Durante o Fim escrita por Van Vet


Capítulo 61
Décimo Sexto Dia - Rose


Notas iniciais do capítulo

E aí, pessoal?
Preparados para a reta final?

Penúltimo capítulo, aí vai ele!



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Assim que teve o corpo arremessado para dentro da máquina, Rose se estreitou contra a superfície sólida que a apoiava, olhando ao redor, assustada, imaginando que a sua hora tivesse chegado. A nuvem de medo se dissipou de sua frente e, com uma sequência de piscadelas nervosas, a adolescente deu-se conta de estar sendo observada por meia dúzia de pares de olhos tão traumatizados quanto os dela. Haviam três mulheres, um homem, uma senhora idosa e uma criança, todos descabelados e amarfanhados, comprimidos junto com Rose naquele compartimento apertado.

 

  Ninguém conversou com ela. Eram apenas rostos abatidos, rostos do apocalipse. A garota desviou a atenção das pessoas e observou o ambiente ao redor, uma espécie de cesta metálica possuindo algo que lembrava uma escotilha automática no topo de suas cabeças. Se firmar em pé era um problema a parte, o chão uma superfície toda arredondada.

 

 Então a máquina deu um solavanco, estava se movimentando. Ela se colou a parede para não cair no chão, imitando os outros, já acostumados ao balançar do tripod. De repente, a escotilha abriu-se acima deles e aquela gente apática transbordou pavor nos olhos. Uma garra mecânica flutuou para fora da abertura e capturou, numa emulação macabra da máquina de angariar bichinhos de pelúcia dos shoppings, uma das mulheres. A pobre criatura se debateu ao ser cingida pela cintura, a senhora idosa e o homem tentando puxá-la pelas mãos, em vão. O último contato deles se desfez, um grito de morte brotando da garganta da vítima, para terminar subitamente no fechar da escotilha.

 

ー O que acontecerá com ela? ー Rose não pôde segurar aquela dúvida, perguntando aos outros.

 

ー Ela vai morrer… Eles vão secar ela… ー disse uma das crianças, um menino de expressões opacas.

 

 Novamente um solavanco, a coisa retornou a sua caminhada pela planície. Rose fechou os olhos, torcendo para que quando chegasse sua hora, pelo menos, não doesse. Que apenas não doesse. Algo pesado caiu sobre o compartimento, através do espaço destinado ao recolhimentos de “humanos”, à direita deles. Rose voltou a abrir os olhos, ficando frente a frente com o próprio pai.

 

ーPAI! ーexclamou, correndo para abraçá-lo, mas tombou de costas quando seus pés não sentiram a estabilidade no apoio.

 

 Rony buscou algum equilíbrio para se firmar em pé e puxá-la do chão, mas a escotilha desabrochou sobre eles por uma segunda vez. A menina se forçou para frente, agarrando o corpo do pai pelas pernas e gritando:

 

ー Não deixe que pega você, pai. NÃO DEIXE! ー implorou o retendo com o máximo de determinação que conseguiu.

O ruivo permaneceu alguns instantes estático, buscando raciocinar em meio a confusão. As testemunhas o fitando cheias de pena e alívio, enquanto a garra transpassava ao redor de sua cintura.

 

ー NÃO PAI, NÃÃÃÃO!! ー Rose berrou mais, o choro incontrolável vendo o pai ser içado para a morte. Seria a última vez, pelo resto de suas vidas, que se veriam ー NÃÃÃÃO!!!

 

  A adolescente foi suspensa ao ar, segurando-o pelas calças, mas então Rony sacudiu as pernas gentilmente, o suficiente para fazê-la tombar contra o chão e não acompanhá-lo. Ela o mirou, chocada. Não queria estar ali com aquele bando de desconhecidos. Preferia mil vezes morrer na companhia do pai… Mas ele estava indo… Sumindo… Sumindo…

 

ー ROSE, ABAIXE-SE! ー escutou-o ordenar a plenos pulmões.

 

 Contudo, Rose não teve muito tempo para se esquivar. Num minuto, ela tinha uma certeza na mente e noutro sentia seu corpo ser arremessado de encontro ao chão, uma pancada dolorosa agitando seus ossos, logo que o puxão estrondoso de uma explosão aconteceu de dentro para fora.

 

  O tripod que os fazia de refém tombou para o lado, claudicante, um rombo fumegante expondo o mundo exterior ao passo que a nave ganhava o chão. Rony saiu da escotilha, o corpo livre, um filete de sangue escorrendo sobre a testa. Agarrou Rose assim que a avistou e, num abraço apertado, pai e filha terminaram de tombar ao solo junto do imenso objeto assassino, já abatido.

 

  Ao terminarem de se chocarem contra o chão, os dois saíram zonzos da fenda aberta e ganharam os terrenos sanguíneos criados pelos alienígenas no lugar da floresta, existente uma semana atrás. As outras pessoas também abandonaram o cativeiro, cada uma correndo numa direção feito um bando de formigas num formigueiro invadido.

 

ーPai, o que houve? ー Rose perguntou a Rony, arfante, correndo ao lado dele em direção a casa destruída de Smith.

 

ー Joguei uma granada lá dentro… Uma maldita granada da Segunda... Guerra Mundial, que Smith guardava! ー respondeu entre um fôlego e outro, para adolescente ー Agora… Temos de achar… Sua mãe e Hugo… Fugir…

 

A garota fitou o caminho a frente. A casa do soldado abatido começava a ganhar forma e nitidez. A cada metro que se aproximava, a imagem ficava mais coerente: Hermione e Hugo estavam saindo dentre os resquícios da construção.

 

ー VOLTEM! VOLTEM! NÃO É SEGURO! ー o pai berrou e gesticulou, em pânico ー SE ESCONDAM!

 

 Mas, quanto mais avançavam, mais certeza Rose tinha de que a mãe e o irmão nem para eles estavam olhando. Encaravam, de boca aberta, algo acima de suas cabeças. A distância final foi vencida e Rony agarrou os dois remanescentes pelo braço, tentando puxá-los para o lado oposto.

 

ー Ora, vamos… ー ele se aborreceu ao ver ambos resistirem ー Não podemos…

 

ー Pai, olha lá! ー exclamou Hugo, apontando para o horizonte a suas costas.

 

Rose virou-se em resposta ao alerta do irmão. Assim que seus olhos assimilaram o que estava acontecendo o corpo amoleceu e uma vontade de chorar se tornou incontrolável. Não era apenas a máquina nocauteada pelo pai que estava abatida. Não. Havia uma pequena coleção, dezenas, talvez centenas se sua visão fosse potente o suficiente, de objetos alienígenas tombando a esmo, pelas planícies. Dois caças do exército voaram chispando sobre a cabeça do quarteto Weasley em direção ao ocorrido. E helicópteros, e um tanque vindo do norte, e mais vários caminhões ao sul…

 

 Depois de dezesseis e infernais dias, era precipitado ter certeza, mas parecia que o jogo estava se invertendo a favor dos humanos.


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