Durante o Fim escrita por Van Vet


Capítulo 12
Primeiro Dia - Hugo




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 Ele e a irmã saíram debaixo da mesa porque sua mãe se acalmou quando os raios finalmente pararam de cair de vez. Acabou-se, assim como a ventania açoitando a esquadria, e embora a energia elétrica não houvesse sido restabelecida pela companhia de eletricidade (uma questão de horas) Hugo já tagarelava com Rose, um bocado entusiasmado.  Sua mãe havia preparado chocolate quente para os dois. Não fazia frio para a bebida, mas para Hermione nada acalentava mais do que uma xícara daquilo.

 

  Hugo entrou num clima muito apreciado pelo garoto: de ansiedade pós susto. Fazia parte daqueles sentimentos mórbidos das crianças ao se verem num evento inédito de agitação. Rose ainda discutia sobre a falta de trovões e Hugo contou para ela sobre um joguinho no computador dele que os extraterrestres se materializavam como um relâmpago diante do personagem principal. Rose mostrou aquele interesse vago de sempre, e ele fingia não perceber o desinteresse da adolescente prosseguindo no assunto.

 

   A irmã terminou a bebida primeiro que ele e agachou-se embaixo do sofá para pegar Obi-Wan. O bichano, normalmente um poço de serenidade, custou a sair dali, e veio parar todo tenso no colo da sua dona. Ele estava pronto para escapar a qualquer segundo se Rose diminuísse o aperto.  

 

  De repente, o clima tranquilo da casa foi cortado pela volta do pai. A mãe abriu a porta para ele, que entrou bruscamente. Ele estava imundo e emanava uma aura urgente, embora os olhos, Hugo nunca esqueceria aquela expressão, fossem baços como uma casca oca.

 

ー TEMOS DE PARTIR JÁ! ー ele gritou.

 

ー Ronald, para de agir assim! Isso não leva… ー Hermione rebateu, prestes a recomeçar outra briga estúpida, entretanto sua voz morreu no meio da frase ー O que aconteceu com seu rosto? Com suas roupas?

 

ー Hã? ー o pai se tocou, trêmulo.

 

ー Rony, você se machucou? ー ela o questionou alarmada.

 

   Hugo e Rose arregalaram os olhos para enxergar o que somente a matriarca via nitidamente. Então seu pai os ajudou, aproximando-se do espelho da sala e se examinando no vidro refletido. Ele estava coberto de poeira, daquelas que subiam pelas chaminés no inverno.

 

ー Pai, o que houve? ー perguntou Rose, a voz hesitante.

 

O pai fitou-se, aparentemente horrorizado com que via, e correu para a pia da cozinha limpando o rosto freneticamente (neuroticamente), na água da torneira.

 

ー Rony, tá na hora de você falar comigo. Por que está se comportando assim? De onde vem essa fuligem em você? ー a mãe exigiu de voz esganiçada.

 

ー Isso não é fuligem ー ele informou soturnamente. Depois, agarrou-a pelos ombros e disse com firmeza  ー Mione, confie em mim, pelo nosso amor, e vá com as crianças para o carro imediatamente. Pegue… pegue meia dúzia de biscoitos, não há tempo, e saíam para o carro agora. Eu vou subir para pegar uma coisa e num segundo estou lá com vocês.

 

ー Eu já peguei alguns mantimentos, mas eu preciso de respostas melhores, Rony.

 

O pai começou a subir as escadas e parou no caminho para alertá-la de novo:

 

ー Por favor, Mione. Faça o que eu peço.

 

  Hugo e Rose se entreolharam numa complicidade pela estranheza. A mãe ficou encarando o esposo terminar de subir para o segundo andar. Hugo poderia apostar que ela iria atrás e uma nova discussão começaria. Contudo, ela fez algo inesperado. Virando para seus filhos, ordenou:

 

ー Ouviram seu pai, vamos para o carro.

 

  Lá fora um barulho peculiar ecoava pelo bairro.


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Notas finais do capítulo

E aí galera, o que será que vem a seguir? :D