Batman - Alvorecer escrita por Cavaleiro das Palavras


Capítulo 24
Capítulo Vinte e Quatro - As Provações


Notas iniciais do capítulo

Estou extremamente grato pelo apoio que vocês tem demonstrado. Tem sido um enorme incentivo para continuar com a história. Obrigado por tudo e boa leitura. :)



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Sinto o punho de papai fechar-se firmemente. Sua expressão enrubesce, seus dentes serram. Ele joga-se contra o homem.

Vejo-o cair baleado a minha frente.

A arma fumegante na mão do homem volta-se para mim. Mamãe o empurra e a segura para longe. Repentinamente ela fica na mira do revólver.

As pérolas caem e contemplo o coração de gesso espalhar-se em diversos pedaços com o impacto no chão.

Vejo apenas medo e pânico nos olhos do homem. Ele me fita amedrontado e corre.

Minhas pernas fraquejam. Caio de joelhos sobre o pavimento. Meus olhos afogam-se em lágrimas. Minhas mãos encontram o frio chão, mas se aquecem ao entrar em contato com o sangue. O sangue de meus pais.

Acordo atônito e suando em meus aposentos. Minha respiração está acelerada, e levo certo tempo para compreender que não estou em perigo real. Fora apenas um pesadelo. O mesmo que por anos me perseguira. Cada momento, vívido em minha memória. Todas às vezes as sensações retornam, e torno-me uma vez mais um garoto de doze anos ajoelhado ao lado dos corpos de seus pais em um beco.

Ergo-me da pequena cama de bambus na qual estava deitado. O único conforto de um quarto vazio. Após minha chegada ao Monastério, fui encaminhado para cá. Local de onde não me foi permitida a saída. Abro a janela, e o vento frio por ela irrompe. A vista é magnífica, contudo, sou retirado de minhas divagações pelo chamado de alguém que a porta de meus aposentos estava.

O indivíduo trajava as mesmas vestimentas de quando os encontrei no pátio no dia anterior. Ele oferecia uma muda de roupas iguais a mim.

—主要求你加入他在主庭院。- (*O mestre pede para que una-se a ele no pátio principal.* - Traduzido do Chinês tradicional) diz-me ele. Assento com a cabeça e ele parte.

...

Já devidamente trajado, faço o caminho até o pátio principal, onde o Mestre Kirigi, o homem que me recebera no dia anterior e permitira-me ficar afim de ensinar-me, estava acompanhado de outros dez indivíduos. Estão ajoelhados a sua frente, ao chegar, faço o mesmo.

— Senhor Wayne, fico feliz que tenha aceitado meu convite. Pedi para que aqui viesse, afim de avaliar o que é capaz de fazer. A seu lado, ao todo dez irmãos o auxiliarão nesta avaliação. Eles possuem total ciência dos riscos. Abata o maior número deles que puder. Não precisa se... Segurar.

Os que me rodeavam erguem-se formando outro círculo um pouco mais distante. Posicionam-se em um cumprimento de honra comum a lutas enquanto aguardam que faça o mesmo. Assim que o faço, o embate se inicia.

Com um salto, um deles lança seu punho contra mim. Desvio para o lado. Ele investe novamente, desta vez girando e chutando. Abaixo-me bloqueando seu ataque seguinte. Agarro sua gola dando-lhe uma cabeçada.

Um novo oponente arrisca um chute. Agarro sua perna e soco seu rosto. Distraído, não noto um inimigo que lançava-se a mim. Com as duas pernas ele joga-me para trás. Rolo e estou de pé novamente.

Desta vez atacam em sincronia. Um deles saca sua espada e investe contra mim. Bloqueio com as garras de minha proteção de pulso. Enquanto que seu companheiro investia contra minha perna. Girando quebro sua espada e utilizo do pomo para atingir seu rosto. Ao fazê-lo, fico aberto a um ataque. Meu oponente aplica um soco rápido que bloqueio, deixando meu lado esquerdo aberto, o qual este prende meu braço e leva-me ao chão.

Busco erguer-me rapidamente, todavia, levo uma rasteira e novamente vou ao chão. Quando aproxima-se, chuto sua barriga e soco meu oponente ao lado. Levantando-me, um chute nas costas desequilibra-me. Do próximo levo dois socos no abdômen e um no rosto. Fico desorientado. Mantenho minha base, apenas para ser imobilizado e em cada orelha receber um golpe. Caio de joelhos.

Cambaleio para o lado e estou de pé novamente. Eles avançam. O primeiro soco sou capaz de parar. Puxo o braço de meu adversário e com um chute em sua perna derrubo-o. Agarro sua gola e lanço-o contra o mais próximo. Em mais uma investida sou atingido. Ao uma vez mais cair retiro a máscara. Cuspo sangue no chão. Em nenhum outro treinamento havia sido desafiado desta forma. Outros já haveriam de ter apartado o combate. Mas não aqui. Querem ver do que sou capaz. Não vou desapontar.

