Durante o Fim escrita por Van Vet


Capítulo 57
Décimo Sexto Dia - Rose


Notas iniciais do capítulo

Gentem!!!
Obrigada por quem está comentando. Adoro vocês! :*



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ー Queria poder ir para lá… Para bem longe… ー Rose comentou baixinho, deitada de costas no colchão, enxergando as estrelas pela diminuta janelinha do quarto.

 

ー É… Eu estava pensando a mesma coisa. Sobre como as coisas devem estar mais calmas vistas de cima, do espaço ー Rony argumentou, murmurando de volta para não acordar as outras duas pessoas no cômodo, Hugo e Hermione.

 

   Mãe e filho dormiam abraçados. Hugo encolhido de lado e Hermione passando o braço ao redor do pequeno ruivo de um modo protetor. Pai e filha continuavam acordados, compartilhando daquele raro momento de quietude no vale, no alto da madrugada, onde as máquinas alienígenas pareciam descansar também.

 

   Rose observou o pai por um mero instante, de soslaio, supondo o quanto ele estava disfarçando o cansaço. Fazia dias que ele não dormia direito, aparecendo nos quatro cantos do porão como um chacal rondando a carne abatida, ao redor da porta. Pela luz do luar, ela pôde delinear suas olheiras escuras e suas pálpebras inchadas de esgotamento.

 

ー Pai… Dorme um pouco. Se eu ouvir qualquer coisa, eu te aviso ー ela tentou tranquilizá-lo, os dois ainda com os olhos pregados no firmamento brilhante e estrelado.

 

ー Sabe… As pessoas costumam dizer que você é a cópia da sua mãe, mas tirando a cor dos cabelos e os olhos claros, você ainda tem muito de mim, sim.

 

ー Hummm… ー a adolescente resmungou, pensativa ー Tipo o quê?

 

ー Bem, nós gostamos de pizza com catchup… Torcemos para o Jaguars fervorosamente e, o mais interessante, é que não temos muita paciência com aquilo que nos irrita…

 

ー Isso é verdade ー ela teve de concordar, recordando-se da vez em que jogou seu ipod antigo no chão, destruindo-o em dezenas de pedacinhos, após inúmeras tentativas de fazê-lo funcionar. Rony havia feito algo igual no verão passado com o pobre cortador de grama.

 

ー Claro que também tem a coragem, mas isso deve ser mais coisa da sua mãe… ー ponderou avaliando as próprias qualidades.

 

ー E sua… ー Rose acrescentou depois de um pequeno instante de silêncio. Engolindo em seco, muniu-se da tal coragem que ele comentava e prosseguiu ー Pai, obrigada por ter salvo minha vida de tantas maneiras essas semanas.

 

   Sorrindo, Rony virou-se de lado, para encarar a garota.

 

ー Isso nunca foi um favor, Rose ー estendeu a mão para ela, que virou-se do mesmo modo, olhando para aquele homem que havia dado metade de seus genes na sua formação, e muito mais, do seu caráter, na sua criação.

 

ー Eu sei, você é meu pai e tudo mais, só que achei que era necessário dizer isso ー uma singela lágrima escapou do seu olho direito fazendo-a correr com o dedo para apará-la ー Tenho dito coisas ruins para você nesses dias…

 

ー Filha… Lembra-se daquela história que a sua mãe conta sobre seu nascimento?

 

   Rose maneou a cabeça em positividade. Ela fora uma recém nascida franzina, quase prematura, e mesmo sendo concebida de parto normal deu um trabalho assombroso para a mãe e para a equipe médica. Hermione costumava dizer que o médico teve de dar-lhe não um, nem dois, mas algumas dúzias de tapinhas em seu bumbum para a bebê resolver chorar e preencher os pulmões de oxigênio. Por alguns segundos, a mãe dizia, parecia que ela iria se recusar a fazer parte daquele mundo.

