Batman - Alvorecer escrita por Cavaleiro das Palavras


Capítulo 2
Capítulo Dois - Antes do Sol se pôr




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Abro meus olhos e a luz solar que entra pela janela transpassando as cortinas machuca-os e esquenta minha pele. Procuro acostumar-me com a mesma. Olho ao redor. A meu lado, em uma poltrona, senta-se minha mãe. Um livro repousa sobre seu colo enquanto dorme. Em sua capa há uma coruja prestes a dar o bote.

Martha Wayne. Em seu sono parecia tão em paz. Seus cabelos castanhos curtos a faziam parecer um pouco mais velha do que realmente era. Por mais que agora fechados, lembro-me de seus olhos, igualmente castanhos evocavam uma forte relação com seus cabelos. Sempre tão gentil, sempre tão amável. Papai sempre dizia que houveram dois dias em especial aos quais a felicidade havia batido a sua porta e pedido para ficar. Quando a conhecera, e quando nasci.

Vasculho um pouco mais o cômodo e enxergo meu pai próximo à janela. Ele mantém-se de pé, observando o horizonte. Seu olhar é vago e cansado. Suas mãos estão cruzadas atrás de seu corpo. Ele parece ter estado nesta mesma posição por um bom tempo.

Thomas Wayne. Um homem de grande estatura, forte, para os que não o conheciam, provavelmente um homem para fisicamente se temer. Para os que o faziam, uma excelente pessoa. Calmo, centrado. Um dos melhores médicos do Hospital de Gotham City e o detentor da majoritária parte das ações das Empresas Wayne. Apesar de jovem, conservava consigo diversas mechas brancas no cabelo escuro. Um bigode grosso, que segundo ele mesmo, não o retirava desde que começara a crescer. Seus olhos, claros e azuis, os mesmos que os meus. Quantas milhares de coisas aqueles olhos um dia já quiseram dizer. Jarvis gostava de me lembrar do quanto que papai e eu éramos semelhantes.

Constato finalmente que estou em meu quarto. É manhã. O armário esta do outro lado da sala. Minhas estantes de livro ao lado, todos em ordem alfabética, cortesia de Alfred. Sobre a escrivaninha do outro lado de minha cama vejo anotações, ainda tomado pelo sono nem sequer consigo distinguir do que se tratam. Fito o chão por alguns segundos, a madeira é encerada e reflete a luz com perfeição o suficiente para quase cegar-me. Movimento-me na cama e a dor em minha perna retorna, fazendo minha cabeça latejar. Libero um grunhido por meus lábios. É o suficiente para retirar papai de seus devaneios.

Ele vem até mim enquanto chama calmamente por minha mãe. Ela abre os olhos vagarosamente e nota por que havia sido despertada. Ainda sonolenta aproxima-se de mim e senta-se na cama.

— Bruce, que bom que acordou. Como está se sentindo? – pergunta papai. Ele igualmente se senta na cama.

— Estou bem, mas minha perna ainda dói um pouco. – respondo. Sendo papai médico, e Alfred igualmente treinado em medicina de guerra, como poderia eu estar mal?

— Oh meu querido, ficamos tão preocupados. – diz mamãe acariciando minha bochecha. Não havia mal que me afligisse que um pouco de atenção dela não curasse ou amenizasse.

— Como me acharam? De pouco lembro-me após a queda... Apenas do... – por um breve momento posso quase sentir o hálito daquele morcego em minha face.

— O jovem Elliot viu diversos morcegos voarem para fora de uma entrada nas rochas, e ouviu ruídos estranhos vindo do mesmo lugar. Quando te tiramos do local você já estava inconsciente. – respondeu-me papai levantando da cama na qual havia sentado para comigo melhor falar – Vou chamar Alfred. Ajudá-lo a fazer algo quente para você tomar. Enquanto isso descanse. Recomendação médica.

Com um sorriso ele deixa o cômodo. Mamãe ainda fitava-me com ar preocupado. Por mais que minha expressão, por certeza, não fosse de medo ou algo parecido, ela parecia enxergar através de mim.

— Tudo bem querido?

— Sim, sim.

Ela não se deu por muito convencida. Contudo, me sorri.

— Seus amigos devem ligar em breve. Assim que o fizerem, te aviso. Ficaram muito preocupados com você. Continue deitado vou ver seu pai. – ela deixa o cômodo.

