos os quais informações continham nos arquivos que Alfred conseguira para mim, Kirigi era, sem dúvidas, aquele o qual menos informações possuía. Talvez, sua associação com esta “Liga das Sombras”, fosse a responsável por este motivo.

— A liga das Sombras existe há muito tempo. Seu propósito sempre foi manter a ordem no mundo. Este local é um centro de treinamento para aqueles que estejam dispostos a servir esta causa da forma que for necessária. Contudo, acredito que o Senhor não esteja interessado nela, não é Senhor Wayne?

— Meus propósitos são outros, como o senhor sabe Mestre.

— Então não poderei oferecer-lhe o mesmo treinamento que os outros. Terá minha atenção, Senhor Wayne, até que esteja pronto para enfrentar a jornada que o aguarda. Mas dou-lhe este conselho: há uma linha tênue entre o homem que quer ser e o homem que pode se tornar, por isso, tome cuidado. Mantenha-se longe dos Al Ghul, e estará no caminho certo.

Agradeço e cumprimento-o, deixando-o e voltando a meus aposentos. Contudo, algo sobre aquela jovem, ainda intriga-me. Mas por hora, deixarei isto de lado. Assuntos mais urgentes requerem atenção.

Talia Al Ghul

Primeira Aparição – Detective Comics #411 (1971)


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