O dia da chegada de Maya finalmente chegou. O relógio marcava seis horas da matina quando Sakura deixou a casa de Naruto e Hinata para ir pegar seu pinguinho de gente.

Na noite anterior, eles se ofereceram para ir com ela, mas a rosada negou, eles acordariam muito cedo, Naruto tinha de trabalhar e Hinata provavelmente ficaria ocupada a tarde com as coisas do casamento.

Enquanto esperava sua filha e tia aparecerem no meio daquele amontoado de gente que se encontrava no aeroporto de Konoha, Sakura pensava que mais tarde, teria uma certa conversa com um ceto alguém. Gostaria de cancelar esse compromisso para que pudesse ficar o resto do dia com sua filha que com certeza dormiria a tarde toda, já que fora obrigada a acordar cedo para a viagem. Na verdade, a pequena sempre dormia a tarde, já até mesmo chegou a dormir depois do almoço e acordar somente no outro dia.

Sakura não sabia se aquilo era normal de crianças daquela idade ou se foi um trejeito herdado dela, já que dormir era a segunda paixão da rosada - a primeira eram doces, claro.

Mas, mesmo que a vontade fosse grande, ela não cancelaria nada. Precisava de respostas para muitas perguntas que se fez durante os anos em que estava na Inglaterra, pergunta essas que, por não obterem respostas, sua mente traiçoeira fez questão de respondê-las da pior maneira possível, reacendendo algo que ela lutou durante muitos anos para ela sufocar: a insegurança.

Só de lembrar o que esse sentimento a fez passar consigo mesma, algo em seu coração apertava. Definitivamente, não gostava de se sentir assim.

Deixou esses pensamentos de lado ao notar uma cabeleira loira de busto avantajado vir em sua direção, junto de outra garotinha também loira. 

Sakura não pôde deixar de sorrir ao ver a reação de sua filha quando esta a achou depois de tanto esticar a cabeça a sua procura, o sorriso crescendo nos lábios dela e o gritinho fino “Mère”, enquanto corria em sua direção com os bracinhos levantados.

Sakura pegou a criaturinha em seu colo, dando um abraço bem apertado, sentindo o cheiro doce de tutti frutti que vinha dela. 

— Mère, você não vai acreditar no que eu vi! —  a pequena falou, animada enquanto se agitava no colo da mãe, como se estivesse dando pulinhos.

— O que você viu, princesa?  — perguntou docemente, achando a empolgação da filha uma gracinha.

— Um elefante! Ele estava tentando comer um algodão doce reluzente!  — indagou Maya, que parecia se agitar cada vez mais no colo da rosada. 

Sakura arqueou a sobrancelha ao ouvir o que sua filha disse, e olhou em dúvida para Tsunade.

— Ela está falando das nuvens, Maya viu todo tipo de animal nas nuvens. Coisa de criança.   — Sakura assentiu, entendo. Ambas pegaram as malas e se dirigiram em direção ao carro da rosada. Tsunade foi atrás com Maya, já que não tinha cadeirinha para ela. 

— E quando sai seu voo amanhã, tia? — perguntou a rosada, sem tirar os olhos da estrada.   

— Às sete e meia da manhã.  — respondeu a loira, enquanto observava a agitação de Maya se esvaindo aos poucos.  — Esteja pronta com às seis.  — pediu - ordenou - fazendo Sakura revirar os olhos para o tom dela.  

Sakura precisou deixar a tia em um hotel, já que ela e Maya estariam ocupando o quarto de hóspedes da casa de Naruto e Hinata. 

Ainda no carro, a rosada observava de vez em quando pelo retrovisor, uma sonolenta Maya, que estava lutando contra o sono.

— Não quis dormir no avião, filha?  —  perguntou ela, tentando mantê-la acordada. Não queria que ela dormisse ali, provavelmente ficaria dolorida depois,

— Não, mère. Fiquei olhando pela janela, tava bonito!  — sorriu ela, olhando pela janela. —   A moça do avião me deu chocolate quente, e depois eu vi um montão de algodão flutuando no céu! —  ela já começava a se agitar novamente, dando pulinhos contidos no banco. 

Enquanto sua filha relatava os detalhes da viagem tão animadamente, Sakura ouvia tudo como se fosse a coisa mais importante do mundo, vez ou outra fazendo um comentário.

