Aquele rosto era familiar. Aquele sorriso de lado era familiar. Aquele cabelo castanho escuro era familiar. Aquele homem era familiar. Eu o conhecia de algum lugar.

— Vão as duas para dentro agora. – Edward gritou enquanto saía de dentro da casa acompanhado de Jasper, Jacob e Emmett.

O homem olhou para mim uma última vez e piscou o olho direito antes de ir embora. Mas ele deixou para trás lembranças.

"Eu lia, novamente, o meu pequeno livro da Branca de Neve. O cheiro hospitalar já não me causava mais enjoo e os sons de passos não incomodavam tanto meus ouvidos. Mais um dia nesse terrível lugar. Ao menos as horas poderiam passar mais depressa e fizessem chegar o horário de visitas, onde eu poderia abraçar vovó e implorar para ela me tirar daqui.

Mas o tempo era injusto, assim como o médico que me fez ficar aqui por mais uma noite, mas eu só podia escutar e ficar quieta. E ficando quieta eu me privaria de ouvir um deles dizer mais uma vez que isso era para o meu bem.

A porta foi empurrada e soltou um barulho agudo e irritante. Já havia chegado o horário de visitas? Impossível. Levantei meu olhar encarando o homem com certa curiosidade, seria um doutor novo?

— Olá. – Ele me dirigiu a fala. Pela sua vestimenta ele estava mais para um daqueles caras que nenhuma mulher resistiria.

— O que você está fazendo aqui? – Fui direta, como ele ousava interromper minha importantíssima leitura?

— Acho que errei a sala, vim ver minha filha. – Ele deu um sorriso sem jeito.

— Então vá procurar ela em outro quarto. – Fiz um gesto com a mão para que ele saísse.

— Posso ficar aqui te fazendo companhia? – A pergunta me pegou de surpresa.

— A-ah pode. – Dei de ombros um pouco nervosa. 

— Como você se chama? – Ele me perguntou enquanto se ajeitava em uma cadeira.

— Annalice, mas pode me chamar de Annie. – Dei um dos meus melhores sorrisos.

— Qual seu sobrenome? – Ele tornou a perguntar.

— Swan. – Respondi sem entender onde ele queria chegar.

— Quantos anos você tem?

— Você pergunta demais. – Revirei os olhos.

— Me desculpe. – Ele passou a mão pelo cabelo castanho escuro.

— Tenho sete anos. – Ele me encarou fixamente por algum tempo e em seguida deu um sorriso de lado. – E sua filha, quantos anos ela tem?

— Sete também. – Ele parecia estar longe nos pensamentos.

Se seguiu um minuto de silêncio, um silêncio tão desconfortante que até os barulhos do corredor estavam mais atrativos.

— O que você tem? – Ele tornou a fazer uma pergunta.

— Não é da sua conta. – Cantarolei soltando um sorriso. – Brincadeira, tenho anemia aguda.

— Falta de ferro? – Ele questionou.

— Sim. – Suspirei.

— Então deveria comer mais. – Seus lábios formaram novamente aquele sorriso de lado.

— Digamos que minha avó não cozinhe bem. – Soltei uma risada, Renée não podia nem imaginar que eu disse aquilo.

— E sua mãe?

— Você pergunta demais. – Fechei a cara.

— Você já disse isso. – Ele me olhou divertido.

— Minha mãe me abandonou! – Abaixei a cabeça para disfarçar as lágrimas que se acumularam em meus olhos.

— Sinto muito. – Ele se levantou.

Encarei ele, seus olhos eram pretos como a escuridão, mas se prestasse bastante atenção veria que eles eram de um vermelho escuro sem igual.

— Você já vai? – Questionei.

— Sim. – Ele soltou um suspiro como se não quisesse ir, então se aproximou de mim. – Posso te dar um abraço?

— Pode. – Soltei um sorriso assim que seu corpo se inclinou sobre o meu. Sua pele era fria, mas eu não recuei, aquele abraço tornou o meu dia melhor, de algum modo.

— Adeus, Annie. – Ele sussurrou se afastando de mim.

— Eu ainda vou te ver? – Perguntei assim que ele abriu a porta para sair.

— Você eu não sei. Mas eu ainda te verei muito. – Ele piscou o olho direito e saiu.

Fiquei ali sem entender o que ele havia dito e também sem saber o seu nome."

                                        […]

— Annie! – Pude escutar a voz de Bella ao longe. – Filha acorda!

— Ela já está acordando. – Carlisle falou e então eu abri os olhos.

Demorou um tempo para meus olhos se acostumarem com a claridade, mas logo eu via Bella perfeitamente.

— Você me chamou de que? – Dei um sorriso irônico.

— De Annie. – Ela recuou para que eu pudesse me sentar no sofá.

Soltei uma risadinha. E encarei Carlisle e os outros poucos que estavam ali.

— O que aconteceu? – Perguntei.

— Um vampiro estava aqui. – Carlisle respondeu. – Não sei como...

— Ah, ele tem aquela habilidade. – Dei um sorriso.

— Que habilidade? – Esme perguntou me trazendo um copo de água.

— Ele pode se ocultar. Não sei se é um dom ou apenas uma habilidade que ele adquiriu. – Edward entrou e respondeu por mim.

— Não conseguimos pegá-lo. – Jasper entrou logo atrás. – Ele é mais rápido que Edward.

Bebi a água devagar enquanto olhava a cara deles. Que climão.

— Annie, como você sabia que ele estava aqui? – Jasper me perguntou.

— Quando eu cheguei, senti alguém me observando. Por isso te perguntei. – Soltei um suspiro. – Não queria ter dito que achava que tinha alguém lá fora. Pois não tinha certeza.

— Precisamos dobrar a sua segurança, principalmente. – Edward apontou para mim. – Jacob falará com os outros lobos sobre rondar a casa de Charlie e aqui também.

— Ok – Não achava isso tão necessário. Eu sabia quem era e ele não faria mal algum.

                                            […]

A noite havia chegado. Renesmee dividia a cama de casal de Rosalie comigo, ela já estava dormindo. 

— Eu ainda vou te ver? – Perguntei assim que ele abriu a porta para sair.

— Você eu não sei. Mas eu ainda te verei muito. – Ele piscou o olho direito e saiu. 

Aquele momento tornou a se repetir. O que ele queria comigo depois de anos? Não imaginava ver aquele rosto nunca mais e eu esperei pacientemente nos dias seguintes com esperança que ele aparecesse, mas eu nunca mais o vi até hoje.

Soltei um suspiro involuntário e sorri vendo Renesmee ressoar. Me encostei mais a ela e a abracei, independente do que fosse acontecer daqui para frente eu apenas não queria perde-la.

Sim, Annalice tem coração e também ama.