Fico sozinho com meus pensamentos que logo flutuam até a caverna. Até os morcegos. Até o Morcego. Lembro-me de seu hálito, seus olhos e um arrepio percorre minha pele. Procuro afastá-lo de minha mente.

...

Pelas janelas de meu quarto contemplo os jardins, a colina e o Carvalho à distância. Já se passaram dois dias. Qualquer dor que eu pudesse sentir tanto pela perna quanto por meus arranhões agora já se fora. Deixo o cômodo e me dirijo às escadarias. Pelo corredor que a ela leva observo os quadros retratando os antepassados de nossa família. Alan Wayne, Darius Wayne, Solomon Wayne, encaro seus retratos enquanto caminho. Ao fim do corredor há um retrato de papai, mamãe e eu. Ao contrário dos outros que são pinturas, o nosso já é uma foto. Pouco me recordo do dia em que a tiramos.

Desço pelas escadarias para o Salão Principal, no entanto, paro em sua metade para olhar através da janela. Aproxima-se do entardecer. Ao longe sou capaz de observar Gotham. O sol brilha por entre os imensos arranha-céus. Como de usual o que mais me evoca a atenção são as Empresas Wayne. Um dos mais altos prédios de toda a América.

O Salão Principal é amplo, seu teto alto, arcos de pedra se estendiam por ele. A ele se ligavam todos os outros cômodos. Na grande janela às minhas costas uma cortina vermelha está quase fechada. Encostados as paredes há poltronas e sofás. Vejo diversos quadros réplicas de pinturas famosas, outros são as originais. Mais acima há gárgulas talhadas nas paredes de pedra, em suportes encontram-se bustos de nossos antepassados assim como também de famosos filósofos e pensadores. De um dos lados há uma grande lareira, acima dela, outro retrato de nossa família. O chão de mármore branco reflete a fraca luz do entardecer.

Papai ri com Alfred Pennyworth em seu estúdio, sua entrada através de uma das portas a esquerda do salão para quem entra. O mesmo sempre consegue entretê-lo com excelentes histórias, tanto de seu tempo servindo quanto seu tempo como ator. Quantos anos teria Alfred? Era difícil saber, para ninguém dissera sua idade ou data de nascimento. Pelo que papai contara, o mesmo já havia sido das Forças Especiais Britânicas, contudo, sempre sonhara em ser ator, mas seguira o caminho que mais agradava seu progenitor, Jarvis Pennyworth, que um dia, igualmente, já fora nosso mordomo, e quase um membro da família.

Alfred já estava conosco há tanto tempo, não podia lembrar-me de muitos momentos em que com nós não estivesse. De acordo com o mesmo, deixara seus assuntos com a Inglaterra por infortúnios físicos, desde então seguira sua carreira de ator, onde se saía muito bem. De todos que trabalhavam na mansão, era dele de quem mais gostava, e na ausência de meus pais, o que por mim zelava. Sempre elegante, ele conservava um fino bigode que me fazia relacioná-lo a um estereótipo francês. Era magro, algo que ficaria longe do tipo de agente especial que poderia pensar.

Saio pela porta da frente e rumo para os jardins. Mamãe estava com tia Gabi Kane e Kate, sua filha, por mim não daria falta imediata. Falo com alguns funcionários da mansão. Passo por nosso jardineiro, ele planta rosas vermelhas. As favoritas de mamãe. Procuro refazer meu caminho. Ao longe vejo a colina e o Carvalho, pelas raízes expostas, as pedras. Próximo suficiente ao lago finalmente a encontro. A entrada. Não aumentara muito de tamanho, exceto que agora um homem poderia entrar tranquilamente. As raízes que por sobre ficavam foram cortadas.

Observo a escuridão que em seu interior parece se movimentar. Ouço ruídos. Sinto um arrepio por minha pele trespassar. Aproximo-me mais. O local por onde rastejei agora era maior. Poderia entrar sem ter de me abaixar. Olho para baixo e vejo por onde deslizei... Além disto, há apenas o indistinguível véu da escuridão.

— Bruce!

Viro-me como que de imediato para encontrar mamãe fitando-me.