Perguntava-se como seria quando seus amigos conhecessem sua filha, e o que ela acharia deles.

A Haruno não tinha dúvida que eles a tratariam bem, Maya era uma criança adorável, e era parte dela, sendo esses motivos suficientes para que fosse aceita por eles, mas a opinião dela também contava. 

Queria, e muito, que eles tivessem convivência desde o nascimento dela. Queria que Maya tivesse se acostumado a chamar Naruto de “Tio Naruto” e o tivesse como uma presença constante em sua vida, pois não restava dúvidas que o loiro, com sua presença calorosa e cativante, seria uma ótima pessoa para ambas.

Queria que Maya tivesse se acostumado desde sempre com o carinho e o jeito amoroso de Hinata, que sempre transmitia certa calma até mesmo para ela. Queria ter os pais sempre por perto, sendo avós bobos, mimando sua filha de perto, e não só algumas vezes por ano, quando eles a visitavam.

Queria tanta coisa que poderia ter tido. Queria até mesmo ele por perto, em circunstâncias diferentes da que estavam… 

Mas como o velho ditado dizia, querer não significava poder.

—x–

Quando Sakura chegou, a casa estava silenciosa. Naruto ainda devia estar fora, e Hinata ou se encontrava no quarto, ou havia saído para resolver sabe-se lá o que. 

Foi com Maya até seu quarto junto com as malas da garotinha, e depositou-as em um canto perto da cama, já separando uma roupinha para que ela fosse se trocar depois do banho.

— Vou te dar um banho, e depois faço algo para você comer, tudo bem? 

—  Ahhh mère, banho de novo? —  reclamou a menina, fazendo bico. —  Eu já tomei banho ontem.To cansada. — Sakura prendeu uma risada, já sabia que a filha reagiria assim. —  Não sei pra que tanto banho, meu Deus, eu nem to fedida! —  levantou o braço. — cheira meu sovaco pra você ver.

Não aguentando, a rosada começou a rir da filha, não se aguentando ao vê-la cheirar a própria axila, para confirmar que não havia odor.

— Você é uma porquinha, sabia? Nem parece minha filha. Acho que tirei você de algum chiqueiro.

— Vou voltar pra lá então, assim ninguém me obriga a tomar banho!  

—  Tá bom, sua sujinha, agora vamos logo!  — pegou uma Maya bicuda no colo, e foi rindo em direção ao banheiro, mas antes que o adentrasse, ouviu Hinata chamá-la.

— Sakura-chan? 

—  Estou no quarto!  —  logo, a figura de uma Hinata estava no batente do quarto, direcionando toda sua atenção à menininha loira no colo de Sakura. 

A rosada sorriu ao perceber que instantaneamente, Maya se acanhou toda, assim como ela sempre fazia quando na presença de um desconhecido.

—  Vamos lá, Maya, diga “Oi” à Hinata. Ela é amiga de infância da mamãe.  —  Maya olhou para Sakura ainda acanhada, com as bochechas levemente coradas, o que fez as duas mulheres terem vontade de apertar àquela região.

— Olá, Maya-chan, como vai?  — perguntou a Hyuuga, se aproximando vagarosamente da garotinha.  — Ah meu Deus, como é fofa!  — nesse momento, a garotinha ficou ainda mais corada, aproveitando que estava no colo da mãe, tombou a cabeça para o ombro dela em um claro sinal de timidez.

— Não quer falar com a Hinata, querida?  — perguntou Sakura, tentando enxergar seu rosto. Maya aproximou a boca do ouvido da mãe, e sussurrou.

— Eu tô com vergonha, mas eu gostei dela, parece uma princesa.  — falou a menina, levantando a cabeça e olhando para Hinata. logo depois voltando a sussurrar para a mãe  — Ela também tem peitão que nem a tia Tsunade.  — Sakura não aguentou e começou a rir, queria repreender a filha por falar aquilo, mas simplesmente não conseguiu. Hinata, claro, ouviu tudo, e mesmo que um pouco envergonhada, também achou graça.

— Maya, você não pode falar essas coisa, querida. Mesmo que Hinata tenha seios grandes, você não pode sair falando isso na frente das pessoas.  — a voz era doce, mas firme, Sabia que ser inconveniente era coisa da idade.