Avançam em minha direção. Aparo os golpes. Seguro o ombro de um deles e puxo-o contra meu joelho duas vezes. Do próximo seguro sua mão e acerto suas costelas. Resta apenas um. Este investe e dá seu soco, desvio. Ao tentar contra-atacar fico desprotegido. Ele segura meu braço esquerdo, coloca a mão em meu pescoço e impulsiona-me para trás. Fico dobrado. Ele é lento demais, golpeio seu rosto com meu joelho, desequilibrando-o e fazendo soltar-me. Com a palma aberta atinjo seu rosto e ele vai ao chão. Todos caíram.

Ao fim da corrente de adrenalina vou ao chão. Sinto o sangue escorrer de meu nariz e prestando sua presença em minha boca. Olho para cima e a expressão calma de Kirigi é a única que vejo.

— Cuide-se. Ainda há muito que aprender.

...

Kirigi deu-me cerca de uma hora para recuperar-me antes de convidar-me para o próximo teste. Desta vez encontramo-nos em uma área coberta dentro do monastério. A região é dividida em dois andares. Pilares atravessam as barreiras de andar e localizam-se em ambos os pisos. Ao centro, há uma grande estátua de um samurai, ligada a ela há um corredor que passa por baixo da mesma. Duas escadarias, de ambos os lados da sala fazem a ligação entre os pisos. Piras incendiadas causam luz e fumaça. Nas paredes, longas cortinas que vão desde o chão ao teto, ficam próximas o suficiente de pontos altos o suficiente para um homem equilibrar-se. Ao todo, há quatro destas pela sala.

Assim que o Mestre e eu adentramos o recinto, noto que já há outros seis indivíduos aguardando-nos. Assim como antes, ajoelham-se, mas desta vez em um semicírculo, onde um lugar está reservado no centro. Kirigi faz sinal para que me dirija até este espaço.

— Demonstrou ter habilidades aprazíveis em combate, Senhor Wayne. Desta vez, gostaria de tomar ciência de como o senhor se sai atuando das sombras. A tarefa é simples, abata-os, de preferência sem ser notado ou atingido.

— Atingido? – é nesta hora que noto que aqueles que nos acompanhavam estão sacando de caixas armas.

— As armas estão devidamente carregadas com munição real.

— É assim que descobrem os dignos de permanecer e aprender?

— Nem sempre. Alguns desistem. Terá equipamentos dos quais fará uso, caso precise. Bombas de fumaça, cordas com gancho, o que precisar, mas, se sentir que pode lidar com isto com suas próprias mãos, não haverá objeções.

Vasculho dentro de uma caixa e dela pego bombas de fumaça, uma corda com gancho e shurikens, apesar de minha mira não ser das melhores.

Meus companheiros espalham-se pela sala por ordens de Kirigi, enquanto este aponta-me de onde devo partir. O treino se inicia.

Do canto da sala de onde inicio esgueiro-me para a proteção de uma pilastra. Abaixado, procuro ouvir os passos de meus oponentes. Por vezes ao lado de Ducard, encontrei-me em situação parecida. Mas lá, contava com sua cobertura, aqui, estava só.

Ouço uma passada leve aproximar-se. Utilizo do máximo de concentração possível para idealizar sua posição. Giro através da pilastra finalmente descobrindo a fonte do som. Por suas costas, esgueiro-me. Chuto a parte de trás de sua perna posicionando meus braços ao redor de seu pescoço, fechando seu fluxo de ar. Um pouco mais de pressão e ele morreria. Largo-o com calma, inconsciente. Não procuro arrastar seu corpo para escondê-lo. Não há tempo.

De duas direções diferentes ouço passos. Bateria de frente com qualquer um dos dois independentemente de qual direção tomasse. Acabou a hora para sutilezas. Posiciono-me na esquina entre as duas passagens. Observo o posicionamento de um deles. Saco uma das bombas de fumaça e a lanço em uma parede próxima a ele. Ela quica e explode criando uma cortina de fumaça densa que o distrai. O som evoca a atenção de seu companheiro que corre para averiguar. Da mesma equina ergo-me, empurro a arma contra seu rosto, atingindo-o e em seguida para longe de suas mãos. Seguro seu braço e lanço seu corpo por cima de minha cabeça ao chão. Com a queda, ele desmaia.

