Durante o Fim escrita por Van Vet


Capítulo 17
Primeiro Dia - Rose


Notas iniciais do capítulo

Gente!!! Mais um capítulo da sofrência, foi mal aí kkk



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Rose se achou uma imbecil por ficar levemente impressionada com a teoria de uma criança de nove anos. Hugo era um menino inteligente, a mãe dizia “Ele tem bastante da minha genialidade, mas esse jeito avoado é do pai”, contudo não podia superestimar as fantasias infantis dele. Aliens? Não, quanta bobeira! A menina imaginava que o ataque do dia fora obra dos russos.

 

     Ela era aplicadíssima em História, brilhou em notas dez o ano todo, e tinha ouvido sobre isso na escola no bimestre passado: os Estados Unidos desconfiavam que aquele país albergava um arsenal bélico incalculável do tempo da Guerra Fria. Com toda essa história de ataques terroristas, quem sabe a União Soviética não quisesse voltar. A melhor forma de desestabilizar um governo inimigo é justamente causar pânico nas massas e cortar seu sistema de comunicação.

 

      E o objeto na rua não eram dois pratos unidos, voando sobre suas cabeças. Se os extraterrestres eram tão inteligentes por que construir um troço de pernas longas e desengonçadas?

 

   Russos 1 x Aliens 0.

 

       Enquanto devaneava, a família, todos sentados na mesa de jantar comendo espaguete e sanduíches de pasta de frango, riu de alguma coisa muito engraçada que Hugo disse. Rose voltou a si e encarou os rostos ao seu redor. A mãe com os olhos repuxados, seus olhos quando sorria verdadeiramente, não aquele risinho de “não aguento mais essa merda” que vinha fazendo constantemente ao longo dos meses. O pai apoiando a nuca nos dedos entrelaçados e gargalhando para cima, descompromissado com sua encenação mal feita. E Hugo, pobre e feliz Hugo, será que ele tinha idade para se lembrar do que era Ronald e Hermione antes dos falsetes?

  

  Seus pais brigavam, era uma ação natural. Devem ter brigado para escolher o nome de Rose, para saber que padrinhos convidar, qual seria o tema da sua festa de um ano de idade e etc.  Mas todas picuinhas se resumiam em discussões inocentes e eles voltavam a se falar minutos depois. Não parecia haver ressentimentos. Rose sentia isso. Ela era mais jovem do que agora, porém já assimilava essa percepção.

 

   As brigas dos últimos anos tinham outra cara. Elas faziam a mãe parar de se concentrar no seu hobby de ler livros e escolher ficar olhando deprimidamente para algum programa que envolvesse drama. Elas faziam Rose ter de se deparar com o pai roncando no sofá da sala, de travesseiro e tudo, quando ia pegar um copo d’água tarde da noite.

 

   Mais do que impressionar, esses detalhes enchiam-na de ódio, um ódio que ela sentia agora ao ver Hermione e Rony interagindo com Hugo como se tudo fosse ficar bem no futuro. A adolescente se viu no dever de manchar o momento feliz:

 

ー Todos os canais estão meio mortos na televisão. Acho que tem alguma coisa bem ruim acontecendo ー ela anunciou, revirando espaguete no garfo.

 

ー Querida, Rose, vai ficar tudo bem. Nosso exército é o melhor do mundo, seja o que for que houve em Tampa já está sendo controlado ー Hermione pegou no braço da filha e deu um tapinha consolador ao dizer isso.

 

ー E vocês já conseguiram falar com a vovó e o vovô?

 

Rony fitou Hermione brevemente e disse:

 

ー Ainda não, as linhas continuam muda, mas amanhã…

 

ー A vovó Molly e o vovô Arthur estão em perigo também? ー Hugo deixou se garfo cair, assustado.

 

ー Não, não. vai ficar tudo bem ー Hermione retornou sorrindo daquele modo plástico. Seu sorriso de mentirinha.

 

ー Ah, é? Então agora vai ficar tudo bem? A gente vai voltar pra casa assim que tudo estiver normal e seremos uma família como sempre? Vocês pararam de brigar?

 

ー Filha, é só uma fase… ー Rony suspirou, mais sério.

 

ー A mamãe então não vai assinar os papéis de divórcio que estão dentro da estante da sala? Ahh, esqueci! A gente não tem mais sala ー Rose riu malevolamente.

O pai encarou a mãe, pálido. Não, mais do que isso, ele estava confuso. Era uma notícia em primeira mão para ele também. A menina gostou de produzir esse efeito. Provavelmente não ficaria sem castigo, mas só desmascarar toda aquela hipocrisia lhe dava prazer.

 

ー Por que você está agindo assim? ー Hermione perguntou a filha, profundamente magoada. Seu rosto tentava não se virar na direção de Rony ー Eu não criei uma garota maldosa.

 

ー Eu não tô sendo maldosa, só acho que se essa porcaria de família vai acabar mesmo não é preciso me aborrecer com viagens e programinhas sem graça!  

 

ー Acabar? Igual aos pais do Mike? ー questionou Hugo, observando a mãe e o pai, a vozinha em pânico.

 

ー Rose, cala a boca ー o pai bufou.

ー E como você espera que eu aja depois que você deixou meu gato para morrer soterrado? ー a menina se virou para o pai, quase gritando.

 

ー Você quase matou sua mãe e seu irmão correndo atrás DESSE GATO ESTÚPIDO! ー Rony bateu na mesa do jantar chacoalhando os copos.

 

ー E FOI VOCÊ QUEM ME DEU ESSE GATO ESTÚPIDO! ー Rose berrou mais alto, se levantando tempestivamente e saindo da mesa soluçando alto.

 

  Os aliens ou os russos, tanto fazia, ela queria mais era que alguém desse um fim nesse mundo idiota.


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