— E escondido pode?  — indagou à mãe, franzindo o cenho.

— Só pra mamãe.  — assentiu, entendendo. Olhou para Hinata de novo, e sorriu acanhada. 

—  Desculpa, moça.  — Hinata disse um “Tudo bem”, logo se aproximando da menina, perguntando se podia dar um beijo em sua bochecha que logo foi consentido por ela. 

Ao se afastar dela, a morena pôde notar os olhos da menina, franzindo um pouco o cenho ao se lembrar de alguém que tinha os mesmos parecidos.

— Maya, vá indo para o banheiro tirar a roupa, já estou indo também para te ajudar com o banho.  — vendo que não tinha jeito, Maya rumou até o mesmo em seguida.

Quando se viu sozinha com a rosada no quarto, Hinata tratou de olhar para ela.

— Sakura… Os olhos dela… São idênticos aos do… 

— Sei disso, mas ela não tem vínculo nenhum com ele, tenho certeza disso, Hinata.  —  respondeu ela, firme.  — Ele não é o único portador de olhos dessa cor, sabia?

— Claro que sei! Mas você sabe o porquê dessa dúvida, afinal, vocês se relacionaram.  — Sakura suspirou, sabendo que aquela ideia tinha fundamento.

—  Sei disso, mas tenho certeza do que falo.  — sorriu para ela.  — Eu não faria algo assim, não esconderia algo sério como um filho.  — terminou de falar, não tendo certeza se realmente não faria isso na época em que teve Maya.

— Mère! Tá demorando, eu tô com frio!  — uma Maya de bico e trajando apenas uma calcinha apareceu no batente da porta, esperando impacientemente por sua mãe.

—  Ah princesa, desculpa! Vamos dar banho na porquinha mais linda desse mundo.  — disse sorrindo, vendo o bico aumentar. 

— Eu não sou porquinha!  — e entrou no banheiro com a mãe, deixando uma Hinata de sorriso leve estampado no rosto, achando aquela cena a coisa mais fofa, mas para ela, parecia que tudo que envolvesse a garotinha era algo para se derreter.

Uma linda garotinha, pensou, de cabelos loiros e olhos extremamente negros.

—x–

Depois do banho em Maya, - em que ela sempre saia toda molhada por conta da bagunça da filha  -, Sakura preparou um misto quente para a menina, junto de um suco de laranja. Depois disso, as duas junto de Hinata, foram assistir algum filme, terminando com uma Maya dormindo de boca aberta com menos da metade de duração;

Sakura colocou a garota no quarto em que ela estava ocupando, e tomou um banho também pensando seriamente em se juntar a garotinha. 

Mas, antes que ela sequer se deitasse, seu celular apitou, avisando a chegada de uma nova mensagem. Ao ler o conteúdo, sua mente tratou de lembra-lá o que havia esquecido desde que pegara Maya no aeroporto.

“Me encontre no restaurante Ichiraku daqui uma hora e meia. Estarei te esperando lá.”

U.S

E, por mais que não quisesse deixar sua filha sozinha, sabia que precisava resolver aquilo logo, só assim sua mente teria paz novamente.

Vestiu uma calça jeans qualquer e colocou uma blusa vermelha de mangas longas, colocando nos pés apenas uma sapatilha preta. 

Decidiu contar à Hinata o porquê de estar saindo assim de repente, e a morena compreendeu seu nervosismo, mesmo que ela não admitisse.

— Se Maya acordar, por favor, me ligue imediatamente! Não sei como ela reagirá com somente você em casa, já que ela só te conheceu a algumas horas.

— Pode deixar, Sakura-chan, Naruto estará em casa daqui a pouco também, acho que ela irá gostar dele. — ao lembrar do loiro, uma pontadinha chata deu-se no coração da rosada, ao lembrar que ainda não tinha feito as pazes com ele.

— Tenho certeza também. — Sorriu um pouco ao pensar nisso, e logo foi em direção ao seu carro, mesmo ainda faltando uma hora para se encontrar com Sasuke, queria desanuviar seus pensamentos e tentar ficar um pouco calma.

Odiava admitir a si mesma que estava assim por causa dele. O que ela era, afinal? E por que continuava insegura, quando claramente não havia motivos?