O indivíduo envolto em fumaça libertava-se. Corro, utilizo da parede para saltar, agarrar seu pescoço e leva-lo ao chão. Neste instante noto que no início da passagem outro aguardava. Saco um dos shurikens e miro em seu braço. Acerto a parede logo ao lado. Minha mira de fato não era das melhores. Contudo, é o suficiente para distraí-lo. Lanço a corda com gancho que no impacto se entrelaça com sua perna. Ao puxar ele bate a cabeça na parede e cai desmaiado.

BLAM!

É nesta hora que uma rajada de tiros em parte erra meu braço por pouco. Todavia, meu ombro ainda é atingido. Jogo uma bomba de fumaça que cobre os dois últimos de meus oponentes. No entanto, um deles é ágil e logo se desvencilha da área de ação da fumaça. Sou capaz de desarmá-lo, mas fico aberto a seu ataque. Com a mão espalmada ele atinge meu ombro. Solto um urro de dor antes de com ambas as mãos atingir suas orelhas desorientando-o. Seu companheiro que agora voltava à ação recebe de mim uma cotovelada que o nocauteia. O confronto conhece seu fim.

Ao reencontrar Kirigi na entrada da sala ele ainda reproduz sua expressão calma. Meu ombro mina e o sangue ainda escapa-me.

— Seu livre acesso ao Monastério agora é permitido Senhor Wayne. Busque cuidados médicos. – é tudo o que diz antes de deixar-me.

...

Após receber a devida assistência, retorno a meus aposentos, local onde não permaneço. Agora meu livre acesso ao Monastério foi permitido, decido conhecer o lugar melhor. Impressiono-me com seu tamanho.

O mesmo contra com três pátios, tanto cobertos com ao ar livre. Um destes leva a uma trilha na montanha. Ainda sou capaz de encontrar diversas áreas para treino, meditação e estudo. Todavia, a área que mais evoca a minha atenção é um pátio aberto no qual uma grande cerejeira logo no centro se mantém. O chão é recoberto com grama e periodicamente marcado por pisos de cimento para quem necessitasse, pudesse sentar. Surpreendo-me, contudo, ao encontrar sentado no local Mestre Kirigi. O mesmo não parece compartilhar da mesma sensação, uma vez que saúda-me:

— Senhor Wayne, estive aguardando sua vinda. Por favor, sente-se a meu lado. – diz-me ele sem sequer se virar. Faço o que pede.

Durante certo tempo faz-se silêncio. A única coisa que sou capaz de distinguir é o som de nossa respiração. Que logo é quebrado quando Kirigi se pronuncia:

— Esta Cerejeira foi plantada aqui logo após o término da construção do Monastério. É extremamente antiga. Os antigos diziam que sob suas folhas e sombra, um homem seria capaz de encontrar esclarecimento. De encontrar paz. – ele executa um longo suspiro – É o que busca, não é Senhor Wayne? Paz?

Não respondo.

— O Senhor veio até nós alegando buscar uma forma de ser melhor. Uma forma de ser capaz de impedir que seu lar caísse no abismo do qual a cada dia mais se aproxima. – ao observar minha surpresa ele esclarece – Sim, sei o que se passa em seu lar. Um homem, que viera aqui comentara a situação. Pennyworth, se não me engano. Ele contara-me igualmente sobre sua tragédia. O acontecimento privou a você, na época uma criança, de uma vida de privilégios. Algo que tomou sua paz.

Observo uma flor lentamente cair da árvore.

— Desde então você buscou. Buscou no mundo até se convencer de que talvez, a resposta não estivesse fora, mas dentro. E agora, nem sequer é capaz de o fazer, pois está cego. O medo o cega.

— Não tenho medo. Para seguir este caminho, a primeira coisa que fiz foi abdicar do luxo de ter medo. – explico.

— Você mente Senhor Wayne. Diz que nada teme, mas ao fazê-lo, apenas empurra este seu próprio demônio para mais fundo em sua alma. De onde ele governa. Embaralha sua mente e turva seu julgamento. Dissera que queria ser mais, contudo, jamais será capaz de fazê-lo, se não admitir quem foi, quem é e quem pode ser. Nunca o será, se não admitir que o medo habita o seu ser e lhe completa. Nunca o será se não aceita-lo, e controla-lo.

— E... Como posso fazer isso? – indago-o.

— Esta é uma obra do tempo. Por enquanto, encaremos o que de mais urgência for. Preparar seu corpo para o que vem a seguir.

Neste instante, um dos irmãos adentra o pátio:

—  法師,村里受到攻擊!- (* Mestre, a vila está sob ataque! * – traduzido do Chinês Tradicional) exclama ele.

— Como isto. Senhor Wayne, acompanhe seus irmãos à Vila. Defendam-na. Isto, não é uma provação. – Kirigi pede-me enquanto novamente volta-se para a cerejeira e fecha seus olhos.


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