Durante o Fim escrita por Van Vet


Capítulo 52
Sétimo Dia - Hugo




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Para sua contraparte do passado seria muito aterrorizante desbravar uma floresta tomada pelo breu no auge da madrugada. No presente, nada estava se tornando mais reconfortante para Hugo do que se distanciar daquela guerra perdida para os humanos e deixar o silêncio pleno o envolver. Exceto o ruído das pisadas do quarteto contra galhos ressequidos e montantes de folhas, nenhum som os acompanhava. Era como se a natureza toda soubesse que chegara a hora de se esconder.

 

  Vez por outra, a lua incidia por entre as folhas das copas e iluminava palidamente uma calada e trêmula Rose, e os pais ancorados um no outro, vindo mais ao fundo. A ideia era andarem em sentido reto o mais longe que conseguissem, sem rumo certo, embora visando se afastarem dos aliens ao máximo.

 

  Em determinado ponto, a quietude finalmente começou a incomodar Hugo e ele chamou a  irmã para uma conversa sussurrada, vendo que ela tremia:

 

ー Está com frio?

 

ー É… um pouco… Estamos todos molhados até os ossos, feito gatos escaldados...

 

ー  Agora que você falou… ー o menino sentiu uma onda fria abraçá-lo repentinamente. A roupa ensopada pesava.  

 

ー É só tentar não ficar pensando ー Rose aconselhou e, milagrosamente, executando aquele exercício mental por mais alguns passos em silêncio Hugo percebeu que funcionava ー Eles estão atrás da gente? ー ela perguntou-lhe após alguns instantes.

 

   O menino encarou os pais de soslaio. Eles vinham num ritmo mais lento, mas constante.

 

ー É, logo atrás.

 

ー Se você ver algum abrigo seguro no meio desse matagal todo, avise. Papai não está no melhor dos dias.

 

ー Eu sei ー o garoto confirmou cheio de seriedade.

 

  Os Weasley prosseguiram no mais sinistro dos silêncios. As horas voavam e nenhum deles reduzia a marcha. Sentiam medo, acima de todos os outros sentimentos. Fadiga, dor, frio, fome… Nada disso importava no momento. Não demorou para adaptarem os olhos a escuridão entre as árvores e tornar o percurso mais tolerável e enxergável. Suas pernas sentiram aclives e declives por todo o terreno e, nos pontos mais críticos, os menores ajudavam os adultos, que não podiam ficar para trás… Afinal, eram ninguém menos que seus pais.

 

   Em determinado ponto, para além de quatro horas seguidas andejando pela floresta, o terreno começou a se abrir e uma área mais esparsa de árvores, surgir. O céu gostaria de dar lugar ao sol, se tornando sutilmente púrpura para o além do horizonte. E, no meio do nada, a família avistou um casebre muito decrépito, que parecia abandonado, mas que, subitamente revelou seu habitante. Um homem robusto, vestindo uma regata branca encardida, segurando uma espingarda na mão direita e um binóculo na esquerda, abriu a porta principal da construção.

 

ー Fiquem perto de nós ー Hermione alertou aos filhos, o olhar desconfiado. Parecendo resignada por escutar algo sussurrado pelo pai, que Hugo não conseguiu ouvir, eles seguiram para próximo do casebre do sujeito.

 

ー Venho acompanhando vocês lá de trás ー o desconhecido falou, apontou o binóculo para uma colina as costas do grupo.

 

ー Precisamos de ajuda… Meu marido não pode andar muito mais, está ferido… E estou com crianças.

 

   O homem, de brilhantes olhos verdes e barba grisalha desgrenhada, os fitou. Hugo achou aquele olhar um tanto perturbador.

 

ー Dois adultos e duas crianças... ? ー disse em tom de pergunta, embora parecesse falar sozinho.

 

ー Isso… Por favor… ー desta vez foi Rony quem disse ー Só precisamos de algumas horas para nos recuperarmos e seguimos nosso rumo.

 

   O sujeito pensou por um minuto inteiro, mas pareceu que foi por uma década. Por fim, erguendo a espingarda e apoiando-a no ombro, o cano voltado para o alto, confirmou.

 

ー Tudo bem… Com a condição de que vocês terão de me dizer tudo o que presenciaram desde que o Apocalipse Divino iniciou…

 

ー Falamos tudo que o senhor quiser ー Hermione respondeu, levemente impaciente, aproximando-se dos degraus que acessavam a porta da entrada. O anfitrião deu um passo para o lado, para que os quatro pudessem entrar na sua casa.


       Hugo segurou firme na mão de Rose, enquanto passava pela soleira da velha porta sob o olhar analítico daquele velho. A frente, a casa era tão escura quanto a floresta.


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