Batman - Alvorecer escrita por Cavaleiro das Palavras


Capítulo 14
Capítulo Quatorze - Lobo em pele de cordeiro


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora para postar os capítulos gente. Obrigado pela paciência e atenção de vocês.



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Após nossa conversa no café na qual chegamos à conclusão de que avisando Henri Ducard sobre a negociação de Thomas Woodley no armazém nas docas Harvey Harris, um agente da INTERPOL e infiltrado na organização de nosso alvo, estava na verdade enviando seu amigo de longa data para uma festa suicida. E graças às informações concedidas por Willi Doggett estávamos nos dirigindo ao nordeste da Rússia onde fora transmitida a última mensagem de Harris para Doggett e futuramente para Ducard.

— Esse avião está caindo aos pedaços. – digo ao abaixar um assento e o mesmo romper-se com a ferrugem atingindo o chão e fazendo ecoar pela lataria do veículo um som ensurdecedor.

— Cette petite beauté prend encore beaucoup! (Essa belezinha ainda aguenta muito!) – exclama nosso piloto dando palmadas no painel do avião.

— Você é um agente aposentado da INTERPOL e você ainda em ativa. E isso é o melhor que conseguem? – grito tentando fazer-me ouvir em meio a todo o barulho que ressoa por dentro de nosso veículo.

— Estamos fazendo isso por debaixo dos panos. Não podemos chamar a atenção. Se Harris for um agente duplo e se além dele houverem mais na agência, não podemos nos dar ao luxo que Woodley saiba que estamos a caminho. – explica Dogget checando os paraquedas e logo em seguida o armamento ao lado de Alfred. Os dois parecem conversar sobre os velhos tempos. Algo plausível dado ao fato de meu amigo ter declarado anteriormente que o conhecia.

— E do que você está reclamando? Esse negócio tá ótimo! – diz Ducard enquanto coloca os braços atrás da cabeça e esticando as pernas e em seguida em questão de segundos indo ao chão com banco e tudo. Durante o período anterior na viagem, ouvi as histórias da carreira como agente do mesmo. Contara-me diversas de suas técnicas para finalizar suas missões.

— Nous arrivons. Préparez-vous, je vais atterrir! (Estamos chegando. Preparem-se, vou aterrissar!) – informa nosso simpático piloto ao qual no exato momento a dentadura quase voa de sua boca. O que impressiona, o homem não parecia velho o suficiente para já não mais ter sua total arcada dentária.

Posicionamo-nos enquanto o avião pousa em uma pista escorregadia com a graça de um elefante. Ao sairmos admiro-me com a paisagem. As cadeias montanhosas dos Montes Chersky ou no país chamados de Хребет Черского, permanecem cobertos pela neve. Olho para o céu e não vejo o sol, apenas as nuvens, embora seja capaz de dizer que é dia.

— Não devemos perder tempo. Pelas coordenadas, o acampamento de Woodley está a alguns quilômetros daqui. Seguiremos a pé para não chamar a atenção. Tomem cuidado, aqui é... Bem, difícil de andar. – previne Dogget que já prepara seu equipamento.

...

A neve constante atormenta meus olhos e torna meu corpo pesado. Alfred mantém-se a meu lado. Dogget e Ducard caminham um pouco mais a frente. Contemplo os arredores e a vista é de tirar o fôlego, assim como a altitude. Fico grato pelos tanques de oxigênio que trouxemos.

— Abaixem-se. – pede Dogget.

Abaixamo-nos atrás de uma pequena montanha de neve. Ao fazer isto, noto o porquê o pedira. Logo mais a frente um homem faz patrulha empunhando um rifle automático. Mais a frente, observo outros três ao redor de uma entrada para túneis que se conduzem para o interior dos gélidos montes.

— Vou abatê-los e nós entramos. – avisa Dogget que utiliza um rifle silencioso tranquilizador a meu pedido. Quem diria que seria mais fácil convencer Ducard e seus companheiros a utilizarem armas não letais dobrando seu pagamento pelos ensinamentos.

Quatro tiros rápidos e os capangas de Thomas vão ao chão dormindo. Esgueiramo-nos e adentramos o sistema de túneis. Nosso passos são leves e não chamam a atenção. Vez ou outra encontramos outros homens trabalhando para Woodley, os abatemos e prosseguimos.