Não sabia nem mesmo se conseguiria acreditar nele. Ele sempre parecia sincero para ela, quando dizia estar arrependido, quando a abraçou e lhe roubou os beijos que ela admitia relutantemente terem mexido com ela. Parecia sincero quando dizia que desejava ser digno do perdão dela, para então pedi-lo.

Mas o pé atrás sempre estava lá, não deixando que ela acreditasse verdadeiramente.

Porque Sakura acreditou nele, cegamente. Achava que mesmo com a personalidade complexa dele, o entendia sem precisar de suas palavras, mas apenas com seus gestos e olhares. Acreditava ver devoção, carinho, sinceridade... Amor, em todos eles. E aí, o encontrou com Ino.

Tão ingênua.

Perguntava-se como faria, caso ele recomeçasse seu monólogo de arrependimento e declarações dirigidas à ela.

Ela não era de todo cética, acreditava que as pessoas podiam se arrepender de seus atos, mas não se achava capaz disso com ele.

Os atos das pessoas, para ela, valiam mais como prova de seus sentimentos, do que palavras, mas Sasuke era um homem de atos e olhares, e foi assim que ele a enganou em sua adolescência. Como, por Deus, ela conseguiria enxergar sinceridade nele, se o modo dele se expressar, foi exatamente o que a enganou no passado.

Suspirou em seguida, querendo somente esquecer os pensamentos que povoavam sua mente. Parou em um semáforo, olhando para o lado em seguida, vislumbrando a confeitaria que Tentem a tinha arrastado no outro dia, lembrando-se da torta maravilhosa que comera ali e em como havia até mesmo sonhado com ela depois.

Vendo que ainda tinhas alguns bons minutos, e aproveitando que o restaurante não ficava nem dez minutos longe dali, decidiu acalmar seus nervos com um pedaço maravilhoso daquela delicia gordurosa, sentindo até mesmo certa alegria dentro de si.

Afinal, que maneira melhor de lidar com o nervosismo do que comer doces?

Quando o sinal abriu, Sakura deu a volta imediatamente, estacionando o carro e indo direto para dentro do local onde jazia seu objeto - ou melhor dizendo, guloseima - de desejo. 

O atendente que estava atrás do balcão logo veio ao seu encontro.

—  Boa tarde, senhorita, o que deseja? —  perguntou o garoto, simpático. Ele tinha cabelos loiros e olhos verdes, não verdes como os da rosada, os dele eram mais escuros. Um sorriso amável estava estampado no rosto dele, e Sakura gostou dele na mesma hora.

—  Quero essa torta de limão maravilhosa que está aqui. —  apontou com seu indicador em direção a torta que estava protegida pelo vidro da vitrine.

—  Só um pedaço ou a torta toda? —  perguntou o rapaz.

—  Quero três pedaços, dois para viagem e um para comer agora. —  o garoto assentiu e logo lhe deu o que pedira. Sakura o agradeceu e pagou a ele, indo sentar-se em uma das mesas que se encontravam dentro do estabelecimento.

A Haruno escolheu uma das mesas que estava do lado da janela bem ao fundo, e começou a comer sua torta enquanto olhava para o lado de fora vendo o movimento. Ao redor da confeitaria, havia algumas lojas de roupas, uma sorveteria e uma pousada que lhe parecia muito confortável.

Notou que por ali o fluxo de pessoas era um pouco maior, e entre elas, enxergou algo que fez seu coração se comprimir levemente, e sua mente desejar ser apenas uma alucinação.

Porque a figura loira de olhos azuis não podia ser uma Ino Yamanaka sorridente, enquanto saía da pousada. Pior ainda, a figura ao lado dela, vestindo uma blusa negra e calça jeans, não poderia, definitivamente, ser Sasuke Uchiha, conversando algo que ela não sabia, com a loira.

E, mais importante ainda, eles não poderiam estar indo em direção a confeitaria em que ela aguardava ansiosamente seus pedaços de torta que vinham com a afinidade de acalmá-la naquela situação!

Mas, tudo que os olhos de Sakura viam não era uma mera alucinação. Era real.

Sua estratégia para se acalmar desceu ralo a baixo, e ela nem tinha começado a comer ainda.

Ino e Sasuke estavam entrando naquele lugar, nem mesmo se dando conta da presença perturbada da rosada. Definitivamente, apenas uma palavra rodeava sua mente naquele momento:

Merda!

—-x--