Batman - Alvorecer escrita por Cavaleiro das Palavras


Capítulo 22
Capítulo Vinte e Dois - Uma vez mais, partir




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Submerjo no tanque de água. A camisa de força impossibilita os movimentos superiores de meu corpo. Como nas vezes anteriores procuro criar uma folga dentro da mesma para um de meus braços. Busco aumentar meu tórax, contudo, meu estoque de ar limita-se apenas ao que reuni antes de submergir, o que dificulta a tarefa. Finalmente causo um aumento. Espero por certo tempo e relaxo, soltando a folga que antes criei e segurava. Sinto a camisa afrouxar-se.

A pressão que aos poucos a falta de oxigênio aflige turva minha mente, concentrar-se é uma difícil tarefa. Empurro meu braço direito em direção a meu ombro esquerdo, elevando o mesmo até minha cabeça, o que faz com que agora seja capaz de mover meus braços.

Minha boca, que mantive fechada, agora abro agarrando a fivela da manga com os dentes e desatando-a. Minhas mãos agora estão livres. Desato as fivelas superior e inferior. Utilizo as paredes de vidro do tanque para firmar minha pisada sobre a camisa procurando ser capaz de separá-la de meu corpo. Finalmente estou livre emergindo da água.

— Quanto... Quanto tempo desta vez? – indago Zatara que cronometrava o exercício.

— 57,3 segundos. Você bateu um recorde. – responde-me ele enquanto observa o cronômetro.

— Excelente. Vamos ao próximo.

— Calma aí rapaz. Já estamos treinando a um bom tempo. Vamos com calma. Além do mais, acredito que já te ensinei praticamente tudo o que sabia. Revisemos apenas. Ah e não se esqueça de que temos de nos preparar para o show de hoje à noite.

Assento com a cabeça. Nos últimos meses estive treinando com Giovanni Zatara e sua filha, Zatanna Zatara. O mesmo ensinara-me diversos de seus truques, desde técnicas de escape, a ilusionismo e desaparecimento. Por insistência minha fomos um pouco além e praticamos truques que o mesmo tinha receio de tentar, pois caso não dessem certo, o tentavam a utilizar magia para concluí-los. Zatara não utilizava seus poderes em shows, pois acreditava que as pessoas iam ao teatro para encantar-se com o real tornar-se impossível diante de seus olhos. Ele não tinha vontade de estragar isto.

Mesmo com todo o cuidado que o homem tinha com meu preparo, vez ou outra envolvemo-nos em acidentes. Como os locais de treino eram variados, adversidades ocorriam. Por vezes quase não fui capaz de executar as tarefas. Contudo, isto era algo não previsto que aumentava a qualidade destas práticas. Afinal, não poderia controlar o mundo a minha volta, portanto, deveria estar preparado para imprevistos.

Após meses de preparação e propaganda, o primeiro show no novo teatro estava pronto para ocorrer. Para conquistar parte do antigo prestígio do local tive de fazer investimentos. Aos quais contava com a competência de Lucius Fox para esconder de meu velho amigo Alfred Pennyworth. Que desde nossa separação há quatro anos, ainda não desistira de encontrar-me.

Lucius contara-me que o mesmo estava de volta a Gotham, e aparentemente começava a ter dúvidas quanto ao trabalho do mesmo, acreditando que Fox estivesse roubando da empresa. Sendo assim, nossas ligações tornaram-se menos frequentes.

— Irá precisar de ajuda com os últimos preparativos? – pergunto-o enquanto seco-me e reúno meus pertences.

— Não. Não. Está tudo praticamente pronto. A equipe que reunimos é fantástica e agradeço muito por isso. Mas Zatanna e eu poderíamos tomar conta de tudo. – responde-me Giovanni verificando as cordas atrás do palco e olhando de relance para os pesos.

— Sei que sim. Mas mesmo assim, acredito que seja bom tê-los por perto.

— Concordo. Ah Bruce, tome. É para você.

Zatara estende-me um pequeno embrulho.

— Qual a ocasião?

— Como é possível que nos lembremos de seu aniversário e você não?

— Eu... Eu realmente tinha esquecido. Obrigado. – digo rindo enquanto abro o embrulho.

Desde pouco mais de meus doze anos estive alheio às datas comemorativas. Era Alfred quem fazia questão de lembrar-me delas. E com tudo o que estava ocorrendo, até mesmo meu aniversário estava em segundo plano.

Ao abrir o embrulho encontro ali um relógio. Este leva o brasão dos Wayne. Aquele relógio...

— Pertencera a seu pai. Disse-lhe que seus pais eram grandes admiradores de meus shows. Mas não foi tudo. Éramos amigos. Sindella, Martha, Thomas e eu. Ficamos extremamente abalados com suas mortes. No dia do enterro deles quisemos comparecer, mas graças às tensões com Gazzo em expansão por Metrópolis, não era seguro deixar a cidade. Sinto muito.

— Tudo bem. Eu... Agradeço. De verdade.

— O dia em que seu pai deu-me isto foi especial. Pela primeira vez em um de meus shows havia utilizado mágica real. Sindella convencera-me a fazer uma abertura diferente. Com um dragão. A plateia foi à loucura.

Neste momento Zatanna desce as escadas que ligam o teatro até o apartamento acima carregando um bolo.

— Parabéns para você, nesta data querida, muitas felicidades... Muitos anos de vida. – ela canta enquanto que com um estalar de dedos faz as velas acenderem-se – Faça um pedido Bruce.

