Hugo teve de ser arremessado para fora do seu sono ao levar um chacoalhão no ombro. Confuso, o garoto abriu os olhos lentamente, mas a intensa movimentação ao redor dele acabou o despertando o quanto antes. Ele se sentou de pronto e observou Rose gesticulando freneticamente. Demorou alguns segundos para que estivesse totalmente alerta e entendesse o que a irmã dizia.

ー Levanta! Temos de achar o papai e a mamãe! ー ela exclamou se pondo de pé numa agilidade impressionante.

  Hugo desgrudou os olhos da adolescente e deu uma boa avaliada no que assustava-a. O galpão estava um caos. Ninguém mais dormia como acontecera horas antes, ao pegar no sono. As pessoas juntavam os poucos pertences disponíveis e se amontoavam pelo caminho, pisoteando em quem terminava de acordar nos colchonetes, causando discussões e gritaria. Um homem a poucos metros deles acabara de socar outro, porque alguém chutara o rosto de seu filho no tumulto. O pior de tudo era que acontecia na penumbra, já que a luz do abrigo continuava apagada.

     De repente, um clarão alaranjado seguido por um eco grave de explosão iluminou todo o recinto através das altas janelas e serviu como o estopim para o pânico geral.

    Rose puxou-o pelo braço e colocou de pé em um segundo. Alguém passou esbarrando neles com brusquidão e a garota empurrou o passante, irritada.

ー O que tá acontecendo? ー Hugo perguntou cauteloso, metade da atenção direcionada para as janelas de onde um novo clarão se formava.

ー O exército… Devem estar nos protegendo de algo… ー ela disse afobada, a voz entrecortada ー Vem, temos de sair daqui… Vão acabar nos machucando.

     Sendo conduzido firmemente pelo pulso, o pequeno Weasley deu encontrões em dezenas de corpos ansiosos pelo caminho e testemunhou Rose abrir passagem para eles de um modo delicado com ombradas e empurrões. A massa humana, em compensação, estava mais interessada em arrombar a porta do galpão, que ainda não havia sido aberta, e a lamentar.

   Uma segunda explosão vibrou mais forte em seus ouvidos e muitos gritaram de medo em resposta. O embate se aproximava e junto dele o coração do menino se acelerava absurdamente. Ele tentou ajudar a adolescente, se esforçando para achar o pai e a mãe em meios aos rostos desesperados. Não entendia bem porque eles simplesmente não estavam lá, ao lado deles, naquela instante.

   Além do estouro, estampidos secos começaram a ser percebidos ao longe e não era preciso nenhum conhecimento avançada para um garoto esperto de nove anos se dar conta de que os disparos frenéticos eram infligidos contra algo… aflitamente.

ー Tiros! Tiros! ー a multidão constatou ensandecida.

ー SÃO OS ALIENS! ELES VÃO NOS ATACAR! ABRAM ESSA PORTA, MISERÁVEIS! ー um homem gritou muito alto, socando a porta de punhos erguidos.

  Rose parou de caminhar abruptamente e virou-se para o irmão. Hugo percorreu seu rosto ao se aproximar do dele, e ela parecia fazer um grande esforço para não demonstrar o pavor que sentia.

ー Só vamos encontrar eles e sair daqui em segurança… ー começou a lhe dizer, mas não pôde terminar a frase.

  A estrutura metálica que compunha o teto rangeu num lamento de gelar a espinha sobre suas cabeças. Hugo olhou para cima, a curiosidade acima do instinto de proteção, mas teve a visão bloqueada por Rose, que o abraçou desajeitada, jogando seu peso sobre o dele, fazendo-o se desequilibrar e cair de joelhos. Antes que pudesse processar todo o entendimento da cena, ela fazia dos braços e das costas um escudo para o caçula enquanto algo maciço desabava de encontro a eles…