Batman - Alvorecer escrita por Cavaleiro das Palavras


Capítulo 23
Capítulo Vinte e Três - A busca por meus demônios




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/714346/chapter/23

O vento frio queima meu rosto. As pontas de meus dedos estão insensíveis. Sinto agora, mais do que nunca, o ar rarefeito. Meu corpo parece pesar mais do que o normal. Sinais que forçam-me a parar e procurar por um abrigo. De acordo com as informações que os locais concederam-me, a próxima aldeia está a pelo menos cinco quilômetros montanha acima.

Apesar da forte ventania, as nuvens não se dissipam. Por mais que não possa ver o céu, sei que está próximo ao anoitecer. Caminhar neste terreno sem a iluminação apropriada seria fatal. Avalio os arredores e encontro uma caverna onde posso abrigar-me. Vou até ela quando os ventos tornam-se mais fortes e minhas bochechas ardem.

Coloco meus equipamentos em um canto e procuro pelo que possa ser necessário para montar a barraca. Ao montá-la tomo um gole de minha bebida quente guardada na garrafa térmica. Programo o relógio para despertar-me junto ao nascer do Sol.

Aquecido pelas cobertas, meus olhos mantém-se fixos na luz da lanterna. O vento ao passar pela entrada da caverna soa como o uivo de lobos. Parte da neve é ocasionalmente carregada para o interior. Minhas pernas esticam-se e relaxam. Preciso descansar, mas meus olhos não fecham. Sou incapaz de desligar-me do ambiente. Todavia, caso não o faça, não estarei hábil a prosseguir. Dormir. Preciso... Dormir.

...

Acordo de supetão com o despertador. Levanto-me deixando a barraca. Parara de ventar. Através das nuvens, tímidos raios solares rompem barreiras. É hora de partir. Reúno meus pertences e recomeço a subida.

Estou nas Cordilheiras do Himalaia. Faz quase um mês que empreendendo esta viajem. Após deixar Metrópolis embarquei em um avião para a China. Desde então trilhei uma caminhada até onde me encontro. O local ao qual procuro é inviável para qualquer veículo. A única forma de acessá-lo é a pé. Não possuo informações o suficiente para guiar-me sozinho, por isto, conto com as orientações dos locais. Os mesmos têm sido gentis, embora receosos.

Voltando meu olhar para cima sou capaz de distinguir a forma de uma construção. O monastério ao qual procuro. Não está longe. Acelero minha passada. Vez ou outra faço uso de um pequeno equipamento para conseguir respirar devido a falta de ar.

Com o impulso que tomei, em pouco tempo alcanço o vilarejo. Pequenas casas distribuem-se em degraus ao longo de uma certa parte da montanha. É curioso que algumas estão queimadas e abandonadas. Há flechas cravadas em alguns portais.

Crianças observam das janelas minha passagem. As que olho rapidamente escondem-se. Adultos ficam distantes. Alguns apenas mantêm seus olhares fixos no horizonte. Empunham facas e arcos. Todos agem como se a qualquer momento pudessem ser atacados. Paro e peço informações a um deles. Diz-me este que o Monastério pelo qual busco tem mais de seiscentos anos e fica pouco mais acima. Eles recebem quem estiver disposto a seguir suas doutrinas, mas só aqueles que se provam dignos permanecem. Conta-me ainda que os que lá vivem, durante muito foram protetores da vila e seus arredores, mas hoje, são desafiados.

— *Há algo errado? Preparam-se para algum combate? * Traduzido do Birmanês — indago-o.

— * Você deve seguir seu caminho forasteiro. * Traduzido do Birmanês — responde-me sem deixar qualquer margem para uma nova pergunta.

Agradeço e prossigo na subida.

Finalmente encontro-me aos pés da construção. A proximidade a torna mais grandiosa, assim como também mais sombria, como se não houvesse ninguém a habitando. Possuía quatro andares, aparentando estender-se sobre majoritária parte do pico da montanha. A porta é grande e parece feita de carvalho. Apresenta alguns arranhões. Parte deles recente. Ergo a mão para bater na porta, a qual se abre antes mesmo de nela encostar.

Caminho para dentro juntamente com a neve que o vento faz o recinto invadir. Retiro meus óculos, touca e lenço que a minha boca encobria. Às minhas costas, a porta se fecha. Dou passos vacilantes sobre o encerado piso de madeira. No corredor em que encontro-me, a frente de cada pilastra há uma armadura samurai. Cada uma devidamente polida. A única luz para se encontrar vem dos lampiões acesos e suspensos nas colunas. A cor vermelha impera no recinto, estando nas pilastras e bandeiras que encontro. Procuro abrir minha boca para falar quando ouço uma voz:

— Seja bem-vindo, Senhor Wayne. Estávamos esperando pelo senhor.

A voz é masculina e ecoa pelo corredor. Prossigo o caminho até chegar a um pátio. No centro, ao chão, encontra-se um brasão rachado e em parte encoberto pela neve, o que o torna difícil de identificar. O local é ladeado por grades e bambus. Um portão a direita leva a um caminho de volta para a montanha. Um arco chinês se forma sobre a entrada que leva ao interior do Monastério. Mas o que de fato chama a atenção é que diversos homens e mulheres, trajando vestes negras, com placas de couro que protegem ombros, torso, pulso e canela estão ajoelhados em um grande círculo. Às costas levam espadas. Seus rostos estão encobertos. Todos olham fixamente para o chão. Ao centro deste círculo há um homem observando-me chegar.

É careca, contudo, possui uma longa barba branca que atinge sua cintura. As diversas marcas faciais demonstram que possui idade avançada. Talvez oitenta anos, pondero mentalmente. Utiliza uma toga chinesa branca e consigo não leva armas. Suas mãos estão cruzadas afrente de sua cintura. Seu olhar é calmo e não esboça nada além de paz.

— Aproxime-se meu jovem. – ele pede. Para um homem da idade que aparentava, sua voz era firme, apresentando forte sotaque para recitar o inglês.

Aproximo-me. Ao chegar perto o suficiente deixo meu equipamento no chão e ajoelho-me como os outros o fazem.

— Você fez uma longa jornada. – ele prossegue – Viajantes como você empreendem este tipo de caminhada, pois buscam por algo que não são capazes de encontrar em si mesmos. Buscam por algo que acreditam apenas o mundo conceder. Paz, força, redenção. Pergunto-lhe, Senhor Wayne, o que busca?

Mantenho meu olhar fixo no chão. Penso por certo tempo e respondo.

— Busco... Busco por um meio de tornar-me um indivíduo capaz de combater o mal que aflige meu lar. Busco por um meio de ser mais. – respondo.

— Ser mais do quê...?

— Sou capaz de ser.

Ele observa-me por um curto período e reinicia sua fala.

— Contos antigos nos dizem que demônios caminham entre os seres da terra. Eles criam caos, corrompem aqueles que não têm força o suficiente para resistir. Eles destroem o mundo através de nós. Estes contos ainda informam-nos de que o sucesso destes no passado, facilitou a proliferação destas bestas. Sendo que hoje, estão abrigadas nos mais profundos cantos de nossas almas. – ele se ajoelha a minha frente, de forma a ficarmos mais próximos – Há demônios em você, Senhor Wayne. O Senhor os teme?

Ergo minha cabeça e seus olhos aparentam penetrar minha alma.

— Não.

— Então, está pronto para aprender.

Mestre Kirigi

Primeira Aparição – Batman #431 (1989)


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Batman - Alvorecer" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.