Dado momento, nos deparamos com uma clareira nos túneis no interior dos montes pela qual a luz entra. Há diversos homens armados ao redor da locação, contudo, nenhum deles parece nos notar.

— Virem de costas em silêncio. – sussurra uma voz desconhecida a nossas costas.

— Harvey Harris. – diz Ducard em voz baixa ao notar quem apontava uma arma para nós.

— Henri Ducard, Willi Dogget, um garoto e um homem que não conheço. – abre-se um sorriso na face de Harris – Não sabem o quão feliz estou de ver vocês. Mas o que fazem aqui? Não é protocolo mandarem resgate.

— Resgate?

Sim. Não estão aqui para isso? Aliás, o que faz aqui Henri? Se essa é uma missão de resgate não deveria estar participando. Nem esse garoto.

— Não estamos aqui para resgatá-lo.

— Agora sim faz mais sentido. O que fazem aqui então?

— Viemos acabar com a sua raça seu duas caras filho da mãe! – diz Doggett enquanto Harris abaixa sua arma e começa a se afastar.

— Duas caras?

— Você me mandou para uma negociação suicida! – Ducard se exalta sem totalmente levantar a voz.

— Suicida? Não. Seria tranquilo Woodley não sabia que você iria aparecer. E nem mesmo avisei a INTERPOL do encontro. Sabia que eles agiriam e você poderia ser pego no fogo cruzado.

— Então...

Olhamos todos para onde Doggett estava deitado anteriormente conosco observando a clareira. O homem agora já estava no centro da mesma tendo se aproveitado de nossa distração para descer pela própria beirada de nossa cobertura. Havia agora um explosivo em seu lugar.

— PULEM!

Pulamos para o lado a tempo de o explosivo ser detonado por Doggett. Somos jogados para uma plataforma de pedra abaixo. Os capangas abrem fogo. Ignoramos a dor e procuramos cobertura em meio às rochas. Agora tudo fazia sentido.

Como infiltrado na organização de Thomas Woodley, Harvey Harris sabia de praticamente tudo o que o meliante fazia. E uma das negociações do mesmo fora reportada a Ducard para que fosse capaz de obter informações adicionais sobre o alvo entregando-as para a INTERPOL para efetuar a prisão sem envolver um embate direto da agência. Contudo, alguém descobriu o que Harris fazia e cortou suas comunicações, igualmente informando a INTERPOL sobre a compra no armazém e pondo Henri no meio do fogo cruzado. Alguém de dentro. Alguém como Willi Doggett.

— Foi Doggett o tempo todo! – exclamo em meio ao som dos tiros.

— Não diga! – grita Ducard de volta tentando fazer valer os seus tiros e lembrando em seguida que estava usando munição não letal – Maldição!

— Não, escuta. Doggett é parte da organização de Woodley, talvez até o líder. Mantendo contato com Harris ele sabia o que ele sabia e passava para a INTERPOL apenas o que não seria prejudicial para sua organização. Era tudo muito simples. Mas tudo se complicou quando você entrou na jogada. Willi precisava te jogar para fora rápido. Então organizou a negociação no armazém, deixando vazar para Harvey a informação de que seria algo tranquilo, te atraindo, quando, na verdade, seria uma emboscada. Avisou ainda a INTERPOL, algo que Harris tentou evitar para não provocar uma chacina. Logo depois cortou as comunicações do seu amigo para parecer que tudo era o plano dele.

— Bela dedução... – ele agora sacara seu rifle e abatia os oponentes mais próximos.

— Não é tudo. Doggett ainda nos atraiu até aqui onde nos eliminaria e a Harris.

— E meu contrato?

— Talvez uma coincidência. Woodley é nada mais nada menos do que uma fachada para Doggett. Tudo o que ele fez, Thomas levou a culpa.

— Então temos que pegar Doggett e o entrega-lo a agência. Dar um fim a isso tudo de uma vez por todas! – decide Harris lançando uma granada de gás contra nossos oponentes nos possibilitando evitar o combate e perseguir tanto Doggett como Woodley.

Ambos notam nossa estratégia e fogem por entradas diferentes nos túneis.

— Eu quero esses filhos da mãe mortos! – grita em fúria Ducard correndo atrás de Doggett por um dos túneis.