 

ー Então, existe uma outra versão, a verdadeira, que nós poupamos você porque era muito jovem e poderia ficar impressionada, sabia?

 

ー Como assim? ー a adolescente franziu o cenho, curiosíssima pela nova informação.

 

ー Você não respirou, sim, mas foi por muito mais tempo. O obstetra fez o de praxe, aquilo que sua mãe disse, porém houve mais. A equipe ficou em pânico… a senhorita não respirava de nenhuma forma. Em determinado momento, seu corpinho muito roxo, e sua mãe aos prantos, tendo de ser sedada novamente, o médico correu da sala e levou-a para um cômodo ao lado, onde iniciou uma manobra de ressuscitação cardiopulmonar. Foi igual aquelas cenas dos seriados médicos, só que pior. Era real. Até hoje agradeço por Hermione não ter de ver aquilo… Mas eu estava vendo. Eu olhei enquanto eles passavam um tubo na sua garganta e pressionavam seu peito… Naquele instante, eu me senti o humano mais impotente e desesperado do mundo. Eu havia entrado no hospital de câmera na mão, não era para ver minha filha morrer…

 

     Escutando o relato atentamente, sem se dar conta, Rose deixou novas lágrimas deslizarem pelo seu rosto.

 

ー … Depois do que me pareceu uma eternidade, você deu sinais de vida… Sua pele ficou rosada, seu tórax expandiu… A equipe comemorou, a bebê tinha se salvado. E eu, Rose, eu estava destruído. Fui do medo profundo a felicidade inacreditável em segundos. Eu nunca havia sentido nada igual em toda a minha vida. Talvez quando finalmente consegui ficar com a sua mãe… ー deu uma risadinha nostálgica ー mas não se dava para comparar. Era um sentimento poderoso... Diferente. Era minha filha. Viva.  

 

    “Quando a senhorita se recuperou, afinal toda essa brincadeira teimosa de deixar seus pais preocupados fez com que ficasse dois dias numa unidade de terapia intensiva, uma enfermeira te colocou nos meus braços pela primeira vez. Então, eu te olhei de pertinho, os olhinhos brilhantes… Dali em diante eu soube que daria minha vida para proteger você e nunca me arrependeria dessas escolhas. Você e Hugo podem brigar conosco, podem agir do modo que for, mas nosso sentimento pelos dois jamais mudará ou diminuirá. Entendeu?

 

ー Tá, você me convenceu e… me deixou com mais remorso ainda ー a garota fungou aproximando-se do pai, que abriu os braços para ela apoiar a cabeça em seu tórax.

 

ー Talvez fosse a intenção ー Rony interpelou e eles riram baixinho.

 

Avançado mais alguns minutos, ruminando sobre a confissão paterna, ela resolveu desabafar sobre aquele nebuloso assunto que havia escolhido esconder por muitos meses.  

 

ー Humm... Pai… Eu tenho um namorado.

 

   Um silêncio palpável e então ele dizendo:

 

ー Ah é? ー seu tom de voz era indecifrável.

 

ー É… Ele é da minha escola.

 

ー Entendo. Qual o no…

 

ー Scorpius. A gente ficou só algumas vezes, não é nada sério, na verdade… ー disse, afoitamente.

 

ー Nome curioso.

 

ー É, também achei quando o conheci. Algo que os pais deles prometeram a alguém… História longa ー concordou, adicionando alguns detalhes inúteis apenas para diminuir as brechas de mudez.

 

ー Eu… e-eu… ー Rony gaguejou ー Eu tenho certeza de que ele está bem. Está se virando como nós, filha.

 

ーSim ー confirmou, em seu intimo temerosa por alimentar falsas esperanças sobre aquilo.

 

ー Você vai revê-lo e será logo. Acredite em mim.

 

   Rose abraçou o pai com mais força, aproveitando a sensação de segurança que ele lhe transmitia. 

 

ー Eu acredito, pai. 


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