— Estive te procurando. – ela sorri e sua voz é calma. Ao pescoço noto que ela usa o colar que pai lhe dera no Natal. Um colar de pérolas com um pequeno coração de gesso que havia feito para ela. Papai e eu tínhamos combinado que fosse um presente conjunto.

— Mãe... Tia Gabi e Kate já foram? – pergunto enquanto acalmo-me do susto.

— Sim, Gabrielle soube do que houve. Desejou-lhe melhoras. Mas lhe procurava para pedir que se arrume. Vamos ao cinema! – seu sorriso se abre um pouco mais, ela sabe o quanto gosto do cinema.

— Sério? Qual o filme? – não me controlo de tanta alegria. Realmente gosto do cinema.

— É uma surpresa. Vamos, arrume-se.

Corro o mais rápido que posso para meu quarto.

...

Visto meu casaco e é quase impossível controlar a empolgação.

— Mestre Thomas, realmente não quer que eu os acompanhe? Gotham tem estado cada vez mais perigosa. Ainda mais para este cinema, o Teatro Monarca, no Bowery, não é um bairro muito bom neste horário. – balbucia Alfred para papai.

— Não, não Alfred. Está tudo bem. Iremos ver o filme e voltamos logo. Cuide de tudo em nossa ausência. – assegurou papai enquanto igualmente trajava seu casaco. Neste instante, passa-me pela mente a memória de quando papai levara-me para conhecer as Empresas Wayne.

...

Para a ocasião ele pedira que eu vestisse um terno. Deveria apresentar-me muito bem aos funcionários. Ele me apresentara a vários, alguns extremamente peculiares como Nygma, todavia, quem mais gostei de conhecer fora Lucius Fox. Um homem extremamente gentil e que no ensino médio estudara com papai.

Após as apresentações papai encaminhou-me para sua sala. Fitamos a cidade por demasiado tempo através das janelas que do chão chegavam até o teto. Era entardecer, e do prédio mais alto de toda a Gotham, tudo era paz e beleza. Quase todos os distritos daquele recinto era capaz de ver, Burnley, Park Row, o prédio da Química Ace, o Distrito Diamante, Chinatown...

— Uma beleza, não acha? – iniciou papai.

— É sim, lindo. – meus olhos enchiam com tudo o que eram capazes de processar.

— Sabe Bruce, os Waynes vivem nesta região desde muito antes de Gotham sequer ter sido fundada. Inclusive, nossa família foi uma das responsáveis pelo ato, ao lado dos Cobblepot e outros. E ao longo de todo este tempo de história, nosso antepassados lutaram e deram tudo de si por esta cidade. E ela nos retribuíra bem. Sempre cuidamos dela, e ela sempre cuidou de nós. Gotham é nosso lar Bruce. É o seu lar.

Ele se ajoelhou perante mim e apoiou suas mãos em meus ombros.

— Tudo o que você viu hoje, é só uma parte do legado de nossa família. É o legado que um dia você herdará. Eu só te peço uma coisa meu filho... Que sempre olhe por Gotham. Cada dia mais esta cidade parece afundar, não é o que idealizamos para ela. Sua mãe e eu durante tanto estivemos lutando para que isso mudasse. Há muito que hoje você não compreende, mas um dia, vai. Precisamos de Gotham Bruce, mas muito mais importante, ela precisa de nós. Você promete que estará aqui por ela?

— Sim, sempre.

Papai me abraçou e contou-me o quanto estava orgulhoso de mim, e certo do incrível homem que um dia me tornaria. Ele sempre teve fé nas pessoas.


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Notas finais do capítulo

Thomas Wayne
Primeira Aparição – Detective Comics #33 (1939)

· Martha Wayne
Primeira Aparição – Detective cimics #33 (1939)

· Alfred Pennyworth
Primeira Aparição – Batman #16 (1943)

· Gabrielle Kane
Primeira Aparição – Detective Comics #855 (2009)

· Katherine Kane
Primeira Aparição – 52 Vol. 1 #7 (2006)

· Lucius Fox
Primeira Aparição – Batman #307 (1979)

Darius Wayne
Primeira Aparição - Swamp Thing #86 (1989)

Solomon Wayne
Primeira Aparição - Batman: Legends of The Dark Knight #27 (1992)

Alan Wayne
Primeira Aparição - Batman: Secrets Files and Origins #1 (1997)



Personagens presentes nas publicações da Editora DC Comics;



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