Separamo-nos. Ducard ficara só enquanto Harris e Alfred estavam comigo. Em dado instante somos surpreendidos por dois capangas que investem contra nós. Dou um tiro de sorte e tranquilizo um dos, enquanto o outro acerta um tiro em Alfred!

— NÃO!

Meu amigo vai ao chão. O tiro atingira seu joelho. Harris abate nosso outro oponente.

— Alfred! Estou aqui! Você tá bem? – indago-o pondo a mão em seu joelho fazendo-o liberar um grunhido.

— Ele vai ficar. Você precisa continuar! – diz Harris olhando para o outro lado do túnel de onde as vozes dos capangas se tornam próximas.

— O quê? Não! Alfred precisa de mim!

— Olha garoto, eu posso cuidar de Alfred e atrasar esses caras. Se você ficar, vou precisar tomar conta dos dois. Agora vai! Vai atrás do Henri! Impeça-o de fazer uma besteira.

Nego novamente com a cabeça, mas logo compreendo o que Harvey estava dizendo. Comigo ali, ele teria duas preocupações. Corro então hesitante no encalço de Woodley, Doggett e Ducard.

Faço caminhos precipitados em meio aos túneis, guiado pelo som dos tiros. Logo encontro-me em uma região suspensa de onde vejo Ducard ainda atrás de Doggett e Woodley fugindo do alcance.

Olho ao meu redor e vejo um amontoado de suprimentos que poderia amortecer minha queda. Lanço-me sem pensar. A pancada é forte, mas não o suficiente para me machucar ao ponto de não ser capaz de perseguir Thomas.

Chegamos então a uma seção fora dos túneis onde arrisco alguns tiros a Woodley. Um deles acerta sua perna fazendo-o cair. Ele não desmaia. Acelero e dou-lhe um empurrão antes que se levante. Utilizo de meus ensinamentos com Grant para mantê-lo desorientado no solo com diversos golpes. Estamos perigosamente próximos à beirada.

Thomas se livra de meus socos com esforço, lançando-me para longe. Acerto as pedras. Sinto-me tonto. A roupagem para neve de Woodley aparentemente amortecera o tiro de tranquilizante. Ele se levanta com grande esforço quando ouço as rachaduras se fortificando. O solo abaixo do mesmo se torna desnivelado e rui. Thomas Woodley cai em direção ao infinito branco das neves nos Montes Chersky.

Sou retirado do impacto de sua morte ao ouvir um grito. Um nível abaixo nos montes vejo Ducard e Doggett se enfrentando corpo a corpo. Willi chuta Henri que vai ao chão dando tempo suficiente para seu oponente recuperar seu revólver e ficar ao alcance de um ataque aéreo meu.

Lanço-me sobre o homem a tempo de evitar que executasse Ducard que logo se levanta tomando a arma de seu agressor.

— Fique de joelhos! – grita para Willi que levanta as mãos enquanto se ajoelha – Seu miserável!

Recomponho-me e assisto a cena com cautela.

— Acabou Henri! Já era! Vamos leva-lo de volta. Vamos dar um fim a isso de uma vez por todas. – digo sorrindo embora ofegante e ainda sentindo a tontura de minha pancada nas pedras.

— É, nós vamos. – Ducard destrava sua arma.

— O que vai fazer?

Ele mantém silêncio.

— Henri, olha, pensa bem. Esse homem, ele tem conexões que podemos aproveitar. Podemos prendê-lo, o fazer pagar por tudo, nos levar até seus aliados. Dar um fim a todo um mal! Escute-me!

— Eu tô escutando garoto. Mas quer saber de uma coisa? Eu não tô dando a mínima.

BANG!

O corpo inerte de Willi Doggett vai ao chão. Pelo buraco em sua testa, um fino filete de sangue escorre a neve.

— O QUE VOCÊ FEZ?!

— Cumpri meu contrato.

— Seu... Seu contrato?!

— Quem me contratou queria Thomas Woodley morto. Esse cara aqui, era o verdadeiro Thomas Wodley. Ele agora tá morto. Fim da história.

— Você é tão podre quanto ele era...

— Sabe de uma coisa garoto, no fundo, todos nós somos podres. O que importa é o quanto você tenta esconder isso.

— Não. Nem todos.

— Há, um dia você vai ver. Nesse mundo, ninguém vale realmente à pena.


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