Ele fingiu que tinha aceitado a sugestão dos pais de voltar a dormir, mas na verdade, estava bem acordado. Com a porta do quarto aberta pôde visualizar o pai acessar o corredor em direção ao quarto de Smith, que continuava a falar mais alto do que deveria. Rony tinha os ombros caídos, o andar arrastado, mas fechou a porta do cômodo de armamentos, se trancando junto  ao desconhecido, com um estrépito raivoso.

        A atmosfera daquele porão era mais sufocante do que nunca. Finalmente os alienígenas surgiram e eram tão assustadores como o garoto supunha. De perto, contudo, seus corpos de baixa estatura e sua pele translúcida, semelhante aos de uma lagartixa, causaram a estranha impressão em Hugo de que os invasores poderiam ser destruídos facilmente, longe das suas carapaças, dos tripods. O menino queria viver tempo suficiente para descobrir o ponto fraco das criaturas e assim salvar todo o mundo…

    De repente, toda a estrutura da casa tremeu, interrompendo o mais jovem Weasley de seu devaneio. Ele se sentou sobre a colcha, alerta, sentindo o segundo abalado na construção. Algo errada… Algo muito ruim, estava prestes a acontecer…

  Hermione saiu a passos largos da sala e se apoiou no batente da porta do quarto, quando o terceiro abalado na estrutura destampou todo o teto do porão, um bloco maciço de madeira e argamassa correspondente a parte de cima da casa de Smith, sendo arremessada pelo vale pelo braço mecânico de uma máquina tripod, muito maior que as outras. Hugo olhou para cima, a luz do sol lambendo seu rosto depois de uma semana, e enxergou a nave metálica como uma aranha cyberpunk prestes a destruí-los de vez.

    Sob o barulho infernal e ensurdecedor da máquina assassina, outro som surgia, mais seco e constante. O garoto reconhecia aquele estampido dos filmes e das séries de tevê. Uma metralhadora disparava contra as pernas da coisa, que avançou mais, fazendo uma sombra colossal sobre o porão enquanto tentava descobrir quem atentava contra ela. O tripod ergueu um dos braços e avançou sobre a fonte dos disparos. Quando retornou, carregava Smith, berrando sandices enlouquecidas, pelo calcanhar direito, suspendendo o corpo do ex-militar como um humano agarrando um camundongo pelo rabo.

  ー VOLTE PARA O INFERNO, SEUS DEMÔNIOS! ー Smith gritou, de ponta cabeça, apontando a arma para o corpo da estrutura e cravando dezenas de balas em sua couraça dura. 

     Tudo acontecia muito rápido aos olhos de Hugo, e nesse mesmo ritmo o laser letal que os Weasley já haviam visto entrou em ação novamente. A nave parecia quase um ser vivente por si só, virando sua peça central na direção do soldado aposentado como se ele fosse um inseto incômodo e finalizando aquele ser humano insignificante com seu raio pulverizador. Smith se desfez em cinzas igual uma mão apertando um pedaço de giz entre os dedos.

   E a segunda onda de pânico iniciou…

  A máquina projetou seu braço robótico para dentro do porão, certamente enxergando a família como um amontoado de ratos descobertos em seu ninho. Desta vez, quem venho de seu sortilégio, fora Rose, que estava a meio caminho de sair correndo do banheiro.

ー NÃO! ROOOOOOSE! ー Hermione soltou um berro agourento ao ver a garota ser suspensa ao ar, se debatendo.

    Hugo saiu do seu transe, lutando contra o medo de ser capturado por aquilo, mas também, de nunca mais rever a irmã.  A seguir, Rony apareceu abrindo a porta do cômodo de armamentos com um estrépito, correndo para as escadas destruídas do térreo, a fim de alcançar a coisa.

  ー LEVE A MIM! DEIXE MINHA FILHA, POR FAVOR… ー Hermione caiu de joelhos, implorando para a nave como se ela pudesse ser um deus misericordioso.

    ー PAI! MÃE! ー foi o último grito alucinado de Rose, antes do braço mecânico abrir um orifício no meio de sua estrutura e ocultar a adolescente para um local desconhecido dentro do tripod.

  Rony terminou de subir para os escombros do térreo, desviando das mobílias quebradas, e percorreu o caminho para o vale, para chamar a atenção dos alienígenas. Ao seu modo, o pai estava tão chocado quanto a mãe, que engatinhou em direção ao garoto, se agarrando a ele fortemente. Ela estava pálida e trêmula.

  ー Rony… ー murmurou Hermione, vendo o ruivo arremessar uma pequena pedra na máquina para lhe chamar a atenção ー Salve Rose… Traga ela...

   O braço mecânico se esticou ao redor do pai, prestes a suspendê-lo e Hugo fechou os olhos temendo ter de testemunhar uma cena horrível. Mas Rony não foi pulverizado como Smith. Ele se deixou entrar docilmente na mesma fenda que Rose havia sumido, mas não sem dedicar um breve e intenso fitar para o garoto e sua mãe.

Hugo voltou a fechar os olhos... Com força... Torcendo para que aquela não fosse a última vez que via os dois...