Não era um homem de superstições. Não acreditava que uma vela de um bolo pudesse conceder-me desejos. Mas uma pequena fagulha dentro de mim o fez mesmo assim. Contudo, cabia a mim mesmo realiza-lo.

...

De volta ao apartamento estou a arrumar meus principais pertences da melhor forma que puder carrega-los. Com o treinamento com Zatara chegando ao fim, em breve estaria partindo. Era melhor deixar tudo arrumado para facilitar a partida.

Na poltrona próxima a janela meu telefone vibra. Reconheço o número codificado como o de Lucius Fox. Nossa ligação não estava combinada para tão cedo. O que poderia ter acontecido?

— Lucius, tudo bem? Não tínhamos combinado esta ligação.

— Senhor Wayne, que bom que atendeu. Trago notícias que podem não ser muito boas. O senhor Pennyworth agora está ciente do que estivemos executando. Sem que notasse ele plantou um dispositivo que recém desenvolvemos e teve acesso ao que estive trabalhando para encobrir seus gastos. Acredito que em breve ele esteja chegando a sua localização.

Isto é uma surpresa. Não poderia deixar que Alfred encontrasse-me. Não estava com medo de revê-lo, mas uma vez que ele estivesse a meu lado novamente seria quase impossível afastá-lo. E para que estivesse em segurança, necessitava que se mantivesse distante. Precisava partir de imediato.

Viro-me rapidamente quando ouço baterem à porta. Hesito. Caminho sem produzir qualquer som até a porta. Observando através do olho mágico tranquilizo-me ao ver que era Zatanna.

— Bruce, oi. Você saiu sem levar o bolo. Trouxe-o para você. – ela estende uma vasilha.

— Oi, eu, hã, obrigado. Ocorreu um imprevisto, e não vou poder ficar para a apresentação. – respondo aceitando a vasilha e fazendo sinal para que entre.

— Está tudo bem, o que houve?

— Sim. Lembra-se de Alfred?

— Sim. Lembro sim.

Durante o tempo que passei com os Zatara os inteirei de parte do que estava ocorrendo em minha vida. Sendo assim, ambos sabiam sobre minha separação de Alfred, contudo, não do que verdadeiramente acontecera.

— Ele está vindo a Metrópolis e preciso partir. Seria difícil reencontrá-lo agora.

Vasculho entre meus pertences do apartamento por dois objetos em especial. Dentro de uma gaveta encontro uma passagem de avião sem data prévia de ida para a China. Junto a esta havia uma carta já embalada em um envelope.

— Eu preciso que, caso o encontre, entregue isto a ele. – dou-lhe a carta e a chave do apartamento para que trancasse quando saísse – Já deixei tudo acertado com o proprietário deste apartamento a meses. Não terei tempo o suficiente para falar com Giovanni, então peço, para que por favor, diga a ele que lamento e desejo boa sorte. Para vocês dois.

— Eu... Tudo bem. – Zatanna hesita.

Pego minha mochila, na qual pude reunir o máximo de objetos possíveis que acreditei que poderiam ser necessários. Voltando-me para Zatanna estendo-lhe a mão e digo:

— Obrigado por tudo. Sinto por não poder ficar, mas quem sabe, eu possa visita-los um dia.

Ela abraça-me.

— Acho que somos nós que temos que lhe agradecer. E Bruce... Tome cuidado. Você pode ser muito bom, mas ainda é um humano.

— Obrigado por lembrar-me.

Separamo-nos e enfim parto.

...

Alfred Pennyworth caminha por entre diversas pessoas em busca do local que encontrava nos arquivos de Lucius Fox. Bruce devia ainda estar vivendo no local. Contudo, era capaz de que já houvesse partido caso o mesmo o tivesse informado de sua vinda.

— Senhor Pennyworth! – uma voz as suas costas o chama. Virando-se ele vê que quem o chamara era uma jovem.

— Alfred, certo? – ela indaga-o

— Depende. Quem é você? – responde-a avaliando.

— Zatanna Zatara. – estende a mão para cumprimenta-lo – Pediram-me para entregar-lhe isto.

Zatanna estende-lhe uma carta a qual contém a assinatura de Bruce Wayne. Alfred a aceita. É neste instante que por obra do destino o som de um ônibus atrai a atenção de Pennyworth para o outro lado da rua, onde este encontra... Bruce!

Do outro lado da rua, parado, observando. Estava tão grande. O quanto deveria ter crescido nestes quatro anos? Seu cabelo quase ultrapassava o limite do pescoço, a barba quase completa em seu rosto. Tinha ganhado músculos. Agora mais do que nunca parecia com seu pai. Levava nas costas uma grande mochila de viagem. Alfred queria apenas correr para abraça-lo. Garantir que nunca mais partisse ou se afastasse. Mas algo o prendia ali na calçada. Os olhares se cruzam e um entendimento se passa.

Não havia mais razão para por ele procurar. Para tentar a todo custo mantê-lo sob suas asas. Por mais que não quisesse admitir, o Patrão Bruce, ao qual ele acompanhara o crescimento desde que era apenas um bebê, tornara-se um homem. Um homem que podia cuidar-se e tomar suas próprias decisões. E que no momento, não precisava de sua presença por perto. Que no momento, tinha de seguir seu próprio caminho.

Um ônibus passa, e quando se vai, Bruce lá já não mais está.


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