Rose achou que ela e Scorpius faziam um bom trabalho de namorarem escondidos na escola, mas pelo visto falhavam miseravelmente. No início, a adolescente foi bem reticente em se render aos galanteios do rapaz de quinze anos. Ele fazia um tipo popular, rodeado de dezenas de meninas escandalosas e maquiadas demais e isso por si só era insuportável de ver.

   Então aconteceu dele sentir interesse em Rose Weasley, a nerdezinha da sétima série, de longos cabelos ruivos, fones de ouvidos no último volume e temperamento explosivo. A Weasley o achava bonito, mas arrogante. E mesmo assim deu certo. Eles partilharam um fone de ouvido quando foram parar na diretoria por motivos diferentes. Scorpius foi pego matando aula e Rose estava ali por espancar um garoto gordo do primário. A demora estava tão entediante que a jovem ofereceu um dos seus fones de ouvido para eles escutarem Imagine Dragons.

  O garoto possuía gostos musicais parecidos e desde então eles conversaram bastante. Semanas depois deram um selinho atrás do refeitório e mais outro na biblioteca. Há dois meses se beijavam pra valer quando não havia inspetores por perto. E achavam que estavam fazendo tudo secretamente…

   Rose piscou forte para não chorar. Não queria imaginar o que poderia ter acontecido com seu namoradinho de escola. O seu primeiro amor. Ela pegou embalo na distração que Hugo lhe mostrou e afastou os pensamentos ruins. O irmão pedia para ela ligar a jukebox no fim do corredor. A garota foi para o caixa e pegou algumas fichas para alimentar a caixa de som. Voltando para a jukebox ela e Hugo escolheram a música do agrado de ambos e viram o disco dos Jackson Five sair do compartimento e encostar na agulha.

   Rose bateu palmas enquanto Hugo mexia os pés e imitava um robô. Michael Jackson começou a cantar num timbre afinado e infantil e os irmãos, que conheciam aquela música muito bem, cantaram o refrão:

ー Oh, baby, give me one more chance…

  Os pais entraram na lanchonete para descobrir o motivo da barulheira e os filhos não se inibiram da cantoria:

ー … Oh darlin’ I was blind to let you go…

   Rose viu a mãe entrar no clima e estalar os dedos, sorrindo com alegria. O pai pegou-a pela cintura e rodopiou com ela pelo salão, entre as mesas, os dois rindo como há muito os filhos não viam.

ー Rony, eu vou cair ー Hermione disse, gritando e rindo enquanto o ruivo embalava ela de um braço no outro.

ー Eu não deixaria ー ele disse com um quê de galanteio e trouxe a mãe deles junto ao corpo, dançando bochecha colada com bochecha.

 Hugo olhou de esgueira para a irmã, um sorrisinho satisfeito nos lábios ao qual ela deu uma piscadela marota e continuou a cantar à plenos pulmões:

ー Oh, baby, all I need is one more chance…

ー Show you that I love you ー a irmão cantarolou logo atrás.

 Pai e mãe permaneciam num mundo somente deles, felizes, se embalando na canção e se encarando demoradamente nos olhos. Rose então se deu conta das crueldades ditas no dia anterior e se envergonhou no seu íntimo. Ela não queria vê-los brigando, nunca separados, apenas não entendia porque eles insistiam em se comportar como dois estranhos quando poderiam ser exatamente aquilo. Um casal eternamente apaixonado, sem fachada, sem falsas promessas perante aos dois filhos.

ー Ooh, ooh baby… ー Hugo cantava alto quando a jukebox desligou fazendo o canto da criança solitário no ar.

ー A máquina enguiçou? ー Rose foi até o aparelho e deu uma pancadinha no vidro. As luzes da máquina estavam completamente apagadas.

ー O que houve? ー o pai aproximou-se, deu mais batidas na caixa de som e constatou o mesmo que ela ー Parou de funcionar...

ー O ponteiro do relógio ali na parede também parou, Ron. ー a mãe disse assombrada.

ー E a luz do corredor piscou e desligou ー informou Hugo embora todos tenham percebido.

ー Todos para o carro ー o pai assumiu seu tom urgente novamente ー Não é mais seguro ficar aqui.

  Rose sentiu ímpeto de ânsias e voltou a pensar em Scorpius...